tag:blogger.com,1999:blog-31761842024-03-12T20:40:10.727-03:00blog_sibyllaSimonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comBlogger1599125tag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-72987475533874605912019-06-12T00:05:00.000-03:002019-06-12T00:05:07.633-03:00Copa de Literatura Brasileira 2007: uma resenha republicada<br />
<div class="MsoBodyText">
<st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on"><span lang="EN-US">*Resenha publicada em 2007 no site "Copa de literatura brasileira". Republicada a pedidos!</span></st1:place></st1:city></div>
<div class="MsoBodyText">
<st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on"><span lang="EN-US"><br /></span></st1:place></st1:city></div>
<div class="MsoBodyText">
<st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on"><span lang="EN-US">Explicando: a Copa de Literatura Brasileira (CLB) foi um campeonato entre romances brasileiros publicados no ano anterior. Eram 16 romances que iam se derrotando em partidas, um contra o outro: os vencedores prosseguiam até a final. Participei de todas as edições como resenhista - nem lembro mais se foram 4 ou 5 edições. O site nem existe mais, mas a caixa de comentários pegava fogo (quem viveu, se lembra - a cultura dos prints não estava tão disseminada na época). Guardei muitos nomes e fiz muitos inimigos! :-) Pelo menos descobri muita literatura boa no caminho.</span></st1:place></st1:city></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<h2>
Jogo 13 da CLB 2007: <i>Um defeito de cor</i>, de Ana Maria Gonçalves, versus <i>Leda</i>, de Roberto Pompeu de Toledo</h2>
<div class="MsoBodyText">
<st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on"><span lang="EN-US"><br /></span></st1:place></st1:city></div>
<div class="MsoBodyText">
<st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on"><span lang="EN-US">Como</span></st1:place></st1:city><span lang="EN-US"> numa Copa do Mundo de verdade, muitas vezes o sorteio determina
chaves fortes ou fracas. Assim, muitas vezes um favorito precisa eliminar outro
para passar à próxima fase, enquanto um pangaré continua no campeonato sem
grandes esforços - e a distorção entre o banco de apostas e a realidade faz
qualquer torcedor querer gritar por “justiça” e até querer parar de acompanhar
os jogos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">Qual foi o caso aqui neste jogo? Um dos
livros julgados teve de enfrentar adversários fortes nas suas chaves de origem
para chegar aqui; o outro ganhou pelo menos uma partida por sorte ou, melhor
dizendo, por motivos técnicos. Mas só me cabe apitar a partida entre os que
efetivamente li: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um defeito de cor</i>,
de Ana Maria Gonçalves, versus <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i>,
de Roberto Pompeu de <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">Toledo</st1:place></st1:city>.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">Não é pelo exótico que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um defeito de cor</i> encanta. Nem pelo
toque politicamente correto de ser um “romance afro-brasileiro”. (Eu até torço
o nariz para essas coisas, quando feitas com uma indevida ênfase à causa que
defendem, porque arte comprometida raramente escapa de ser chata.) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um defeito de cor</i> é simplesmente uma
história muito bem contada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">O livro tem 950 páginas. Todos os que me
viram lendo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um defeito de cor</i>
arregalaram os olhos: “uau, que tijolão!”, “parece o meu livro de química!”<span style="color: #000099;"> </span>Matei duas moscas durante a leitura
simplesmente depositando o volume sobre elas. Além de ser um texto extenso, a
autora escolheu não usar travessões ou aspas para representar a fala dos
personagens: é tudo paráfrase, encaixando-se em enormes parágrafos de texto
corrido -- a típica mancha gráfica espanta-leitor. Cadê o incentivo para
comprar (e efetivamente pegar para ler) o livro? É duro imaginar <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">como</st1:place></st1:city> é que o leitor comum
irá vencer esse Everest – até que se abra o livro na primeira página do
primeiro capítulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">A leitura avança rápido e bem, com uma
taxa adequada de repetições, referências a acontecimentos (passados e futuros)
e advérbios bem<span style="color: red;"> </span>colocados para ajudar a memória
e incentivar o progresso. A leitura desacelera sempre que há excesso de
didatismo, mas só emperra mesmo por <st1:place w:st="on">volta</st1:place> da
página <st1:metricconverter productid="400, a" w:st="on">400, a</st1:metricconverter>
parte que trata da revolta dos malês (negros muçulmanos), retomando o impulso
lá pela 550. As paráfrases dos diálogos funcionam que é uma beleza, muito
melhor do que, por exemplo, a técnica de José Saramago de separar cada fala por
vírgulas. Ficamos até conhecendo melhor a narradora através de sua forma de refrasear
o que outros disseram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">A história: a pequena Kehinde é arrancada
à África para ser vendida <st1:place w:st="on"><st1:city w:st="on">como</st1:city></st1:place>
escrava<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #000099;"> </span></i>e,
até chegar à costa brasileira, perde toda a família, inclusive uma irmã gêmea (ibêji,
na cultura iorubá). Rebatizada Luísa, é comprada para virar mucama, cresce,
fica forra, participa da revolta dos malês, <st1:place w:st="on">volta</st1:place>
à África e depois decide voltar ao Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">A cada bordoada que Kehinde toma da vida,
desde criancinha, ela vai ficando mais forte e mais esperta – e o leitor, mais
encantado com sua fibra. Kehinde/Luísa narra já velha, de um ponto fixo no
futuro, e em primeira pessoa. Assim, sua narrativa é uniforme justamente porque
narrada do ápice do amadurecimento. Só tem um porém. Depois que nasce o segundo
filho, Omotunde, Kehinde começa a se dirigir a ele diretamente por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">você</i>, alternando com a terceira pessoa
usada desde o começo do livro. Há coisas <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">como</st1:place></st1:city>
“...meu novo filho chorou” e “seu pai queria fazer de você um doutor” no mesmo
parágrafo. Isso dá a impressão de que a velha Kehinde não tem lá muita
concentração, e não parece ter sido intencional. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">Apesar de episódios que podem ser vistos
como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fortes</i>, não há grandes momentos
de sentimentalismo ou autopiedade - nem de seu oposto, tédio ou
cinismo - em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um defeito de cor</i>.
Se o leitor quiser senti-los por Kehinde, ele que sinta. A sensibilidade da
(ótima) personagem não é a nossa: não é a do leitor nem provavelmente a da
autora. Mais um ponto positivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">Outro romance que trabalha bem a
mitologia africana, inclusive usando o tema da ibêji<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #000099;"> </span></i>morta, é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A menina Ícaro</i>, da nigeriana radicada <st1:personname productid="em Londres Helen Oyeyemi." w:st="on">em Londres Helen Oyeyemi.</st1:personname>
Significativamente, é comparado a este seu “gêmeo” que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Defeito</i> mostra mais seus defeitos: é explanatório demais, <st1:city w:st="on"><st1:place w:st="on">como</st1:place></st1:city> se de vez <st1:personname productid="em quando Kehinde" w:st="on">em quando Kehinde</st1:personname>/Luísa
se destacasse do seu pano de fundo histórico e fosse bem lampeira até a lousa
dar uma aulinha sobre cultura iorubá (ou geografia baiana, ou funcionamento de
engenhos...). Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A menina Ícaro</i> fica
totalmente a critério do leitor conhecer mais sobre essa cultura – as
explicações são propositalmente embaçadas. Mas a Wikipédia, a Barsa e a
Brittanica existem para isso mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">É muito mais difícil explicar por que um
livro é bom do que por que outro não o é.<span style="color: #000099;"> </span>É
por isso que esta resenha vai ficando por aqui para se deter sobre os problemas
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">Sinopse: Adolfo Lemoleme, jovem professor
de literatura, começa a escrever a biografia de seu escritor e ídolo Bernardo
Dopolobo. Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i>, os ingredientes
são os mais promissores: relação mestre/discípulo, mulheres, intrigas, vaidade
intelectual, metalinguagem. Ainda por cima, os personagens caminham num terreno
conhecido pelo autor, o acadêmico. Só que, de repente, dona Gigi, sogra de
Dopolobo e cozinheira de mão cheia, solta uma análise literária destas em plena
cozinha: “Eu vejo nessa história uma espécie de castigo contra esse país”. Ou
seja, quando a ação sai desse ambiente, a linguagem se esquece de sair junto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">atribulado
começo</i> há uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">inútil inversão</i> de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pretensiosos adjetivos</i>; depois, isto se
dilui e, se havia um propósito no exagero inicial, não fica muito claro. De
repente, há alguma conexão com uma das melhores coisas do livro: o retrato da
galardeação intelectual que vai se acumulando sobre Dopolobo e, depois, sobre
Lemoleme. Além das referências ao fiacre de Emma Bovary, evidenciando a
ascendência de Flaubert sobre o personagem Dopolobo (e muito possivelmente
sobre o autor), há a citação de livros inexistentes, um truque herdado de
Borges.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US">Leda</span></i><span lang="EN-US"> tem o valor de construir personagens muito coerentes. Acontece que
eles são tão coerentes que só exibem o que se espera deles desde o princípio,
emperrando um tanto a leitura. Aliás, os nomes dos personagens são todos
sugestivos, coisa que angaria a antipatia de qualquer leitor bom em anagramas
ou idiomas. Bernardo Dopolobo. Adolfo Lemoleme. Felícia Faca. Doutor
Nochebuena. Professor Spielverderber. E por aí vai. O fato de haver trocas de ponto
de vista não ajuda – logo ficamos sabendo o que Dopolobo e sua atual mulher<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>pensam de Lemoleme, cortando o suspense
pela raiz. Fosse diferente, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i>
poderia ter frutificado numa boa história de detetive em disfarce de acadêmica
(um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Código Da Vinci </i>menos medíocre).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">O maior erro do livro está em descortinar
a intimidade dos personagens sem com isso chegar a iluminar os desvãos mais
sombrios de suas <st1:place w:st="on"><st1:city w:st="on">almas</st1:city></st1:place>.
Aliás, nem era preciso ir pelo caminho da seriedade. Se a proposta fosse, por
exemplo, fazer pouco das intrigas e relações do mundinho literário – como fazem
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A estrela sobe</i> (Marques Rebelo) e o
recente <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os atalhos de Samantha</i>
(Márcio Paschoal) com a indústria musical –, poderíamos nos comprazer nessa
metalinguagem. Mas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i> caiu no
meio-termo e caiu mal. Solenizou a relação mestre-discípulo e sua inversão,
recorrendo a um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">quase humor</i> que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">quase</i> funciona. Não é que Roberto Pompeu
de Toledo não saiba fazer isso. A história <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
pecado encoberto</i>, parafraseada no epílogo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i>, é excelente, cheia de ironia e movimento; se o livro todo
fosse assim, ganhava de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Defeito</i>
fácil, fácil. É que o autor procurou fazer algo de novo: uma jornada lítero-acadêmica,
com metalinguagem e ironia, que não se escorasse nem no moralismo humorístico (Flaubert),
nem na obsessão alfarrábica (Borges), e que resultasse em crítica e epifania. Fica
esse mérito, mesmo que a tentativa tenha resultado frustrada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US">Um
defeito de cor</span></i><span lang="EN-US"> dribla um grande número de páginas e
algumas explicações e inconsistências narrativas para marcar um golaço no
final: o de contar uma boa história. Embolou um pouco o meio de campo, mas jogou
com alegria e garra, sem esquecer do placar. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Leda</i> entrou em campo promissor, depois se perdeu e só fez ficar
mais lento no segundo tempo. Procurou inovar no esquema técnico e com isso deu
seus chutes a gol, mas marcar, que é bom, quase nada. Lembram do “Quadrado
Mágico” do Parreira? Pois é.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<h2>
<span lang="EN-US"><b>Bônus: Minha resenha da final da CLB 2007 </b></span><i>Um defeito de cor</i> (Ana Maria Gonçalves) versus <i>Música perdida</i> (Luiz Antonio de Assis Brasil)</h2>
<div class="MsoBodyText">
<i>Um defeito de cor</i>
e <i>Música perdida</i> têm suas
similaridades: trajetórias de vida de brasileiros durante o século XIX. O
primeiro tomou um ângulo politicamente agradável, empregando uma linguagem de
“causo”; o segundo escolheu um viés erudito e uma forma de expressão elíptica.
Cada um à sua maneira, ambos são bons livros; justo mesmo seria declarar
empate. Nos pênaltis, a vitória foi de <i>Música
perdida</i>, pela objetividade e pelas boas pensatas.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US">
</span></div>
<div class="MsoNormal">
Eu teria que ter lido mais livros para dar uma opinião mais sólida,
mas acho que <i>Mãos de cavalo</i> mereceria
ter ido mais adiante na Copa. A final foi entre dois livros bons, mas não
empolgantes; ficou um gosto de final de 94.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span lang="EN-US"><br /></span></div>
<br />Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-18635314366228546632017-09-25T10:36:00.001-03:002017-09-25T10:36:37.909-03:00Twin Peaks: aconteceu de novo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1990-91, <i>Twin Peaks</i> deixou pessoas no mundo todo grudadas à TV com dois
ingredientes fortes: uma investigação de assassinato e muita bizarrice. Diz-se
até que o então chefe de estado da URSS, Mikhail Gorbachev, teria perguntado ao
(primeiro) presidente Bush norte-americano quem, afinal, havia matado Laura
Palmer. Os produtores da série também pressionaram o diretor David Lynch a
resolver logo o mistério. Quando o assassino foi revelado, no meio da segunda
temporada, o público debandou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Restaram os espectadores encantados
pela atmosfera de cidadezinha do noroeste americano, com jovens nada inocentes
mas muito bem agasalhados. Restaram também aqueles que se empenham ativamente
na construção de teorias, que ligam os pontos, detetives do transcendental – à
maneira do personagem Dale Cooper, agente do FBI cujo charme reside em não perceber
que é galã. E o seriado acabou cancelado na segunda temporada, sem desfecho claro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na época, <i>Twin Peaks</i> foi uma série ímpar, cuja estranheza e complexidade abriram
caminho para obras afins na TV – como <i>Arquivo
X</i> e <i>LOST </i>–, e quem sabe tenha até
contribuído para o boom das séries como mídia respeitável de 2005 para cá.
Emissoras a cabo e, mais recentemente, os serviços de <i>streaming</i>, como Netflix e Hulu, investem pesado em histórias
grandiosas, com um público fiel que debate cada episódio assim que ele sai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porém, esse público anda cada vez
mais exigente. Séries cujos mistérios e revelações são julgados insatisfatórios
ou descabidos podem ser abandonadas no meio – primeiro pelo público, depois
pelos produtores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tudo precisa ser explicado. Tudo
precisa ser mostrado. Mas não cedo (ou tarde) demais, nem claramente (ou
obscuramente) demais, senão o público perde o interesse, e a série para de dar
dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Eu não vim para explicar...”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b> </b>Essas expectativas
impossíveis têm deturpado o espírito de algumas das séries mais célebres, como <i>Game of Thrones</i>, cuja temporada mais
recente (pule o resto do parágrafo se ainda não assistiu) não matou ninguém
importante, resumiu jornadas longas e perigosas por um mundo medieval a
partida-e-chegada (no mesmo episódio!) e foi, em suma, acusada de ter feito de
tudo para satisfazer os fãs.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando Mark Frost e David Lynch
anunciaram, em 2014, que preparavam uma terceira temporada de <i>Twin Peaks,</i> o frisson foi grande. Havia
uma chance de que o final inexplicado da segunda temporada, com o mocinho Dale
Cooper aparentemente possuído, fosse ganhar a tão sonhada resolução. Ou, então,
de que novamente a série abalaria as estruturas do que se entende por TV, mesmo
numa época de bufê mais variado. Mas logo ficou claro que David Lynch não vinha
para explicar, e sim para confundir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No começo da nova temporada de <i>Twin Peaks</i>, o público esperava o retorno
de seus personagens prediletos e que enfim se desse jeito nas inúmeras pontas
soltas. Em vez disso, novos personagens e tramas foram se esparramando,
tentaculares, em todas as direções. Muitos espectadores, de novo, perderam o
interesse. Assim como na série de 25 anos atrás, recorreu-se a certos
lugares-comuns televisivos: duplos malvados, historietas românticas, mulheres
fatais, gângsteres de terno – mas em se tratando de Lynch, nunca eram realmente
“comuns”. Eis que, no penúltimo episódio, após arrematar algumas tramas e
agradar um pouco os fãs, Lynch embarca no tropo da viagem no tempo. O agente Cooper
resgata Laura Palmer antes que ela possa ser morta e a leva para outra
realidade. Afinal, desfazer a suposta confusão “original” resolve tudo –
inclusive o excesso de tramas. Quando enfim, 25 anos depois, assistimos o
desfecho, seu significado não é nada óbvio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No livro <i>A história secreta de Twin Peaks, </i>lançado por Mark Frost em 2016,
há algumas pistas extras. O livro é apresentado como um dossiê comentado por
uma agente do FBI, juntando personagens e documentos históricos reais e
ficcionais. Um dos personagens reais de <i>A
história secreta </i>é Jack Parsons, especialista em foguetes e praticante de
magia thelêmica que, nos anos 1940, foi procurado pela atriz Marjorie Cameron
após um ritual para invocar a deusa Babalon. No seriado, a personagem Diane
aparece caracterizada tal e qual Marjorie em uma de suas aparições mais
famosas, de peruca ruiva e <i>negligée</i>
florido, e faz sexo com Cooper no mundo paralelo do último episódio – será uma
espécie de sexo mágico?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A principal pista oferecida pelo
livro, no entanto, é a declaração inicial do Arquivista, a pessoa que montou o
dossiê, sobre o mistério como o ingrediente mais essencial à vida. A antipatia
de Lynch por respostas claras explica e define o formato do livro: tramas
espiralantes sobre conspirações que nunca se resolvem, mas são
inexplicavelmente satisfatórias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Apertando o reset<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No mundo para que Cooper levou
Laura no último episódio, nem bem é 1989, nem 2017. Laura, 25 anos mais velha,
confusa, não se lembra de sua vida pregressa, e acha que seu nome é Carrie. Mas
é um mundo muito parecido com o nosso, onde a casa em que foi filmada a série é
habitada pela <i>verdadeira</i> proprietária,
que desconhece qualquer família Palmer. Ao entrarem na suposta “Twin Peaks”,
não vemos a icônica placa da cidade (fictícia). Quando Cooper questiona a linha
do tempo, o véu daquela realidade se rompe, a voz da mãe de Laura grita seu
nome dentro da casa, e Carrie/Laura se lembra de tudo, soltando um grito
primal. E a tela escurece. É o nosso mundo que é uma espécie de inferno, e ele
acaba.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Brotaram, já no dia seguinte,
diversas teorias de fãs que apontam para esse final como uma armadilha para
prender ou eliminar as entidades sobrenaturais maléficas que torturaram a pobre
Laura e a cidadezinha inteira, efetivamente <i>resolvendo
tudo</i>. Mas quem assistiu na hora se sentiu absolutamente encafifado e talvez
até traído.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao que tudo indica, o final
ambíguo passado em nossa realidade é um espelho voltado para nós, a audiência, que
em grande parte espera tudo mastigado e ao mesmo tempo surpreendente, sem
investir nem um pouco de tutano em troca. No entanto, a era do fã-clube
globalizado pode significar demandas impossíveis, mas também uma força-tarefa
pronta a investigar uma obra e, mais do que isso, comungar em volta dela. Intuindo
isso, David Lynch pode ter conseguido o impossível: fazer um revival
satisfatório para ele e para nós, ao mesmo tempo em que foi crítico a certas
seções mimadas do público que querem tudo, senão dão chilique.</div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-67472265048308408692017-07-03T23:14:00.003-03:002017-07-03T23:18:28.617-03:00O ético, o estético e o empático: leitores pra quê?<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: white; color: #1d2129;">Uma amiga me conta de
um episódio de </span><i style="color: #1d2129;">Sex & The City</i><span style="background-color: white; color: #1d2129;"> em
que uma das mulheres está namorando um escritor. Ele lhe pede uma leitura
crítica. Ela elogia a obra, mas diz que sua personagem principal feminina é
implausível: uma nova-iorquina redatora de revista que usa </span><i style="color: #1d2129;">scrunchies</i><span style="background-color: white; color: #1d2129;"> (frufrus de cabelo), algo datado desde os anos 80. Ele
fica ofendidíssimo. Fim de caso.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #1d2129;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;">Sensitivity readers</span></i><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;">, ou “leitores sensíveis”, têm sido adotados por
editoras para se certificarem de que o autor não falou nenhuma merda muito
grande sobre minorias. Para mim, se trata de um subtipo do leitor crítico ou
parecerista, adotado por editoras e autores quando creem precisar de uma
segunda opinião. Eu mesma já pedi a amigas que fossem leitoras beta do meu
próximo romance, com duas protagonistas de ascendência indígena e negra. Isso
pra mim faz parte da criação e sempre procuro. Creio que, quando você não tem a
experiência direta – por mais que você esteja envolvida, cultive a empatia,
pesquise ficção e teoria a respeito do tema –, sempre há um ponto cego. Quem
não conhece romances com personagem feminina escritos por homem que fazem muita
mulher chorar sangue ao lembrar que existem? Se esses homens tivessem pensado
em submeter o romance a uma leitura crítica por uma mulher, talvez o desastre
pudesse ter sido evitado... A questão é que muitos desses caras não querem isso
– expor seu romance a uma crítica dessas, e ainda ter o trabalho de mudar o seu
romance depois.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O medo de alguns
escritores se revela ao abominarem leituras críticas <i>de qualquer tipo</i>, não apenas os leitores sensíveis. Tacham-na de
censura e de pasteurização. Numa estranha mistura de insegurança com orgulho, evitam
até editores que “mexem” no texto (?) e ficam ofendidos quando um editor ousa
fazer uma sugestão. Ninguém pode tocar em sua obra sem sua autorização. Ele,
aliás, não escreve pensando no leitor.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;">Então o problema pra
mim não é a existência de <i>sensitivity readers</i>
ou leitores beta ou editores, e sim a </span><span style="line-height: 107%;">editora obrigar o
escritor a obedecer a um tipo específico de parecer, desrespeitando a sua
integridade artística. Aliás, a editora faz isso não por se preocupar de
verdade com minorias, mas por motivos financeiros. Um livro boicotado não vende,
uma edição recolhida não lucra, um processinho desagrada os acionistas e
espanta investidores...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas, na real, as editoras brasileiras não obrigam
ninguém a nada, gente.<span style="background: white; color: #1d2129;"> Aqui, editores
são aconselhados a “pegar leve” com Fulano e, de qualquer modo, têm livros
demais pra editar: <i>não perca muito tempo
com isso</i> é a tônica. E ninguém gosta muito de encomendar parecer externo;
desvaloriza a “prata da casa”. Quando há conselhos, eles são bem negociáveis: o
autor pode explicar porque tomou aquela decisão artística (“o personagem é escroto
mesmo!”) ou, em último caso, bater o pé e fazer questão (costuma funcionar). Então
quem vê esse texto antes da publicação sem ser escritor e editor? No máximo, os
amigos e namoradxs do escritor, antes de ele mandar à editora. Essas pessoas,
evidentemente, não vão fazer nenhuma revisão radical.</span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 107%;"><span style="background: white; color: #1d2129;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por mim, que deixem a
pessoa escrever romance ruim.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ética
x estética<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outro problema reside
na definição de <b>ruim</b>. Um livro
imoral pode ser esteticamente ótimo (<i>Justine</i>),
e um livro moralmente correto pode curar a insônia em apenas duas páginas (<i>O feijão e o sonho</i>). A boa ficção deve
ir além do ético e do estético: não é um exemplo pra vida, nem um comentário
direto sobre práticas existentes, ainda que use de elementos selecionados da
realidade. Conforme sugere o teórico Wolfgang Iser, é na ficção que você tem a
liberdade de entretecer imaginação e realidade para criar uma máquina que, na
interação com o leitor, gera experiência estética e, depois, sentido. O autor e
o leitor entram com seus respectivos repertórios de vivências e de tradição
literária – e, muito importante, com suas imaginações; a leitura do texto põe
em jogo esses elementos, trazendo algo de novo ao mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No contexto atual de <i>leitores sensíveis</i>, muito se fala de uma
“censura do politicamente correto”, que <i>proibiria</i>
personagens antipáticos, homofóbicos, machistas, racistas, criminosos, ou então
de uma tendência a querer transformar literatura em “auto-ajuda”. Como falei,
essa “proibição” simplesmente não acontece no Brasil. Mesmo que haja uma edição
ou parecer questionador, geralmente <i>há
espaço</i> pro autor explicar, por exemplo, que aquilo não é pra representar a
realidade, que veio de sua imaginação ou é uma referência literária específica.
Só que muito autor <i>não quer ter</i> esse
embate, ou tem preconceito: todos sabem menos do que ele, e nenhum olhar pode
acrescentar nada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O problema, na minha
experiência de leitora, não é querer personagens politicamente corretos,
gostáveis ou anódinos. Adoro personagens muito muito mas muito errados. Li <i>Lolita</i> com 15 anos, e adorei, e entendi,
mesmo detestando levar cantada de rua de trintões e quarentões. Dolores Haze se
parecia com algumas de minhas colegas de escola e até comigo – assim como o
próprio Humbert Humbert, em sua sexualidade intelectualmente justificada e
muito específica; a mãe de Lolita identifiquei com a minha mãe, com quem eu não
me dava nada bem na época – mas fiquei morta de pena quando a personagem morreu.
Amo todos os personagens de Dostoiévski, inclusive os mais abjetos. Agora estou
lendo Pynchon (<i>Contra o dia</i>, e devo
engatar n’<i>O último grito</i>). Então do
que estou reclamando? O problema é quando meu repertório de vivências pessoais
ou literárias desmente como <b>artificial</b>
ou <b>engessada</b> a montagem de temas que
o autor fez no texto. Aí eu posso chamar um livro de <i>ruim</i> de consciência limpa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eis uma experiência
de leitura comum para mim: enxergar nas entrelinhas de um romance escrito por
homem uma ideia muito distorcida do que é ser mulher. Uma petição de princípio,
se quiserem. Você vai lendo, lendo e a mágica (estética) não acontece como
previsto. Você percebe que, para o autor que pariu aquela mulher, “querer
engravidar” ou “perder o filho/marido” ou “ser ‘maluca’” é uma <b>motivação autossuficiente</b>, uma espécie
de <b>caixa-preta “natural”,</b> advinda
talvez do útero? Você, leitora mulher, se apalpa e não encontra em si a
possibilidade daquela motivação “natural”, muito mal explicada, ali inserida
sem o menor cuidado ou profundidade, e até mesmo com equívoco, como que
ocasionada por inexplicáveis hormônios femininos. É uma experiência estética
para mim? Sem dúvida. Uma experiência estética equivalente a perder a paciência
por motivos de trabalho e ouvir o chefe perguntar se você está com TPM – o que
em 99% das vezes não era o efeito pretendido (em Philip Roth, por exemplo, é;
você tem que topar o pacto ficcional e ir até o fim – ou desistir no meio).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Um leitor homem pode
ler o mesmo livro e não enxergar nada de incômodo nessa representação da mulher.
Talvez ele compartilhe da sensação de que mulher é inexplicável mesmo. Já eu,
que não compartilho dessa crença e sei das minhas motivações internas, e estou
cansada de encontrar sempre esse mesmo estereótipo mal-ajambrado, vou ter essa
irca e não posso me omitir. O mesmo vale para o gay, a negra, o cadeirante. Mas
quantos deles estão fazendo crítica?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Minorias críticas<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hoje em dia, não
poucos. Sim, as minorias <b>estão lendo e
pegando o embuste no pulo</b>. Quando as minorias mal retratadas não têm
grana/tempo para ler, imagine fazer crítica, nem se lembra que elas existem.
Quando elas começam a conquistar espaço, conclamar boicotes e se organizar em
veículos de crítica, fica um pouco mais difícil ignorá-las. O uníssono de
aprovação (ou brodagem) canônica é quebrado por aquela voz desagradável e
incômoda. É bem difícil de engolir: você colocou uma mulher <i>justamente</i> pra calar a boquinha do
politicamente correto e é por causa <i>dela</i>
que eles vêm pra cima de você? Que gente chata! Logo você responde aos
inconvenientes que “só ela achou isso” – e é o que você realmente pensa, porque
as outras mulheres todas preferem confidenciar à imprudente bocuda, <i>sabe o livro tal? Também achei bizarro! Que
personagem sem sentido! Que desfecho artificial!<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Monólogo interno do
escritor:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;">“Eu não tenho que ouvir tanta gente, senão a
obra perde a personalidade</span></i><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;">.<i> Esse personagem não </i>precisa<i> ser complexo.”</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É uma possibilidade assustadora,
e concreta, que um autor como esse <b>não
se importe</b> em retratar minorias de forma rasa – porque são eternas
coadjuvantes em suas obras, porque estão ali só como cala-boca do monstrinho
politicamente correto, porque ele é bom o suficiente pra isso “não fazer
diferença”, porque o “meu jeito” é rei, porque “já mostrou pra um representante
da minoria X” (seu único amigo da minoria X?). Essa empáfia em não querer saber
a opinião dos Outros sobre sua obra final, e fazer possíveis reparos baseada
nela, advém da ideia de gênio romântico, de uma suposta integridade artística
que não pode ser desrespeitada por uma nojenta censura. Mas se você sabe
(acabei de te contar) que isso interfere negativamente na experiência estética
do seu público leitor (agora diverso) a ponto de alijá-lo, você não acha melhor
saber? Não acha que pode ser uma edição desejável em vez de censura? Ou acha
que o Outro pode ler você <i>mesmo assim</i>,
e se não quiser, você não precisa dele? <i>Isso
mesmo! Foda-se o leitor!<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O ogro das fábulas<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Curioso constatar em
alguns escritores esse discurso “foda-se o leitor” e, <i>ao mesmo tempo</i>, o da literatura-empatia, literatura-humanismo, que
se importa e se coloca no lugar do outro. Conforme vi uma amiga escritora interpelar
outro, num debate: “se você não se importa com o leitor, por que publica? Deixa
na gaveta!”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por esse modelo
malparado, as minorias estamos para a literatura como as crianças estão para o
ogro das fábulas: crianças são essenciais – pra serem comidas logo no início e oferecerem
motivação caixa-preta pros feitos do herói todo-poderoso. Mas as crianças <i>reais</i>, ah, essas, caso leiam essas
fábulas, <i>não devem</i> se ofender ou se
sentir usadas por causa disso – e se se ofenderem, os incomodados que se retirem.
Alguns se retiram mesmo. Outros ficam, e se vingam: Elena Ferrante fez seu ogro
ser comido logo no começo, e fornecer motivação pra suas crianças até a
velhice.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Difícil aturar que <b><i>ruim</i>,
hoje em dia, em ficção,</b> possa ter a ver também com uma <b>falha de empatia e de humildade. </b>O autor não é
onipresente-onipotente-onisciente, e pode ter convivido longamente com
mulheres, negros e gays e continuar sem ter ideia de como é ser essa pessoa de
dentro para fora (que é do que a literatura trata). Ouvir o Outro <i>antes</i> do romance pronto – e não <i>depois</i> –, pode ser <b>insuficiente</b> para retratar a complexidade da experiência pessoal
dele, ou seja, escrever um bom romance. Por isso, leitores beta/editores, e não
os que são seus amigos próximos, podem ser uma boa. Você pode muito bem ouvir o
que não quer – mas também pode defender seu livro e aprender algo no processo,
por que não?</span></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 107%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Acho que falta em
alguns autores um pouco de vontade de perder a personalidade. Talvez sua
personalidade não seja tudo isso que pensam. Afinal, é muita certeza pra pouca
vontade de se descobrir e desengessar – ou como se diz por aí: <i>que autoestima da porra</i>. Sou da escola
Dostoiévski de (auto)investigação moral: se o processo de escrita de um livro
me fizer reavaliar meus valores, me incomodar descortinando coisas novas sobre
o mundo, isso é <i>melhor</i>, e não pior;
vou <i>buscar</i> essa experiência, não
fugir dela. Vou buscar leitores antes, durante e depois, e talvez não engula o
que eles disserem, mas o debate é necessário, nem que seja para eu me
reconhecer incapaz de mudar meu livro por causa de uma crítica, ou, orgulhosa
de um ponto do livro que só serve para mim, publicar o livro <i>como eu quero</i>. Mas sinto que preciso
perguntar, dar ouvidos e bancar o incômodo estético, ético ou empático que
produzi naquela pessoa, ao menos até um certo ponto razoável. Creio que isso
vai me tornar uma escritora melhor, uma pessoa melhor, e vale bem mais do que mandar
correndo o original para a editora pra dar tempo de sair antes de virar o ano.
Inclusive, se a editora tentasse me apressar a entregar um romance (do que
duvido, porque não sou a J.K. Rowling), eu reagiria com indignação: <i>estão desrespeitando a minha integridade
artística</i>!<span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div style="height: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">x</span></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-69184071689632149072015-11-27T20:06:00.001-02:002015-11-27T20:06:18.226-02:00Para a minha avóDesde a primeira cantada de rua (eu devia ter 11 ou 12 anos), fui reclamar com as mulheres da minha família, indignada. Minha avó sempre dizia: "vai querer mudar o mundo?", como se fosse algo errado se indignar com aquilo. E dizia que era para eu achar engraçado. Que eu tinha que rir. O pior é que, no fundo, ela concordava comigo, eu sei disso. Só estava frustrada porque a sociedade inteira ficou a vida inteira não concordando com ela.<br />
Eu mesma passei quinze anos nesse blog reclamando de cantadas de rua. Nem sempre fui uma feminista exemplar: posts antigos têm um tom slutshamer e/ou elitista. Mas a indignação estava lá. Nunca a deixei morrer.<br />
Nesse meio tempo, fui rareando os posts que reclamavam especificamente de cantadas porque aqui mesmo, quando tinha caixa de comentários, várias pessoas, homens e mulheres, vinham me dissuadir. Diziam que "pegava mal". Perguntavam: "ué, mas você não gosta de ser paquerada?" (Não. Depois de 50 posts, não era óbvio?). Declaravam em outro lugar que até gostavam do meu blog <i>antes</i>, mas agora já não aguentavam mais ouvir eu reclamar de cantadas, e que a vontade era me gritar "gostosaaaa!" (mas não na minha cara, lógico).<br />
E acabei desistindo de reclamar pra fora. Guardei minha indignação para mim, porque ela não encontrava eco nem na internet -- que me deu eco para meu apreço por quadrinhos e videogames e tantas coisas "esquisitas de mulher gostar". Perdi as esperanças.<br />
E, algum tempo depois que desisti, começou a existir rede social "pra valer". E celulares com câmera. As mulheres descobriram o feminismo, e, mais importante, a sororidade. Elas começaram a reclamar de cantadas, de assédio, de passada de mão, de exibicionista e abusador de metrô, de pedofilia, de agressão e de tantas coisas que as incomodavam sistematicamente. E mais importante: aprenderam a <i>reclamar da reclamação</i> indevida dos outros ("ah, mas você reclama demais...").<br />
E em 2015 isso atingiu uma massa crítica. Em 2015 as mulheres se cansaram de aguentar o que minha avó aguentou a vida inteira calada. Estou muito orgulhosa de todas nós. Queria que minha avó pudesse ver isso. Tenho certeza de que ela adoraria, e se sentiria representada, e ia começar a falar noutro tom.<br />
<br />
Minha avó nasceu em 1930, no Rio mesmo. Adorava a escola -- pública, de qualidade, do Getúlio Vargas --, era inteligente, e só tirava notas altas. Mas teve que sair da escola na 7a série para ir trabalhar e ajudar no orçamento doméstico, pois só tinha irmãs (três!) e meu bisavô ficou incapacitado. E além disso, mulher vai só casar mesmo, pra quê educá-la?<br />
Corta pra uns 4 anos depois, minha avó trabalhando numa casa comercial, 18 anos, se candidata a <i>Miss Mi-Carême</i> (Meia Quaresma, o que hoje se chama de... micareta). Era um concurso só para "modistas", ou seja, balconistas de butiques chiques. Minha bisavó descobriu que haveria desfile em traje de banho (quer dizer, um maiô super comportado pros padrões de hoje) e proibiu minha avó de desfilar. E assim ela perdeu sua segunda grande chance de ser alguém.<br />
Quando mesmo as melhores de nós são podadas tão cedo, não dá para vencer nem pela beleza nem pela inteligência...<br />
Espero que possamos mudar isso, ainda que tardiamente.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-RoYtEw7qbb8/VljToKa6dKI/AAAAAAAADS0/VkHCupFDzfE/s1600/3116158484_e71d501845_z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-RoYtEw7qbb8/VljToKa6dKI/AAAAAAAADS0/VkHCupFDzfE/s320/3116158484_e71d501845_z.jpg" width="153" /></a></div>
<h3>
Albertina Rodrigues, minha avó materna, na época de sua candidatura a <i>Miss Mi-Carême</i>.</h3>
<br />Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-40607464064125806062015-11-12T10:01:00.002-02:002015-11-12T10:01:28.847-02:00A boa menina leitora<div class="MsoListParagraph" style="margin-left: 54.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -36.0pt;">
<b style="text-indent: -36pt;">I.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-weight: normal;">
</span></b><b style="text-indent: -36pt;">Hilda
Hilst</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A boa menina leitora é calada, tímida e vive com a cara
enfiada no livro. Recentemente, ela ganhou a variação <i>geek girl</i>, maníaca por
tecnologia e games. Ela não usa minissaia. Não pratica esportes, especialmente de contato. Não pode ter
vida sexual detectável. E, mesmo que se torne escritora, escreverá polidamente.
Que escreva as maiores barbaridades, mas há de escrevê-las com parágrafos
respeitavelmente longos e fluxo de consciência, sem palavrões; se preferir um
estilo experimental e entrecortado, embaixo dele o leitor só deve ver platitudes
pseudorrevoltadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao que parece, não existe (ou ninguém aguentaria) uma mulher
forte em ambas as frentes: a temática e a estilística.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E aí temos a Hilda Hilst, que foi os dois. Temática e
estilisticamente forte. Tanto “intelectual respeitada” como “alternativa”.
Escritora de barbaridades... com estilo (e palavrões). Como? Sendo foda. Não
digo “genial” porque isso implicaria em me subscrever à ideia romântica de
escritor “original” que tira a “inspiração” de seu gênio interior. Hilda
extraía sua matéria-prima de seu mundo interior, sim, mas também da natureza e
do sagrado. Que, para ela, eram meio que a mesma coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de Hilda, então, “se dar ao respeito pra obter respeito”
<i>na literatura</i>, sendo mulher, hoje em
dia, se torna uma falácia incontornável.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Temos é que dar com o pé na porta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="margin-left: 54.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -36.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="margin-left: 54.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -36.0pt;">
<!--[if !supportLists]-->II.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal;">
</span><!--[endif]--><b>Bom,
barato e cordato</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraph" style="margin-left: 54.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -36.0pt;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
Essa ideia genérica de que “é bonito” ser escritor/ter
paixão pela leitura ou “pela literatura” se torna especialmente perniciosa
quando se é mulher. Receber ofertas de trabalho, a gente recebe: mas 50% são para
trabalhar de graça, 35% para trabalhar ganhando um trocado, e 15% para trabalhar
ganhando menos que nosso(s) amigo(s) homem(ns) – com quem, sim, a gente
conversa. A gente acaba se concentrando nesses 15%, convencidas de que, <i>se mostrarmos serviço</i>, a coisa vai andar
– e por andar queremos dizer que ganharemos mais. Mas não é assim que a coisa
anda. Simplesmente ficamos congeladas feito um preço de supermercado na época
do Sarney presidente. O custo de vida? Continua aumentando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E você olha para os lados e vê suas amigas mulheres passando
pela mesma coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Você acaba entendendo que <u>a boa menina leitora é vista como
uma reserva de força de trabalho barata</u> – e boa, porque sempre se esforçando
para mostrar serviço. E mais: se o dinheiro fica curto e a editora resolve
escolher alguns otários para não receber (em vez de pegar um empréstimo e
honrar seus compromissos), quem ela calota? A boa menina leitora, que, na
cabeça do mau pagador, vai ficar quietinha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aí ela não fica quietinha. E vira persona non grata.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mesma coisa quando pede um aumento para continuar o ótimo trabalho que vem fazendo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Pô, como assim, você
era nosso porto seguro de bom-e-barato-e-cordato! Você nunca foi de <b>criar problema</b>!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não, queridos. Vocês só não nos conheciam o suficiente.<o:p></o:p></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-33889294449718943342015-10-29T18:22:00.000-02:002015-10-29T18:22:03.738-02:00A ingratidão da musa<div class="MsoNormal">
Estava
lendo o Twitter de Paulo Coelho – sim, eu o assino – quando encontrei uma
reclamação: “<a href="https://twitter.com/paulocoelho/status/638003429131034624">certa
vez tive uma musa... e aí ela me acusou no <i>Sunday
Times</i> de ‘roubar sua alma!</a>’”. E postou <a href="http://paulocoelhoblog.com/2011/03/11/he-stole-my-soul-3/">uma matéria
onde Christina Lamb, jornalista de guerra, se queixava de ter sido escolhida
como musa da personagem principal de <i>O
Zahir</i></a>, reconhecendo também que ficara lisonjeada com a homenagem. Mas, para
ela, o saldo final era negativo. Dizia, de fato, que sua alma fora roubada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b> O efeito cumulativo<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
Originalmente,
a musa era uma divindade que inspirava o autor segundo sua arte: Calíope
inspirava o orador público, Terpsícore os dançarinos, o dramaturgo tinha a
ajuda de Melpômene... assim, muitas obras começavam com a invocação às musas.
Mas a metáfora não demorou nadinha a se deslocar para mulheres reais. Safo,
poetisa da ilha de Lesbos, logo foi arrolada como “a décima musa” por ninguém
menos que Platão. E hoje é assim que entendemos “musa”: uma mulher que se
destaca em algum campo (até mesmo o de futebol) e é bonita, atraente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No
mundo literário, chamar de <i>musa</i> é
considerado o jeito elegante de expressar interesse sexual, ou de reconhecer
que seu magnetismo sexual é tão grande que você até foi aproveitada como
personagem (uau!). Nunca vi ninguém chamando o DFW de muso do Franzen e do
Eugenides. Deve ser porque nesse caso eles têm direito de existir como outras
coisas (sujeitos, por exemplo), e ninguém se sentiria confortável sugerindo
homossexualidade aí. Então tem, sim, uma sugestão sexual em chamar alguém de
musa, pelo menos hoje em dia. E tem, sim, machismo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Explicar
que você não gosta da pecha de musa é como explicar que você não está a fim de
levar uma cantada. É atenção na hora errada, do jeito errado, no lugar errado.
E é prejudicada pelo efeito cumulativo: parece que tudo o que querem com você é
te chamar de musa e/ou pegar sua vida e reescrever do jeito deles. Ler o que <i>você</i> escreve? Que nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b> A musa involuntária<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
Não sou
hipócrita: todos e todas precisam de atenção para <i>fazer suas coisas</i> – seja essa coisa conseguir alguém com quem trepar,
seja avançar na carreira – mas no caso das mulheres essas atenções vêm muito contaminadas
umas pelas outras. MUITO. Não dá para descontaminar totalmente (nem acredito
que deveria), mas se é <i>só</i> assim que
acontece... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
...alguém
aí já viu <i>Mad Men</i>? (E <i>Mad Max</i>?)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje em
dia, certas coisas mudaram. Há muito incentivo para a mulher sair da feminice
tradicional (casa, filhos, marido) e se concentrar em carreira, experimentações
sexuais, hobbies considerados masculinos (futebol, videogames, marcenaria). Mas
uma vez que você chega nesses “lugares” onde é minoria, você se torna objeto de
desejo, já que está tão “perto do coração dos homens”. <i>Mas justamente agora que eu estava tentando ser um sujeito?</i>, você
pensa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje
precisamos mais de espaço para atuar do que príncipes para nos salvar desse
trabalho todo de sermos alguém. O irônico é que as mulheres que querem
desesperadamente ocupar esse pedestal de musa não interessam aos eleitores de
musas. Todos sabem que a moça que jura que foi musa de livro X ou vive tentando
colar no autor Y não é mesmo a musa (sabem, não é?). Os eleitores de musas
gostam justamente das que não querem saber disso. Por quê? Porque beleza não é
tudo. Eles querem também morcegar a sua vida, aquela que você construiu pra
você a duras penas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b> A musa como <i>double bind</i> (duplo constrangimento)<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É uma
cilada, Bino! Uma armadilha clássica. Você faz uma coisa por um motivo pessoal
e afetivo (tocar bateria, escalar montanhas) e a maioria masculina te trata
como se você estivesse ali com segundas intenções: conseguir homem, é claro.
Mais especificamente, ele. “Pode parar de fingir que gosta mesmo de estudar
engenharia: você já me encontrou!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por
dizer não para esse narcisismo masculino tão tolerado e insidioso, você se
torna um pouco odiada também, por “invadir o mundo masculino”, imagine só, <i>querendo ser melhor que eles</i>. Quem tem terceiras
intenções, que fique claro, são eles – e ela se chama “te manter no teu lugar”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa
armadilha que mencionei também tem nome. É o famoso <i>double bind</i>, que costuma ser traduzido como duplo vínculo ou duplo
constrangimento; em bom português, “<b>se
correr o bicho pega, se ficar o bicho come</b>”. Você pode dizer não pros
homens do seu campo até se ver emparedada pelo ressentimento alheio, ou dizer
sim (querendo de verdade ou não) e virar “a namorada do Fulano” ou “a piranha
do pedaço” – coisas que também emparedam. De qualquer modo, você geralmente acaba
odiando tudo nesse campo, a começar pelos seus colegas, a terminar pelo fato de
não ascender na carreira, batendo no tal teto de vidro. “Eu até queria ir no
ensaio hoje, mas para isso tenho que enfrentar aquele clima estranho na banda
depois que fiquei com Cicrano e disse não pro Beltrano...” Para sair da relação
doentia, o único meio é deixar o <i>seu</i>
campo para trás (“provando” mais uma vez que “mulheres não são ‘feitas’ pra isso”).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É o que
muitas fazem: desistem. Desistem de uma relação afetiva com a ciência, a
programação, a cultura nerd ou o que seja <i>porque
ligam mais para sua saúde mental</i> (copyright Jane Eyre, 1847). Uma relação
que tinha tudo para ser saudável, mas acaba tóxica porque o campo é constituído
de pessoas, as pessoas são na maioria machistas e você só queria ser feliz
deixando acontecer naturalmente – o que fosse, até sexo. E o que acontece não
tem nada de natural: é uma tentativa de manter as coisas como são, perversas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><i> </i>O roubo de
cena e o<i> disclaimer</i> “nem todo homem”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nem
todo homem é mal intencionado. Quando alguém arrola uma mulher como musa, e
praticamente aponta quem é, talvez genuinamente não entenda como é ruim para
nós essa “grande honra”. Então vou explicar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Muitas
de nós lutamos a vida inteira para poder agir como sujeito de nossas vidas: fazer
karatê em vez de balé, poder sair à noite, cursar química e não nutrição.
Alguém escolher pegar nossas vidas que tanto lutamos para moldar sob nossos
próprios olhos (exigentíssimos!) e, sem nos consultar, expô-la como criação sua
aos olhos dos outros é ultrajante e doloroso. Nos rouba a cena enquanto finge
divulgá-la. Ao mesmo tempo que essa escolha reconhece externamente como
“interessante” a identidade que tanto nos custou para montar, sugere, querendo
ou não, que ela carece de validação externa – uma validação historicamente concedida...
por homens. E geralmente por motivos como... beleza física – daí a palavra
“musa” ser tão incômoda para nós, que queremos ser mais que um rostinho bonito.
Ou seríamos modelos, misses, rainhas do bumbum.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(Nada
contra essas profissões. Mesmo. Mas me disseram, e acreditei, que escolhendo
uma profissão não relacionada com o corpo eu teria muito menos problemas com
homens infantis e abusados. E não é verdade não.)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(Em
tempo: Gisele Bündchen é musa porque trouxe algo além da beleza pros desfiles.
Uma vivacidade, uma alegria de viver, uma espontaneidade que as modelos em
geral não têm. Mas, acima de tudo, profissionalismo. Ela conseguiu ser sujeito.)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vamos
dizer que você seja escritor e considera uma mulher real a sua musa. Acha ela
bonita, acha foda o que ela fez com a própria vida. Longe de mim querer te
proibir de se inspirar em alguém para escrever. Se o objetivo é esse, o que
seria elegante? Decompõe a mulher, cara. Decompõe em vários personagens, não
diga quem os inspirou. Diga que foram várias. Diga que não foi ninguém. E não conte
para ela. Não a coloque nessa berlinda terrível, nesse <i>double bind</i>. Porque ou ela fala que não curtiu e prejudica a
relação entre vocês, ou engole o sapo e prejudica a relação entre vocês.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora,
se o seu objetivo é pegar sua musa, e ela é uma mulher empenhada em ter vida
própria, vou contar um segredo de polichinelo: não vai dar certo. Quando a
mulher fica sabendo que foi/é sua musa, ela automaticamente perde qualquer
tesão que porventura ela já tenha nutrido por você. Porque você não entende,
não entende...! (Se quer entender, releia o texto.)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fica o
alerta: não adianta se ressentir por ela não querer ocupar esse pedestal que
você escolheu unilateralmente para ela. Ela vai se sentir roubada, não
homenageada. Não é você; é que são muitos “vocês” e ela já está de saco cheio
de ficar ali em cima sem fazer nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A
sensação que tenho, no entanto, é que a maioria dos homens que nos colocam
nesse poleiro já sabe muito bem disso. Ficar lembrando continuamente que somos
mulheres – seja com cantadas e “elogios” ou cobranças de conhecimento profundo
do campo –, com toda a carga de bosta que atrelaram à identidade “feminino” (frágil,
emotiva, irracional, fútil, complicada, inexplicável, esquisita, misteriosa, alienígena...),
me parece, hoje em dia, só um jeito canalha de nos exasperar e enxotar do
espaço que adorariam que fosse só deles. Não vai ser não, amigo. Já estamos
ligadas nesse mecanismo, e ligadas umas com as outras. O circuito alternativo,
aquele que levanta a bola também das mulheres, já está acontecendo, e o
circuito machista vai encolher até sumir. Nem que seja por não se reproduzir...<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Esteja
o rapaz nessa por inocência ou com malícia, o fato é que uma hora ele vai
rodar. Não esqueça, além de criadoras, nós também somos o público.<o:p></o:p></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-77111134336876963052015-08-16T13:09:00.000-03:002015-08-16T13:12:12.955-03:00Será que o presente é o futuro? - Notas sobre tempos verbaisUma<a href="http://leioedoupitaco.blogspot.com.br/2015/08/duas-em-uma-pitacos-sobre-vez-de-morrer.html" target="_blank"> crítica recente de Antônio Ramos da Silva ao meu último romance</a>, <i>A vez de morrer</i>, elogiava bastante o livro, exceto pelo uso de pretérito mais-que-perfeito (qualificado de "insistente"). Não é a primeira vez que questionam esse uso, então vou brincar de oficina literária aqui e explicitar o que há por trás do meu uso desse tempo verbal, dentro da tradição literária.<br />
<br />
Línguas latinas, como o português, francês e espanhol, costumam render frases maiores para exprimir "uma mesma" ideia do que línguas germânicas, como o inglês e o alemão. (Coloco "uma mesma" entre aspas porque, enquanto não está em palavras, não considero ainda essa pré-ideia uma ideia, e uma vez posta em palavras de idiomas diferentes, já não é a mesma ideia. Sei porque traduzo...) Daí o autor de língua latina que quer exprimir uma ideia complexa precisa se virar nos trinta para não deixar a frase irremediavelmente feia e troncha, cheia de "de" e de verbos auxiliares.<br />
<br />
Para evitar esses verbos auxiliares, um truque comum na literatura em francês é usar o <i>passé simple</i>, que equivale mais ou menos ao nosso pretérito perfeito e, na terceira pessoa do singular, termina em "a". (Por exemplo: "ele passou" fica "<i>il passa</i>". Para um leitor que fala português e não francês, fica parecendo o nosso presente do indicativo.) Acontece que esse tempo verbal <i>nunca</i> é usado na fala cotidiana em francês. No dia a dia eles usam o <i>passé composé</i>, com verbo auxiliar (<i>il a passé</i>), também equivalente ao nosso pretérito perfeito. É mais fácil de conjugar, mais coloquial. Mas na hora de narrar... recorrem ao "empolado" <i>passé simple</i>. A única explicação para isso me parece que é para a frase ficar menos pesada.<br />
<br />
Em português, além de recorrer ao mais-que-perfeito, outra solução é colocar o livro todo no presente. Fiz isso no livro <i>A feia noite</i>, meu segundo romance, após <i>No shopping</i>. Assim, você terá lindos e sucintos verbos terminados em "o" na primeira pessoa (passo) e "a" na terceira (passa). Em terceira pessoa, nosso presente do indicativo fica sumário como o <i>passé simple</i> do francês, sem a empolação. Ao se referir ao passado, você geralmente vai usar o pretérito perfeito - quase nunca terá que usar tempos compostos. Aparentemente, só vantagens. Sendo assim, será que o presente (do indicativo) é o futuro? Todos os livros que se almejem bons/de sucesso devem ser escritos no presente?<br />
<br />
Creio que não. No caso de <i>A feia noite</i>, tratava-se de personagens em crise, passando por situações que os tiravam de sua zona de conforto todos os dias (ou melhor, todas as noites, pois o livro se passa quase todo à noite). Estava difícil continuar escrevendo no passado, denotando que os personagens teriam sobrevivido a tudo aquilo (e depois de tudo sobraria alguém para narrar). Além do mais, o livro é propositalmente empolado. Para tirar um pouco dessa empolação do nível da frase e tirar a impressão de que os personagens sobreviveriam para contar (no passado) o que lhes acontecera, passei o livro todo para o presente. Ficou muito melhor. A história deslanchou e pude terminá-la.<br />
<br />
Mas, no <i>A vez de morrer</i>, não senti vontade de usar o mesmo recurso. Até pensei em usá-lo, pois novamente era uma personagem saindo de sua zona de conforto e se arriscando (inclusive a morrer); mas o vocabulário que eu usava era mais simples, e eu ainda queria fazer referência a estruturas tradicionais do romance. Preferi deixar os mais-que-perfeito lá. Mas os diálogos são "realistas", coloquiais. Confiei que os leitores entenderiam que era isso que eu pretendia: apontar para a tradição sem deixar de mexer nela.<br />
<br />
Então não é que escrever livros em português no presente do indicativo seja o futuro, mas é preciso balancear o que você, autor, quer com as necessidades da história -- sabendo que nunca vai agradar a todo mundo. Que pelo menos agrade a sua consciência artística, senso estético ou seja lá como você chame aquilo que te põe para escrever.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-72921912081913804102015-07-31T12:36:00.001-03:002015-07-31T12:36:59.109-03:00Isso não é (só) uma crítica de game<div class="Mu SP" id=":7l.ma" style="color: #262626; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 6px; opacity: 1; transition: opacity 0.218s ease; word-break: break-word; word-wrap: break-word;">
<div class="tL8wMe xAWnQc" dir="ltr" id=":7l.co">
<div class="MsoNormal">
Acabei de jogar um
jogo chamado <i>The Talos Principle</i>, da
Croteam, uma desenvolvedora croata. Ouvi falar que era um puzzle parecido com <i>Portal</i> e <i>Antichamber</i>, dois grandes favoritos, e resolvi experimentar, mesmo
sem saber muito sobre a história. Você desperta no papel de um robô respondendo
aos comandos de um certo Elohim em um certo Jardim. Elohim te chama de meu
filho ("my child") e quer que você resolva muitos puzzles para ganhar
"<i>sigils</i>" (que são iguais a peças de Tetris). Sua recompensa, diz
ele, será "a vida eterna".<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas logo você
descobre que não é só isso que tem para fazer no Jardim. Você pode cumprir
outras missões fora a dada por Elohim. Você pode explorar e encontrar coisas
novas a fazer -- algumas delas contrariando diretamente as ordens de Elohim,
como subir na torre proibida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E aí? Prontos para
o SPOILER?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Você está dentro de
uma simulação. Um ambiente virtual para robôs criado por seres humanos pouco
antes de sua mal-explicada extinção. Mais ou menos uma Matrix ao contrário --
mas uma Matrix designada para que sua cobaia robótica extrapole o experimento,
tornando-se... humano. Afinal, na concepção do jogo, é isso que humanos fazem:
brincam, pensam lateralmente, são curiosos e... desobedecem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora eu vou CONTAR
O FINAL, então, fiquem avisados que é possível pular o próximo parágrafo. (Pessoalmente,
acho que contá-lo não estraga o jogo.)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O objetivo final
dessa simulação é produzir um pós-humano na carcaça de um robô. Apenas o robô
verdadeiramente "independente", que conseguir “pensar por si mesmo”, futricar
em tudo e desobedecer Elohim, "matando-o" (igual a um humano), será
selecionado para ser gravado em um corpo físico e acessar o mundo real. Porém,
atentando para o detalhe de que nenhum homem é uma ilha, o enigma final no topo
da torre requer colaboração com outro robô, The Shepherd -- mas também há outra
robô, a Samsara, tentando atrapalhar sua ascensão. (Gostei dessa parte.)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em <i>The Talos Principle</i>, a humanidade de
carne e osso foi eliminada e esta simulação foi seu último esforço pra se
perpetuar. A singularidade miguxa do jogo (<i>ei,
máquinas, continuem a humanidade aí por nós</i>) até pode cativar um jogador desavisado,
assim como atualmente há quem esteja cativado pela ideia de “literatura feita
por robôs”. Mas tudo cai por terra quando você pensa que o robô
"humano" é controlado (no jogo) por um humano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É uma nova versão
daquela<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Turco" target="_blank"> máquina de xadrez com uma pessoa dentro</a>...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um ser humano de
verdade controlando um robô “destinado a pensar de forma independente, como um ser
humano”. Isso é circular. Assim como é circular pensar que robôs podem produzir
literatura "independente" se são os humanos os juízes finais da qualidade dessa
literatura. Quando os robôs puderem votar entre si e dar, digamos, um prêmio
literário robótico à melhor literatura produzida por robôs, para robôs, aí a
gente conversa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Melhor ainda se
eles mesmos tiverem a ideia de criar esse prêmio para diferenciar a literatura
robótica “séria” da literatura robótica ruim, muito popular, mas que apela aos
mais baixos instintos do robô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pois é, não gosto de rótulos como literatura robótica ou feminina ou erótica, exceto como mote ocasional ("tema de redação") em antologias e afins. Para mim, essa separação entre elementos (assim como independência, livre arbítrio) que gostaríamos de postular
para fins de estudo não pode ser reificada. Quer dizer, até pode, e é, muitas
vezes, mas raramente com a consciência de suas limitações. Gostei de <i>The Talos Principle</i> na crítica sutil a essa
ideia de que “dá para separar” “sujeito” de “objeto” -- marcando-os como tais para todo sempre. Traçar a linha que divide
cego de bengala, homem da natureza, homem de máquina para fins de estudo não quer
dizer que esta linha esteja lá, não como fato inalterável. No mundo real, as
coisas vazam uma para a outra, e humano mesmo é não conseguir dar conta de tudo
(e não admitir isso por nada deste mundo).<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-80890533864518716152015-05-07T00:50:00.002-03:002015-05-07T00:50:25.988-03:00Uma geração cética<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O cigarro eletrônico é um dispositivo a bateria que produz vapor (e não fumaça) a partir de uma resistência. É usado geralmente com essências aromáticas feitas à base de produtos usados na indústria </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">alimentícia e cosmética (como a glicerina vegetal) que contêm certa dosagem de nicotina</span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, estipulada na embalagem. É muito adotado por quem deseja parar de fumar. Não por fazer </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">bem</span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, mas por fazer </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">menos mal</span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que o cigarro: não contém os tóxicos da queima nem os aditivos usados pela indústria de tabaco. Além disso, cigarros eletrônicos significam economia: as partes, intercambiáveis, podem ser compradas individualmente; o líquido é fácil e relativamente seguro de fabricar na própria casa, e totalmente customizável – a pessoa pode até ir baixando o teor de nicotina até o zero, se quiser.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No entanto, é um dispositivo proibido no Brasil pela Anvisa.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O copinho menstrual é um copinho feito de silicone médico que substitui o absorvente. Como qualquer coisa de silicone que vá ter contato com áreas íntimas, deve ser esterilizado em água fervente por três minutos (antes e depois de usado, diz o manual). Basta aprender a encaixá-lo na vagina de maneira a formar um vácuo, e pronto: o conforto é sem igual. A economia é imensa. O cheiro diminui drasticamente, pois o sangue não oxida em contato com o ar (só na hora de esvaziar).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas uma amiga usuária de copinho ouviu da ginecologista: “nossa, mas você gosta mesmo de ficar mexendo lá dentro, não é?”.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os anunciantes da mídia não precisam falar com todas as letras aos veículos noticiosos que preferem não ver matérias sobre esses produtos que machucam seus interesses, mas às vezes falam: quando você encontra aquela matéria pisoteando o cigarro eletrônico como se fosse o pior dos venenos, por exemplo. O usuário de cigarro eletrônico (ou </span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">vaper</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, como preferem ser chamados) chega a vibrar: é a confirmação de que está preocupando a indústria que um dia o escravizou. No caso do copinho menstrual, temos o silêncio ensurdecedor dos cadernos e revistas “de mulher”, que preferem falar de moda e beleza (e libido e bebês e carreira, nessa ordem). Mas existe o boca a boca: uma amiga evangeliza a outra sobre os benefícios do copinho e dá dica de marcas, tipos, manutenção... quase uma </span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">convenção das bruxas</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A internet possibilitou que as pessoas se comunicassem, se informassem e comercializassem por fora dos monopólios. Talvez esses fenômenos sejam mais visíveis nas indústrias ligadas a mulheres: algumas delas desistiram de usar métodos hormonais de contracepção por acreditar que a carga hormonal é danosa; outras assumiram os cabelos cacheados, após anos de chapinha, com um método que pode ter baixíssimo custo (</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">low poo</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">/</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">no poo</span><span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">). Outras desistiram de depilar as axilas ou tingir os cabelos brancos. Outras, por outro lado, descolorem e tingem as axilas. Ou seja: não é mais uma questão de “fazer as grandes indústrias arrancarem os cabelos”, e sim de desafiar nossas próprias preconcepções e ouvir nossos corpos e a comunidade em que vivemos para procurar um jeito melhor – ou menos pior – de viver.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.3800000000000001; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; color: black; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quem faz isso já desistiu há tempos de esperar o endosso da grande mídia, do governo e da sociedade tradicional a produtos e escolhas como essas. Não nos sentimos representados por colunistas que deveriam falar a nossa língua e só conseguem audiência quando desfiam chauvinismos. Não conseguimos diálogo com a geração dos nossos pais, que não entendem porque precisamos verbalizar coisas tão desagradáveis como câncer de pulmão, sangue menstrual e... vaginas. Vemos esses mesmos pais baterem panelas ou xingar quem bate panelas com uma paixão que não mostraram na hora em que decidimos sair às ruas para os protestos de 2013 (ouvimos, na verdade, um “leva um casaquinho”).</span></div>
<span id="docs-internal-guid-f6649238-2c7e-0477-e987-40554a22c5b3"><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Vejo uma geração cética, muitas vezes congelada na ataraxia (a serenidade da descrença), mas nunca deixando de questionar e ter esperança em caminhos, caminhos se possível melhores – no mínimo, </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">menos piores</span><span style="background-color: white; font-family: Georgia; font-size: 17px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Uma coisa é visível: há cada vez menos inocentes, e o cara de pau que alega acreditar em dicotomias/dogmas e viver por eles é considerado imediatamente, por essa geração desconfiada, o menos inocente de todos.</span></span>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-15961427967767359232014-12-18T13:34:00.002-02:002014-12-18T13:45:42.362-02:00A lista de 2014 – Livros e games<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Todo mundo está <a href="http://vicentemiguel.wordpress.com/2014/11/27/livros-2014/" target="_blank">fazendo</a> <a href="http://espanadores.blogspot.com.br/2014/12/mania-de-listas-os-livros-e-games-do.html" target="_blank">lista</a>, eu nunca faço lista,
mas esse ano deu vontade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Livros<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; line-height: 18.3999996185303px;">Botei só nacionais. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A propósito, lancei meu livro também, o romance <i><a href="http://www.amazon.com.br/Vez-Morrer-Simone-Campos/dp/8535924590/ref=sr_1_1_twi_2?ie=UTF8&qid=1418916519&sr=8-1&keywords=a+vez+de+morrer" target="_blank">A vez de morrer</a> </i>– leitores têm <a href="http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/08/1498395-critica-a-vez-de-morrer-evidencia-vigor-de-nova-geracao-literaria.shtml" target="_blank">elogiado</a> bastante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://ecx.images-amazon.com/images/I/51JXOHE2BNL._.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://ecx.images-amazon.com/images/I/51JXOHE2BNL._.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.amazon.com.br/Fiel-Jess%C3%A9-Andarilho/dp/8539005832/ref=sr_1_1_twi_1?ie=UTF8&qid=1418916378&sr=8-1&keywords=fiel+jess%C3%A9+andarilho" target="_blank">Fiel</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.amazon.com.br/Fiel-Jess%C3%A9-Andarilho/dp/8539005832/ref=sr_1_1_twi_1?ie=UTF8&qid=1418916378&sr=8-1&keywords=fiel+jess%C3%A9+andarilho" target="_blank">(Jessé Andarilho)</a> - <span style="background-color: white;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #181818;">Primeiro
livro-com-temática-favela que leio que não só é bom, como muito bom. Parece <i>Ender’s Game</i> numa favela carioca
(Antares, em Santa Cruz). Tem uns probleminhas (tipo siglas e uma ou outra
frase fora do lugar), mas, de resto, muito bem montado.</span> P</span>rovavelmente o
primeiro livro com "mariolas ex machina".</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.25pt;">
<a href="http://ecx.images-amazon.com/images/I/31mL7TeI62L._.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://ecx.images-amazon.com/images/I/31mL7TeI62L._.jpg" height="200" width="133" /></a><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://www.amazon.com.br/Cabe%C3%A7a-do-Santo-Socorro-Acioli/dp/8535923691/ref=sr_1_1_twi_2?ie=UTF8&qid=1418916458&sr=8-1&keywords=cabe%C3%A7a+do+santo" target="_blank">A
cabeça do santo</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://www.amazon.com.br/Cabe%C3%A7a-do-Santo-Socorro-Acioli/dp/8535923691/ref=sr_1_1_twi_2?ie=UTF8&qid=1418916458&sr=8-1&keywords=cabe%C3%A7a+do+santo" target="_blank">(Socorro Acioli)</a> – A história do rapaz que vai morar dentro da cabeça de um
santo cujo corpo nunca foi concluído e acaba ouvindo as orações das mulheres da
cidade. </span><span style="color: #181818; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um livro redondo e gostoso de ler, com mistérios que seguram a atenção
do leitor até o fim da história. Tem uns clichês que me incomodaram um pouco
(como o nome da moça Madeinusa vir de "Made in USA"), mas fora isso,
tudo muito bem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.25pt;">
<span style="color: #181818; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://img.travessa.com.br/livro/DT/45/45c203b9-57e3-4352-8dcc-c2899f94f310.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://img.travessa.com.br/livro/DT/45/45c203b9-57e3-4352-8dcc-c2899f94f310.jpg" height="200" width="127" /></a><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.travessa.com.br/BIOFOBIA/artigo/45c203b9-57e3-4352-8dcc-c2899f94f310" target="_blank">Biofobia</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.travessa.com.br/BIOFOBIA/artigo/45c203b9-57e3-4352-8dcc-c2899f94f310" target="_blank">(Santiago Nazarian)</a> - <span style="background: white; color: #141823;">O estilo de
Santiago está todo lá, mas mais depurado: as originais associações de ideias,
as alfinetadas na vida real, o <i>gore</i>.
Pense em <i>A morte sem nome</i> com um
protagonista masculino e mais focado, ainda que seja em consumir drogas e
retomar o sucesso da juventude. Tudo no livro é muito convincente, de maneira
mais emocional que racional – as questões existenciais de quem já fez 40 anos,
a forma como a mãe de André se mata e ninguém nem tenta elaborar muito sobre
isso, a rapa que os parentes fazem na casa, e todos os mistérios que surgem
naqueles dois ou três dias em que se passa o livro</span>.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://ecx.images-amazon.com/images/I/41L58qzAwVL._.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://ecx.images-amazon.com/images/I/41L58qzAwVL._.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.amazon.com.br/Po%C3%A9tica-Ana-Cristina-Cesar/dp/8535923624/ref=sr_1_1_twi_1?ie=UTF8&qid=1418916706&sr=8-1&keywords=po%C3%A9tica+ana+cristina" target="_blank">Poética</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.amazon.com.br/Po%C3%A9tica-Ana-Cristina-Cesar/dp/8535923624/ref=sr_1_1_twi_1?ie=UTF8&qid=1418916706&sr=8-1&keywords=po%C3%A9tica+ana+cristina" target="_blank">(Ana Cristina Cesar)</a> – Poesia completa. Não gosto muito de poesia, mas quando é
boa assim... especialmente a partir de <i>A
teus pés</i>, a autora arrasa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ilha
da decepção</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> (Alice Sant’Anna e Alexandre Sant’Anna) - Não gosto muito de poesia, mas quando é boa assim... e com fotos em P&B
boas assim... Mas é difícil achar o impresso, que teve edição limitada (e incrível); tomem uma <a href="https://www.youtube.com/watch?v=3eiMStt3Sxs">versão em vídeo</a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Games<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Olhando essa lista penso: Adoro gente traumatizada.
Adoro geometria. Mas também gosto de rir.<br />Todos esses jogos são encontráveis na plataforma Steam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 18.3999996185303px;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/aGsnm2nOnso" width="560"></iframe></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/219890/" target="_blank">Antichamber</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/219890/" target="_blank"></a>– Um jogo baseado em geometria não euclidiana. Você pode dar a volta numa coluna
e topar com uma sala que não estava lá antes. Não há inimigos, há apenas uma
pistola que suga blocos do ambiente e depois os cospe em lugares convenientes
(e ela vai ficando mais poderosa conforme você avança no jogo). O visual <i>clean</i> é impecável, com destaque para os
pôsteres motivacionais que você encontra pelo caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<img alt="the-binding-of-isaac" src="http://game-insider.com/wp-content/uploads/2014/11/the-binding-of-isaac.png" height="360" width="640" /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/250900/" target="_blank">TheBinding of Isaac Rebirth</a></span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – jogo difícil e viciante em que
você é um menininho traumatizado cuja arma são as próprias lágrimas. Várias
referências bíblicas e satânicas. Remake do jogo de 2011 que era em Flash e
meio bugado. O remake está poderoso. Mil troféus a serem conquistados, itens ainda
mais inventivos, e nenhum bug até agora. Vale o reinvestimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<img src="http://cdn.akamai.steamstatic.com/steam/apps/310080/ss_6c191678caebc93c559fc7d9c895abe215560570.600x338.jpg?t=1409962789" height="222" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/310080/" target="_blank">HatofulBoyfriend</a></span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – Jogo de namoro virtual com humor sombrio. Nele,<span style="background: white; color: #292f33;"> sua personagem humana pode conquistar
um namorado dentre vários... pombos.</span> Sua personagem é uma
caçadora-coletora e mora em uma caverna; o mundo parece dominado por aves
inteligentes.</span> É um mundo meio <i>Hora
da Aventura</i> (o desenho animado): o apocalipse já aconteceu e tudo parece
bem. No final, você desbloqueia<span style="background: white; color: #292f33; letter-spacing: .2pt;"> a verdadeira história do que aconteceu – e é um horror.</span>
Pombos são maléficos...<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<img src="http://cdn.akamai.steamstatic.com/steam/apps/253110/ss_a961029c4764d0ba8f146c7243f7a3cefe17d107.600x338.jpg?t=1398219673" /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/253110/" target="_blank">The Cat Lady</a></span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – Uma moça deprimida se suicida, mas volta dos
mortos com a missão de encontrar e punir cinco psicopatas. Começa sombrio e
desorientador, mas logo vira uma história de primeira. Logo que você volta para
casa, percebe o desafio que é para o deprimido lidar com suas tarefas
cotidianas – estragar o café, queimar a comida e ficar sem luz no apartamento
podem ser verdadeiras tragédias –, mas a investigação logo absorve nossa
heroína, especialmente quando ela arruma uma sidekick que lembra a Lisbeth
Salander (da trilogia escandinava <i>Millenium</i>).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/wxfgajectCs" width="560"></iframe><br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/250260/" target="_blank">Jazzpunk</a> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://store.steampowered.com/app/250260/" target="_blank"></a>– Jogo hilário do Adult Swim. Um mundo feito de bonequinhos da Vivo em que você
é um agente secreto recebendo as mais improváveis missões. Excelente trilha
sonora, humor nonsense, referências as mais variadas. Um dos minigames dentro do jogo é “Cake”, multiplayer de
mentirinha em que as armas e itens são todas referências a casamento.<o:p></o:p></span></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-4477565011007910242014-08-09T14:22:00.001-03:002014-08-09T14:27:25.894-03:00I Woke Up Like This<div class="MsoNormal">
Esse ano, na Flip, vi uma menina rotular um escritor cujo
livro havia adorado de “babaca” porque, depois da palestra, não conversara –
não fora “simpático” – com as pessoas durante o autógrafo. Será que ela vai
parar de comprar os livros dele porque ele não fez uma cara feliz enquanto
servia o lanche dela? Me preocupei.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa menina estava na fila do Andrew Solomon e o achou muito
feliz e simpático.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Às vezes, eventos literários parecem um concurso de quem é
mais simpático e bonito e “acessível”. É mais fácil ganhar esse concurso se
você é estrangeiro, pois raramente você tem intrigas ou desafetos por evitar. Sento
na plateia para ver os colegas falarem e, ouvindo o que ouço, quando estou no
palco, tento não pensar no que podem estar falando de mim. E visto uma máscara
de pancake de extrema simpatia e energia.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ninguém é obrigado. Mas muitos de nós, porque precisam do
dinheiro, porque precisam alcançar leitores, escolhem estar lá. Mas quando você
chega a estar cara a cara com o leitor, você já foi acossado por gente chata ou
arrivista, cobrado de aparecer em tal e tal lugar e posar para tais e tais
fotos. Você também pode ter sido peitado por um ex ressentido ou perseguido por
um pretendente bêbado. Para piorar, você pode ser o tipo de pessoa reservada
que detesta multidão e frisson. Surpresa: muitíssimos escritores caem nessa
categoria. Eu também – mas aprendi a aplicar o pancake mental. Sei que muitos colegas
o aplicam, outros não querem e/ou não conseguem, mas não os julgo por isso ou
por aquilo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como a menina do primeiro parágrafo, também achei o
Solomon simpático e feliz, mas sei perfeitamente que estava tratando com a face
pública dele. E que os livros dele são bons independentemente de ele ter se
mostrado bom relações-públicas ou não.<br />
<br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px;">D'après a matéria do </span><a class="profileLink" data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=695019865" href="https://www.facebook.com/bolivart3" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; text-decoration: none;">Bolivar Torres</a><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px;"> n'O Globo (aqui:</span><a href="http://goo.gl/M0dXk7" rel="nofollow" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; text-decoration: none;" target="_blank">http://goo.gl/M0dXk7</a><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px;">)</span></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-40514718029459251912014-06-05T18:17:00.001-03:002014-06-05T18:17:31.962-03:00Já pensei nisso que <a href="http://www.blogdoims.com.br/ims/um-pinto-contra-francisco-sa-%E2%80%93-por-juliana-cunha/" target="_blank">Juliana disse</a> - em caras de minorias que se sentem invisíveis para as mulheres, e cuja cantada é uma forma de vingança/medida desesperada. No início achei estranho <a href="http://oglobo.globo.com/blogs/blog_gente_boa/posts/2014/06/03/assedio-revolta-estudante-em-copacabana-538073.asp" target="_blank">a estudante Yasmin</a>, que não gostou das cantadas recebidas, tocar na questão do sujeito ser porteiro. E daí ele ser porteiro? Também fiquei incomodada com isso. Mas aí ela alocou isso no fato dele ter que ter postura por estar no seu local de trabalho. E ela falar que morava ali me pareceu uma forma de marcar o espaço como <i>também </i>dela, não <i>prioritariamente </i>dela. Quer dizer: ela não passa ali porque <i>gosta</i>, ela passa ali porque <i>precisa </i>e se recusa a mudar o caminho mesmo incomodada, pois ele é que teria de se conter. Por mim, certo. E ela só fala na Francisco Sá depois, para a jornalista... se apresentando e justificando que realmente tem que passar ali. (Obrigada à amiga Caroline Gê, que me chamou a atenção para isso.)<br />
Quanto à sugestão de que a menina nem tenha pensado em chamar a polícia, e sim a "patroa" [dele] -- oi? Chamar a polícia com base em que lei? Atentado ao pudor? O policial (mesmo que seja mulher) vai rir da sua cara. Isso se você conseguir encontrar um(a) flanando por perto. E, de acordo com a cordialidade brasileira, seria um comportamento indevido e muito extremo para uma mera "cantadinha". Já fui para a delegacia com o rosto todo lanhado depois que um cara (branco, de roupa social) no centro da cidade, me agrediu por eu responder atravessado à cantada nojenta dele, e não, o policial não me deu razão nem pediu corpo de delito - disse apenas para eu "tomar cuidado" pois "poderia ser algum maluco". Não deixaria de ir à polícia em casos assim, mas é fato que eles nem ligam. Nem se você aparecer fisicamente ferida.<br />
Então, que coisas dizer para a pessoa que te canta na rua não querendo nem ouvir o que você tem a dizer sobre o assunto (gostei/não gostei)? Rapazes negros, brancos, novos, velhos, de uniforme e de terno, vão ter que ouvir alguma coisa, isso é verdade. E não vai ser uma coisa boazinha, já que eles não se preocuparam com seus sentimentos. É claro que será alguma coisa <i>repressora</i>, mas não precisa ser <i>opressora</i>. Ainda não ouvi um discurso sobre respeito à mulher tão eloquente em expressar a insatisfação de quem recebe a cantada quanto, por exemplo, apelar para o senso profissional e ético, mas ficaria feliz em adotá-lo caso ele existir. Aceito sugestões. Quem sabe chamar o cara de <i>folgado, abusado</i>... mesmo assim, não é um vocabulário muito grande. Para chegar a obter o apoio da polícia, é preciso ficar claro para todo mundo que está ouvindo que uma infração à ética da sociedade está ocorrendo. A ética da sociedade brasileira diz que temos que aguentar cantadas caladas... e que feminismo é coisa de "mal-comida", "frígida" e lésbica. Para não ouvir <i>mais </i>opiniões sobre sua vida sexual<i> </i>de alguém que já estava deliberadamente se intrometendo na mesma, Yasmin parece ter preferido falar em ética, e deixar bem claro para o sujeito que não estava gostando, já que passar encolhida e de cabeça baixa não parecia ser suficiente.<br />
Quando eu era adolescente, autocentrada como todo adolescente, só me concentrava na minha vida interior ao andar na rua. Detestava as cantadas: só as via como interrupções da minha concentração. Hoje penso que, assim como o cara que me cantava não tava nem aí para a minha vida interior, eu não tava nem aí para a invisibilidade percebida dele. Hoje, cultivo a empatia; troco olhares por quem passo no caminho -- tento mostrar que sim, o reconheço como ser humano, quem sabe até um ser humano sexualmente interessante. Mas se o sujeito não me interessa sexualmente ou de outra forma, desvio o olhar e continuo com meus pensamentos. Ainda assim tem um ou outro que se vinga/se desespera e passa uma cantada verbal, quase enfia o nariz no meu caminho ao passar ou até toca em mim. Aí é desrespeito e posso até me sentir ameaçada. Dou razão a quem tem coragem de falar alguma coisa para reprimir isso, desde que não seja opressora. E acho que a Yasmin não foi.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-84766537829251240752013-11-24T00:22:00.001-02:002013-11-24T00:22:41.908-02:00Opting Out (Pedindo pra sair)POLÊMICA: inventaram <a href="https://onlulu.com/" target="_blank">um app para mulheres darem notas e comentarem os homens</a>. Isso mesmo, fazer review de caras. Todo homem inscrito no Facebook está suscetível, mas existe um opt-out - um pedir-pra-sair. Está fazendo o maior sucesso. Muitos homens estão reclamando, se dizendo ofendidos.<br />A jornalista Ana Freitas fez <a href="http://thinkolga.com/2013/11/22/clube-da-lulu-e-a-objetificacao-masculina/" target="_blank">um texto relatando um diálogo interno que ela teve ao saber da existência desse app</a>. Leiam, pois vale a pena. Ela diz que é uma objetificação dos homens por parte da mulher - mas é uma brincadeira - mas é babaca - etc. Gostei do raciocínio dela até a pergunta final: "<i>você quer um feminismo que quer que a mulher tenha todos os direitos do homem, tipo objetificar e assediar caras na rua (ou seja: ser babaca!), ou você quer um que acabe com qualquer objetificação e assédio?</i>"
E ela diz que quer o segundo...<br />
Mas pera, eu não acredito em uniformização. Quer dizer: pra mim, a extinção absoluta dessas cantadas de rua, às quais chamarei "pedreiragens", é perda de variedade no ecossistema. Só podia ser menos obrigatório pros homens ter que passar cantada na rua (nem todos realmente gostam) e, por conseguinte, menos obrigatório pras mulheres ter que ouvir isso (nem todas gostam de ouvir).<br />
E há um motivo para o sucesso desse app. Só se fala coisas potencialmente ofensivas de alguém quando a pessoa <i>não pode </i>ouvir ou, se ouvir, não puder reclamar. O app se parece com a criação de um espaço de mulé pra falar pedreiragem sobre homens. Pelo jeito, as mulheres curtem objetificar sim. Só não tinham espaço pra isso.<br />
<i>Isso sim</i> nos diz algo sobre nossa sociedade: o cara fala pedreiragem <b>diretamente</b> para a mulher na rua porque ela, para ele, não conta como alguém que importa. Não tem voz, nem defesa. Não conta como ser humano. Os caras tratam o mundo como seu playground nesse aspecto: "se ela não gostar, não vai reclamar porque vai pegar mal pra ela; se reclamar, não vai me importar, e vou demonstrar isso chamando-a de alguém que não gosta de sexo ou não atraente, que é o único valor que ela pode ter". Pessoalmente, posso dizer que 90% das vezes a "tréplica" a manifestar que não gostei foi ser chamada de <i>mal-comida</i> e <i>branquela azeda </i>pra baixo. 10% dos caras se envergonha, acata o feedback, a realidade do "quem fala o que quer, escuta o que não quer".<br />
Então, não gosto mesmo de cantada de rua, mas jamais militaria contra ela. Minha campanha é pro cara se dignar a ouvir minha opinião de volta. <i>Realmente</i> ouvir. Até porque vai que alguma mulher curte a cantada dele e tem a liberdade de expressar que <i>sim</i>?<br />
O que chamo de <i>flertada de rua</i> é mais legal: a pessoa procurar o olhar da outra. É legal porque as duas partes têm a opção de participar ou desistir, ser mais ou menos ousadas, e o jogo vai se prolongando (ou não) com a anuência das duas, e <i>não tem a menor obrigação</i> <i>de terminar em chopp/sexo</i>. Eu diria até que não tem a menor <i>condição </i>de terminar assim e por isso a total liberdade do negócio, mas vai que.<br />
Na flertada de rua dá pra qualquer das partes desviar o olhar no momento que quiser. Não dá pra desviar o ouvido da cantada. Aliás, note só a proliferação de fones de ouvido, especialmente entre as mulheres, especialmente entre as mais jovens, especialmente em transportes públicos. Isso não é tanto amor pela música assim.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-85173985296522955162013-09-13T14:17:00.001-03:002013-09-13T14:17:12.201-03:00Sobre <a href="http://thinkolga.com/2013/09/09/chega-de-fiu-fiu-resultado-da-pesquisa/" target="_blank">a pesquisa do fiu-fiu</a>: Entendo que os homens possam se sentir oprimidos por não poderem trepar com/assediar quem quiserem, mas boa parte deles acha que tem a opção de "desabafar" com fiu-fius e afins. Só que a mulher também deseja, e deseja positivamente; ela também é oprimida por não poder trepar com/assediar com quem quiser e ela jamais acharia que pode "desabafar" com fiu-fius na rua da mesma forma. E tem que ouvir o dos outros, quer queira, quer não (ninguém pergunta pra ela). A pesquisa do fiu-fiu é essa pergunta.<br />
A pesquisa não diz pro homem parar de desejar. Só diz que as mulheres estão incomodadas com a desimportância do próprio feedback na transação. Sem fiu-fiu, há pleno espaço pra trocas de olhares a distância e um flerte de ida e volta, com a participação da mulher, ou até com ela começando! O fiu-fiu vem quando a mulher não começa o flerte, nem olha de volta, seja porque não curtiu o rapaz de volta, seja porque está concentrada em algum problema intelectual, pessoal ou corriqueiro (eu, na maioria dos casos). E, oras, a mulher não tem o direito de pensar em algo que não seja o macho à sua frente? Que afronta, querer ditar o propósito da mulher estar no mundo... eu estou no mundo por/para muitas coisas, pelo menos.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-27275720905582983062013-08-28T16:52:00.001-03:002013-08-28T16:59:53.724-03:00Momento lindo<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois que ganhei vodca na boca da Sasha Grey, fiquei toda
ansiosa para que saísse logo a foto. A música é ótima, mas o maior lance da festa
<i>I Hate Flash</i> são as fotos, tiradas
por um coletivo de fotógrafos profissionais, que as disponibilizam em <i>copyleft</i> no site depois de escolher as
melhores. A festa foi num sábado, e, na terça-feira, a foto saiu:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-jwCbqjcc0zY/Uh5PBpVI-9I/AAAAAAAACM8/MX3siYNU_zs/s1600/momentocomsasha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/-jwCbqjcc0zY/Uh5PBpVI-9I/AAAAAAAACM8/MX3siYNU_zs/s400/momentocomsasha.jpg" width="400" /></a></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A foto ficou muito melhor do que eu poderia imaginar. Foi uma conversão
digna do que eu senti naquele momento lindo. Foi batida com arte, selecionada
com carinho. Mas sabendo que <i>devia haver
mais foto</i>s, eu as cobicei. Daí encontrei esse aviso no FAQ do site:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong><span style="background-color: #111111; color: #fafafa; line-height: 115%;">“Uma foto
minha, que foi tirada no evento não saiu no site, é possível recuperá-la?</span></strong><span class="apple-converted-space"><span style="background-color: #111111; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #fafafa; line-height: 115%;"> </span></span><span style="color: #fafafa; line-height: 115%;"><br />
</span></span></div>
<span style="background-color: #111111; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #666666; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Infelizmente, não. Apenas selecionamos o que
consideramos as fotos mais divertidas e espontâneas de cada evento, e devido a
um fluxo de trabalho que demanda velocidade e espaço em disco, estamos
acostumados a deletar o que não entra pro set. Desculpa!”</span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Divertida minha foto. Concordo. Agora, espontânea? Minha
performance informada por anos-luz de pornografia, espontânea? Fiquei quase
ofendida.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Dando uma olhada nas outras fotos dos demais felizardos da
festa, a afirmativa sobre “espontaneidade” se torna ainda mais incompreensível.
As pessoas nitidamente estão tentando parecer bonitinhas na foto – sem arreganhar
demais a boca nem espichar a língua –, ou segurando a garrafa de vodca, ou olhando
para a câmera, ou segurando um celular com que estavam tentando “guardar” o
momento. Amiga, você não pode ter o presente por mais de um momento. A própria
definição de “presente” o proíbe. Com essa tentativa de espetar o tempo na
cortiça, você deixa de ter o presente até no momento em que você tem direito a
ele.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Sempre fui muito amiga do presente. O que você mais ouve <a href="http://www.youtube.com/watch?v=CsT6XL7J8Vs" target="_blank">nos vídeos das minhas festas de infância</a> é uma narradora onisciente raivosa – minha
mãe – ralhando comigo por eu não querer olhar, sorrir e dar tchau para a câmera.
Eu preferia ficar fitando o nada, ou brincar nas esculturas de jardim do salão
de festas, ou desmaiar de mentirinha nos braços das minhas amigas. Aprendi a
ignorar a câmera, e a minha mãe, se quisesse viver o momento. Não era apenas a
minha mãe. Eram as meninas consumistas da escola, os passadores de cantada da
rua, as figuras de autoridade que se sentiam ameaçadas e tentavam me esmigalhar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Se estão constantemente tentando te humilhar, depois de um
tempo você não fica mais vermelha. E aprende a ver as causas. <i>Por que sempre comigo?</i> As estruturas de
poder e as motivações ocultas se tornam transparentes. Você aprende a requisitar
o seu poder lá dentro, e a dar uns empurrões nas vigas para as coisas mudarem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Sábado passado, quando Sasha começou a discotecar, 90% da
festa levantou os celulares e começou a filmá-la. E ela continuou trabalhando muito
concentrada na mudança de faixas e equalizações. E arrasou no set. Como ela fez isso? Como ela
é capaz?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Bem, não é só “concentração”. É um dom para evitar a autoconsciência
que foi percebido cedo e muito bem treinado. Esse dom passa por compartimentar
os circuitos da mente (como num quadro de luz) e treinar a mente para desligar
os corretos em momentos de estresse. O nervosismo de falar/atuar em público (<i>stage fright</i>), o constrangimento, a
humilhação: tudo isso traz uma resposta não-verbal (cinésica), que todo ator,
desde o primeiro exercício de teatro, aprende a recondicionar. Mas as emoções
estão lá, e têm que sair por algum lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você não precisa ter feito teatro para aprender isso (e que
a lente da câmera distorce a imagem do corpo; e que a presença da câmera faz as
pessoas se comportarem diferente; e que os critérios de edição desse material
audiovisual podem fazer com que sua presença não seja “registrada”, dando
vontade de levar também sua câmera particular para “mostrar que foi”). Quer
dizer, as pessoas sempre adoraram julgar as outras. Só aumentou o número de
olhares, e o tempo que eles armazenam a fofoca. Hoje em dia sempre tem câmeras
apontadas para você, por mais que você não goste delas. Então evitar a
autoconsciência se torna uma capacidade essencial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando digo às pessoas que sou esquizoide, me refiro a essa
capacidade de me proteger dos julgamentos da realidade por compartimentação. Não
que eu seja incapaz de afeto. Às vezes, uso meus poderes do jeito errado, e
perco um aspecto fundamental do presente, ou magoo as pessoas, ou, o mais comum,
as deixo confusas. Nessa festa, minha estratégia (</span><i style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">não espontânea!!!</i><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">) foi dançar com o DJ, em frente à caixa de som,
como uma clubber </span><i style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">old school</i><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"> (é bom
ter 30 anos), não procurando o olhar de ninguém, nem as câmeras, </span><i style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">nem o do DJ</i><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">, sendo apenas um corpo que dançava informado pela música. Não fiz um vídeo, não tirei uma foto. Na hora, perdi a presença de um amigo a metros de distância (tudo bem que ele
emagreceu mais de dez quilos), e quase que perco Sasha distribuindo vodca. Provavelmente
agi de forma bem antipática para padrões cariocas. Mas consegui evitar a
porcaria da autoconsciência. E meu amigo não-reconhecido, muito solícito, estava com uma câmera e registrou a minha
dança. Porém, de seu ponto de vista tampado pela mesa de DJ, ele não viu o
momento da vodca dada na minha boca. Mas sei que, mesmo que não houvesse a foto
acima, ele acreditaria em mim e comemoraria o momento comigo. O que pra mim ainda é a
medida de uma amizade legal, apesar de todas as modernidades.</span>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-67060494586601197882013-08-21T17:30:00.002-03:002013-08-21T17:43:57.494-03:00"A cultura do carioca é ser sujo"Começaram a aplicar a multa do Lixo Zero no Rio. Pra quem não sabe, é a iniciativa que pretende mudar a mania do carioca de jogar lixo no chão. Como cidadã caxias e limpinha, acho ótimo. Mas nem todo mundo acha.<br />
<div style="border: 0px; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
"Multado por jogar uma guimba de cigarro no chão, na esquina da Rua da Assembleia com a Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, neste primeiro dia do programa Lixo Zero, o consultor de beleza Ney Eckhabt, de 51 anos, disse concordar com a iniciativa. Mas acha que o esforço das autoridades para tornar a cidade mais limpa pode esbarrar num fator cultural: o costume do carioca em jogar lixo no chão:</div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
- A cultura do carioca é ser sujo. Não adianta querer mudar essa cultura de um dia para o outro." - reportagem de Giulliane Viêgas, do <a href="http://extra.globo.com/noticias/rio/a-cultura-do-carioca-ser-sujo-diz-consultor-multado-por-jogar-lixo-no-chao-no-centro-do-rio-9621560.html" target="_blank">jornal Extra</a></div>
<br />
Mas o fator cultural em questão nem é tanto "ser sujo". É mais uma tríade: a espontaneidade, a cordialidade e a comodidade.<br />
<br />
Planejar onde jogar seu lixo ou esperar até enxergar uma lixeira enquanto anda pelo Centro do Rio parece inconcebível para um carioca típico. Ele pensa:<br />
<i>"Estou </i>espontaneamente <i>jogando minha guimba de cigarro no chão. Faço parte de um povo seleto: os despreocupados. A vida é boa."</i><br />
Ao ser interpelado por um guarda querendo aplicar a multa, essa pessoa pensa:<i> "você não está sendo legal comigo. Você não está sendo </i>cordial<i>. Você está me tirando do meu </i>comodismo <i>ao apontar meu erro. Por causa disso, vou castigá-lo com palavras sobre como você </i>não <i>faz parte do meu povo seleto, os despreocupados".</i><br />
Isso é uma amostra do que encontro toda vez que falo com ciclistas pedalando por cima da calçada ou pessoas que não recolhem o cocô do cachorro. Meu "por favor" é recebido com de "vai encarar um tanque" pra baixo. Gente, eu só quero não pisar em merda quando saio de casa.<br />
<br />
Pois é, nasci e cresci no Rio. Morei a vida inteira aqui. Se me eduquei para não jogar lixo no chão nem andar de bike pela calçada, foi praticamente um exercício em contracultura. Até meus pais jogavam lixo pela janela do Voyage! (Até eu começar a encher o saco deles. Ê, criança chata.) Aliás, na minha infância, de fato não havia lixeiras pela rua. Aí colocaram as lixeiras laranjas. Acabou a desculpa. Mas não a mania de jogar o lixo no chão -- espontaneamente...<br />
Mas agora tem a multa, não é? E com multa, o comodismo sai de campo. Afinal, recorrer dá ainda mais trabalho... e pagar, jamais! É melhor treinar uma nova espontaneidade. Sendo assim, talvez sejam úteis essas dicas de quem conseguiu criar o hábito de jogar lixo no lixo:<br />
1 - Aquela chapa de metal na parte de cima das lixeiras laranjas é pra extinguir o cigarro antes de jogá-lo nelas. Na falta disso, apague na sola do sapato.<br />
2 - Você não é obrigado a pegar nenhum folheto que lhe derem. Se pegar, amasse-o e enfie na bolsa ou no bolso.<br />
3 - Toda loja, restaurante e banquinha de comida tem uma lixeira do lado do caixa. Desove seu lixo de bolso lá.<br />
<div>
<div>
Ao ler isso, o pessoal dos outros estados deve estar rindo da nossa cara, e com razão. Eu rio/choro mais é das desculpas que as pessoas multadas dão: "não joguei a guimba no lixo para não provocar um incêndio..." "não achei lixeira..." e a melhor de todas: "<i>estou acostumado com a Europa</i>". Tsss.</div>
</div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-28835971761935193712013-03-04T16:39:00.001-03:002013-03-05T01:08:52.966-03:00Dicas para a empresa modernaNessa era das redes sociais, vemos muitas empresas tentarem passar por <i>descontraídas</i> e meterem totalmente os pés pelas mãos. Isso pode acontecer em blogs de empresas, posts pagos, páginas de Facebook, anúncios para TV, ações publicitárias etc. etc. Se você é uma empresa, não se desespere. No melhor estilo post de blog empresarial, seguem dicas para evitar gafes, de uma pessoa física para uma jurídica, com muito amor.<br />
<br />
<b>1- Conselho: não dê conselhos.</b><br />
Canso de ver blogs de empresas tentando se fazer de amiguinho do consumidor, dando conselhos, enfim, <i>prescrevendo</i>. Não tem coisa pior do que ver uma empresa fazer a íntima. Ainda que você, empresa, venda vibradores ou bolsas de colostomia. Aliás, aí mesmo é que você tem que se segurar e ir com calma na intimidade.<br />
<br />
<b>2- </b><b style="font-family: inherit;"><span style="color: #333333;"><span style="line-height: 14px;">Não seja pão-dura. Muitos podem confundir sua pão-durice com insensibilidade!</span></span></b><br />
"Poxa, eu tava só querendo estufar um pseudo-blog com pseudo-conteúdo pra vender meus produtos e incumbi meu estagiário aspirante a humorista de escrever alguma coisa... E agora a empresa está sendo injustamente xingada de machista, homofóbica e racista no Facebook -- só porque confiei cegamente na pessoa errada. Muito injusto!"<br />
Isso também vale para "parcerias" com blogueiros que não dominam o português. Aliás, "parceria" quase sempre quer dizer que uma das partes não está recebendo nada por isso. Muitas vezes, merecidamente.<br />
<br />
<b>3- Não superproteja sua marca. Consumidores detestam isso!</b><br />
A empresa age num esquema "Falou mal, tomou processo?" Ou vai contatar insistentemente a pessoa até tirar do ar? Todos sabem que isso é ridículo, pessoa jurídica. Comporte-se e fique na sua.<br />
<br />
<b>4- Não finja ser o que não é. Seja você mesma!</b><br />
A empresa tem que se valorizar. Os consumidores é que têm que correr atrás dela e gostar dela como ela é. Tudo bem que uma pessoa jurídica é naturalmente um pouco esquizo, mas pelo menos no primeiro encontro, disfarça, né?<br />
<br />
<b>5- Seja agressiva! Seja pitbull!</b><br />
Cumplicidade não se finge, se conquista! Você não vai ganhar nenhum cliente ficando aí parada! Mexa-se! ÂNIMO! E tem mais: se alguém falar mal de sua marca, ponha a boca no mundo! Ninguém vai respeitar uma empresa que reage feito uma mosca-morta. Se preciso for, coloque aqueles folgados do departamento jurídico pra trabalhar um pouco -- se é que a empresa me entende. ;-)<br />
<br />
<b>6- Seja consistente!</b><br />
Não adianta falar uma coisa para depois falar outra. Isso é coisa de gente louca e ninguém quer ficar perto dessa gente. Sugerimos escolher uma de suas personalidades e ficar com ela. Ao menos por um tempo.<br />
<br />
<b>7- Não use de tom condescendente com seus consumidores. Eles ficam irritados.</b><br />
Muitas vezes, você usar de um discurso que explica a situação toda de forma tatibitati faz o seu consumidor um pouquinho mais inteligente ficar irritado. Por exemplo, talvez você tenha contratado postagens por número de caracteres, e isso motiva o escritor a enrolar, escrevendo de uma forma demasiadamente explicativa e adverbial. Outra coisa que pega mal é recorrer ao argumento do "senso comum" para esmigalhar a individualidade de seu consumidor -- dizer que "todos sabem", por exemplo. Também não se deve usar de argumentos circulares: dizem que brincar muito disso faz o cérebro vazar pela orelha. E quem não tem cérebro não pode lembrar da senha do cartão de crédito! ;-)<br />
<br />
<br />
Será que a empresa ficou com a impressão de que eu não quis realmente ajudar, e sim tripudiar por todas as vezes em que vi um post ou anúncio supostamente direcionado para minha "faixa demográfica" me ofender descaradamente, seja em tom, na forma ou no conteúdo? Pois foi isso mesmo.<br />
<br />
<br />
P.S.: Amiga da coluna lembrou de uma bem importante, empresa: Se você ou o estagiário pisar na bola não adianta ir correndo apagar o post e bloquear todos os comentários, isso só vai irritar os seus consumidores mais ainda; também não adianta dizer que o conteúdo não é seu e foi apenas compartilhado. Seja grande, seja honesto e não tenha medo de pedir desculpas e assumir o erro.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-3165607678911531602012-10-14T00:16:00.002-03:002012-10-15T11:48:01.011-03:00Para os menores de 18 anosSe você não tem idade para ler o <i><a href="http://www.novojogador.com.br/" target="_blank">OWNED - Um novo jogador</a></i>, pode ler os livros-jogos infanto-juvenis que deram origem a ele. Eu os li quando era criança e achava divertidíssimos. Livros-jogos são livros de aventura que oferecem escolhas ao leitor e têm vários finais diferentes. Os links abaixo apontam para a central de sebos Estante Virtual, onde você pode adquiri-los baratinhos:<br />
<br />
<span style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Série </span><a href="http://www.estantevirtual.com.br/q/edward-packard" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;" target="_blank">Enrola e desenrola</a><br />
<span style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Série </span><a href="http://www.estantevirtual.com.br/q/aventuras-fantasticas" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;" target="_blank">Aventuras fantásticas</a><br />
<br />
Caso prefira edições mais recentes, e não do fim dos anos 80, a <a href="http://www.jamboeditora.com.br/produtos/ff.htm">editora Jambô republicou alguns livros da série Aventuras Fantásticas</a> em português.<br />
<br />
<br />
Tive a ideia de fazer essa indicação por causa de algo que aconteceu hoje depois da palestra no CCBB. Uma menininha parou do meu lado e perguntou:<br />
-- O seu livro-jogo é para a minha idade?<br />
-- É pra maiores de 18 anos. Você tem quantos anos?<br />
-- Oito anos.<br />
-- Então, se você tivesse uns 15, já dava para ler. Pelo jeito, vai ter que esperar. É sobre videogame... eu também adoro videogame, desde que tinha a sua idade. Você ia gostar. Guarda pra depois.<br />
Lembrei dela na plateia: ela passou a palestra inteira jogando num Nintendo DS (era Tetris). A mãe disse que ela só levantou os olhos do DS quando falei em livro-jogo durante a palestra. Gente, chorei.<br />
<br />
P.S. Como me sinto quando uma menininha gamer fala comigo depois da palestra:<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-u2Q9KWd6RVE/UHwhgGGZF3I/AAAAAAAACGs/TFJ0wD-swG8/s1600/2210o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="http://1.bp.blogspot.com/-u2Q9KWd6RVE/UHwhgGGZF3I/AAAAAAAACGs/TFJ0wD-swG8/s320/2210o.jpg" width="320" /></a></div>
Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-53383788281405391092012-08-20T23:17:00.001-03:002012-08-20T23:17:36.354-03:00GratuidadeMuitas bibliotecas possuem pelo menos um exemplar impresso de OWNED - o novo jogador. Para ler o seu, <a href="http://simonecampos.net/bibliotecas-com-owned.xls">baixe a lista</a> de bibliotecas onde ele está disponível (em formato Excel). A versão online, como sempre, continua disponível em <a href="http://novojogador.com.br/">novojogador.com.br</a>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-25548139657355828812012-08-12T04:35:00.000-03:002012-08-12T04:42:51.989-03:00História do cabelo ou Dark & Long*Aviso: Este texto parte do pressuposto de que cabelo é poder.*<br />
<br />
As heroínas da era dos videogames 2D podiam ter cabelos longos, bastos e soltos. Ou melhor, era quase um requisito. Afinal, a maioria delas era um monte de pixels e/ou tinha pouca necessidade de animação.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-sF2mHCX2eP0/UCdMv5q6m4I/AAAAAAAAA9I/vQILb2q-RAc/s1600/samus.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="128" src="http://4.bp.blogspot.com/-sF2mHCX2eP0/UCdMv5q6m4I/AAAAAAAAA9I/vQILb2q-RAc/s320/samus.jpg" width="320" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-tmZ79eROTeY/UCdQEBEUKFI/AAAAAAAAA9Y/CFBX41GbAH8/s1600/jill2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-tmZ79eROTeY/UCdQEBEUKFI/AAAAAAAAA9Y/CFBX41GbAH8/s1600/jill2.png" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Samus Aran (em <i>Metroid</i>, 1986). <i>Jill of the Jungle</i> (1992).</span><br />
<br />
Mas cresci mesmo foi na era dos <i>adventures</i>, jogos com muito humor, muita história e muitos <i>puzzles</i>. As heroínas de <i>adventures </i>tinham cabelos maravilhosos. Na maioria, cabelos encaracolados. Severamente encaracolados.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-hq3onOpKDJY/UCdNySmqm4I/AAAAAAAAA9Q/wr_jOn7Yd7A/s1600/zanthia.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: left;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-hq3onOpKDJY/UCdNySmqm4I/AAAAAAAAA9Q/wr_jOn7Yd7A/s1600/zanthia.gif" /></a></div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-oqZVoFPnJMo/UCdDNVhotAI/AAAAAAAAA8g/wQG9dSA0vJ0/s1600/elaine1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-oqZVoFPnJMo/UCdDNVhotAI/AAAAAAAAA8g/wQG9dSA0vJ0/s1600/elaine1.jpg" /></a><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Zanthia, de<i> Kyrandia: Hand of Fate</i> (1994) e Elaine, de <i>Monkey Island</i> (1990)</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
Mas isso durou até mais ou menos 1994. Aí veio o que pode ser tachado de Era 3D. Uma época com muito mais ação, onde os personagens tinham que ser visíveis por todos os lados.<br />
Só que em 1994 os PCs domésticos tinham o vídeo tosco e o processador lerdo. Esse mundo 3D precário teve que usar <i>polígonos </i>- faces de pequenos sólidos virtuais, uns emendados nos outros - para delinear os corpos ao redor dos quais deveria rodar a "câmera".<br />
A questão é que cabelos não ficavam nada bons em polígonos. Polígonos não dão ao cabelo aquilo que os comerciais de xampu chamam de <i>movimento</i>.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-FQ5q9sf6Kr0/UCdRT83gKPI/AAAAAAAAA9g/coFZrLxG_Ao/s1600/laracoque.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="141" src="http://1.bp.blogspot.com/-FQ5q9sf6Kr0/UCdRT83gKPI/AAAAAAAAA9g/coFZrLxG_Ao/s200/laracoque.jpg" width="200" /></a></div>
Em <i>Tomb Raider 1</i> (1996), por exemplo, a heroína usava uma espécie de coque amarrado com barbante. Bem fácil de animar. Nem balançar balançava. Feioso... mas prático. Provavelmente, seria a minha escolha se eu me metesse a arrombar tumbas na vida real. Ha.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-YBs8BhjWDqI/UCdR86dWsMI/AAAAAAAAA9o/GV-oahWDs0E/s1600/lara6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-YBs8BhjWDqI/UCdR86dWsMI/AAAAAAAAA9o/GV-oahWDs0E/s200/lara6.jpg" width="188" /></a></div>
No <i>Tomb Raider 2</i>, esse coque foi substituído pela famosa trança. Esta sim balançava conforme Lara corria, nadava, pulava. Ainda assim, era uma trança constituída de um monte de polígonos. De qualquer modo, a atenção dos animadores nunca esteve dedicada a <i>este </i>grupo de polígonos, entende.<br />
<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-7IhJtw1oXlM/UCdSXy03GgI/AAAAAAAAA9w/1cu3KNb0JuA/s1600/lara-croft1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="190" src="http://2.bp.blogspot.com/-7IhJtw1oXlM/UCdSXy03GgI/AAAAAAAAA9w/1cu3KNb0JuA/s320/lara-croft1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Entende?</span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-4eFbpceVNJM/UCdSwhHzffI/AAAAAAAAA-A/P1YzzhvO7KI/s1600/elainenova.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="149" src="http://1.bp.blogspot.com/-4eFbpceVNJM/UCdSwhHzffI/AAAAAAAAA-A/P1YzzhvO7KI/s200/elainenova.jpg" width="200" /></a></div>
Quando refizeram a Elaine de <i>Monkey Island</i> para a Era 3D, estilizaram o cabelo dela. Ficou um negócio duro, que não fluía. Tudo por causa dos malditos polígonos, que não trabalham com cabelos longos, muito menos encaracolados.<br />
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<br />
Mas o tempo passou, e a tecnologia deu outra virada.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Estava eu jogando a mais recente versão do <i>Prince of Persia</i> (de 2008), e notei que estavam animando alguns inimigos com <i>vetores </i>ao invés de polígonos.<br />
Eu imediatamente pensei: <i>podiam fazer disso cabelo</i>.<br />
Dito e feito, alguém foi lá e fez isso.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/-CxWf15GDmQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-yt-APTDyW9Q/UCdZ9THk1XI/AAAAAAAAA-g/C2mI4CCZLw4/s1600/bayonetta-almost-naked1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="121" src="http://2.bp.blogspot.com/-yt-APTDyW9Q/UCdZ9THk1XI/AAAAAAAAA-g/C2mI4CCZLw4/s200/bayonetta-almost-naked1.jpg" width="200" /></a></div>
<i>Bayonetta </i>(2010) é um jogo completamente insano onde você é a personagem-título, uma bruxa que tanto <i>se veste</i> como <i>ataca </i>com o cabelo (a conveniente consequência disso é peladismo na hora do <i>fatality</i>). Não só com o cabelo; ela tem todo tipo de ataques divertidíssimos, com armas as mais variadas. Em <i>Bayonetta, </i>afinal, o cabelo virou uma espécie de protagonista do jogo, ao que sou toda aplausos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-pVvA875nAPI/UCdY38V-ahI/AAAAAAAAA-Y/lFecoBWtonM/s1600/merida.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="144" src="http://2.bp.blogspot.com/-pVvA875nAPI/UCdY38V-ahI/AAAAAAAAA-Y/lFecoBWtonM/s200/merida.jpg" width="200" /></a></div>
Enfim, animação vetorial: uma solução para o problema do <i>movimento</i>. Mas e quanto a cabelo encaracolado? Bem, a cabeleira ruiva da Merida, da animação <i>Valente </i>(2012), é muito bem animada no filme, mas completamente <i>parada </i>nos videogames inspirados nele. Fiquei tristíssima; ainda não chegou o revival dos caracóis nos games. Mas aguardo e confio.Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-91988942970366572512012-08-08T22:36:00.003-03:002012-08-08T22:36:59.008-03:00Outro vídeo falando sobre OWNED<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/XrBLDI5BO8w" width="560"></iframe><br />
<br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">Palestra que dei em fevereiro junto ao </span><a data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=100000298913608" href="http://www.facebook.com/carlos.klimick" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left; text-decoration: none;">Carlos Klimick</a><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;"> e ao </span><a data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=100000189743688" href="http://www.facebook.com/ozlopesjr" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left; text-decoration: none;">Oswaldo Lopes Jr.</a><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;"> Falamos sobre RPG, livro-jogo e seu nexo com a educação (e eu expliquei cruamente sobre o que era o meu "OWNED - um novo jogador").</span>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-25674656106155653532012-08-08T22:33:00.004-03:002012-08-08T22:33:58.406-03:00OficializandoQuem estiver a fim de comprar a versão impressa de "OWNED - um novo jogador" pode comprar da autora por R$ 30,00 (frete incluído). Por este valor você recebe o livro autografado em casa! Basta mandar um email para simonecampos@gmail.com para os dados do depósito. Grata!Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-52108404245947634322012-08-06T02:05:00.000-03:002012-08-06T02:33:06.541-03:00Que vibeMinha escola era o máximo. Tivemos um professor nissei de informática que deu o básico do BASIC na 2a série do fundamental; na falta dele, deixavam a gente ficar jogando videogames sob a vaga desculpa de "aprender inglês" e tudo isso consistia em um tempo de aula pós-recreio de pura diversão. Ou talvez não apenas diversão: o craque em construir cidades funcionais no <i>SimCity</i>, Rodrigo Mandarino, mais tarde concluiu arquitetura na UFRJ com média 10 e hoje trabalha em um escritório famoso.<br />
Quando tínhamos 12 anos (6a série), fomos instados a fazer campanhas - sim, <i>nós mesmos</i> tínhamos de criar e implementar, valendo nota - sobre cigarro, sexo, álcool, drogas, reciclagem, ecologia... Lembro do esquete antifumo que escrevi: cinco adolescentes estavam sentados à mesa depois de uma refeição, fumando "cigarros" (canudos de papel cheios de talco; havia que se soprar para fora; uma das integrantes se esqueceu disso e <i>tragou o talco</i>, com resultados previsíveis). Entrava eu com uma túnica de bruxa de Halloweens passados, a balaclava ("touca ninja") de lã da minha avó e um cabo de vassoura com uma foice de papel prateado e <i>ceifava todo mundo</i>. Os fumantes tombavam sobre a mesa, um por ceifada. Para arrematar, eu pegava um dos cigarros de talco e tirava uma bela baforada. Havia falas engraçadinhas, mas não me lembro mais delas.<br />
Escrevi também a versão de <i>Pipoca </i>(da Xuxa) e do jingle de guaraná que adaptei para, em vez de exaltarem as virtudes da<b> pi-po-ca</b>, falarem mal de <b>ci-gar-ro. </b>Nessa mesma ocasião, cantei ambas <i>a capella</i> num microfone.<br />
Nada disso foi filmado e, se existissem celulares com câmera naquela época (1995), eu certamente não teria tal desenvoltura. E nenhuma dessas palhaçadas impediu meus colegas já fumantes de perguntar se eu não tinha algum cigarro de verdade na minha cenografia improvisada (eu tinha, e cedi).<br />
<br />
Minha escola era oficialmente laica. Mas quase pagã na sua ânsia de nos preparar para a vida como ela é com uma naturalidade aterrorizante. Apenas, em vez de contar fábulas sobre meninas que param para conversar com lobos, minha escola preferia nos assustar com ciência e experiência pessoal.<br />
Foi nessa vibe que aconteceu a melhor e pior palestra escolar de todos os tempos. Fomos convocados sem aviso certo dia. Entramos no auditório e anunciaram que receberíamos ex-alcoólatras do AA.<br />
Primeiro a diretora e a coordenadora falaram algumas palavras-padrão sobre os males do fumo e do álcool. Como o álcool era droga e era perigosa e viciava, mesmo sendo legalizada. Que a pessoa viciada em álcool já não consegue funcionar sem álcool; isso se chamava dependência. E, quando tentava parar, não conseguia. Ficava tremendo.<br />
Então entrou outra pessoa, do AA, para explicar um pouco da filosofia do AA: evitar o primeiro gole, um dia de cada vez. E que a pessoa que se torna ex-alcoólatra jamais pode pôr uma gota de álcool na boca de novo, senão entontece e volta tudo.<br />
Aí entrou o testemunho. Era um cara bonito, grande, bronzeado de praia, uns 35 anos, louro, de cabelos amarrados num rabo de cavalo, mas o rosto dele era muito gasto, como se tivesse passado por poucas e boas. Como se tivesse <i>desinchado</i>, eu diria agora. Um sotaque francamente carioca zona sul. E foi isso mesmo que ele falou. Que, como nós, tinha ido a boas escolas na Zona Sul do Rio de Janeiro. Que tinha começado a beber para tomar coragem para ir falar com as meninas - e deu certo. Mas dali a pouco, ele estava bebendo pra tudo - pra estudar para a prova, pra tomar coragem pra prova, pra esquecer os problemas -, e em quantidades cada vez maiores.<br />
O homem olhava do palco para a plateia e via: a maioria dos alunos admitindo estar impressionada, outros tentando olhar pro colega com risinhos e exorcizar o medo que aquela história estava dando. Vendo essa reação mista, ele começou a falar MUITO alto no microfone, e a piscar muito para evitar as lágrimas. Ele tinha que atingir os outros, os candidatos a rebeldes.<br />
Ninguém, nem da família dele, tinha falado dos perigos do álcool pra ele. "Até incentivavam" - claro, coisa de macho, de homem de verdade. Logo eram quinze chopes para ele começar a se sentir bêbado. Ele precisava beber cada vez mais. A toda hora. Na faculdade. No emprego. Para levantar de manhã. Até que começou a perder tudo. Emprego primeiro. Depois, amigos.<br />
Nesse ponto - gritava ele - ele já não conseguia mais parar! Estava VICIADO EM ÁLCOOL!<br />
(E a criançada agora transfixada, olhos pregados nele. A coordenadora e a diretora nervosíssimas, agarrando disfarçadamente as pontas bege das cadeiras.)<br />
"Minha família me abandonou! Tentei frequentar um psicólogo, mas logo eu voltava a beber. Depois eu tentei buscar ajuda na religião. A Igreja Católica não me curou. Tentei de tudo! umbanda! espiritismo kardecista...! bati até a porta da Igreja Universal!" -- e aqui, todos os meus colegas viraram as cabeças para mim, que sabiam ser da Igreja Universal; balbuciei alguma coisa, ninguém ouviu -- "Mas não deu certo! Não deu certo!! Nada adiantou! Só os Alcoólicos Anônimos. Seguindo os doze passos..."<br />
Na Igreja Universal eu vivia ouvindo testemunhos no altar, alguns de ex-alcoólatras. Mas eram relatos hesitantes, molengos - história mal narrada, protagonistas pouco convencidos do valor dela. O sujeito no palco estava <i>desesperado </i>para passar a mensagem. Ele tinha visto o <i>inferno</i>. Ele não estava representando. Não queria agradar ninguém fazendo aquilo. A gente era como uma volta ao passado para ele, a encarnação de sua juventude perdida por falta de alerta. Bem, que não fosse por falta de alerta.<br />
Achei que iam ter que tirar ele dali à força. Mas, se bem me lembro, pouco depois ele fechou o discurso apropriadamente ("estou sóbrio há um ano e meio") e foi muito aplaudido.<br />
<br />
Creio que uma grande limitação da educação religiosa é achar que pega mal para crianças inocentes saberem esse tipo de coisa. Escola, igreja e família religiosas muitas vezes fingem que podem manter as crianças no escuro, em vez de se colocarem como fonte de informação confiável <i>e útil </i>sobre drogas e sexo. É preciso não esconder a parte boa e não esconder a parte ruim. Não vai evitar que a pessoa use drogas ou faça sexo, mas vai ajudá-la a ter expectativas realistas quanto a essas experiências, e a ser madura o suficiente para identificar um jeito responsável de passar por elas (e desfrutá-las, se for o caso).Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-71827980953738286752012-07-30T15:18:00.004-03:002012-07-30T15:40:07.867-03:00Suicídio e empatia<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Inúmeros intelectuais
foram e continuam sendo apontados com ênfase em função do fato de terem se
suicidado – vêm à mente Walter Benjamin, Sylvia Plath, David Foster Wallace, Yukio Mishima,
Virginia Woolf. No entanto, o apontar do suicídio como “promessa” de uma vida-obra
comprometida contra a opressão – ou de uma mente sensível e frágil demais para
viver em uma sociedade naturalmente opressora –, pode acabar virando um
mecanismo viciante.<span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">O ser humano é atraído
como abutre pela morte trágica pois pode despejar sobre ela sua compreensão
e empatia – muitas vezes de forma um tanto automática, numa espécie de fetiche
mórbido. O mecanismo aqui é se autoarrolar como Boa Pessoa por ter tido empatia
para com a Boa Pessoa que, oprimida, se suicidou. No entanto, nada é tão
simples assim. Essa empatia partiu de dois pressupostos que podem facilmente
ser desconstruídos – não por maldade, mas com vistas a uma reflexão. O suicídio
não é um selo de garantia de que o suicida era uma Boa Pessoa, e sentir piedade
é um sentimento tão natural para a maioria dos humanos (excluídos psicopatas,
esquizoides e outros portadores de transtornos mentais) que senti-la só acarreta,
no máximo, o status de Pessoa Normal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Esse mecanismo pode servir
para colocar eternamente em segundo plano duas coisas muito importantes: 1) pessoas
cujas vidas não foram tão trágicas, mas nem por isso menos significativas e 2) as
particularidades do gesto pessoal de cada suicida, roubando-lhes o direito de
serem únicos em suas mortes (e de terem seus motivos individuais para buscá-las).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Corre-se, a meu ver, o risco
de viciarmos no mecanismo <i>visão da
vítima/empatia padrão/narcisismo dos próprios sentimentos</i> a ponto de
construirmos uma história só de vítimas indiscutíveis, com motivos tão monolíticos
(opressão externa/loucura interna) quanto a grande narrativa histórica
ocidental, anulando com isso não só as vítimas óbvias como também outras
vítimas. Desejo, portanto, empreender um esforço para uma história de vítimas
menos óbvias de opressões menos óbvias, associando suas vidas à arte que
construíram.<span style="background-color: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">(Trecho de um trabalho de mestrado sobre Walter Benjamin com o qual <i>finalmente </i>estou satisfeita. Adaptei, é claro - duas frases a menos. No resto do trabalho usei</span><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"> Benjamin no
próprio Benjamin, escovei-o a contrapelo, associando-o a três escritores que viveram depois dele - e que <i>não </i>se suicidaram</span><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">.</span><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">)</span></span></div>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-3176184.post-68619855388424951542012-07-19T15:42:00.002-03:002012-07-19T15:42:42.911-03:00Linguagem privadaHoje sonhei que encontrava meu amigo imaginário de infância, o Iogurpo. Também é um nome que existe só no meu sonho, e creio que a palavra era uma mistura de Igor (um amigo real) com Iogurte. Outra coisa é que eu só encontrava esse amigo imaginário no sonho, jamais delirei que ele existisse de verdade.<br />
Sempre tive esses termos particulares e estrambólicos no meus sonhos. Meus sonhos tinham um sistema de saúde próprio, chamado PENUMB, depois alterado para FUNEST (mas só no nome, era a mesma coisa). Já contei essa história <a href="http://simonecampos.blogspot.com.br/2008/03/eu-lembro-quando-o-collor-comeou-fechar.html">em outro post</a>.<br />
Iogurpo não falou comigo no sonho de hoje. Ele e sua irmãzinha estranha eram paranormais, e tinham roubado o corpo adulto dos meus amigos reais (e atuais) para poder sair pelo mundo, em vez de prisioneiros na casinha de interior de uma velha. Eu pedia meus amigos reais de volta aos paranormais, chamando-os pelos nomes que a velha tinha dado (algo como "João" e "Maria"), e "Maria" me corrigia, dizendo que na verdade ela e o seu irmão se chamavam <i>Iogurpo </i>e...<br />
-- IOGURPO! -- exclamei. -- Aquele nome que só existia nos meus sonhos quando eu era criança!<br />
Acordei imediatamente, é claro. Meus sonhos também estão cheios desses momentos semilúcidos em que eu faço referência ao mundo real, estilhaçando a ilusão.<br />
E o sonho de hoje serviu para sublinhar: tenho sonhos lúcidos há <i>tanto </i>tempo que tenho uma espécie de <i>consciência histórica</i> deles, regurgitando a história que andou acontecendo aqui fora (então os termos não formam uma linguagem privada realmente; o título é brincadeira). <span style="background-color: white;">O PENUMB mudou para FUNEST quando o INAMPS passou a ser INSS, por exemplo.</span><br />
<span style="background-color: white;">Além disso, não só são sonhos lúcidos, como l</span><span style="background-color: white;">embrados ao acordar em detalhes. Isso dá uma nostalgia em várias camadas: a lembrança da lembrança do sonho ao acordar, e a confusão de ter inventado o nome Iogurpo de mim para mim, e a estranheza de ter <i>reencontrado </i>uma pessoa que eu não sabia se existia fora da minha cabecinha de, então, 4 ou 5 anos -- tudo isso volta. Vem a saudade dessa pessoa imaginária, da pessoinha real que eu era, e desses sonhos, e dessas sensações.</span><br />
<span style="background-color: white;">Se eu não tivesse atribuído <b>nomes</b> a essas "pessoas" e "instituições" de sonho, seria muito difícil lembrar de tudo isso. O mais bizarro é ter feito isso <i>enquanto sonhava, </i>e não aqui fora, e ter escolhido nomes sonoros e exclusivos, que dificilmente existiriam aqui fora.</span>Simonehttp://www.blogger.com/profile/09869567612126641898noreply@blogger.com