30.7.07

Acabo de descobrir uma palavra ótima: mousmé. É em francês, mas andou sendo adotada por aqui nos anos 50 e 60. Encontrei-a num texto da época, adjetivando uma moça. Pesquisei e descobri que mousmé provém do japonês musume, que quer dizer moça mesmo (mas isso eu já sabia). Tenho vontade de dar esse nome a uma das partes do meu livro novo, a um conto, ou ao livro todo.

23.7.07

Regina Benitez. Lembra um pouco Clarice Lispector, tem um toque de Marina Colasanti, mas não é assim tão intensa. Intensidade às vezes cansa.
Wiz school dropouts

Minha cicatriz está doendo. Não, esperem: é minha cabeça mesmo. A Bloomsbury diminuiu a letra no Harry Potter novo ou é porque dessa vez comprei a edição infantil, que naturalmente vem com a fonte menor?
Vou tentar fazer uma breve resenha do Harry Potter e as relíquias da morte sem spoilers.
Até a metade (página 298) do livro nada acontece. É pura enrolação. É como ter entrado num livro não-editado do Tom Wolfe. É em tempo real, e não que isso seja interessante: são acontecimentos de telenovela, como pessoas casando. Cada pensamento dos personagens é telegrafado tintim por tintim para o leitor - e esse não é um livro em que isso interesse, tanto é assim que do meio pro final a Rowling não faz isso... Pouca coisa acontece. Parece que Rowling estava guardando certos acontecimentos para o Natal, e portanto os personagens foram obrigados a se colocar numa imobilidade física e mental que não era a deles durante meses (o ano letivo da Inglaterra começa em julho).
Desta vez Harry, Hermione e Ron não estão acorrentados à escola (pois é, largaram no meio, que foi? cortaram a bolsa-magia? não, você vai ver). Em vez de aproveitar isso para mostrar mais da interação entre trouxas e bruxos, ou qualquer outra coisa, os três adolescentes têm que ficar escondidos em lugares muito, mas muito isolados - compreensível, mas que isso dure em monotom até a página 298, francamente: é tema pro Sartre. O problema é que aqui nem sei dizer com o quê se encheu as páginas. Os personagens não se desenvolvem muito (exceto o Lupin), surgem dúvidas sobre o Dumbledore, a angústia se instala, a trama não avança.
Depois da metade o livro fica bom. O maior sabor está em desconhecer o momento preciso em que as coisas já esperadas vão acontecer - e só depois que acontecem, você concorda plenamente que aquele era o momento de cristalização das mesmas. Tem referências ao nazismo: por exemplo, um símbolo que é usado como signo do mal, mas tem história mais antiga de ser algo inofensivo (igual à suástica). Tem um momento missão-impossível, outro senhor-dos-anéis, outro maquiavélico (de Maquiavel mesmo). O final é bem satisfatório, o epílogo achei meloso.
Se você estiver insatisfeito e quiser um quase-spoiler, aqui eu tinha previsto duas opções de final pra esse livro. Uma delas estava certa.

P.S.: Um causo interessante relacionado à J.K.Rowling, nem um pouco spoilerento, na seção final do post.

18.7.07

A história de um dos episódios de Hi Hi Puffy Amy Yumi é "emprestada" do conto que abre The elephant vanishes, de Haruki Murakami. No Murakami, "um casal recém-casado sofre ataques de fome que os leva a assaltar um McDonald's no meio da noite". No desenho, é a Yumi que tem o ataque de fome e arrasta a Ami para ir atrás do hambúrguer - que acaba roubando de um gordo sujão, mas depois se arrepende. Tá, vamos chamar de "referência"...
Minha amiga me indicou o Shelfari, que é uma espécie de Orkut de livros. Fui experimentar e gostei. É realmente como o Orkut, mas as estrelinhas e testimonials vão para os livros, o que faz toda a diferença. Já até fiz um grupo chamado "Daria's book club", com os livros que a Daria lê durante toda a série animada. Tem o senão de só poder listar livros da Amazon, ou pelo menos não percebi ainda como colocar os nacionais.

16.7.07

Beatriz Bracher lança um livro novo. Chama-se Antonio. Quando li Azul e dura quase caí... dura. (Eu o descobri na banquinha da 7Letras umas primaveras atrás.) É o melhor livro de autor pós 2000 que já li - não sei porque não ganha a atenção que merece. Talvez por Beatriz não ser "novinha" ou "engraçada". Eu humildemente me identifico com ela e quero me filiar a seu clube. Também não sou muito engraçada nem muito novinha - apesar de ter 24 anos, a lolitice nunca me caiu muito bem.
"papai, mamãe, não sou vagabunda. Passei num concurso! Um concurso público de verdade!"

O primeiro dia não foi muito diferente. No segundo dia comecei a flutuar pelas ruas – como assim não vêem que estou andando em câmera lenta, wideshot lateral me acompanhando os passos? (Minha câmera é assim. Como é a sua?)
Uma moça do ibiCred me pára, querendo me empurrar um pacote a juros extorsivos. Pego nos seus ombros, moça baixinha e leve, e bailo cantarolando "Eu não estou precisando! Eu não estou precisando!" e a moça-feita-de-nêga-maluca foge para os braços da colega, pensando provavelmente que precisa largar aquele emprego diabólico, e eu dou uma gargalhada e mais uma dançadinha.
(esse último parágrafo não aconteceu. Quase aconteceu. Óia a chuva. É mentira.)
A carta da Petrobras vai na bolsa comigo. Virou amuleto. Agora é preciso debelar a burocracia.
Acho um cartório surpreendentemente sem filas, pago oito reais e meio para autenticar CPF e identidade.
Entro numa livraria e percebo o livro de Cecília Giannetti bem ali no topo de uma pilha. Abro, dou uma lida. Vou levar. Levo o da Ana Paula também.
Enquanto isso, continuo fazendo deveres de francês com a letra caprichada... uma boa moça.

15.7.07

Isso tem me acontecido muito: a dupla ou tripla ocorrência de palavras - palavras exóticas! - com menos de 24h de diferença.
Ontem fiquei com a palavra Xanadu encalacrada na cabeça depois que passou a música-tema do filme da Olivia Newton-John no iPod em shuffle. Fiz uma pesquisa sobre ela. Pouco depois assisto um episódio dos Simpsons (O peixe de três olhos) em que há uma paródia de Cidadão Kane, cuja mansão chamava-se Xanadu. Retomei a leitura de O complexo de Portnoy hoje. Lá estava mais uma referência a Xanadu.
Antes do final da minha edição antiga de Complexo de Portnoy, topei com a tradução descuidada "sapato de duas cores" - não seria 'sapato bicolor'?, pensei na hora. E traduzindo agora outra coisa para sobreviver, descubro que "spectator pumps" ou "co-respondent shoes" são sapatos bicolores.

13.7.07

O PAC também prevê livros e óculos.
são milhares de clientes satisfeitos





Maria Luiza acaba de atender seu milésimo cliente. Tin-tin.
(Mil é conta de Romário, por isso coloquei a imagem.)
Darel Valença Lins é meu artista em atividade preferido.
Vocês nunca ouviram falar dele? Descobri-o durante a pesquisa nos jornais... de 1985. Quando o olho bateu nas reproduções do trabalho dele, senti que ali estava arte de verdade. Isso não acontece toda hora.
Googlei e achei várias Maria Luizas desenhadas por ele (humilhantemente melhor que eu, é claro):

a dele_________________a minha
a minha Maria Luiza











Caso tenham gostado do trabalho do homem, tem mais aqui e aqui. Caso tenham gostado do meu desenho, vocês não têm gosto, mas aí vão os links: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - 8 - 9 - 10 - 11

10.7.07

woman dies mauled by butterflies

Se uma borboleta pousa no seu ombro, dizem que é sorte. Mas e se o panapaná inteiro vem em cima de você é o quê? Sorte compulsória?
Não, você não entendeu. Elas não estavam simplesmente pousando. Estavam me marrando com suas asinhas adejantes. PÂNICO. Comecei a catá-las e a jogar longe, aos punhados. Mas surgiam mais não se sabe de onde e eu as esfregava para fora da blusa às carradas já sem pudores ecológicos. Então vinha outro panapaná amarelo-e-branco de outro flanco. Eram todas ou amarelas ou brancas. As ardilosas tinham lido Sun Tzu, não é possível. Ou Chuang Tsé. Talvez seja melhor parar de ler The Chinese have a word for it antes de dormir.
Parece uma paródia bizarra do início de O homem duplo. Pode querer dizer que o aquecimento global vai desembestar de vez, não sei.

9.7.07

Detesto autobiografia, apesar de todo resenhista enxergar "traços autobiográficos" no meu trabalho. Minhas últimas personagens femininas foram uma patricinha, uma lésbica e uma prostituta. Minha personalidade é um Frankenstein. Minha experiência pessoal provém de vidas passadas.
Tenho 24 anos, cacete. Não dá tempo. Pela lâmina de Ockham, é tão difícil assim admitir alguma dose de imaginação?
Mas a lâmina não funciona. Alguém escreveu em 2000 que "a nova geração veio dos blogs com sua escrita autobiográfica". Mesmo que você tenha ido para os blogs e não vindo deles, mesmo que você tenha orgulho de nenhuma linha dos seus livros ter qualquer ligação com o real, não adianta: enxergarão o chifre em sua cabeça de egüinha pocotó.
E vão querer publicar fotos suas em plano americano.

Odeio o pecado, não o pecador.

5.7.07

(Quanto aos comerciais de cinema, exceção feita a alguns trailers como esse. Estou doida para ver no cinema.)
Ando lendo a revista Senhor - é, a Biblioteca fechou, então agora compramos as coisas em sebos - e me apercebo de uma coisa... como a Piauí é chata! Lembro da última capa, estendida nas bancas: novamente um cartum com alguma referência ao Che ou ao Mickey. Lembro do comercial* mandatório no cinema querendo conquistar minha simpatia. (Os piores comerciais vão ao cinema**, vou começar a ensaiar um atraso de noiva para evitar esse ordálio***).
Também me peguei querendo CTRL-clicar nas matérias do índice da Senhor para abri-las em abas.


*com ioiôs, o que me lembrou o Trem da Alegria
**onde não se pode fugir
***de oito minutos!

3.7.07

FLOP

Eu tento, eu tento. Eu juro que tento me convencer a ir para a FLIP. Gente muito boa declarou que vai estar lá, ou na FLAP. Mas além do trauma, eu detesto multidão. Só mesmo o Daft Punk pode me fazer suportar um amálgama humano deste grau (Bjork talvez).
E não consigo tietar autor. Que mania de tietar autor! Não nasci para Penny Lane, definitivamente. Se eu quiser saber as idéias dele, compro um livro dele. Assim como eu não quero assistir a uma palestra do Daft Punk, não existe um escritor que eu queira ver lá na frente, falando.
Estou angustiada. A FLIP vai ser um ponto de confluência de gente querida, e eu queria vê-las, falar com elas, passear com elas e tomar sorvete com elas (tem sorveteria em Paraty? Não serve sacolé, não...). Mas sei que não vou nem chegar perto de me divertir. Me sinto incapacitada. Uma cadeirante social. Cadê a minha cota.
Oldie

O despertador me acordou hoje com uma música que eu não ouvia há muito tempo: Come to my aid, do Simply Red. Talvez pela porta entre consciência e inconsciência estar meio entreaberta, lembrei-me da primeira vez em que ouvi essa música: no rádio ou na TV, talvez num Videoshow de uma tarde de domingo - mas eu não olhava para a TV; simplesmente não tinha esse costume. 1986, eu devia ter uns três anos. O início de Come to my aid, por ser sincopado, me suscitou uma imagem claríssima na hora: uma fila de pessoas louras, altas e magras batendo fotos com flash no ritmo da música, mais turistas que fashionistas. Elas tinham cortes de cabelo da época, reflexos e tal, e óculos de sol. Pernas branquelas de fora, bermuda cáqui, Lacoste amarrado na cintura. Isso me acontecia muito na infância, experiências sinestésicas, e essa foi uma das primeiras com certeza. Voltou agora só porque sintonizo numa rádio de oldies.
Substituição do hype pelo bom

Troque José Saramago pelo mais ágil António Lobo Antunes.
Eu nunca li António Lobo Antunes (não mais que um parágrafo) mas sei que, se você não consegue gostar de Saramago, vai gostar de Antunes. Eu tenho instinto para essas coisas. É só.
Preciso estudar agora algum substituto para o Mia Couto.

PS: Eis o parágrafo que li de António Lobo Antunes:

Na segunda quarta-feira de Setembro de mil novecentos e setenta e cinco, o despertador pescou-me às oito horas do meu sono, do mesmo modo que as gruas do cais trazem à superfície os automóveis peludos de limos que não sabem nadar. Subi nos lençóis pingando noite das mangas e dos pés, até o guindaste depositar na alcatifa, junto aos sapatos da véspera, o meu cadáver ferrugento de ramelas, amolgado de olheiras e reumático. Como os corpos na morgue, a Ana embrulhava-se na colcha na outra extremidade da cama, e o piaçaba dos cabelos emaranhados despontava da roupa. O pingo triste de cera de um calcanhar defunto tombava do colchão. Enquanto lavava os dentes, o espelho da casa de banho mostrou-me cruelmente os estragos, de capela abandonada, dos anos. - de Auto dos danados, nunca publicado no Brasil

2.7.07

O G-bar

O Gmail é uma mesa de bar hi-tech, como houve o Villarino, o Vermelhinho e não sei mais quantos. Os bares morreram, o conceito não. Você fica sentada e espera seus amigos passarem. Fatalmente passarão, porque ali é um “centro”. Há pressa, muita pressa, pois os tempos mudaram. Mas consigo bater um papo com as pessoas que eu gosto, nem que seja de raspão. Nem que estejam em São Paulo ou ainda mais longe. Tá bom, podem se espalhar à vontade, não vou segurar sua perna - mas continuem logadas. Se o tempo é líquido, o negócio é sentar na borda do riacho.
(Penso que no futuro a história oral também não vai funcionar igual. Era assim: as conversas eram perdidas, as cartas ficavam. Agora teremos amostras das duas.)