31.7.05

fonctionnaire fatale

Não é só para escandalizar meus pais (funcionários públicos de looonga carreira) que pretendo ser promíscua nos meus empregos - privados, claro. Pretendo trocar sempre que não me sinta satisfeita, além de quando estiver a fim de experimentar coisas novas, quando me oferecerem um salário melhor e o que mais me der na telha. Isso me permitirá manter sempre o interesse e a qualidade do trabalho em alta. Quero meus chefes segurando meus pés e implorando com voz esganiçada eudobroseusalário vocêfazumótimotrabalho ficacomagenteporfavor. E eu, acendendo um cigarro imaginário, glamourosíssima: sorry, beibi, já deu.
Só não me chamo de colecionadora de carimbos na carteira de trabalho porque também pretendo experimentar todas as modalidades de relações trabalhistas, inclusive as frilas e - como chama o JN - "à margem do mercado". Ei, isto é uma cantada.

28.7.05

Cheguei à conclusão de que não me adapto neste lugar. Por "este lugar", entenda-se Brasil e tudo o que isso significa próximo à área de estereótipo.
Foi bom chegar a esta conclusão agora (eu ia colocar, na frase inicial, "amarga" conclusão, e desisti porque percebi que não reflete mais a realidade). Foi bom porque agora não estou nem aí e posso aceitar perfeitamente a conclusão que acabei de encontrar via diversos indícios.
Quando está "frio" e os cariocas se encolhem em coloridinhos casacos de lã, eu acho que aquilo, de alguma forma, devia ser o de sempre.
Quando numa boate as pessoas se agacham, põem as mãos no joelho e balançam a bunda, e outras pessoas sorridentes se encaixam no movimento logo depois, numa espécie de trenzinho infernal, eu penso que alguma coisa de errado com o mundo deve ter.
Quando alguém "chega" em alguém que está quieto no seu canto, obviamente após chopes demais e de cabeça feita por amigos tão bêbados quanto... não chego a pensar em suicídio, porém fico desejando arduamente um interruptor que, apertado, desligue aquilo - que só pode ter saído de uma novela ruim (pleonasmo exceto por Vamp e, vá lá, Que rei sou eu?).
O fator argh é triplicado quando a pessoa "chegada" concorda, e quadruplicado quando foi vencida pelo cansaço.
(O fator argh é o nome que eu inventei para o sentimento de nojinho constrangido, algo que grita em sua cabeça não! não! Nãããão!! enquanto você tenta não encostar muito naquelas pessoas e, nas primeiras vezes, deixa um gosto de céus, como é que elas não sabem, mas depois você se acostuma. Grandes amizades e até paixões surgiram do fato de uma pessoa perceber que outra está compartilhando do seu fator argh em relação a algum objeto, o que, dada a mediocridade geral e a tendência à indienização blasé já-vi-de-tudo, está cada vez mais raro.)

25.7.05

goooooood boy

Richard Kelly, roteirista e diretor do doido e ótimo Donnie Darko, agora vai fazer um filminho chamado Southland Tales. A história me deixa babando (tanto como a do upcoming The Fountain, do não-menos-brilhante Darren Aronofsky, diretor de Pi e Réquiem para um sonho). Explica o Omelete: a Sarah Michelle Gellar (a Buffy) vai fazer uma atriz pornô chamada Krysta Now, "The Rock" (o cara da Múmia) vai fazer um astro de ação com amnésia chamado Boxer Santaros e Sean William Scott (American Pie) vai ser um policial - os três numa Los Angeles pós-apocalíptica.
Como se não bastasse, o cara anunciou graphic novels (ou seja, histórias em quadrinhos de luxo) sob títulos de músicas do Garbage e Moby - este encarregado da trilha sonora de Southland Tales.
OK, é simplesmente muita coisa foda junta e estou tonta.

Oh, em tempo: vão filmar Coraline, livro "infantil" do Neil Gaiman. E preciso assistir A Fantástica Fábrica de Chocolate do Tim Burton com o Michael Jackson, ou melhor, o Johnny Depp. De preferência legendado.
O iPod sobre a bicicleta me faz revalorizar músicas que, do contrário, seriam apenas mais-umas. Estas músicas precisam de uma certa velocidade e de uma paisagem bonita para serem mais apreciadas.

Caravan - Miranda sex garden
Fuga no. 2 dos mutantes - Os Mutantes (duh)
Misread - Kings of convenience
Yoake no scat (da trilha de Shoujo Kakumei Utena)

e esta já é boa de qualquer forma:

Poney (part 1) - Vitalic

e uma boa pra tirar as mãos do guidom:

Push yer hands up - Mantronix

24.7.05

menos, menos

Ok, acabei de ler um título que incluía a palavra "valerioduto". É, caros mais-ou-menos colegas, é chegada a hora do conselho amigo:
Chega de cunhar expressões espertinhas ao romper de escândalos!
Tudo bem, à sua época, algumas palavras e expressões witty foram muito bem-vindas à nossa língua, como "apagão" e "patricinha". Mas agora já está pegando mal esta mania de querer pregar correndo o rótulo em todos os casos para diminuir o tamanho das manchetes. Falta wit para tanto. Nada pessoal, o trabalho é corrido e diário; e é por isso mesmo que falta wit. Fora a guerrinha implícita e ridícula que se arma entre as fontes noticiosas para aplicar o rótulo vencedor. É, eu sei: agradar o Marketing sem estar recorrendo a uma solução fácil é difííícil... mas pelo menos não é constrangedor.

22.7.05

Para terem uma idéia de como está parado o trabalho hoje, escutei inteira A huge, evergrowing pulsating brain that rules from the centre of the ultraworld, do Orb, que é tão grande quanto seu nome sugere.

looooovin' you,
it's easy 'cause you're beautif-oh-owl
and everything that i do,
it's out of lo-oh-vin' you

la la lalala,
la la lalala,
la la lalala, la la, la la-a-ah

doop-de-doh-dee-roo-roo-oh

AAAAAAAh-Ahh-Ahh!


(e pior que eu adorava a fonte cafona desse sampler na Antena 1)
Fui derrotada pela minha máquina de lavar. Apesar de nos darmos relativamente bem desde sua devida instalação na casa nova, ela insiste em deixar uns fiapos brancos nas minhas roupas pretas. Aconselhada por minha mentora com nome de epopéia grega, resolvi adquirir um daqueles rolos adesivos que substituem tão bem a antiga escova de roupas.
Entrei na Casa& Video do Largo de São Francisco e fui logo procurando um atendente de camisa amarela, que são os que supostamente te ajudam. Mas não enxerguei nenhum livre. Havia, em vez disso, múltiplos seguranças com walkie-talkies everywhere, olhando sombriamente para todos os clientes que passavam e cochichando coisas no tal rádio.
Perguntei a uma moça da segurança mesmo e ela indicou o segundo andar, "Utilidades domésticas".
Chegando lá, tudo muito mal-sinalizado e perdidoso, tive que perguntar de novo (e de novo, para um segurança, já que os caras-que-supostamente-ajudam não estavam em lugar nenhum). Ele disse, genericamente, ali atrás. O que achei ali atrás, no entanto, foi uma moça de camisa amarela que me mostrou o caminho.
O rolo adesivo estava 9,99 e era de uma marca chinfrim. Resignei-me e andei até o caixa, sempre olhada torto pelos seguranças. No caminho, lembrei que estava precisando de um garfo de cozinha, daqueles grandes, e virei para o mesmo segurança que tinha informado ali-atrás. Ele mandou perguntar ao cara de camisa amarela (ou seja, recusou-se a responder).
Algum tempo depois, consegui encontrar um, que me levou aos garfões. Todos de marcas vagabundas e/ou desconhecidas.
-Tem Tramontina?
-Vou dar uma olhada no estoque.
Fico cinco minutos plantada em frente aos talheres e nada do camisa-amarela voltar. Nisso olho para o lado e vejo - quem? - o mesmo segurança a quem eu já tinha feito duas perguntas parado no vão entre as gôndolas, me olhando com uma cara sinistra e cochichando algo sobre a "menina dos talheres".
Fico olhando para ele muito puta, com vontade de dar instruções bastante precisas sobre a utilização do rolo (estava até agora na minha mão), afinal, estava ali parada exatamente por causa da inépcia do atendimento daquela loja - e ele simplesmente dá um passo para trás da gôndola para evitar o meu olhar, apenas ligeiramente pior do olhar que ele estava me dando um momento antes!
Sei que larguei o rolo ali mesmo, entrei na Casa Cruz, cuja única medida ostensiva parece ser fechar a sua sacola com durex, onde adquiri o mesmíssimo rolo, só que de uma marca melhor, por 6,99.

Primeira coisa, por que colocar o triplo de caras-que-vigiam do que caras-que-ajudam? Isso torna o ambiente insalubre. Não estamos numa prisão, e todo mundo é inocente até prova em contrário, pelo menos teoricamente. Vai ver que sim, têm muitos roubos ali. Mas é claro que o fato de espantarem justamente aquele que vem comprar em paz a bordoadas no ânimo não ajuda no lucro.
A Casa&Video não está fazendo nenhum favor ao cliente em vender os produtos. Eu, pelo menos, não me submeto a um atendimento ruim e a desconfiança encarniçada sem motivo só porque quero adquirir um produto. Alguém precisa avisar à Casa&Video que o cliente não é seu inimigo.

17.7.05

No tempo em que as escritoras mulheres não podiam entrar para a Academia de Letras e, portanto, não podiam contar com o vultoso salário público reservado aos nossos felizes colegas de cromossomo Y, uma fraternidade secreta só delas foi formada. Não se sabe se o primeiro objetivo foi vingança ou ganhar mais dinheiro que os colegas acadêmicos justamente às custas do machismo. O certo é que o teatro de revista e afins ganharam as formosas pernas de Cecília Meirelles, a boca de Pagu, o charme de Zélia Gattai, o olhar fatal de Hilda Hilst... até Clarice topou, no que acabou sendo o laboratório para A via-crúcis do Corpo. Ninguém nunca desconfiou porque todos achavam que escritoras tinham uma vida muito chata; era dizer ao marido/amante/família que iam ao sarau ou ao chá ou a Paquetá com suas amigas, e pronto. Além disso, aquela multicolorida ali simplesmente não podia ser a moça recatada estampada em P&B nos diários! E, como precaução, uma das regras da fraternidade dizia respeito a se segurar para não dar palpites em espetáculos ruins: eu fazia bem melhor que isso!!, costumava lamentar-se Hilda nos bastidores.
Claro que depois disso as escritoras mulheres puderam entrar na Academia, porém descobriram que não estavam muito interessadas - e a fraternidade se manteve. É que, além de certas más companhias, a nightlife é muito mais empolgante do que ficar lá, sipping tea, e hoje, com o fim da revista, elas rodopiam ao longo de tubos de striptease, com algum impulso.

(Criado agora, mas pensado à época do lançamento de 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura.)

16.7.05

Eu penduro os meus óculos na gola e meu casaco, amarro no quadril. Hoje em dia patties colocam os casacos ("casaquinhos") sobre os ombros e os óculos escuros prendendo o cabelo escorrido para trás (feito "faixinha"), e marombeiros usam os óculos no pescoço, atrás da nuca pelada por máquina zero - mas eu continuo fazendo o que os anos 80 me ensinaram: óculos na gola e casaco no quadril.
Pois bem, às vezes, tiro os óculos e penduro na gola pra enxergar o que vou fazer - travar a bicicleta, geralmente - e aí a porcaria dos óculos caem. Qual é o lógico? Pegar os óculos depois de terminar de trancar a bicicleta, claro.
Mas em todas estas vezes um "cavalheiro", geralmente com mais de 50 anos, aproxima-se avisando que meus óculos caíram, recolhendo-os e me entregando em seguida.
Hoje, na enésima vez que isso aconteceu, simplesmente pulou da minha boca a seguinte frase:
- Sério? Não tinha nem percebido. Se não fosse o senhor...
A ironia é como um sinal de rádio: se perde quando não encontra um receptor adequado. Não sei mais quem disse isso, mas é a pura verdade. O tal senhor saiu todo pimpão, crente que tinha agradado e feito certo!
As pessoas burras devem ser muito, mas muito felizes.

Acho que vou colar um DISCLAIMER na minha testa:
Não, isso não é um lenço que deixei cair pra você pegar de forma a iniciarmos uma conversa.
Pode deixar: se eu quiser um relacionamento amoroso-sexual com você, deixarei perfeitamente claro, desde que já tenha admitido para mim mesma. (E não sou só eu, it runs in the family, com todas as conseqüências cômicas e trágicas pertinentes.) Agora, se você quiser um comigo, é melhor arriscar na megasena (1:50.063.860). Sou muito chata: chata-chata mesmo, e chata-picky, além de outros tipos de chatice como já ter namorado e não saber assobiar (poxa, minha grande frustração).
Francisco morre de vergonha da sua profissão, agora mais que nunca.

- O que você faz?
- O que eu faço?
- É, em quê você trabalha.
- Mato cachorro a grito, como todo mundo.
- Hahahaha. Em que área?
- Ah, várias. Faço várias coisinhas.
- Mas qual a sua ocupação principal, assim?
- Consultoria.
- Ah, bom. Já estava achando que você era gigolô ou coveiro. Mas vem cá: consultor de quê?
- Consultor autônomo.
- Frila? Você consegue viver de frila com consultoria? Como é que pode?
- Ahn...
- Espera aí... estou me lembrando... eu sei quem é você! Não foi você quem elegeu... o... o Silas Pereira? E o Ítalo Fernandes? Foi, foi sim! Cê não tem vergonha não?

13.7.05

motogirl

Então, aconteceu um serendipity que me fez imprimir o livro, pôr num envelope, e disparar pelas ruas de Botafogo de bicicleta a noite, e para a serendipity ficar ainda maior, o ipod me deu, no modo shuffle, na primeira pedalada na rua, Pony part 1, do novo disco (eu digo disco) do Vitalic.

11.7.05

very polite

Esta campanha de dar um "bom exemplo" me parece uma bela tolice. (Para quem ainda não assistiu aos comerciais, dar "bom exemplo" é dar bom dia boa tarde boa noite, sorrir para os outros, tratar seus subordinados/filhos/empregados com educação etc.) Praquê dar "bons exemplos" num país onde a civilização ainda nem assentou direito? Quando nem se pratica a ética mais básica, fulanos furando sinais corriqueiramente e carregando malas de dinheiro sujo país afora, praquê investir em tornar o povo polite? É como dar verniz numa peça inacabada.
Campanha por campanha, prefiro aquela em que uma cara "comum", em close (e não gente "politicamente bonita" como na outra campanha), fala frases recheadas de jeitinho como adoro dia de eleição, voto logo cedo e depois durmo até tarde... - e no fim, uma voz veemente declara: não. este não é o tipo de brasileiro que queremos para o futuro.

9.7.05

Algo me diz...

_________dólar____euro____libra
25/04____2,59_____3,36____4,95
08/06____?,??_____3,07____4,58
22/06____2,47_____2,99____4,50
09/07____2,37_____2,84____4,12

...que em agosto tudo voltará a subir.

7.7.05

Está passando Flashdance na Globo.
Ah, os anos 80.
Alex usa polainas, mora num loft e anda de bicicleta. Quando ela entra na escola de balé, a música que está tocando é o Noturno de Chopin que eu gosto - supostamente porque era o que tocava na aula de balé que fiz até os seis anos, mas pode ser por isso também.
Alguém explica aquele fundo branco na academia de ginástica?
Aí elas saem e encontram dois putos dançando break...
Tinha que ser filme do Adrian Lyne, feito nos anos 80, com uma atriz de cabelos encaracolados e de nariz pequeno.
Meu Deus, ela está usando o boné do chaves.
E agora, o prendedor da Xuxa.
Ah, forget it. Melhor ir dormir.

5.7.05

Notas para quando eu tiver um bar

Criar a Unhappy Hour. Absinto liberado, com blues tocando e jogo ilegal.
Neste país, punk é ser mod.
Kill Kurt

O sexto Tomb Raider foi lançado em 2003 e só zerei ele agora. Ms. Croft volta dos mortos mais dark, o que na prática significa mais delineador de olho, mais preto no guarda-roupa, e menos bronzeado artificial.
Em parte, minha demora em começar a jogar se deveu a boatos tristemente confirmados de péssima jogabilidade. Lara não consegue nem andar e apontar uma arma ao mesmo tempo. Nem ela, nem o Kurt. É, arrumaram um interesse romântico para ela nesse jogo. Pelo menos o cara não é um mané completo: tirou uma bela de uma casquinha da Lara quando foi desarmá-la, duas provas incontestáveis de juízo na cabeça. Mas há dois senões bem mais graves, a meu ver: ele tem poderes mágicos e se veste como um alpinista australiano/componente "sporty" de boyband. Por isso, fiquei esperando o jogo todo por uma ocasião propícia a matá-lo à traição. Essa ocasião não veio, porque os projetistas do jogo foram muito previdentes - ou muito preguiçosos - e simplesmente não deixaram, em nenhuma ocasião, os dois personagens jogáveis no mesmo recinto.
Em certa altura, simplesmente me enchi do jogo e fiquei um mês sem tocar nele. Finalmente baixei uma walkthru pra terminar logo, no melhor gênero ah-que-saco. A fase em que o Kurt morre (desafortunadamente, não pelas minhas mãos) é muito mais difícil que a final, por causa dos controles horríveis. A fase final é ganha através de um artifício muito simples: basta fazer Lara andar de quatro que os raios não pegam nela (suponho que isso desconcentre os vilões).
Minha sugestão, se houver um sétimo jogo depois desta bomba: inspirem-se em Kill Bill (e em Prince of Persia) e dêem uma espada a Lara. Uma não, várias. Um machete, uma katana, uma adaga, uma cimitarra e a Excalibur, a última a ser encontrada, numa tumba da Escócia. E ela tem que lutar contra caras de nunchakas. Seria muito pedir um sabre de luz?

4.7.05

fresquíssima

Sempre que saio numa coisa impressa qualquer, ou até em coisas não-impressas, online, fico achando que foi superficial, sensacionalista ou - pior - extremamente sei-lá-o-quê. Muitas vezes também implico com a foto: mas essa não sou eu!, embora seja. Me concentro em ser uma imagem aproveitável para a fotógrafa (geralmente é fotógrafa) e em ser eu mesma, sei lá o que isso signifique; não rir para desconhecidos, a não ser de nervoso, olhos irrequietos - e quando mandam ficar parada como no cabeleireiro, não mexa a cabeça, tenho que me concentrar para não virar um manequim.

Vamos colocar assim: se eu estivesse fazendo um editorial de moda, eu poderia interpretar um personagem. Um outro personagem que não eu. Vários outros. Poderia ser fatal, preguiçosa, nojenta, esperançosa, sonhadora. Saberia ser.
Mas teoricamente, o cara veio fotografar você. Veio fotografar a sua alma. E é muito difícil se interpretar a si mesmo.

Desta vez não embirrei com o texto, nem com o que diziam sobre mim, nem com os termos empregados, e nem mesmo com a foto. A foto foi tirada na minha casa, não sei porque relaxei e deixei, e a fotógrafa foi ótima. Tudo foi tão bem-cuidado que fiquei até desconfiada.
A historinha que contam de mim finalmente está correta, profunda não dá em uma página, mas corretíssima.
Portanto, se quiserem conferir um perfil meu com a minha aprovação, comprem a revista Entrelivros de julho. Eu estou na seção Tinta Fresca. E também saíram três páginas com um trecho adaptado do livro novo.
Lost x Last

Eu fico pensando o que as pessoas vêem em Encontros e Desencontros (Lost in Translation). Há tanta coisa melhor por aí. Last life in the universe, por exemplo, trata do mesmo tema, mas do jeito que eu sonhei. Um jeito mais oriental, mais mangá - às vezes me sinto mais oriental que ocidental, e tenho certeza de que muitos japoneses acharam Encontros e Desencontros completamente ridículo. Eu gostei um pouco, mas não vibrou aquela corda, sabe, aquela. Last life in the universe tocou esta corda. Morvern Callar também, e poderia citar mais meia dúzia. Mas Encontros e Desencontros, não.
Acho que gostei mais, dentre os filmes da Sofia Coppola, do Virgens Suicidas. Mas ela não é sequer minha diretora-italiana-filha-de-diretor-famoso preferida. Esta seria a Asia Argento, filha do Dario Argento, que fazia aqueles filmes deliciosamente horríveis, policiais/mistérios spaghetti. Ela dirigiu o Scarlet Diva e o mais recente The heart is deceitful above all things, os dois com uma história tão forte que, que a frase vai ter que terminar aqui.
Sofia tenta ser delicada e profunda, já a Asia... Anos e anos de cadáveres spaghetti no set tornaram a menina durona. Nada de delicadeza com ela, é pura porrada, socos no estômago e gritos de tragédia grega. Ou melhor, você encontra delicadeza com Asia - no meio da lama, você encontra um coração sangrando. Sofia me parece asséptica como uma fábrica de diamantes aberta ao público. Como essas bandas de Emo. Os draminhas de Sofia são coisa de rico. Tem idéia de quanto custa ir ao Japão? Eu tenho. Isso prejudica minha suspension of disbelief.

3.7.05

Só depois de ter traduzido laudas e laudas de material de marketing interno da [Grande Empresa do Ramo Petrolífero] é que se pode compreender o quão trágica, real e profunda é esta música:

The Group Who Couldn't Say - Grandaddy

The tale I'm gonna tell
Is about the group who couldn't say
Together they discovered with each other the perfection of an outdoor day

(A história que vou contar
é sobre o grupo que não podia falar
Juntos eles descobriram a perfeição de um dia ao ar livre)

They had won some kinda prize
For selling way more stuff than the other guys
They were the shrewdest unit-movers
So their bosses got 'em tours of the countryside

(Eles ganharam um tal prêmio
Por vender muito mais coisas que os outros
Eram os unit-movers mais peritos
Então seus chefes os mandaram viajar para o campo)

Holly saw a certain bird
But she couldn't work up any words
She kinda lost her shoes and lost her mind
And smashed her phone upon a fallen pine

(Holly viu um certo pássaro
Mas não conseguia articular uma palavra
Ela meio que perdeu os sapatos e a cabeça
E esmagou seu celular contra um pinheiro caído)

And Darryl couldn't talk at all
He wondered how the trees had grown to be so tall
He calculated all the height and width and density
For insurance purposes

(E Darryl não conseguia falar nada
Imaginava como é que as árvores podiam crescer tanto
Calculou o diâmetro e a altura e a densidade
Para fins de seguro)

And at the desktop there's crying sounds
For all the projects due
And no one else is around
And the sprinklers that come on at 3 am
Sound like crowds of people asking
"Are you happy what you're doing?"

(E no escritório o som é de choro
Por todos os projetos atrasados
E ninguém por perto
E os sprinklers que se ligam às 3 da manhã
Parecem com multidões perguntando
"Está feliz no seu trabalho?")

Becky wondered why
She'd never noticed dragonflies
Her drag and click had never yielded
Anything as perfect as a dragonfly

(Becky pensava por quê
Jamais tinha notado as libélulas
Seu arrastar-e-soltar jamais tinha alcançado
Algo tão perfeito como uma libélula)

And then the supervisor stood
Right in the creek and it felt really good
And that's about the time he finally had realised the importance of this day
And that's about the time he realised
That he was with the group who couldn't say

(Então o supervisor ficou de pé
Bem no meio do riacho, se sentindo muito bem
E foi bem nesta hora que ele finalmente percebeu a importância deste dia
E foi bem nesta hora que ele percebeu
Que estava com o grupo que não podia falar.)

And they felt so good it hurt, forget the words
They were the group who couldn't say

(E se sentiam tão bem que doía, esqueceram as palavras
Eram o grupo que não podia falar.)

2.7.05

À medida em que fui escrevendo o livro novo, tive que pesquisar vários assuntos. Vários, mesmo. Fui jogando os links "úteis" numa pasta de favoritos e acabei com um tesouro disparatado nas mãos. O jogo é o seguinte: você visita os links e tenta imaginar sobre o quê é o livro. Se é que é sobre alguma coisa.

Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez