31.5.04

Chaves, você só não é mais burro por falta de vitaminas!

Tomei meu primeiro Centrum hoje (de A a Zinco). Uma hora depois, tive uma idéia pro livro:

Ela nunca me enganou. Tão frágil e indefesa, tão prestes a quebrar, tão desnutrida, tão sem vitamina D - apenas oculta por um escudo cujas fendas emitem lâminas...
Mais uma coisa que pensei durante a aula - e não anotei porque, desta vez, esqueci o caderno.
Idéia: quando de um crime de colarinho branco, não prender o criminoso. Obrigá-lo a tutelar um menor infrator. O tempo todo. Se viajar a negócios para São Paulo, leva. Poltrona de lado no avião. Mesma mesa no restaurante. Mesmo quarto de hotel. Tudo do bom e do melhor. Uma vez por semana, assistente social conversa separadamente com cada um e depois com ambos. Se um dos dois fugir ou sacanear o outro de alguma forma, acabou a mamata: direto pra prisão.
O princípio dessa punição: o inferno são os outros. Para o menor, a punição de um pleiboizinho chato e almofadinha 24 horas/dia. Para o riquinho, a falta de educação, finesse e quem sabe até higiene do menor infrator, e a vergonha de compartilhá-lo com os coleguinhas.
Essa punição, na verdade, é multifacetada. Abate vários outros problemas. A falta de consciência da elite - ela vai conviver diretamente com o produto de sua fraude/roubo. A superlotação da prisão. A má condição da prisão. A má distribuição de renda. A falta de oportunidade. O individualismo exacerbado da elite. A impunidade dos crimes por esta cometidos.

29.5.04

Quem é essa garota usando minhas roupas?

Não. Não pode ser.
Mas é: me enganei redondamente. Não apareço nesta foto só de cotovelo não. A menina do lado do Pedro sou eu! A louca com um dos braços erguidos, boca aberta, blusa verde e calça preta sou eu! Demorei a me reconhecer, estava muito morena...
Pior, deve estar cheio destas fotos por aí... por exemplo, na primeira Bunker Rave, estava eu na pista de trance com o Pablo quando um fotógrafo pediu pra nos fotografar. E tirou um monte de fotos também... estas eu gostaria de ver.
Geração Pulso Único - anarchyzed? Desregulamentados nós, o sono, o mercado, o trabalho, a família, o sexo, as mídias. Não confundir desregulamentado com desregulado. A única regra é não confie em ninguém. Os filtros de conteúdo, as firewalls, os antivírus, as camisinhas, as secretárias eletrônicas, as portas com tranca.

Meu caderno é cheio de anotações como essa pelas bordas. E desenhos sick. Não sei se quer dizer que não presto atenção nas aulas, ou se presto atenção demais nas aulas.
Essa está atrás do caderno, onde anoto idéias pro livro. Ficou parecendo uma reflexão pessoal, mas era pro livro. É o conceito que gerou a idéia primária: e se eu fizesse um livro sobre uma menina que anda de noite? Não foi só isso, também teve o sonho, mas um dia eu conto dele.

28.5.04

Madrugada dos mortos

As coisas velhas estão voltando para me assombrar. Mas de uma maneira positiva. Até os sonhos têm respondido a isso. Sonhos velhos voltam para que eu resolva o que não resolvera. Entro em lugares onde antes não entrava e chuto o balde. Pergunto aos atores tudo o que não pode ser perguntado. Armo a maior quizumba, quebro as janelas. Eles me olham calados, com medo de perder o emprego. O sindicato dos atores sonhoneses já deve estar ameaçando de greve. Vive la révolution.
Jornal velho

Não creio. Estava eu querendo ler uma matéria da revista Programa sobre o "Rio Elétrico" quando de repente vejo, na foto da matéria, uma cara conhecida.
É o Pedro! Mas gente, ele parece tão novinho... e tirou a barba de novo, hein?
Aí eu começo a achar que a menina do lado também não me é estranha, e também a outra... e reconheço a Michelle com sua inconfundível blusa azul - também parecendo muito novinha. E finalmente, me dou conta de que já vi todos à volta, exatamente naquela posição, com exatamente as mesmas roupas - porque eu estava lá, há cinco ou seis anos atrás. Que foto velha, JB.
Sim, eu era dimenor, no segundo ou terceiro ano do Ensino Médio. Fomos em 15 pessoas pra Bunker e nosso grupo chamava atenção. Do nada, um fotógrafo começou a bater fotos da gente e deixamos. Acho, inclusive, que o cotovelo à direita da foto é o meu. Mas há controvérsias.

27.5.04

!!!!!!!

"Produtos retirados do mercado, como Lanches Mirabel, Delicado e Balas Soft, podem retornar."
Vou gritar. Não, pensando bem, vou engordar.
Coisa velha reciclada. Mas gosto muito dessa bobagem.

Samples de um best-seller...

Americano (mal-traduzido)
"...Jenny olhou-se no espelho. Ela era uma mulher sensual e sabia disso. Era uma moça cheia de curvas: desde a perfeita dos quadris até a calculada, dos cílios. Sua cintura de vespa também não era de se jogar fora - Robert era a prova disto, pensou, maliciosa.
Com um movimento, a voluptuosa mulher de 32 anos deixou cair ao chão o roupão. Estava se sentindo quente. Da cintura, as mãos deslizaram para os seios tão firmes quanto os de uma adolescente e tocaram os mamilos róseos."

Pseudo-espiritual
"E o ancião disse, agora segurando o cajado com mais energia: "Cada um deve seguir seu próprio caminho. O destino do indivíduo foi traçado muito antes dele nascer. E não cabe a nós questionar os desígnios do Universo."
E, colocando a mão no ombro do ansioso Kotar:
"Você entenderá. Pode não ter guardado agora as minhas palavras; mas elas são como a água limpa, que purifica o vaso mesmo sem deixar vestígio"."

Pseudo-revoltado-pop (que não vai vender muito no começo)
"Merda. Não conseguia pensar noutra coisa. Merrrrda. Além daquelas piranhas gordas tocando música sertaneja e da porrada que latejava, tinha aquela bala que o Rico tinha me dado. O puto do Rico. Parece aquela porra de iscrínsêiver, qualéonome? Ah, AfterDark. AfterDark ao som de Daniel. Puta que pariu!, esqueci a Mary na privada. Tentar chegar no banheiro. Tentar... chegar... banheiro...
-Ai!
-Kêkifoi?
-Já lavou a boca? Então usa ela."

Punheteiro-machista
"...o seu sexo encharcado de champanhe sobre mim. Marisa mexia-se sofregamente, como se quisesse lembrar a primeira vez. Tanto fez, que acabou sendo rápido.
-Ãã...
Soltei apenas um gemido. Não larguei meu jornal durante toda a foda. Li toda a seção de Esportes - acho.
Eu me fazia de desentendido, mas sabia muito bem que era pura vingança. Para Marisa, era isso ou matar Alice. Ela não suportava quando eu a traía com ninfetas - e quanto mais velha ficava, mais aquilo a ofendia."

Acho que eu poderia encher a burra de dinheiro, se quisesse...

26.5.04

Aquele sonho de novo, o dos poderes que revogam. Sandman me sacaneava desde pequena quando tive este primeiro sonho de revogação, faz tempo. Dissolvi o cinema para o qual eu tinha ingresso e agora não podia mais entrar. Placas de concreto caíam à minha volta, mas não em cima de mim. Poeira. Saí pela porta, ilesa, enquanto os sonhoneses eram esmagados.
Lá fora, na colina de grama tão verde, dissolvi as flores. Meu indicador revogou a ordem do sonho, como uma arma apontada para os atores do teatro. A grama corcoveou, a figurante loira parou na calçada com cara de "diretor, ela estragou a cena", olhei pro céu e comecei a girar. Girei. Girei. O som dos guinchos de microfonia. O sol girava loucamente no céu. Foi a última coisa que vi antes de cair na grama, quer dizer, na cama.

25.5.04

- E aí, gostou do colchão novo?
- Não, muito mole... mas tive bons sonhos.

23.5.04

Aritmética, não. Topologia.

Então, "a tensão humana entre ser e dever-ser". Maria Luiza a partir daí: ela é "tensa" como todos nós entre o que é e o que deve ser. Só que o que ela acha que deve ser é exatamente alguém não-tenso. Ela está about to explode, coitada. É literatura clássica hackeada, uma gambiarra terrível que pode não funcionar, mas não entra em puritanismos demodés, nem em hedonismos demodés idem.

Eu tenho que controlar os destinos dos meus personagens, disse eu outro dia. Mas controlar no sentido de "manutenção", tamagochi, sabe? Eles sentem fome, tesão, sono, essas coisas. Como todo mundo. Eu os faço sentir essas coisas. Faço com que sejam humanos. Porém, eles têm uma espécie de livre-arbítrio, porque se os obrigo a fazer algo contrário à "personalidade" deles (ser feliz, por exemplo), o livro desanda. Então o controle não é absoluto.
Simbolicamente, o final no-one-knows que estou planejando é uma faixa de Moebius: não se sabe quem cedeu o quê para quem ficar por cima. Amor-perfeito, ainda mais para Maria Luiza que se interessa tanto por topologia e Teoria do Caos (que ela me fez estudar... sendo que eu odeio matemática).

"Expoente da assim chamada arte concreta, Max Bill sugeria uma abordagem matemática para a arte contemporânea. Se por um lado ele negava uma expressão artística através de fórmulas, por outro defendia o uso de princípios racionais na formulação de temas que poderiam concretizar abstrações e proposições artísticas".
Primeiro preciso dizer que adorei esta crítica (Prosa e Verso de novo). O cara - Sidnei Silveira - traçou um bom painel de porque a literatura hoje é chata examinando o último livro da Fernanda Young. É bem aquele negócio da sacadinha, e do autor que escreve em cima da sacadinha, e não a partir da sacadinha (vide post muito anterior). Mas não é só isso. É isso:
"Advirta-se que, no mundo atual, não temos o direito de ser puritanos, de corar como donzelas vitorianas ao ler uma frase vulgar (e no livro há muitas!). O problema é: a banalização da amoralidade faz desses personagens meros títeres, e lhes tira a tensão humana entre ser e dever-ser, que distingue o verdadeiro personagem do fantoche."

Mandou bem, cara. Mas lendo a crítica toda, achei que ele exagerou na exigência de puritanismo, embora tente se defender com frases como as daí de cima.

Impliquei também com o subtítulo que existe apenas na versão impressa: Personagens criados por Fernanda Young em Aritmética são pouco verossímeis.
Calma aí, cara pálida. Desde quando verossimilhança é critério para qualidade de romance? Romances jornalísticos, talvez; mas, se for assim para todos, me avise, porque tenho escrito romances muito ruins. Mas lendo a crítica toda, você vê que o que houve ali parece ter sido uma expressão inadequada. Talvez os dramas dos personagens sejam pouco relatados aos dramas vividos por pessoas de verdade. Mas um romance surrealista, pelo critério de "verossimilhança", não presta.
CSI

Não, não a série. O colégio. Já procurei muitas vezes o link para tirar meu email da Lista de Ex-Alunos do Santo Inácio, mas só encontro o "mudar email". Existe um de "cancelar recebimento", mas não funciona.
O último que recebi (e deletei em velocidade recorde) era mais ou menos assim:
Quantas vezes você já disse com orgulho que estudou no Colégio Santo Inácio? Álbum dos 100 anos do Colégio. Reserva antecipada: deposite 50 reais no Banco X, Conta Y, a favor da Associação dos Ex-Alunos dos Padres Jesuítas. Galeria dos Patrocinadores: deposite 1000 reais no Banco X, Conta Y etc.
Todos comigo: huahauhauahauahauahuaha...

21.5.04

Me lembra da vez que eu fui na festa à fantasia do Santo Inácio vestida de Marla Singer. Aluguei um chapéu, pintei a boca, peguei dois cigarros da minha mãe, me vesti de preto e botei óculos escuros. Ah, e é claro, o crachá escrito "Marla Singer". Sim, da primeira vez em que ela aparece, no grupo de apoio.
Lembro da discussão para o nome da festa. Na votação, ganhou o nome "Fantasia Now" (leia em voz alta, você vai entender). Mas o coordenador vetou.
Não me pergunte porque eu fui. Talvez pelo mesmo motivo pelo qual Marla e Jack iam aos grupos de apoio: desespero. Me pergunte o que eu vi.
Eu vi oito patricinhas vestidas de paquitas, a maioria loira. Paquitas clássicas, do Xou da Xuxa, não as daquele programa do sábado.
Eu vi o Sartre.
Eu vi a Vampira.
Eu vi monstros verdes vomitando.
E ninguém entendeu minha fantasia.
Terceiro roteiro que leio para futuros bons resultados no meu: Clube da Luta. Jack de pijamas vê uma femme fatale maluquinha adentrar a sua vida. Francisco idem.
O fato é que busco roteiros que me lembrem o meu. Mas já está tudo escrito e adaptado para uma linguagem audiovisual e retangular. Falta só burilar para um diretor entender o que estou descrevendo, e por isso as consultas a bons roteiros que geraram bons filmes.

20.5.04

Os joelhos

Ela desceu dobrando os joelhos e encostou-os no chão, deixando pros cotovelos a tarefa de segurar a parte da frente.
Naquela posição quase fetal, sentia os peitos tocarem os braços, e a ducha quente batendo no chão e espirrando entre as suas coxas.
O chão era rico em detalhes, apesar de parecer azulejo imaculado lá de cima. Viu pedacinhos de cabelo coalhados pelo chão, então a água não os levava afinal, eram leves demais os resíduos da barba dele e dos pêlos que ela aparava. Um monte de material genético, era só chegar perto pra ver melhor. Talvez se se aproximasse o bastante, talvez com um microscópio poderoso, os pêlos de cada um pudessem ser separados e catalogados do mais antigo ao mais novo.
Hum.
Por quê?
"Tenho que subir".
Olhou pro ralo, onde um feixe de cabelos ondulava aleatoriamente ao sabor da água.
"Droga, esqueci de limpar isso de manhã".
Seus cabelos caíam num ritmo normal, o problema de queda estava superado desde que passara a lavar não todo dia, mas dia sim, dia não; e massageava com a ponta dos dedos, não com as unhas.
"Tenho que me levantar".
E tinha uma área do box onde a água não corria e ficava uma sujeira granulada. Ela passou o dedo e apareceu a brancura, que nem quando acumula pó em vidro de carro. Pó = poeira, uma palavra tão exótica. Aliás, em qualquer língua. Poussière. Dust. Polvo. Staub.
Esfregou a palma da mão na sujeira e empurrou-a pro ralo.
"Porque, se eu não levantar agora, alguém pode estranhar o fato de eu ter me prostrado assim. E eu odeio questionamentos. Vão perguntar "por que...?", separado e sem acento, e eu teria que responder "porque..." junto e sem acento. Odeio gramática, odeio!"
E bateu na água, que espirrou, e continuou a bater nela com as duas mãos ouvindo o barulhinho, sentindo a água quente escorrendo pelas costas, encostando a testa no chão e inspirando fundo e ficando de quatro pra se levantar.
Mas sentira que alguém entrara, e respondera sem abrir os olhos sem sair de onde estava:
- Descanso.
A voz subiu aguada mas compreensível para a pessoa que fechou a porta pois respeitava a privacidade alheia, especialmente a dela.
"E ela nunca quer me dar a bunda".
Só para lembrar: eu sou uma escritora. De vez em quando eu escrevo contos. E de vez em quando sou uma escritora generosa. Como já escrevi isso há um bom tempo e sou ciumenta demais pra publicar, assim, com cessão de direitos autorais e todo o troço, vou publicar aqui. Isto aí em cima.
Outra noite em claro roteirizando. Quase não adicionei nada, foi só correção. Para isso, usei dois livrinhos:
- O roteiro de Cidade de Deus.
- Como formatar seu roteiro, de Hugo Moss.
Foi realmente útil comprar o Cidade de Deus, que é contado em muitos e longos flashbacks, revisitando a história dos personagens para criar uma espécie de painel social. O meu também faz isso.
O Como formatar seu roteiro é bem hermético, um livrinho de bolso. Custou 10 reais na Primavera dos Livros. Aponta vários erros comuns até mesmo de roteiristas experientes e dá os parâmetros básicos.
Os dois livros se contradizem em algumas coisas. O Como formatar proíbe descrições excessivas e as que têm informações dificilmente captáveis visualmente. Além disso, diz que um roteirista não deve escrever "Vemos um homem andando na rua...", mas "Um homem está andando na rua". Nada de vemos. Coisas que o roteiro de Cidade de Deus faz o tempo todo.
Quem sabe? Talvez seja útil quebrar as regras, como na literatura.
Eu também.

19.5.04

Eu devia era ter cantado o Rap das armas. O Parrá-pa-pá-papapá-papá-papá... Pa-parrá-pa-parrá-pa parrá, clac, tchi-bum. (Isto é uma metralhadora verbal, literalmente).
O Rap das armas lista armas que não estão em nenhuma versão de "Tomb Raider" e desafia todas as instâncias de autoridade policial, militar e quem de fora vier ("alemão"). Por que você acha que pitboy não vai em baile funk, se gosta tanto de ovar pobre em ponto de ônibus?
Talvez não seja uma idéia muito boa pensar em desafiar caminhões do exército depois de 17 horas sem dormir e sem sair da frente do computador nem pra comer. Pois é, hoje meu roteiro do livro andou bastante. Estou chocada com minha própria crueldade. Parrá-pa-pá-papapá-papá-papá... Pa-parrá-pa-parrá-pa-parrá, clac, tchi-bum. Ruborizo só de ler as cenas, imagine de vê-las. E meudeus, os temas. Control freak, é isso que eu sou. Meus personagens não têm que ser felizes, eles têm é que me obedecer. Acho que vou reinstalar o The Sims.

18.5.04

Yes. Yes. Oh yes. Aqui na esquina tem um cine pornô (ao lado do McDonalds que virou um supermercado de remédios, quer dizer, uma farmácia. Farmácia esta que desistiu de ser 24 horas porque, well, era muito perigoso. Só moro em áreas nobres, morou?). Bem, o cine pornô vai virar o primeiro Arteplex do Rio de Janeiro! Sim, cinco cubículos que passarão filmes de arte!
Bem que desconfiei. Outro dia estava no ponto de ônibus e começou a entrar água na minha sandália. Estavam lavando o (argh) cine pornô. Isso nunca tinha acontecido antes...
Ah, e a página pessoal também está atualizada com duas legendas novas: Onibaba e But I'm a Cheerleader. Mais informações no local ------>
Ode ao Orkut

Pronto. Era isso que eu queria, obrigada, Quino.

Viu? Sou centro-esquerda. Agora com provas visuais.

16.5.04

montagem

Depois de deixar a montagem do gaiteiro por três dias em repeat no Winamp, observo uma reportagem sobre gaitas no GloboNews, enquanto exerço a condição de pessoa enjoada. Então, não sei se antes, não sei se depois (mixado está), surge a Sandra Werneck falando daquele filme do Cazuza, abrindo a boca em fragmentos:
AAAA... naquele tempo... o pansexualismo... as drogas... a experimentação... não havia aceitação... hoje há mais... as pessoas são mais...
Maria Luiza é uma torta na cara do Cazuza. Ela diz que não é possível que tudo vire uma grande suruba, que alguém tem que fazer a comida e trocar os lençóis, e para isso, os pobres e os ricos, o Baixo Gávea e a Rocinha. Ela diz que se nutre dos desníveis, é um nível de bolha de ar humano.
that's all i wanna tell you
don't read this. don't read this. is. sick. sick. sick. sick. sick. this is sick.
Chapeuzinho Vermelho foi cuidar da avó com os intestinos à mostra e encontrou um lobo. O lobo a levou para jogar sinuca real com as regras do Yahoo mas, desta vez, não a comeu. Chapeuzinho comeu. Muito muito. Demais. E, ao adormecer ao som de Fight Club, passou mal. Muito muito mal.

14.5.04

Quero adicional por insalubridade e aposentadoria depois de 15 anos. Escrever é tão ruim pra cabeça quanto minas de carvão o são pro pulmão.
Diários de Bicicleta (Notícias paralelas ao asfalto)

Estava eu andando na ciclovia junto à praia quando vejo um caminhão camuflado passar. Hã. Era aberto atrás, dava pra ver alguns soldados camuflados. Vejo que, gente, eles estão com fuzis... Aí passa outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro, no total de seis... seis caminhões. Sim, sim, a ocupação do exército nas favelas... Não resisti, berrei a plenos pulmões: "Complexo do Borel, uma uva tá um mel...".
A Prefeitura constrói um Centro Cultural logo abaixo do Dona Marta, atrás da pracinha que nunca vi mais bem-conservada.
Entendi bem?

Complexo do Borel
Uma uva tá um mel
Do bairro da Tijuca
Na Rua São Miguel


Esses funks do Borel falam muito na São Miguel porque rima.
Um dos lugares mais frios e silenciosos que já morei (com meu pai) foi na Conde de Bonfim, quinto andar, de frente pro Borel. Tranqüilo também, exceto quando teve aquela guerra e eu permaneci estirada no colchão vendo TV porque as paredes são mais resistentes.

12.5.04

Vocês lembram da Branka?
"Tive uma amiga que morava lá depois de Bonsucesso, acho que num rincão de Del Castilho, perto, evidentemente, dos bailes. Gostava de rock, cortava o cabelo curto, ia fazer estágio num curso de computação. Mas a atração do abismo acabou pegando ela. Juntou com um cara, morando também com a sogra, pegou um filho aos 19 anos, perdeu. Depois não soube mais dela. Troço naturalista. Triste."
"A primeira amiga que fez minhas unhas direito era justamente filha de uma manicure. Já falei dela aqui, a Branka. Pois a Branka pintou minhas escalavradas unhas tão bem, mesmo sem tirar cutícula antes, que eu elogiei e disse inocentemente: você podia bem ser manicure. E ela: deus me livre de ter a mesma vida que a minha mãe."
Então, a Branka. Pois soube que ela está trabalhando na SUIPA, cuidando dos bichos. E morando com o mesmo cara e a mesma sogra. Além de não ter virado manicure, é o emprego mais legal que eu poderia imaginar pra ela. Veterinária é a profissão da "May".
Já contei que o cara-mais-popular-da-escola sempre se apaixonava pela nerd aqui? Bom, aconteceu duas vezes.
Já contei, também, que eu disse não pros dois? Um na sétima série, outro no segundo ano (ou terceiro?). Lembro da candidata a modelo me sacudindo pelos ombros na porta do McDonald's e berrando assustadoramente: NÃO? COMO NÃO? É A SUA CHANCE DE DEIXAR DE SER NERD!
Estou dizendo isto por quê? Porque parece que isto é algo como Jesus descer à terra e perguntar se você quer ficar do lado dele, que ele expulsa o Dimas. Parece que é uma chance que não pode ser desperdiçada. Parece, pelo menos em "Ela é Demais", "Nunca fui beijada", "Clube dos Cinco" e tantos, tantos outros filmes políticos.
Eu "desperdicei" duas vezes. Sendo nerd eu agüentava apelidos, zoações, exclusões, humilhações, sacanagens em geral. Parece que poderia usar minha inteligência para sofrer de outro jeito, deitar na fôrma. Mas na verdade, nerd (pelo menos no sentido pré-terceiro-grau) é uma denominação parcial. Você não "faz merda", não dança as músicas, não compra o produto, não fica com quem te arrolam, não tem problemas com as notas.
Na verdade, nerd é uma etiqueta aplicável mesmo a pessoas que se fodiam na escola (como eu, no ensino médio). É uma etiqueta ampla que só um não-nerd tem impulso e visão de afixar. Chamam de nerd a um tipo muito específico de pessoa.
Você faz merda, mas as invisíveis, as que não estão na moda. Você não se ofende com o que os outros se ofendem e se ofende com os que os outros não se ofendem. Você tem um mundo para destruir e outros pra construir; eles têm um mundo apenas, pra "participar". Eles andam na linha; você, na transversal (e é por isso que batem).
Feliz cérebro.

11.5.04

Depois de tanto tempo, mexi no roteiro que estou fazendo do "A Feia noite". Maria Luiza agora não dança mais ao som de Stevie B, "In my eyes", mas de "Rhythm of the night" (Corona) seguida por "Take a Toke" (C&C Music Factory). "In my eyes" era de 1989. Depois de contas que envolveram os top hits de 1995, uma data de nascimento situada nos anos 80 e a crise energética nacional, determinei que Maria Luiza nasceu em janeiro de 1982. Portanto, ela completaria 13 anos em 1995 e 21 em 2003.
Porque este livro (e também o filme, se houver) é para as crianças que assistiram Xuxa, imitaram Paquita e mais tarde sacolejaram sensualmente ao som de lambada, funk, axé, pagode, axé-de-duplo-sentido e trilha de novela. Também é para os clueless que viveram a década de 80, do bode-preto, dos sonhos perdidos, dos yuppies e do pó. E quem mais vier.

10.5.04

Achei meu futuro orientador hoje. Na saída da lanchonete. É difícil encontrá-lo. Ele me deu os horários disponíveis e o email.
Saltitei pra perto do Tibúrcio e do Alexandre.
- O Antoun vai ser meu orientador.
Eles me olharam como se eu estivesse louca.
- Ele cheira.
- É, ele cheira, sabia.
- Ah, e daí? Eu faço tudo sozinha.
- Não, sério: ele é maluco.
- Então? Perfeito pra mim.
- É mesmo.
Depois o Paulo:
- O Antoun vai ser meu orientador e estão me chamando de maluca.
- Ele também vai me orientar.
- Sério? Toca aqui!
are u people gonna lemme sleep?

6.5.04

Pizza com mamãe e priminho. Meu primo, no celular, mentia pra namorada que estava preso no trânsito, quando chega uma barulhentíssima família-perfeita, pai, mãe e dois meninos. Quase estragam a lorota. Com tantas mesas livres, sentam logo atrás da gente. Pouco depois, do nada, o pai puxa, a mãe acompanha e os meninos entoam o refrão de Imagine, em perfeito coro. Os meninos sabem a letra. Eu me entreolho com minha mãe e meu primo:
- Que isso, a Família Dó-Ré-Mi?
Hoje não tem mais emprego da forma como conhecíamos: entrar numa empresa, ficar 15 anos, ser promovido a chefe. Não existe estágio de revisor, como você quer, porque as editoras não vão querer dar supervisão a uma pessoa que deve exatamente supervisionar. Tudo isso me disse a mulher que me entrevistou hoje. Também criticou os pais que forçam os filhos a pegar qualquer emprego odiável que vem pela frente antes do final da faculdade (porque senão, é "vagabundo". Pessoas como você vão formar o novo paradigma, disse ela.). Pensei que seria uma entrevista de emprego, mas pelo jeito não existe mais emprego, e nem sequer pareceu uma entrevista. Pareceu mais aconselhamento profissional grátis.
Mestra Yoda me permitiu escolher entre o lado negro e o lado iluminado da Força: poderia lançar mão de seus contatos e tentar um estágio-a-jato em alguma editora para mim, ou me proporcionar alguns frilas da empresa para que eu fosse aprendendo, gradualmente, os macetes da profissão que eu realmente queria - e, juntando tudo, no futuro eu teria um bom portfólio ou currículo. O Bem é um caminho pedregoso.
Bom, saí de lá cheia de free-lance na mão. Notas para revista, revisão de livros, formatação. Beleza. Gostei.
Tudo pra fazer em casa. Será que vão me chamar de dona-de-casa...?
E, casualmente, arrumei uma coisa parecida em outra das carreiras que ambiciono. Depois eu conto.

Sim, queridos, o futuro é o trabalhador-RPG: precisamos aumentar nossos pontos de experiência antes de lutar, pessoa física ou jurídica mas sempre suela, contra o dragão da maldade. E fazer previdência privada no BB.

5.5.04

"É próprio dos sábios mudar de idéia" - Chiquinha, in "A casinha do Quico".
Me procurem no Orkut.
Apoiado!

Citando o Dr.Destino:
"Revista feminina umas pinóias! A NOVA é uma revista masculina, como a Playboy, a Hustler ou a Só Raspadinhas. Talvez muito mais masculina que estas. (...)
Enquanto estas revistas "de mulé pelada" apresentam conteúdo masculino gráfico, meramente masturbatório, a NOVA vai além: ela ensina a mulher a ser um objeto sexual perfeito para os homens. Invariavelmente, a principal matéria é algo do tipo "Sexo: deixe seu homem louco na cama", "Sexo: 10 dicas para dar a chupada perfeita" ou "Sexo: aprenda como ser um mero receptáculo acéfalo de sêmem"."
Para vocês que não têm 30 horas para gastar: gastem 2 e meia e vejam o filme que fizeram do "Grande Gatsby". Com o Robert Redford e a Mia Farrow. Ficou muito bom, melhor do que eu esperava. Robert Redford novinho, com a inocência gatsbiniana e a aparência perfeita; e Mia encarnou perfeitamente a voz tilintante de Daisy que não consegui imaginar como seria lendo o livro. Não só eles, mas todo o elenco se parecia com os personagens. O filme é fiel ao livro de uma maneira tão boa que eu chorei no mesmo ponto em ambos. E eu não choro por besteira, não. Vai passar hoje às duas da manhã (ou amanhã; como queiram) no canal Retro, da TVA/Directv.

2.5.04

Foi só falar. Eu não sou o tipo que lê o nome do autor primeiro e a matéria depois mas, bem, eu achei a matéria instigante, provocante, trepidante... e fui ver quem escreveu aquilo. Ximenes. O cara é bom.