27.7.03

Quinn the brain and the greenish indians

Nesse episódio, Daria tem sua identidade nerd usurpada por sua irmã, Quinn, quando ela entrega uma redação brilhante. Mas o que é essa "redação brilhante" de Quinn? É um panfletozinho contra a "prisão acadêmica", ou seja, o fato de a escola roubar tempo de suas pequenas futilidades. Fora a linguagem, uma coisa desnecessariamente rebuscada que usava palavras que mal existiam...
Aí me lembrei de uma certa amiga que eu tinha (e se alguém não sabe eu era nerd). Meus sucessos acadêmicos deixavam uma pontinha de inveja nela. Até porque ela não tinha muito. Tá bom, ela era péssima na escola. E repetiu, bum, no segundo ano.
Ela ficou com a minha ex-professora de português e suas pulseiras. Um dia, cansada de tanta redação (haja redação naquele lugar), ela surtou. E veio me contar:
- Eu escrevi muita merda!
E me mostrando o rascunho, e rindo pra caramba, eu vi do que se tratava. Não só ela havia escrito muita merda, como ela achava que ia funcionar, ou seja, que ia tirar uma nota boa. Era um tipo de redação que demandava ufanismo, um tema meio nacionalista, não lembro qual, e ela havia escrito coisas tipo "matas e índios verdejantes", e poucas vírgulas em períodos longos, e pontos de exclamação e parágrafos longos, e clichês, clichês, clichês...
Poderia funcionar com algum desavisado. Mas não achei que a professora fosse um deles. Minha amiga pedia minha opinião e eu não sabia o que dizer.
-É... bom... pode funcionar!
Terminamos o recreio rindo da redação dela. Eu não queria ser escrota, mas estava convencida de que num lugar de "excelência acadêmica" (ou seja, obcecado por vestibular) como aquele, aquela redação não faria sucesso. Então fui chamando a atenção para os pontos que eu tinha notado (por exemplo, que índios não são verdes) e a gente acabou rindo daquilo (como ríamos de muitas coisas, inclusive do meu "mundinho paralelo").
Mas qual não foi a minha surpresa quando a menina me surge, dali a alguns dias, vangloriando-se de uma nota alta. A professora lera para a turma e apontara aquilo como exemplo, brandindo os badulaques. Comecei a me sentir estranha. Não sabia o que dizer, apenas assisti ao show da minha amiga, que agora dizia que eu não sabia o que estava dizendo, afinal a própria professora falara que, e tal, e tal.
Então, me sentindo estranha, estranha porquê? Comecei a apertar pra saber onde doía, como num exame. A hipótese mais óbvia era inveja, mas não era isso, porque eu não estava querendo "escrever como ela", de jeito nenhum. Estava desconfiando da minha capacidade de julgamento? Talvez... mas não, índios não podem ser verdejantes...
Finalmente cheguei ao ponto, que era um pouco complicado. Primeiro, eu estava simplesmente desconfiada da capacidade de julgamento da professora. E depois, o mais terrível... se ela havia julgado minhas redações no ano passado, e eu tirara um monte de boas notas, será que eu escrevia mal e não sabia? Gaaaah!
Depois não sabem porque sou exigente comigo mesma. Eu me tornei.