17.7.05

No tempo em que as escritoras mulheres não podiam entrar para a Academia de Letras e, portanto, não podiam contar com o vultoso salário público reservado aos nossos felizes colegas de cromossomo Y, uma fraternidade secreta só delas foi formada. Não se sabe se o primeiro objetivo foi vingança ou ganhar mais dinheiro que os colegas acadêmicos justamente às custas do machismo. O certo é que o teatro de revista e afins ganharam as formosas pernas de Cecília Meirelles, a boca de Pagu, o charme de Zélia Gattai, o olhar fatal de Hilda Hilst... até Clarice topou, no que acabou sendo o laboratório para A via-crúcis do Corpo. Ninguém nunca desconfiou porque todos achavam que escritoras tinham uma vida muito chata; era dizer ao marido/amante/família que iam ao sarau ou ao chá ou a Paquetá com suas amigas, e pronto. Além disso, aquela multicolorida ali simplesmente não podia ser a moça recatada estampada em P&B nos diários! E, como precaução, uma das regras da fraternidade dizia respeito a se segurar para não dar palpites em espetáculos ruins: eu fazia bem melhor que isso!!, costumava lamentar-se Hilda nos bastidores.
Claro que depois disso as escritoras mulheres puderam entrar na Academia, porém descobriram que não estavam muito interessadas - e a fraternidade se manteve. É que, além de certas más companhias, a nightlife é muito mais empolgante do que ficar lá, sipping tea, e hoje, com o fim da revista, elas rodopiam ao longo de tubos de striptease, com algum impulso.

(Criado agora, mas pensado à época do lançamento de 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura.)