28.6.07

Pasquim, 1970

Millôr - (...) Você sabe que esta sua atitude agressiva em relação ao Cinema Novo em bloco (...) só poderá te dar lucro. Esta atitude, ela é consciente ou inconsciente em você?
Rogério Sganzerla – Ela é consciente porque eu não sou uma pessoa burra. Você mesmo falou que eu sou inteligente. Falando mal do cinema novo eu me esculhambo, eu me estrepo, é um negócio, inclusive, com um certo tom suicida, mas também eu ganho uma projeção que me interessa. Eu preciso jogar com isso.
Helena Ignez – Você é levemente oportunista, no caso?
Rogério Sganzerla – Não. Eu sou uma pessoa honesta. Se eu fosse oportunista eu iria tratar bem as pessoas que eu ganharia muito mais, eu venderia meus filmes pra Europa.


Zero Hora, 1974

Marcos Faerman: Rogério, você não era um cara muito bem comportado, antes de sua explosão no Bandido da Luz Vermelha? Você não era um cara bem comportado assim como Caetano Veloso antes da loucura e da genialidade de Alegria, alegria?)
Rogério Sganzerla: Sabe, eu sempre tive uma certa desconfiança daquela música, daquilo que vinha sendo feito desde 62, 61, a busca de uma cultura brasileira, nacional e tal, um negócio meio fascista, com a mesma linguagem de Mussolini, de buscar uma "cultura brasileira". Isso eu acho errado porque se a gente enterrou toda uma cultura ocidental, por que vai salvar a nossa? Eu acho que é um sentimento possessivo de guardar os pequenos elementos daquilo que se produz. Eu acho que a gente devia botar no fogo a cultura brasileira também, e não tentar separá-la, isolá-la do universal, da jogada geral.


Assisti O bandido da luz vermelha e achei chato. Isso não impede que ache o cara genial nas entrevistas. E vai sair um livro só disso. Depois dou mais detalhes.

27.6.07

Playlist "relaxa e goza" para o caos aéreo + algumas justificativas

1. Plastic Bertrand - ça Plane pour moi
2. cherlie barnet - skyliner
3. weird al yankovic - albuquerque ("cause I had my tray table up/And my seat back in the full upright position")
4. Mum - We Have a Map of the Plane
5. Audion - Hot Air (balões são uma opção)
6. Grooverider - Fly with Me
7. Underworld - Jumbo
8. evangelion - Fly Me To The Moon (Acid Bossa Version)
9. last life in the universe - gravity
10. Underworld - Winjer
11. daft punk - aerodynamic
12. Michael Mayer and Reinhard Voigt - Sky Dumont
13. Nina Simone - Fly Me To The Moon
14. Smoke City - Flying Away
15. underworld - bluski
16. Domenico + 2 - Aeroporto 77
17. Os Mutantes - Ando Meio Desligado (I Feel a Little Spaced Out)
18. Marumari - Way In The Middle Of The Air
19. Gerador Zero - Samba do aeroporto (pra gringo ver)
20. Didier Sinclair - Take a trip

26.6.07

Lembram que eu disse que preferiria uma crítica que falasse mal mas tivesse entendido o A feia noite do que uma que o elogiasse mas parecesse perdida? É disso que estou falando.

PS: Acabo de perceber que este post ficou ambíguo. (Eu sempre percebo o óbvio depois, nem sempre a tempo de me retratar.) É que essa crítica fala mal do A feia noite mas decididamente o entendeu, e fiquei feliz com isso, especialmente porque o autor sabe que outras pessoas poderiam gostar, e isso é tão raro...
Notas para melhorar o país

Não esfregar na cara dos outros suas vantagens nem ficar putinho da vida com suas limitações. Para isso é preciso esvaziar o balão de ego e inflá-lo de “generosidade” (deve haver uma palavra para isso em chinês - cheng ou budan xin, quem sabe). Nem todo motorista é o Ayrton Senna, nem todo policial é James Bond, nem todo bandido é Al Capone.
Faz tempo que não posto sonhos. Eles têm se divididos em sonhos do passado (eu adolescente) contaminados de futuro e sonhos de futuro (eu balzaquiana) contaminados do passado. O que vou contar cai nessa última categoria. Lembro que percebi que era no futuro porque o sonho deixou duas pistas claras: 1) eu tinha um carro e dirigia 2) eu lia um conto inédito (e póstumo) do Salinger. Era inacreditável. Ele narrava uma experiência pessoal no melhor estilo new journalism.
Depois de sua morte "ficamos sabendo" que, periodicamente, ele deixava a reclusão incógnito e arrumava um bico numa fazenda, ao lado de chicanos e white trash. As pessoas pensavam que ele era um amish foragido, com aquela barba. Ninguém nunca ia notar que se tratava de J.D. Salinger. E não notaram mesmo. Mas o conto não era sobre isso, claro. Era sobre como ele “ainda era forte”. E um pouco sobre as plantas andarem esquisitas. E eu indagava em pensamento, será que ele sabia dos transgênicos?
Eu dirigia mal, muito mal. Fazia curvas horríveis. As mãos das ruas tinham mudado. Minha padaria preferida estava ampliando para ser também um cybercafé. A mobília dos computadores era de fórmica vermelha. Mondo bizarro.

22.6.07

Bakhtin e Beber

A ervilha que me mantém acordada está no solo de algumas cidades. Se eu alcançar a plena felicidade, não escrevo, porque escrevo a partir de uma insatisfação, escrevo para mudar a realidade. São Paulo não é uma delas. Nova York não tenho nem vontade de visitar. Já estive em Minas e no Nordeste quase todo, que me soaram como uma espécie de pesadelo lento de Brasil profundo (gostei de Maceió e de Belo Horizonte, só para visitar). E o Rio onde moro? Não tenho nenhum apego especial a ele, senão a dois bairros, Botafogo e Tijuca. Estou escrevendo isso e ouvindo um sambinha ao vivo que pede esmola no bar térreo. Disso, e do resto, certamente eu não sentiria falta. meu livro A feia noite é sobre isso: o Rio acabou, só falta o maremoto.
Penso em me mudar para Curitiba ou Florianópolis. Nunca fui ao sul, em parte por medo de não querer voltar. Gosto do frio, porque me incomoda e, portanto, me inspira. Além disso o sul tem tradição de parir bons escritores e eu não me importaria de experimentar essa mágica.
Outros lugares em que poderia morar tranqüilamente:
- Brasília. Aí teria que ter um carro. Meu nariz sangraria no inverno. Teria muito sobre o que escrever. Tem vida noturna.
- Londres. Não suportaria ser garçonete. Sou muito desorientada para ser taxista. Poderia traduzir, mas teria que aprender o português de Portugal. Tem vida noturna.
- Petrópolis. Taí: em vez de correr para a metrópole, vou criar gato (um só) e filho(a) (um só) na cidade imperial, com gosto de monarquia e friozinho. Também precisaria de um carro e uma conexão banda larga. E de um trabuco para defender minha propriedade. Tem OVNIs.
Bertrand Russell

"O poder secular, ao contrário, estava nas mãos de reis e barões de origem teutônica, os quais procuravam preservar, o máximo possível, as instituições que haviam trazido das florestas da Alemanha. O poder absoluto era alheio a essas instituições, como também era estranho, a esses vigorosos conquistadores, tudo aquilo que tivesse aparência de uma legalidade monótona e sem espírito. O rei tinha de compartilhar seu poder com a aristocracia feudal, mas todos esperavam, do mesmo modo, que lhes fosse permitido, de vez em quando, uma explosão ocasional de suas paixões em forma de guerra, assassínio, pilhagem ou rapto. é possível que os monarcas se arrependessem, pois eram sinceramente piedosos e, afinal de contas, o arrependimento era em si mesmo uma forma de paixão. A Igreja, porém, jamais conseguiu produzir neles a tranqüila regularidade de uma boa conduta, como a que o empregador moderno exige e, às vezes, consegue obter de seus empregados. De que lhes valia conquistar o mundo, se não podiam beber, assassinar e amar como o espírito lhes exigia? E por que deveriam eles, com seus exércitos de altivos, submeter-se ás ordens de homens letrados, dedicados ao celibato e destituídos de forças armadas? Apesar da desaprovação eclesiástica, conservaram o duelo e a decisão das disputas por meio das armas, e os torneios e o amor cortesão floresceram às vezes, num acesso de raiva, chegavam a matar mesmo eclesiásticos eminentes".

Bertrand Russell em A filosofia entre a religião e a ciência - versão do leituradiaria.com (vá conhecer o site, que vale a pena)

21.6.07

Disciplina

Um dia vou fazer um livro que aborda o que nunca vi nenhum manual de escritor abordar:

Como tratar suas idéias.

Tem muitos dizendo para não usar gerúndio e encurtar os períodos, mas qual. Acho que as épocas em que escrevi pior na minha vida foram as épocas em que tive as funções sintáticas e afins abrigadas na cachola. Foram curtas. Com a aprovação no vestibular, puxei a descarga.
Tenho idéias sobre idéias, que me parecem bem mais importantes e interessantes do que leréias sobre onde posicionar um sujeito. Idéias para disciplinar a cabeça e ter mais idéias. Assim o bloqueio de escritor passa a ser uma espécie de anedota. Você pode até se perder no caminho, mas vai sair da floresta em cima de um elefante.
Por exemplo, o dicionário de sinônimos do computador emburrece. É um fato. Mas você sabendo como usar, pode até ficar mais inteligente. Você apertou shift+F7 e as opções que pularam na tela não agradaram? Procure lembrar de outras. Tantas quanto puder. Digite uma por uma, enquanto olha para o computador com ar de superioridade, chamando ele de burro. Faz bem para o ego e para o cérebro.
Outra: pode as idéias ruins no começo. Esta é polêmica. Eugênica. Mas se funciona com uma macieira, porque não funcionaria com uma mentalidade? A "idéia ruim" é muito subjetiva, mas geralmente ela é um ou mais dentre:
a) batida
b) chata
c) óbvia
d) interessantíssima, mas sem futuro.
A categoria d é, de longe, a mais difícil de renunciar. Mas temos que praticar o desprendimento. Nem anote esta idéia. Siga adiante e finja que não viu. Agora, quanto às boas idéias: não confie em "anotações mentais" quando tiver uma: pare onde estiver e anote.
Seção de substituição do hype pelo bom

Lembram de quando mandei esquecer a Inês Pedrosa e ir atrás da Agustina Bessa-Luís? São duas escritoras portuguesas, mas a diferença é que todos conhecem a primeira, que acho apenas razoável, e a segunda, que acho fenomenal, uma Lispector mais matreira, é totalmente desconhecida por estas paragens.
Pois bem, agora é o seguinte: esqueça o Wong Kar Wai, o cineasta coreano hypado de 2046, que só presta pela trilha sonora latina e figurino, e abrace com todas as suas forças o Pen-ek Ratanaruang, cineasta tailandês brilhante. O cara fez um dos meus filmes preferidos, A última vida no universo, que é uma espécie de Encontros e desencontros que deu certo, e parece com meu livro, A feia noite. Ele tem outro de que também gosto muito, o 6ixtynin9, que é engraçado e parece um livro da Ana Paula Maia.

17.6.07

Eu percebi que o sucesso é descartável pra mim e que eu sou descartável para o sucesso. Eu só quero pessoas que me leiam, só isso.
Entrevista ao Clickinversos, confira.

A propósito, uma entrevista boa com o escritor espanhol Javier Cercas saiu ontem no Prosa & Verso do Globo (é de graça mediante cadastro). Também trata destas questões de sucesso:

(...) é fácil ser assaltado por duas tentações inversas. A primeira é se transformar num outro J.D. Salinger e desaparecer. A segunda é virar arroz-de-festa e "palhaço televisivo", participando de qualquer programa que não necessariamente tenha a ver com literatura. Cercas diz que escolheu o meio-termo: levar uma vida normal.

15.6.07

Melhores livros infantis

Seu filho só quer saber de mangá e, quando te pede um livro, é de alguma adolescente que conta suas ousadas experiências pessoais com sexo drogas e roquenrou? Calma. Primeiro porque eu também leio mangá e posso atestar que alguns realmente prestam. Segundo porque sou generosa o suficiente para compartilhar alguns títulos de livros que acho de qualidade e ainda por cima classificá-los por gênero. Essa idéia veio da lista de melhores livros infantis dos últimos 20 anos da FNLIJ que, na maior parte, parece voltada para criar pequenos emos. Ê livros chatos! Acho que os autores citados são certos, mas as obras não estão entre suas melhores. É o caso de se perguntar: os votantes já foram, alguma vez, crianças?
Enfim, resolvi fazer a minha lista com autores de todas as nacionalidades, até porque dependo da formação de bons leitores pra sobreviver como escritora. Já até coloquei os links, o que me fez descobrir, com pesar, que a era do politicamente correto raspou das prateleiras alguns dos melhores livros (A gang do beijo, por exemplo, em que estudantes formam uma gangue para roubar beijos). Por isso, alguns dos links apontam para o Estante Virtual, excelente ferramenta de busca em sebos que todos deveriam conhecer. Vamos ao que interessa:

Livros para crianças (até 6 anos):
O bichinho da maçã - Ziraldo
Contos de Perrault (a versão sem cortes, com ilustrações de Gustave Doré.)
Chapeuzinho vermelho e outros contos por imagem - Rui de Oliveira (ilustrações) e Luciana Sandroni (texto)
Melhor que a encomenda - Edy Lima

Livros nacionais engraçados (7-11 anos):
Tudo do Monteiro Lobato, o mais cedo possível
Ludi na TV - Luciana Sandroni
Bisa Bia Bisa Bel - Ana Maria Machado

Livros nacionais aventurescos (8-13 anos):
O caso da borboleta Atíria - Lúcia Machado de Almeida
O escaravelho do diabo - Lúcia Machado de Almeida
Doze horas de terror - Marcos Rey
Sozinha no mundo - Marcos Rey
Tudo do João Carlos Marinho (Turma do Gordo, especialmente os primeiros, como O gênio do crime e Sangue fresco)
Coleção Karas do Pedro Bandeira
A gang do beijo - José Louzeiro
A ordem dos futuros - Ricardo Gouveia
Amanhã será o deserto - Ricardo Gouveia
Boçoroca! - Ganymédes José
Acordar ou morrer - Stella Carr
Viagem pelo ombro da minha jaqueta - Lô Galasso
Confusões e calafrios - Silvia Cintra Franco

Livros engraçados e assustadores ao mesmo tempo (maioria inglesa, 8-14 anos):
Tudo do Roald Dahl (Matilda, A fantástica fábrica de chocolate)
Mary Poppins - P. L. Travers
Coraline - Neil Gaiman
Grimble - Clement Freud (sim, neto do dito-cujo)
Assombrassustos - Stella Carr
A cidade que encolhe - Elisabeth Maggio
O senhor dos pesadelos - Elisabeth Maggio

Criando mulheres inteligentes:
O passado esteve aqui - Stella Carr
Coleção da Mafalda (quadrinhos)
Romeu e Hiromi - Luiz Galdino (boa para desviar a atenção do mangá: a "Julieta" da história é descendente de japoneses)
Pro que der e vier - Diana Noronha
O grande escarcéu - Eliane Maciel
A marca de uma lágrima - Pedro Bandeira (livre adaptação de Cyrano de Bergerac)
Agora estou sozinha - Pedro Bandeira (livre adaptação de Hamlet)

Criando um futuro ser político:
Uma história de rabos presos - Ruth Rocha
Meninos sem pátria - Luiz Puntel
O diário de Zlata - Zlata Filipovic (na guerra da Iugoslávia)
O diário de Anne Frank - Anne Frank
Revolução dos bichos - George Orwell

Abrindo a cabeça (e colocando algo de bom lá dentro) - por ordem de idade:
Tudo do Malba Tahan (ensina matemática + imuniza contra Paulo Coelho)
Momo e o senhor do tempo- Michael Ende (mas a primeira edição brasileira tinha uma tradução bizarra: Manu, a menina que sabia ouvir. Foi a que li.)
O mundo de Sofia - Jostein Gaarder

Fase de transição: dos 13 aos 17 anos, de repente você está de saco cheio de tudo e só quer jogar XBox. É que falta uma boa literatura feita especialmente pra quem tem esta idade. O ideal é pegar livros de adultos que tenham algum interesse para essa faixa etária:
Trilogia O senhor dos anéis do Tolkien (eu achei um saco, mas há quem adore)
Admirável mundo novo - Aldous Huxley
Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams (o primeiro de uma série de quatro livros de puro nonsense inglês)
Planolândia - Edwin A. Abbott (se você curte matemática e geometria)
1984 - George Orwell
Capitães de areia - Jorge Amado
2001 - uma odisséia no espaço - Arthur C. Clarke
Laranja mecânica - Anthony Burgess
Crônicas do Fernando Sabino (O encontro marcado não, pelo amor de Deus. Comece com O menino no espelho.) e outros bons cronistas.
Algo da Agatha Christie
Tudo da Clarice Lispector (ela pode ser intragável na primeira tentativa. Eu precisei de três até engrenar. Comece por Felicidade clandestina.)
Histórias extraordinárias - Edgar Allan Poe (compre a edição da Ediouro, que é adaptada pela Clarice Lispector)
No shopping - Simone Campos (sim, meu livro.)

Caso você deseje criar um chato, dê para ele ler O pequeno vampiro, Lygia Bojunga Nunes, O pequeno príncipe, os livros infantis da Clarice Lispector e muita Giselda Laporta Nicolélis e Odette de Barros Mott.

14.6.07

A criatividade dos spammers não conhece limites. Agora você, usuário do Orkut, recebe mensagens com títulos "baladeiros" mas que sempre fornecem um link para propaganda, pornografia ou phishing. Quem envia é sempre um perfil fake com nome feminino - desses de puta, como Giselly ou Danielly. Os tais títulos baladeiros é que são um achado. Há desde insinuações de desencontros em supostas festas animadíssimas (tb te vi lá ou nao te vi lá..., três pontinhos) a rendez-vous marcados nas costas da namorada (quarta eu posso). Fora das referências sexuais, há o mais inocente vê só esse vídeo e variantes. É claro que muitas dessas variantes vêm escritas em miguxês, com severa falta de acentos e exclamações a dar com pau. Mais um detalhe: são curtas. Quem suporta ler mais de cinco palavras?
Quem bolou isso é um gênio do marketing hacker. Por quê? Porque só gente idiota leva uma vida dessas. Só gente idiota conhece Mariannys com quem marca encontros em micaretas escondido da noiva. Portanto, não só vai esperar receber este tipo de mensagem de suas "primas" como também vai ter a falta de tutano necessária para achar que, clicando no link dado por uma mensagem com título falso, vai realmente obter créditos grátis pro seu celular ou ver a Ivete Sangalo pelada. Gênio.
A burrice nacional é um manancial a ser explorado como qualquer outro. Este tipo de extrativismo eu apóio, até porque, por puro behaviorismo, alguma hora a pessoa deve aprender a ser menos burra! E se este manancial fosse esgotado por utilização predatória eu não ficaria nem um pouco decepcionada (mas tento não me enganar: seria difícil).
Minha humilde sugestão ao Gênio é que façam um spam direcionado para mulheres, enviado por mulheres com nome miguxo/provinciano (Silvinha, Goreti, Maria Auxiliadora...) e com frases igualmente idiotas:
vc naum sabe da ultima!!!
Hans procura brasileira!!!
eu vi o final da novela!!!
cupons de desconto mtas marcas!!!
book profissional gratis!!!
Eufemismos

1 - "Não acredito que alguém esteja tentando roubar seu namorado". (por causa da má qualidade do mesmo. Frase roubada de Daria)
2 - "Ele nunca fez ninguém se sentir burro". (Frase roubada de Daria. Boa para funerais.)
3 - "Um cara muito aberto a diferentes experiências". (Anda com gente burra.)
4 - "Completamente despretensioso".
5 - "Não se deixa intimidar por suas limitações". (Frase roubada do Arnaldo Branco).

8.6.07

reach out and get in touch

Brasileiros e não-brasileiros. Vocês me conhecem. Eu tinha um celular que vivia sempre descarregado e um telefone fixo que estava sempre desconectado. Por isso, quase não recebia ligações. A despeito da pouca falta que possa ter sentido do mundo exterior, minha operadora maléfica me obrigou a ser sociável. Troquei o aparelho celular do Paleoceno por um do Pleistoceno - este até envia mensagens de texto!
Então você que tem o número ligue para o mesmo que eu atenderei e direi "alô". Ah, e o tempo que este aparelho demora para gastar a bateria é bem maior. Ou seja, estarei mais comunicável estes dias - mas antes, como que para compensar toda essa repentina abertura para diálogo, devo me enfurnar no sítio e comer fondue até domingo. Beijo soprado pro Salinger.
E tenho dito.
Simone
Meus caseiros têm internet. Isso significa que cada vez mais gosto de ir ao sítio, porque o papo deles é interessante - ainda mais se comparado aos grunhidos de alguns antecessores, especialmente o pai que ameaçava o filho de seis anos o dia inteiro com "vou te pegá de pau!" e assemelhados.

Mas estes meus caseiros, não. Esses dois justificam a inclusão digital para mim, que cada vez vejo mais gente sem modos e sem ortografia pela internet afora (não estou falando de gente pobre, estou falando de gente burra e preguiçosa*.) Quer dizer, eu falo da Condoleezza e a caseira, Andréa, sabe quem é e tem fortes opiniões a respeito. Ela conversa de tudo: política internacional, nomes de bebê, música, tecnologia. Às vezes ela me conta alguma coisa de que eu não sabia. Como é bom poder elogiar alguém para variar.

O nome da caseira é Andréa, mas às vezes vem um lapso e a chamo de Cláudia ou Adriana. Posso ver porque alguém ficaria chateado com isso, posso mesmo, e por isso peço sempre muitas desculpas. Mas é que há esses nomes que são iguais apesar de completamente diferentes, como Rodrigo e Marcelo ou Diogo e Felipe. Cláudia e Andréa são um destes pares, e ainda por cima tem Adriana, que é quase Andréa, oras. Enfim, eu faço um esforço enorme para lembrar que é Andréa, mas na algumas vezes não tem remédio: eu pareço uma daquelas infames megeras burguesas que chamam todas as arrumadeiras de Maria porque não querem decorar os nomes da "criada nova".

Tenho uma teoria. Sou esquecida, avoada, disléxica, distraída, qualquer nome desses. Assim, tudo que aprendo, observo, deduzo e sinto flutua para o subconsciente, onde se criam as histórias - e ficam lá, fermentando. É por isso que sou capaz de escrever: é o esquecer para lembrar do Drummond em prática.


*Aliás, JP defende a idéia de exames de habilitação para tudo. Ou seja, quando um sujeito entrar num bar e pedir café, o garçom apresentará ao candidato um breve quiz sobre suas substâncias, a estrutura química da cafeína, os males do uso excessivo do dito-cujo etc. Se não souber responder, não ganha café. Quer dizer, ganha o descafeinado.

3.6.07

final de temporada

Tive que ir a São Paulo esses dias - que meus amigos não-contactados me perdoem, foi meio que a trabalho e, ao mesmo tempo, funcionei de cicerone para minha mãe, que financiou a joyride, e tive uns estresses operacionais como contarei mais abaixo. Mas fiz o que pude: consegui ver o Santiago Nazarian, na aba dele conheci umas pessoas interessantes e, assim, quebrei a maldição de não conseguir ir à balada que me persegue desde os dezessete anos...
Fiz o contato profissional que precisava, dificultado pela operadora "Morto-Vivo" que insiste em bloquear meu StarTac só porque ele é idoso e "necessita de atualizações técnicas". Tive que passar pelo ordálio de falar com o telemarketing. A primeira ligação caiu, a segunda operadora me passou abruptamente para a terceira, com a qual tive um diálogo que logo descambou para o bate-boca.
- A primeira operadora desligou na minha cara e a segunda me passou sem avisar para você. A Morto-Vivo está com algum problema...
- É uma ameaça, senhora?
- Ameaça? (?????)
- A senhora acabou de dizer que vai criar problemas para a Morto-Vivo. Quero lhe prevenir que esta ligação está sendo gravada e que a senhora pode ser processada por isso.
- Não. O que eu disse foi que a Morto-Vivo está com algum problema... de comunicação com o cliente. Tanto é assim que você está me fazendo acusações sem cabimento e tentando me intimidar.
- Não, senhora...
- Então, Débora, eu gostaria do número de protocolo desta ligação.
- (voz triunfante) Não existe número de protocolo, senhora, porque eu não abri uma requisição.
- Ah! Então você está tentando me destratar e me intimidar porque tem certeza que não vai ter conseqüências... está se aproveitando porque a impunidade está garantida.
- Não, nãozinho...
- Tudo bem, Débora. Então, Débora, nesse caso eu gostaria de falar com o seu chefe.
- (voz esganiçada) Ih, querida... tchau, amor, tchau. Tchau, tchau.
E desligou na minha cara. É engraçado como a reação àquele diálogo surreal só veio depois: comecei a tremer, com o coração palpitando. Tive que deitar, tomar água. E isso meia hora antes do tal contato profissional... delícia pura. Engraçado como mesmo "virando o jogo" da mulher, eu perdi - nada do meu celular funcionar, e quedê ânimo para ligar de novo? Comprei um cartão telefônico e apelei para os orelhões.

De resto, foram aqueles programas de turista que te deixam esgotada e com os pés em fogo querendo apenas e somente dormir até as onze horas do dia seguinte - mas não pode, tem que acordar às oito para ir ao museu não sei das quantas. Vi Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa e as pessoas fatiadas na exposição do corpo humano. Fui ao Famiglia Mancini e vi de raspão o Jardim Botânico e o bairro da Liberdade. Minha mãe e eu ficamos em um hotelzinho simpático (embora com um gerente antipático e ligeiramente afetado de sotaque estranho). No domingo, atravessamos a praça bucólica em frente ao hotel, entramos num café e decidimos escancarar o paralelo Gilmore Girls com uma orgia alimentar fora de escala. Pedimos um combinado obscenamente completo que o lugar oferecia (15 peças, incluindo salada de frutas, chocolate quente, iogurte, suco de laranja, bolo, croissant), além de um waffle com calda de chocolate e um latte duplo. Tudo foi obliterado prontamente, para espanto (quase escândalo) dos circunstantes.