22.10.04

Essa cidade me magoa. Me deixa magoada. Assim: oh! como você pôde fazer isso comigo! (e com isso, fazê-lo consigo mesma?). Mas agora ela tem me deixado mais agastada. Agastado, se você procurar no dicionário, vai dar algo como zangado, irritado. Mas não diz que tipo de zanga é. Você precisa ter lido algum Fernando Sabino para saber que agastado é o que se fica depois de uma longa discussão infrutífera, que tocou as raias do absurdo, sem que nenhuma das partes arredasse pé de sua posição. Claro, isso é só uma das situações em que se fica agastado. A pós-modernidade é altamente propícia a ficarmos, cada vez mais, agastados.
Acho mesmo que eu tenho que descobrir o prazer de explicar as coisas.
Estou pensando seriamente em virar acadêmica só para fazer trabalhos esdrúxulos. Como A representação pictórica estilizada do ser humano - uma análise de discurso (um trabalho sobre bonequinhos de porta de banheiro e avatares de messengers) e A apropriação do discurso do desfavorecido - o biopoder aplicado (um trabalho sobre a semelhança entre os atendentes de telemarketing e os vendedores de bala nos ônibus e sinais. Estaremos enviando sua mercadoria em três dias úteis e você vai estar recebendo o recibo correspondente. Canetas ponta fina de escrita macia, nas lojas você estaria pagando de um real a um real e cinqüenta centavos, na minha mão vocês vão levar, senhores, três por um real!).
Capaz de dar certo. Tirei 9 e meio da vez em que usei Um-Olhinho, Dois-Olhinhos e Três-Olhinhos na bibliografia.

20.10.04

Eu nunca falei a fundo do trabalho. Mas sinceramente, eu esperava que fosse ser muito pior. O tempo que eu gastei deliberando sobre o que teria um nível mínimo de insuportabilidade parece que foi bem gasto. Achei um nicho com gente bem legal e trabalho idem. Acho que a pessoa com que tenho mais a ver é a revisora. Curioso que ela seja a mais velha e eu a mais nova (cronologicamente). Quando dá tempo, trocamos umas palavrinhas intelectuais. Hoje chegamos à conclusão que nosso trabalho lembra muito o do Homem que copiava. Nunca sabemos os inícios e nem os finais das coisas que traduzimos. Pegamos um processo em andamento, um contrato não-assinado, um programa de monitoramento, e simplesmente não se sabe como a história acaba. Isso pode ser muito angustiante. Outro dia, vi uma peça de que traduzi o contrato num busdoor e fiquei quase... aliviada. Genuinamente feliz. Curiosidade saciada, sensação de completude, tudo isso.
Pior é saber que a vida, por terminar em morte, é isso: não saber o final da história. Nem o nosso enterro podemos ver. Eu acho.

19.10.04

Ficar sozinha numa casa de 240 metros quadrados logo depois que alguém muito próximo a você morreu naquela cama ali do lado? Tranqüilo. Só me senti muito corajosa ontem, depois de ler Coraline na íntegra e cair no sono instantaneamente logo depois.
Coraline usa os elementos consagrados do sobrenatural com extrema habilidade narrativa, manejando bem o suspense/surpresa. Esse era exatamente o tipo de livro que me impedia de pregar os olhos. Embora não muito fácil de se encontrar, por ser difícil de se escrever, eu esbarrei em alguns na minha vida.
Um deles foi "Manu, a menina que sabia ouvir" (ei, mudaram o título), de Michael Ende. Os misteriosos homens cinzentos, que estão em todo lugar, mas ninguém os percebe (lembra Matrix? O livro é de 1978...), querem roubar o tempo de todos os humanos, e a única pessoa que podia impedi-los era a inocente menina Manu. Este livro amedronta porque é excelente. Até hoje. Tem gostinho de Matrix, só que mais poético e europeu. O mais estranho é que ninguém sabe como veio parar na nossa estante. Sei que li uma recomendação no Guia do Dr. Rinaldo de Lamare para Educar seu Filho (que eu lia, para saber como educar a criança de oito anos dentro de mim) e adorei a sinopse. Passei a desejar ardentemente lê-lo e, um dia, procurando algo para ler na estante, encontrei-o. Comemorei pela casa toda, explicando a história, mas ninguém achou assim muito estranho. Isso, aliás, parece Coraline.
Frank Peretti, porém, foi o mestre em me deixar insone. Era uma coleção infanto-juvenil de 4 livros com uma família de arqueólogos cristãos, os Coopers (duh). Sim, você leu direito: arqueólogos cristãos. Sempre as excursões tinham a ver com alguma profecia bíblica e um ambiente claustrofóbico: cavernas, tumbas, fundo do mar (aliás, a filha, Lila, era a personagem-título do Presa no fundo do mar.) . Os livros são bons para leitores iniciantes, ou seja, têm o nível de um best-seller, não espere demais. Sempre os incrédulos, após demonstrar sua extrema fraqueza/covardia/ganância/soberba, se ferravam bonito. Podiam, é claro, se salvar, caso se arrependessem a tempo. O problema era quando a besta bíblica irrompia na história: enoques de seis dedos, demônios atrás da porta do Apocalipse, cobras gigantes adoradas por seitas pagãs (o melhor e mais horrível deles, "Fuga da Ilha de Aquário", aparentemente esgotado). Eu me escondia embaixo do edredom e rezava que rezava, mas só pregava os olhos às 4. O pior é que era viciante, e eu não conseguia parar de ler e reler...
Ridículo, ridículo! Tive que andar muito pela casa de noite, insistir muito em dormir sozinha, pensar muito bem porque certas coisas/sonhos me enchiam de terror. Tudo pensando na possibilidade de, certa noite, já morando sozinha, muito bem estabelecida, sentir um terrível pânico e ter que interfonar pro porteiro com alguma desculpa esfarrapada: acho que ouvi barulho de ladrão. Acho que esse medo venceu os outros. Medo de não ser auto-suficiente.
"É um mal não freqüentar o bem", Arnaldo Jabor (muda na próxima terça), Globo de hoje, sobre o que seriam o mal e o bem nos dias de hoje:
"Outro dia, um bispo excomungou um juiz que autorizou o aborto de uma criança sem cérebro. O aborto legal é o mal? O bem é deixar nascer trágicos desgraçados? O bispo acha que sim. E, além de tudo, sugeriu que os filhos anormais ou de mulheres estupradas não fossem abortados e que depois fossem educados pela Igreja, como órfãos malditos. Talvez seja o pior destino para uma criança: "Quem é você?" "Eu sou o filho do Motoboy assassino, adotado e educado pelo d. Tomás Balduíno.""

16.10.04

A nova música de Jorge Vercilo é um pagode paulista disfarçado, presta atenção.

14.10.04

THE JAM
Butterfly Collector

So you finally got what you wanted
You've achieved your aim by making the walking lame
And when you just can't get any higher
You use your senses to suss out this weeks climber
And the small fame that you've acquired
Has brought you into cult status
But to me you're still a collector

There's tarts and whores but you're much more
Your a different kind 'cause you want their minds
And you just don't care 'cause you've got no pride
It's just a face on your pillowcase
That thrills you

And you've started looking much older
And your fashion sense is second rate like your perfume
But to you in your own little dream world
You're still the Queen of the butterfly collectors

As you carry on 'cause it's all you know
You can't light a fire
You can't cook or sew
You get from day to day by filling your head
But surely you must know the appeal between your legs
Has worn off

And I don't care about morals'
Cause the worlds insane and we're all to blame anyway
And I don't feel any sorrow
For the Kings and Queens of the butterfly collectors

There's tarts and whores but you're much more
You're a different kind 'cause you want their minds
And you just don't care 'cause you've got no pride
It's just a face on your pillowcase
That thrills you

As you carry on 'cause it's all you know
You can't light a fire
You can't cook or sew
You get from day to day by filling your head
But you surely must know the appeal between your legs
Has worn off

And I don't feel any sorrow
Towards the Kings and Queens of the butterfly collectors
Os melhores foram os do final.

Saved! - Bom. Comédia feita para ex-evangélicas que andavam com uma bíblia fashion de couro branco, com zíper, e um pequeno adesivo furta-cor escrito Deus te ama. Não é um público tão grande, mas as pessoas normais ainda riem - nas horas erradas, de tanto que a Globo ridicularizou o Bispo Macedo. Tem momentos foffos para quem gosta. Who is down with the G.O.D.?

The edukators - Bom. Como filme-de-esquerda, é um pouco overdidático, mas satisfaz porque a história cresce muito bem, desviando-se dos obstáculos. Deve fazer sucesso no Rio.

Coffee and cigarettes - Bom. Potencial para ser o Lost in translation desse ano, Bill Murray incluído. É o seguinte: são vários curtas, mas ao mesmo tempo é um filme. Pode não ser profundo, mas acho que gostei mais da interação entre o Dr. Octopus e Steve Coogan. É uma brincadeira bem cruel, e das boas.
Se bem que também gostei dos gêmeos-corvos, do Bill Murray, da Renée, e das primas-Cates-Blanchetts, e do Jack e da Meg, e dos velhos, e...
...do xadrez onipresente, e da trilha sonora perfeita.

O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas - Bom. Os temas do outro filme da Asia (A virgem escarlate) estão presentes: a maternidade, a religião, a redenção por vias tortas. Podia falar muito dos recursos de montagem, fotografia e os efeitos especiais (os efeitos especiais...). Mas a moral da história é que Asia Argento é foda. Como diretora, como mulher, como atriz. Está provado, juramentado, sacramentado. O menininho que faz o Jeremiah também é foda. Pedem para ele cantar um hino e ele canta um hino punk com direito a cusparada, parte da letra.
A história é muito feia. Ao mesmo tempo, não é feita para se dizer olha que merda, tipo Réquiem para um sonho. É um quase-humor nigérrimo. Só não espere Branca de Neve.

13.10.04

Meu nome não é Johnny, o livro com as palavras-chaves: história real, João Guilherme Estrella, bem-nascido, fornecedor de drogas, anos 80, Zona Sul, Rio.
Estrella é o sobrenome da Maria Luiza desde que li a reportagem sobre Meu nome não é Johnny, porque achei perfeito. Mas foi a primeira vez que abri o livro.
Abro o livro e encontro as palavras espalhadas: Maria Luiza (com a mesma grafia), Estrella, Dulce Quental. Dulce Quental está voltando, aliás. Vamos ver se eu ajudo. No roteiro do A feia noite tem um remix da versão dela de Caleidoscópio. Tipo uma piadinha interna. Explico um dia. Um dia coloco o resto deste post. Prometo.
Ah, Quero ser Jack White ganhou o melhor curta do Festival. Informação do meu jornalista preferido.

11.10.04

Seria ótimo pensar que eles estariam se encontrando em algum lugar, mas.
...e uma semana antes, e pelo mesmo motivo, do Fernando Sabino. Nossa.
Um dia depois da Janet Leigh e uma semana antes do Christopher Reeve.
Este blog entrou em recesso ("minuto de silêncio") porque minha avó morreu. Depois, o Windows morreu. Mas as pessoas não podemos reinstalar.
Podemos jogar the Sims, no entanto. Enquanto espero ter tempo e promoção para comprar o meu (2) e quem sabe jogar com a minha avó, aperto o botãozito "Mourn" e choro parecido com um gato ronronando.
Eu nunca tinha estado em velório ou enterro. Fiquei pensando em três músicas, duas das quais me lembro ("Alvorada", de Cartola, e "Cocoon", da Bjork). Passei pelo túmulo do Cazuza (um bougainville enorme e florido) e do Santos Dumont (Ícaro).
Antes, de noite, senti um súbito impulso de jogar Lemmings. E joguei. E fiz chá para todas as mulheres da família. Dormi duas horas.
Eu disse, neste blog, quando saí daqui, que esta casa estava com câncer - quando ninguém tinha nem o sintoma. Às vezes a sensibilidade de escritora apanha coisas no ar, de verdade, pois é nisso que consiste: caçar borboletas invisíveis. E adianta alguma coisa? Somos todos lemmings.
Bom, mas o feng-shui, a disposição das coisas nessa casa ou o que quer que seja, está realmente ruim. Algumas coisas vou ter que mudar por aqui, tirar as dezenas (sim, dezenas) de porta-retratos, trocar os móveis de lugar, dar as coisas velhas, colocar um tapete, não sei.
Estou morando aqui sozinha. Claro que seria ridículo adicionar "como eu sempre quis". Quem quer uma coisa dessas? Todas as pessoas me perguntam: mas lá? Você? Lá, sozinha? Sem empregada? Sim. Até a empregada grávida de seis meses fugiu. Eu não. O que me incomoda, e sempre incomodou, foi o excesso de espaço, uma casa-metástase, praquê tão espalhada, irrational exuberance? 240 metros quadrados em um andar. O espaço sideral, incolonizável. Os fantasmas, se existem, são quietinhos. Não me incomodam mais que a bomba de água ligada a noite toda do lado de fora do meu quarto. Se bem que outro dia o som desligou sozinho.
Depois eu falo dos filmes que restaram. E ainda tem a repescagem.

4.10.04


"Cadê minha torrada? Torrada! Torrada! Torrada!"
Pois o careca se elegeu mesmo? É de se chorar. Claro que não é caso pra preferir o Fuzzy, mas poderiam pelo menos ter tido aquela briga no segundo turno, né?

3.10.04

Sábado, 2, 21:30. Kill Bill vol.2.
Bom. Realmente o cara é bom. E também dona... ops, quase digo o nome da Noiva. As mortes não são pirotécnicas como no 1, mas têm um senso de ironia que pessoalmente, aprecio mais. Estou pensando no que posso falar pra não revelar muita coisa. Barbas compridas são legais, ainda mais se acariciadas freqüentemente. A montagem está perfeita. Fiquei com vontade de jogar Tomb Raider de novo. Os créditos são engraçadinhos. As motivações dos personagens também são explicadas, e, na minha opinião, a contento.
Perguntaram se gostei mais de um ou de outro filme. Pensei, pensei, e disse que os dois são um filme só. E dele, eu gostei.

Sábado, 2, 14:30. Garota estratosfera.
Mais ou menos. Mais um filme redondinho, sem nada de inovador. Vá se gosta de quadrinhos e/ou belgas loiras vestidas de colegiais.
É realmente muito chato ser atéia quando tem alguém morrendo. Porque você sabe que aquela pessoa não vai pra nenhum lugar, não tem céu, não tem deus pra pedir pela alma dela que também não tem. Somos uma casa muito engraçada, sem parede, sem alma sem nada.
Isso não é motivo pra ser fraca e aceitar panfletos da prima espírita, do ex-marido evangélico, da vizinha católica, da amiga budista e da outra prima seicho-no-ie. Ah, e do afilhado reflexologista. Isso não é um exemplo aleatório, aconteceu. Justo na hora mais contra-indicada para ser idiota.
Mas o que dizer, então? Dizia: você vai melhorar, vai melhorar. E chega uma hora em que não vai mais melhorar, porra, não vai. E aí? Sinceramente, me escondi nos primeiros tempos. Até que cheguei a uma solução satisfatória: chegar pra pessoa e dizer, em doses homeopáticas pra não superemocionar um organismo já muito sensível, o que você sempre quis dizer pra ela. Bom ou ruim. E tirar suas dúvidas. Depois não vai mais ter chance.
E, no caso, descobri, foi bom. Preciosa, isso sim: a descoberta que só a última chance traz, e massagens nos pés. Em vez de puxar as mãos para uma reza decorada. Aí, "não quero" e frowns e fugas.
O nome verdadeiro de Helena Morley, de Vida de Menina, é Alice.

1.10.04

Sexta, 1, 21:30. Ziraldo - Profissão cartunista.
The moon is flicts.

Bom. Outra grata surpresa (é tão sensacional escrever grata surpresa quanto ter uma). Eles exploram todos os aspectos da vida do Ziraldo. O que deu um toque especial ao documentário foram as animações; cada vez que um entrevistado citava uma charge ou tirinha, ela aparecia animada e dublada concomitantemente.
Tem partes de se chorar. A parte do mural do Canecão (que não me é estranho, talvez tenha visto quando era pequena, quando fui ver o show da Turma da Mônica); a do encontro com o Neil Armstrong; a da terceira prisão do Ziraldo.
Também chorei em Vida de menina. E, digo sempre, não choro por besteira.
Sexta, 1, 16:30. Vida de menina.
Ótimo! Me surpreendi com este filme, não estava esperando nada dele. Mas é bom. É a história de uma outsider, só que uma outsider na Diamantina do fim do século XIX. Então, não tem sequer sombra de putaria. Sei que muitos rebeldes pré-fabricados verão este filme desfavoravelmente - ou não verão por puro preconceito, quando lerem "censura livre" no cartaz, porque ser outsider não é about putaria - não quando todo mundo tá nessa também. Outsider quer dizer enfrentar, reptar. E Helena faz isso à beça, com sua imaginação desembestada e falta de modos.
O filme é engraçado e emocionante. Tem timing, coisa que faltou a Nina. E provoca empatia a partir de um drama muito, muito pessoal.
Agora que já vi todos os filmes terminados em -nina do festival, posso dizer que Nina não tá com nada. O negócio é Helena.
Ah, e teve um filme que eu vi sem querer. Um curta. Quero ser Jack White. Antes daquele filme ruim, o Canções da noite. Um curta bom, entende, bom. Um tapa com luva de pelica na cara de Malhações da vida. Ou melhor, não tem nada a ver com Malhação, passa completamente ao largo. O nome do diretor? Charly Braun. Pode assistir e votar nele aqui.
Pára tudo. Vou rasgar as roupas. Nina sucks. E não completamente, como Olga, a outra coisa de quatro letras. Sucks um tiquinho. O que, pensando bem, é muito pior. Acertar quase no alvo é muito pior que errar completamente e acertar, digamos, um desavisado que ia passando. Assim: trash eu tolero, midcult nem pensar.
E eu pensando que teria que amarrar o Heitor Dhalia com fita isolante na janela pra ele fazer meu filme. Que nada. É machadada na cabeça. Ou lixeira. Tô pensando ainda.
Quinta, 30, 22:00. Viver com medo.
Mais ou menos. Ficção-científica (que não parece com o gênero) misturado com Barrados no Shopping. Sacadas geniais, e nada é muito explicado. Mais uma espécie de fábula sobre o Medo (sim, o catalogado por Michael Moore). Mas passa longe do chato. Bizarrice pura.
Quinta, 30, 19:30. Histórias bordadas.
Redondinho e Mais ou menos. Sabe um filme que é todo correto? História, atuações, roteiro, fotografia, direção. Só que passa uma mensagem não tola, mas que todo mundo já conhece? É um filme redondinho. É Histórias bordadas. Os diálogos são muito bons. No final, o filme deixa aquela deliciosa sensação de completude-sem-culpa que Matrix deixou nos nerds/hackers e as comédias românticas da Meg Ryan costumavam deixar na minha mãe.
É engraçado. Você vê alguns filmes e acha que já viu tudo; não é preciso ver de novo, por melhor que sejam. Outros, você quer ver mais e mais. E isso independe de serem bons ou mais ou menos ou ótimos: basta eles te dizerem alguma coisa. Este é dos que não precisam ser revistos.
Quinta, 30. 16:30. Nina.
Decepcionante! Não sei se chamo de bom ou mais ou menos pela decepção. Ótimo não é, infelizmente. O que é a Velha Escrota, Dona Eulália? E o figurino mangazóide de Nina? E a fotografia? E as seqüências semi-animadas do Lourenço Mutarelli? O melhor é mesmo a interação de Nina com a Velha e com o Cego.
Nina é adaptação livre de Crime e castigo, Dostoiévski. Desafortunadamente, tem uma hora que a história fica indecisa: não sabe se deixa ser a Nina ser impiedosa ou apenas um produto da sociedade escrota. E o final? Tudo bem mudar, mas... não entendi para o quê. Não captei.
O pior é que não sei se o diretor é bom e culpo o roteiro, ou se ambos têm culpa no cartório.
Ai, ai. Vale a pena ver uma vez.
As pessoas deixam o lenço cair e, sim, eu apanho. Mas apanho pra mim, afinal, achado não é roubado e também tenho lágrimas. E nariz entupido. Depois devolvo.
Quarta, 29, 22:00. Olga Benário.
Mais ou menos. Coitada da Olga. Não conseguem fazer um filme decente sobre ela. O mais constrangedor é que o diretor estava e era a estréia mundial. As imagens e as informações, freqüentemente, não têm nada a ver uma com a outra. Ou então, não se explica que diabos de imagem é aquela (uma janela de apartamento enquanto se fala da sogra de Olga?). Sim, tem o mérito de ser melhor que o Olga nacional (pelo que ouvi falar) e de mostrar algumas faces dela que o mesmo não consegue (Eu estou grávida de Luiz Carlos Prestes!). Mas não extrapola o mito; fica sempre passeando dentro dele, como num campo de concentração.