Esse ano, na Flip, vi uma menina rotular um escritor cujo
livro havia adorado de “babaca” porque, depois da palestra, não conversara –
não fora “simpático” – com as pessoas durante o autógrafo. Será que ela vai
parar de comprar os livros dele porque ele não fez uma cara feliz enquanto
servia o lanche dela? Me preocupei.
Essa menina estava na fila do Andrew Solomon e o achou muito
feliz e simpático.
Às vezes, eventos literários parecem um concurso de quem é
mais simpático e bonito e “acessível”. É mais fácil ganhar esse concurso se
você é estrangeiro, pois raramente você tem intrigas ou desafetos por evitar. Sento
na plateia para ver os colegas falarem e, ouvindo o que ouço, quando estou no
palco, tento não pensar no que podem estar falando de mim. E visto uma máscara
de pancake de extrema simpatia e energia.
Ninguém é obrigado. Mas muitos de nós, porque precisam do
dinheiro, porque precisam alcançar leitores, escolhem estar lá. Mas quando você
chega a estar cara a cara com o leitor, você já foi acossado por gente chata ou
arrivista, cobrado de aparecer em tal e tal lugar e posar para tais e tais
fotos. Você também pode ter sido peitado por um ex ressentido ou perseguido por
um pretendente bêbado. Para piorar, você pode ser o tipo de pessoa reservada
que detesta multidão e frisson. Surpresa: muitíssimos escritores caem nessa
categoria. Eu também – mas aprendi a aplicar o pancake mental. Sei que muitos colegas
o aplicam, outros não querem e/ou não conseguem, mas não os julgo por isso ou
por aquilo.
Como a menina do primeiro parágrafo, também achei o
Solomon simpático e feliz, mas sei perfeitamente que estava tratando com a face
pública dele. E que os livros dele são bons independentemente de ele ter se
mostrado bom relações-públicas ou não.
D'après a matéria do Bolivar Torres n'O Globo (aqui:http://goo.gl/M0dXk7)
D'après a matéria do Bolivar Torres n'O Globo (aqui:http://goo.gl/M0dXk7)