30.7.04

Meus pais me achariam demente, se não soubessem que sou escritora. Imagine sua filha ficar cinco horas na frente do computador sem querer trocar uma palavra com você. De repente ela sai do bunker e pergunta:
- Quantos metros tem um banheiro, em média?
- Esse tem uns 4. O da casa antiga devia ter uns 8 metros quadrados...
- Mas e cúbicos? Em metros cúbicos? (soando ligeiramente desesperada)
- Hum... podemos estimar... vezes 2,4... 2x2x2 dá 8... uns 10 metros cúbicos.
- Ah, sim, muito obrigada.
Outro dia antológico foi quando perguntei à minha mãe quanto ganhava um consultor político por hora num ano eleitoral - e ela ligou para um que era consultor, mas empresarial.

29.7.04

Por que essa música se chama "oscilador de peito"? Também não faço a mínima idéia.
Acho que a lua é livre
Brilhando acima
Brilhando acima dos telhados
Acho que a lua é livre
Muito mais do que pensamos
Flutuando daqui e de lá
As partes que nós não vemos
Não faz mal, vão voltar
E quando se mergulha
Na fria escuridão
Dá impressão que se afoga
Mas logo volta a emergir
Com sua aparência instável
Há aqueles que dela duvidam
Bem mais fiel do que pensamos
A lua é livre

Receptiva e absorvente
Da luz que depois nos manda
Ela brilha acima dos telhados
E flutua daqui e de lá
Mutante, fascinante
Às vezes até ofuscante
É assim que nós a enxergamos

Disco perfeito, disco luminoso
Não te lembra do fardo
Daqueles que erguem a cabeça
Querendo elevar-se um pouco
Transitória, única, simbólica
De algumas visões imaginárias
Ela impressiona a muitos
Que se tornam apavorados e loucos

Ela está acima de tudo isso
Ela está acima de tudo isso
Ela está livre de tudo isso

Tradução livre de Lo boob oscilator - Stereolab

Mas em francês é mais bonitinho.

22.7.04

Fora por uma semana, quinze dias.
Tomara que minha caixa de emails não exploda nem nada.

...levar estes doces para a vo-vo-zi-nha...

18.7.04

Daft Punks

Já sei, vocês querem que a gente fique patotinha, a la "Fernando Sabino & sua Turma no Reino Encantado de BH". Gente, no tempo deles eles eram um-bando-de-moleque-chato... depois é que viraram escritores-que-trocam-belas-cartas. Isso não acontece dentro de um béquer, fiquem sabendo. Se alguéns estiverem fazendo alguma coisa similar hoje, pode apostar que vocês, especialmente vocês, não vão detectar no nascedouro. Vão é tentar matar, apopléticos.
PS: e explicando para as pessoas que não entendem as coisas... eu adoro o FS.
Como já estou a meio caminho de ser uma chata irremediável - todos sabem que denunciei o Orkut (apesar de eu estar nele) e que acho que blogs atraem malucos (apesar de estar escrevendo em um agora mesmo, pareço não demonstrar minha gratidão à mídia fingindo que ela é perfeita; desculpe, mídia) - pensei em aproveitar para falar o que acho da festa literária de Parati.
Eu tenho um trauma danado de Parati. Foi há muitos e muitos anos atrás, quando ainda existia o The Waves e um certo futuro-ex-ministro de Itamar começava a ganhar as eleições. Eu tinha 9 anos e pedi uma viagem a São Paulo nas férias de julho; queria conhecer o Playcenter, a Cidade da Criança e o parque da Mônica.
Fomos pela Soletur, a extinta, de ônibus. A viagem de Rio a São Paulo começou às 6:30 da manhã e terminou às 9:30 da noite. Sim, você leu direito: 300 quilômetros em 13 horas, com paradas a cada 2 minutinhos.
A parada para almoço foi em Parati. Enjoadíssima, tropiquei nos paralelepípedos, observando a paisagem colonialmente sem graça, e uma igreja branca na frente da praia. Ó a praia, que linda. Que nada; a praia também era sem graça, de areia dura.
Depois de uma deliberação sob uma árvore frondosa (a única coisa bonita naquela cidade árida e amarela como um road movie no deserto de Nevada), andamos para a esquerda, passamos (nós 30) por uma ponte de madeira se não me engano, sempre tropeçando nos paralelepípedos. Entramos num restaurante completamente despreparado para turistas. No restaurante só tinha peixe. Eu não comia peixe.
Agarrei um punhado daquela terra amarelo-desmaiado - feito difícil, do jeito que era compacta - e gritei contra o sol poente: "nunca mais volto aqui, nem que tenha que roubar, matar e mentir etc."
Brincadeira.
Mas foi uma merda, convenhamos.
Fora meu trauma, existe a implicância de estrelinha-do-orkut. Os fãs do Chico Buarque, os fãs de fulano, beltrana e sicrano todos vão estar lá, à espreita na saída de hotéis, caçando autógrafos, citando frases, dizendo como-fulana-é-maravilhosa - e aí alguns dizem "ah, mas não é maravilhoso! tanta atenção para a literatura! tanta gente congregando seus interesses literários!". E os buchas tentando caçar alguma perdidinha com cantadas pseudonas. E adolescentes se sentindo, acampados num quarto óctuplo. E muito mais.
Eu sou anti-social. Não é por ser escritora e achar que devo sê-lo; simplesmente calhei de ser os dois. Não vou mudar para me encaixar no novo modelo capitalista neoliberal de escritor gente-como-a-gente. "Rapunzel, jogue suas tranças da torre de marfim." "Mas fico tão bem de chanelzinho...".
Também não acredito que seja obrigada a conviver com escritores-da-minha-geração. Convivo no Orkut, alguns no ICQ, no e-mail muitos também - mas porque esbarrei neles e gostei. Senão vira assim:
"Li no jornal que você, como eu, é um escritor da nova geração. Vamos sentar numa mesa de um boteco do Leblon, que é onde se encontram os intelectuais cariocas, e trocar idéias para fertilizar nossas literaturas in vitro. Bleep."
(No futuro o sexo será assim, alguém viu Barbarella?)
Gueto de Varsóvia, brr.
Não precisa separar a literatura do "resto", senão a coitada sufoca e morre. É como uma flor. Dêem espaço para ela se transformar. Eu mesma estou escrevendo o livro novo e roteirizando para cinema ao mesmo tempo. Entendeu?
Se você acha que isto quer dizer que eu jamais iria a uma FLIP, não entendeu nada. Estou dizendo que Parati é um dos espaços para a literatura brasileira tomar (mais) jeito, mas eu não curto badalação deste tipo nem a cidadezinha (pobrecita), portanto prefiro meus outros espaços.
A saber: tenho uns amigos, uns fazem e curtem cinema, outros jornalismo, outros tradução, outros webpages ou programação, outros desenham e lêem quadrinhos, e a gente se encontra em lugares improváveis como bares, boates alternativas e cinemas - de arte ou não - e conversamos. Também nos encontramos na casa de quem tem o melhor computador e DVD;para assistir filmes roubados da internet; nos emprestamos livros, filmes, cds e gibis;e nos indicamos brechós e sebos. Assim reparte-se a cultura no meu meio social e os resultados são altamente satisfatórios.
Mas minha mãe, por exemplo,só me vê "isolada", porque não giro estrelas com um sorriso no olhar, nem tricoto com "meus pares" vista das milhares de câmeras digitais que espoucam em Parati (e em tantos outros lugares).
As pessoas vão nos brechós comprar roupas doidas, ou cafonas, ou figurinos de peça/novela/filme. Eu vou comprar as roupas de trabalhar.
Claro, lá você encontra coisas deliciosamente oitentistas, de marcas de madame, e baratinho. Exemplo: blusa da Folic por 10 reais. Mas a que mais gostei, também por 10 reais, foi a de estampa de azulejos de banheiro.

(futura cliente das lojas de carros seminovos)

15.7.04

Atualizei a Página Pessoal -------------------->
...com o novo email e o novo conto no novo livro. Promoção na Saraiva online, aproveitem.
Pablo me emprestou um livro do Erico Verissimo do qual já tinha visto o filme: Noite.
A "noite interior do homem", pelo jeito, já foi catalogada. Agora vamos fazer a da mulher (se bem que pelos olhos de um homem).
Depois, por favor, não me acusem de plágio. Só descobri que aquele filme era um livro agora, e mesmo antes do filme as características altamente parecidas já estavam lá. O pior é a linguagem "antiga" que os livros, o meu e o do Erico, também têm em comum. Podem me acusar de psicografia se quiserem, aí meu livro vai para a seção de auto-ajuda e eu fico rica.

13.7.04

O Prodigy voltou ao Jilted Generation e ao Experience. É a primeira impressão do fã ouvir o novo álbum "Always Outnumbered, Never Outgunned" (chupado descaradamente do Edonkey, mas pretendo comprar; como se disse na comunidade Prodigy do orkut, os álbuns do Prodigy são os únicos que valem a pena comprar). Alguns fãs adoraram esta característica; para outros, como eu, tanto faz como tanto fez: é Prodigy, e pronto.
Da primeira vez, como em todos os trabalhos que não são simples repetições dos anteriores, mas inovam em alguma coisa, o som vem estranho. Na terceira audição é que você começa a entender a proposta. Parece que eles deram um downgrade no som, "tosqueando" as coisas ao estilo eletro. Mas o som não parece exatamente eletro. Parece acid house de Chicago, hip hop e... Prodigy das antigas, é claro.
Mais vocais de mulheres, todas as mulheres: cachorras, malandras, cantando estilo Peaches/Miss Kittin; ou ainda fazendo os tradicionais vocais indianos. Os vocais masculinos são, na maioria, machões deitando fala, bem hip-hop.
A faixa que mais gostei foi Girls. É uma mistura de samples que lembram vozes do acid house (não faço idéia de onde possam ter sido tirados). Longas seguradas no ritmo da música ao estilo de Fatboy Slim. De qualquer modo você sente o DJ por trás do trabalho. Termina parecendo uma parceria de Prodigy com Daft Punk.
Roubada de um disco do Daft Punk: The way it. Exceto pela batida e alguns detalhes de teclado.
Outra faixa legal é Get up Get off. Com vocais femininos distorcidos no refrão e "indiano" no começo, o resto é pura deitação de fala de machão - e das boas. Parece Diesel Power mais rápida e dá vontade de pular. Uma que tem as mesmas características é a Wake up call.
Outra faixa em que aparecem muito o Prodigy, os vocais indianos e a retosquização do som é a primeira, Spitfire, que achei meio "vamos fazer uma música do Prodigy?", talvez para acostumar os fãs mais pop.
Faltam faixas mais leves, a única exceção sendo talvez (talvez!) o começo de Medusa's Path.
Peguei o meu Always Outnumbered, Never Outgunned do Goldesel, parece estar faltando a Baby's got a temper. Vamos esperar o lançamento, quero a real thing.
O humor ao lado? Eles não têm o adjetivo "saciada"...
Você já teve um dia tão bom que nem sabe como descrever?
Sei que o lançamento de ontem foi muito bom: antes, durante e depooooois, felizmente. Um clima legal circundava aquelas 18 (e não 25, nem todas puderam vir). Sei inclusive que meus motivos para gostar de tudo foram diferentes dos da maioria, mas parecia que todos estavam felizes de acordo com seus motivos pessoais, o que parece imensamente difícil e depende imensamente da sorte. Coisa idílica, utópica, sem desconfortos (por mim detectáveis; sou uma pessoa meio "hã? do que vocês estão falando?"). Ajudaram os interesses convergentes e não-concorrentes.
Ausências altamente sentidas: Paulo Pires, Cecília Giannetti e Bia Boba (adoraria assinar um livro para vocês).
Presenças altamente comemoradas : Pablo, Mariana, Alexandre, Irene, Fernanda.
Mesmo quem veio e não comprou (até porque eu sussurrei antecipadamente, em solidariedade à pobreza dos meus amigos, "psst! o livro custa..."), adorei que tivessem vindo conferir minha pequena idiotice de consagração etc. e encontrar mais uns amigos perdidos no tempo.
PS: Bia Boba diz que esqueceu.

12.7.04

Quero morangos e mat-t-e.
Disco novo do Prodigy na praça.
"Somos poucos, mas bem-armados"
Não você, boba. A indiazinha à minha direita. Tsc tsc.
Go listen to some Broadcast.
Da Folha de São Paulo, Caderno Mais!
Nabokov disse ao primeiro comentarista de "Lolita", Alfred Appel Jr., que originalmente tencionou chamar sua heroína de Virgínia e intitular o livro "Ginny". No manuscrito, ela teve durante muito tempo o nome Juanita Dark.
Aqui, ó.
E aqui também.

10.7.04

I'm obviously having some kind of nervous breakdown. I'll just ride it out and see where it takes me, Zelda Fitzgerald-style.
Daria, in "Depth takes a holiday".
Algum hematoma seu já chegou a passar do roxo e ficar verde?
Verde sombra-de-olho?
Kierkegaard on my mind

Desde que fiz a prova hoje de manhã não consigo parar de pensar nesse cara.
Prova de ética, e acho que a menina do lado estava tentando colar de mim.
Também não consigo parar de pensar nas "balizas éticas" pós-modernas. Cuidado consigo e para com o outro, consideração com a pessoa, responsabilidade, limites, veracidade, liberdade, gozar a vida.
Veracidade é um conceito muito diminuído; ele pode atrapalhar a realização dos outros fácil, fácil. Veracidade é ser verdadeiro consigo e com os outros; se você mente para si mesmo, como realizar, por exemplo, a responsabilidade e o cuidado? Você não vai antever conseqüências se for desonesto consigo mesmo e vai atropelar o outro. E depois vai mentir de novo para si, tornando-se mais desonesto. A falta de veracidade é uma bola de neve.
Gozar a vida. Aproveite, porque é de grátis. Aprecie com moderação, senão você se rompe; palha pra todo lado, Espantalho.
(because, because, because, because...)

9.7.04

Saí do Terra, que não deixava nem eu hospedar as figuras com hotlinking, mesmo pagando 30 reais por mês. Cansei.
A página de arte existe agora apenas em seus corações. R.I.P.

Correção: era a página de desenhos e fotos... adoro minha dislexia, sério.

8.7.04

Detalhes tão pequenos

Uma folha de amendoeira estava num tom rico, muito melhor que a das outras. Como a diferença entre a morena e a morena jambo.
Um morango estava mofado na caixa. Os outros estavam vermelhos e saudáveis.
Entre as 8:30 e as 9:30 da manhã é o único horário que bate sol na minha casa. Devo abrir as persianas nesse horário para o bem de meus cactos. Nunca abro. Hoje abri.
A Tijuca é óbvia demais. A Tijuca é onde o óbvio ulula. Ulular é gritar, a propósito.
A Tijuca acontece como descrita nas colunas dos formadores de opinião. Infantes discutem o último comercial da cerveja e falam do cachê do Zeca Pagodinho como se esta fosse a profissão do futuro.
Peões de obra nordestinos dormem bêbados e sujos nas calçadas.
Gente pede esmola e um sujeito ligeiramente menos fodido dá a esmola.
Freiras e jovens grávidas passeiam lado a lado.
Motoboys felizes por terem um veículo de combustão interna.
Todo mundo assiste e discute o BBB.
O jeitinho acontece.
A Tijuca é o Brasil óbvio demais.
...rodopiou e passou na audição, tornando-se uma dançarina...

Pra quem não consegue ler: Segunda-feira, 12 de julho de 2004. Das 19:30 às 22:30. Casa de Cultura Laura Alvim. Av. Vieira Souto 176, Ipanema. Eu sou uma das "25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira".

6.7.04

Titulação II

POR FAVOR parem de fazer trocadilhos com "para ti" ao dar notícias sobre a Flip.
Sobre a internet:
"Give an infinite number of monkeys typewriters and they'll produce the works of Shakespeare. Unfortunately, I feel like I'm reading all the books where they didn't."
"Lei do
Abate" é
sancionada


Três de onze (ou seja, três linhas de no máximo onze letras cada). Prova de titulação de hoje.

Argolo é
um grande
escroto


Três de nove (que Argolo diz sermos incapazes de fazer). Viu? Com o estímulo certo, até que é fácil.

Três de três ele diz ser quase impossível.

ARG
OLO
FDP


Quase.

5.7.04


do i look evil to you?
O Princípio Twist

Mate Leão. Minha invariável beberagem de todo dia. Doce, mas natural, sem tanto açúcar e sem gás.
Gosto de Mate com limão. Eu peço ao garçom, por favor, um mate com limão sem gelo. Porque o gelo derrete rápido e deixa o mate aguado e sem gosto. Com gelo, só uma (rara) coca. Mas o garçom pergunta logo depois: natural? ou então com limão?
A confusão é que o costume dos restaurantes é trazer os copos com gelo e limão, e o mate existe nos sabores natural e com limão. Quando eu digo com limão, o garçom acha que estou me referindo ao copo, que seria para trazer com a rodela de limão.
Se o garçom colocar a rodela de limão no copo e trouxer o mate natural, o mate vai ter gosto de limão. Se ele trouxer o mate com limão e o copo sem limão, o mate vai ter gosto de limão. E se ele trouxer mate com limão e rodela de limão no copo, o mate vai ter gosto de limão.
Ou seja, tanto faz.
Respondo, afinal, que o mate deve vir com limão.

Mas quando vou a São Paulo, enfrento uma variação. Peço mate e o garçom nunca entende de primeira, porque esqueci de corrigir o sotaque, pedindo "match" e não mate. Não, não pedi um jogo de futebol descrito num jornal dos anos 50. Pedi aquele líquido industrializado composto da erva que os gaúchos punham nos seus chimarrões. Aí eu repito, quero um MA-T-TE, e o garçom entende. Aproveito logo para dizer com limão, pois aí ele já sabe que estou falando do mate, não do copo.

3.7.04

Hoje senti vontade de falar da moça esquizofrênica que mora aqui em cima. Esqueci o nome dela, mas não faz mal; esqueço o de todo mundo.
Ela sapateia no chão; espero o barulho passar, ela sabe que estou esperando, sossega. Ou o Ritalin, não posso saber.
Encontro-as geralmente na portaria, sentadas na muretinha branca. A mãe dela tem um sorriso gelado e aflito e fixa o olhar em todos que passam. Ambas estão vestidas de acordo com a última moda dos anos 60. A menina está decorada com um casaquinho azul e um colar de pérolas igual ao da Lisa Simpson. Calças compridas marrom-escuras. Mãos postadas no colo, ensina a etiqueta.
A menina está sempre com a boca entreaberta. Junto com os olhos muito grandes, dá aquela expressão de deficiente mental. Ela é branca e grande, deve ter 1,80m, bonita sem favor. Cabelos bem pretos e curtos, mais fácil de controlar. Anda meio curvada, ninguém vai colocar um esquizofrênico na RPG.
Quando estou na área de serviço eu ouço-a falando:
- Nhhh! Mãããi! Nhhhh!
E outro dia ouvi uma voz perfeitamente calma, jovial, segura, falando assim:
- Mãe. (*não ouvi muito bem*) senão não dá tempo de lavar a louça.
Parecia uma interpretação, juro por Deus. Parecia uma atriz falando no teatro, articulada, firme, sabendo o que está falando. Falando do jeito que eu sempre quis falar, alto e claro e com certeza. Sempre ouvi dizer que esquizofrênicos têm "divisões" no cérebro, que podem desenvolver segundas personalidades. Parecia ela mesma, mas não posso saber.

2.7.04

Um dos professores mais adorados por mim lá na faculdade, o Welley, além do Paulo Pires, do João Freire etc. Ele convoca participações dos alunos que raramente acontecem espontaneamente, portanto ele é forçado a iniciar todas as perguntas por "VOCÊ" e um dedo do tamanho de um salame na cara do "voluntário".
Explicando não-sei-o-quê, ele perguntou para uma pobre menina como ela se definiria em uma palavra. Não tive nem tempo de sentir pena dela porque a próxima a ter a unha na cara, sim!, eu mesma - e, na falta de resposta melhor, respondi que eu era tímida. Praquê.
Welley cantarolou aquela música da Rita Lee, "mamãe, acho que estou ligeiramente grávida..."; porra.
Calma, eu explico. É que sou eu quem responde a todas as perguntas que ele faz. Quase todas. Mas é que as pessoas da ECO parecem achar elegante sustentar um ar blasé diante das aulas, como se não estivessem ouvindo nada de novo. Em algumas, mantenho o mesmo olhar, mas é porque realmente não estou ouvindo nada de novo; mesmo assim, se a aula for um cu e eu pescar algo de bom, demonstro meu desabrido entusiasmo. Sou burra e grossa, faço perguntas e as respondo. É.
Mas não, quanto ao Welley, não fiquei brava não. Só achei que devia ter respondido "estranha". Melhor talvez. Definiria minha instabilidade.
Sei também o que outras pessoas pensaram no exato momento em que ele fez a pergunta - talvez, respostas melhores que a minha.
As pessoas acham que para fazer um roteiro, você tem que colocar muitas músicas bonitas. Mas não, tem que saber pôr músicas feias também...
(isso também se aplica ao resto. todo o resto.)
Falando assim eu pareço a maior maconheira, né?
É... as coisas que escrevo me acontecem... E de vez em quando aconteço as coisas que escrevem.
Minha segunda orelha de livro foi para um que tem um capítulo inteiro sobre... oráculo de Delfos e pitonisas. É. Ha ha.
Joelhaços

-Mas você vai voltar pra casa a essa hora?
-Vou, ué
-Mas meia-noite...

Se tem que acontecer alguma merda, sempre acontece no último quarteirão do caminho. Onde quase fui assaltada, só não fui porque dei um joelhaço no menor.
Pois nesse quarteirão eu sinto que tem alguém andando bem atrás de mim. E mais, me olhando. Por isso, não olho para ver quem é; é pior. A sombra se estende ao lado da minha. Abro espaço pra passar e a sombra não passa. Pára. E fala comigo.
- Estou atrás de você porque eu moro na rua Farani.
"E eu com isso?"
- Moro na Farani. Você mora onde?
"O cara me segue desde lá de trás e pensa nessa cantada? Pior, pensa que alguém cai nessa? É um fodido, não vai entender ironia. Vou assustar ele."
- Sai de perto de mim. Agora.
- Não, mas... eu não tô atrás de você... eu moro na Farani...
"Você mora no cu do judas, isso sim."
- Então continua. Vai pra Farani.
Fico parada.
- Mas...
Ando na direção contrária. O sujeito finalmente percebe que a cantada não funcionou e vai pra Farani.
É... Jennifer Beals colocou suas polainas, rodopiou de costas no chão e passou na audição.