26.12.06

"Penados y rebeldes" é o romance multilíngüe que estou escrevendo online. Check it out.
Exploração espacial não é o máximo. Não quando você está trabalhando para uma corporação gigantesca. Isabel Vinola, Delphina Dainesi e Michæl Nygäard, membros de um dos "teams" de colonização além-lua, são cooptados pelo profeta Jack Jesus para ajudarem em sua missão de disseminar uma tecnologia que pode virar a sociedade de cabeça para baixo.
Nesse universo, japonês e espanhol se infiltraram como línguas principais, logo ao lado do inglês; os corpos podem ser mais que perfeitos, desde que você tenha divisa (dinheiro); e tecnologias corrompem a integridade física e mental das consciências que as tocam.
"Penados y rebeldes" é uma obra licenciada pela Creative Commons. Trocando em miúdos, você pode criar sua própria história com elementos desse universo desde que sem fins lucrativos e me dando o crédito. Se quiser, pode me avisar que coloco o link lá.
Ah, minha sugestão para o oitavo Tomb Raider: Lara em uma bicicleta!
Pronto. Deixei minha página pessoal menos confusa. Agora só tem coisas estritamente ligadas à minha carreira de escritora. As bobagens continuarão com sua programação normal aqui neste blog, que é lugar delas.

25.12.06

role model

Acabei hoje o novo Tomb Raider (codinome "Legend"), o sétimo. Disseram que não foi o desastre que foi o sexto, então fui lá conferir. Os designers amorenaram Lara outra vez e deram a ela um monte de gadgets, a la James Bond - e isso está bem descarado na seqüência de abertura, totalmente decalcada da franquia que mais merece to be put out of its misery no momento. O que mais gostei foi o arpéu (grapple) magnético, basicamente um cabo com ímã que ela pode grudar em objetos metálicos para subir ou usar como cipó e atravessar para o outro lado.
O melhor nível é o do Japão; tirante o clichezão dos "chefes da Yakuza" (só não é pior que o da "ex-base soviética caindo aos pedaços" no Cazaquistão), tem um monte de referências e anedotas sobre a cultura japonesa, como a paixão pela tecnologia de ponta, as acompanhantes sorridentes etc etc.
Tem referências aos primeiros jogos, como a volta ao mosteiro dos monges silenciosos que olhavam para a bunda da Lara (eles não estão mais lá, parece que foram comidos por tigres brancos). Ainda é meu nível preferido dentre todos os sete jogos. Eram monges pacíficos; mas se você sacasse a arma, eles paravam e ficavam olhando fixamente para você; se você atirasse num deles, mesmo que sem querer ou de raspão, vinham todos para cima de você com estacas (iááá, iááá) e te matavam em cinco segundos.
Mas isso não vem ao caso. Interessa que o jogo ficou bom. A trilha sonora ficou boa. Os controles estão mais fluidos. Kurt não está lá. E ouviram minha sugestão sobre a Excalibur e o rei Arthur, aparentemente.

Quando jogo Tomb Raider, começo a querer dar triplos mortais também. Não dá. Faço só o que posso: malho pra ter o corpo da Lara (eu tinha, na época do primeiro jogo, mas é mais difícil sem se ser digital), visito freqüentemente a piscina, viro estrelas na grama.
Hoje fiz uma descoberta. Ragtime se parece com minimal. Bem que podiam pegar Maple leaf rag, por exemplo, e trocar a parte da mão esquerda por uma batida minimal (tic tac tic tac) criativa, um snarezinho etc. Se eu soubessa fazer isso, oh deus.

22.12.06

Borges' pet

Eu li Borges ("Ficções") com 16 anos. Estou guardando dinheiro pra comprar o "Borges completo" e aí sim ler o resto. Mas tenho medo. Veja porquê:

"Duas pessoas buscam um lápis; a primeira o encontra e não diz nada; a segunda encontra um segundo lápis não menos real, contudo, mais ajustado a sua expectativa. Esses objetos secundários se chamam hrönir e são, ainda que de forma desairada, mais compridos."

Li isso citado no blog de uma amiga.
Eu estou agora trabalhando num estágio bacana. Meu trabalho é ir para a Biblioteca Nacional, seção de Periódicos, e pesquisar entrevistas com personalidades. Eu fico lá rodando a manivela dos microfilmes com tanta destreza que o cara da mesa ao lado invariavelmente me olha com pensamentos sujos. E eu penso: "estou punhetando Borges, não você". Todo dia me lembro de Borges por lá, de uma forma ou de outra. Boa parte das pessoas que trabalha e freqüenta lá é bizarra, especialmente o velhinho da cafeteria. Até comecei um conto sobre isso (chamado "Este é autobiográfico"), mesmo achando que não vai pra frente.
Eu levo o material da editora para lá. Inclusive o lápis da editora, que tem um carimbinho na ponta marcando a propriedade. Faz uma semana, eu percebi que não tinha levado o lápis de volta para a editora no dia anterior, como sempre faço. Fui para a Biblioteca normalmente e indaguei do lápis: ninguém tinha deixado o dito-cujo no balcão da seção de Periódicos. Mas eu sabia onde tinha esquecido: na máquina de microfilme que tinha usado no dia anterior. Só podia ser. Vasculhei o chão, perto dali, tudo. Até que me lembrei de olhar embaixo da máquina de microfilme. E lá estava um lápis. Mas não era o meu. Era ligeiramente mais comprido e tinha sido apontado com estilete, sem sinal de carimbinho nenhum. Levei a "réplica" pro balcão e ninguém a reclamou; ficou pra mim.
Detalhe: em dezembro, a Biblioteca Nacional fica deserta. Todos já entregaram seus trabalhos e estão na praia. E a máquina de microfilme em que trabalhei era de um tipo pouco usado, e fica completamente isolada das outras.

É o mesmo medo que tenho de ler Philip K. Dick: a literatura desses dois tem a propriedade de se entranhar de um modo tão bizarro na minha vida que eu viro uma personagem deles - e personagem sofre.
Minha dislexia começa a se agravar e leio palavras inexistentes; eu pego detalhes que ninguém mais pega e fico com eles na mão, sem saber o que fazer; é como um sonho de terror absurdo.

PS: Me veio a idéia criminosa de vender meu hrönir legítimo no Ebay.

16.12.06

Fui em outro evento de anime, e antes que fique unmistakeably velha, estou aproveitando para fazer um monte de bobagens. Aprendi uma coreografia de para para, abracei alguém que estava oferecendo free hugs, participei de qual-é-a-música de animes e nisso faturei um prêmio. Bobagens. Tudo muito divertido. Outra coisa: comprei um guizo.

13.12.06

cubo mágico

Meus diretores-roteiristas preferidos são o Richard Kelly e o Darren Aronofsky. Eles não têm tanto a ver um com o outro, mas andam com manias paralelas. Primeiro resolveram cada qual dirigir sua ficção científica (Southland tales e The fountain, respectivamente); agora que estão prontos os filmes, comparam a estrutura das histórias com um cubo mágico ("Rubik's cube").

Provas:
Kelly's cube
Aronofsky's cube

(O nome do Rubik's cube em português, aliás, é sem-noção: devia se chamar cubo científico, ou cubo matemático, sei lá. Se bem que não ia vender nada.)

Darren agora está tratando da adaptação de Lone Wolf and Cub, um mangá fofo e violento sobre as aventuras de um samurai e seu menino pequeno. Eu também sou viciada em filmes japoneses/asiáticos em geral (chineses são os mexicanos da Ásia: só fazem coisa trash. Mas gosto). Engraçado como associo coisas aparentemente díspares e elas por si só acabam se aglutinando. Cubo mágico.

P.S.: Outro que está no meu pódio é Charles Kaufman, roteirista de Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Agora inventou de ser diretor também. Vamos ver no que dá.

12.12.06

Lembram deste sonho?
Entendi mais uma coisa sobre ele. Era uma partida de xadrez. O homem que se encantava comigo era um bispo, eu era a rainha negra e o resto eram peões.

11.12.06

Sabiam que o "score" de The Fountain foi feito não só pelo Clint Mansell de sempre como também recebeu uma mão do Mogwai? Isso explica os tinidos em Tree of life e o andamento de Death is the road to awe, sendo que esta chega a lembrar os colegas do GYBE! (Godspeed you black emperor!). Pós-rock puro - ou ligeiramente mesclado à música erudita, tanto faz, ficou ótimo.


PS: os Naipes à vossa esquerda classificam os posts do blog. Finalmente terminei de classificá-los, eram mil e tantos. Clique em um para ler todo o conteúdo ligado ao assunto.
Elegant waste era o nome do livro de que Katchoo gostava em Estranhos no Paraíso (que hoje acho muito emo, mas tem seus méritos). E é o nome desta lista de músicas para o iPod, que começou apenas com Deer stop e Moonlight serenade e agora está graaande.

1. Goldfrapp - Deer Stop
2. Lali Puna - Together In Electric Dreams
3. Radiohead - The Tourist
4. Clint Mansell - xibalba
5. Glenn Miller - Moonlight Serenade
6. Vive la Fête - Joyeux
7. Boards of Canada - Seeya Later
8. micatone - quiet boy
9. Ladytron - Destroy Everything You Touch (Hot Chip Remix)
10. Thom Yorke - Black Swan
11. chopin - Prelude in E Minor, Op. 28, No. 4
12. Hot Chip - Crap Kraft Dinner
13. orbital - halcyon (prodigy remix)
14. steve bug - november girl
15. Boards of Canada - Melissa Juice
16. Boards Of Canada - Everything you do is a baloon
17. Boards Of Canada - Turquoise Hexagon Sun
18. João Donato - O amor em paz
19. Boards of Canada - Tears From The Compound Eye
20. Hot Chip - Shining Escalade
21. Linda Perhacs - If You Were My Man Studio
22. Herbie Hancock - Jane's Theme
23. Micatone - Sit Beside Me (Club Mix)
24. Miranda Sex Garden - Caravan
25. Sao Paris - notebook of dreams
26. Morphine - Whisper
27. Boards of Canada - Olson
28. Massive Attack - Special Cases
29. Vector Lovers - Tokyo Glitterati (Extended)
30. Mum - We Have a Map of the Plane
31. Susheela Raman - Meanwhile
32. Françoise Hardy - le premier bonheur du jour
33. Boards Of Canada - Carcan
34. Tricky - Ponderosa (Original 7 Edit)
35. Deftones - Lucky You

6.12.06

velhos ingênuos falam...

fita (= filme)
garotada (= jovens)
desaparecimento (= morte)
chico (= menstruação)
numa nice
gozado (= engraçado)
provocação (= performance chata)
perro (= teimoso)
chato de galochas

5.12.06

Mais resenha do A feia noite, dessa vez do Leia Livro. Só não entendi porque a noite em que eles vagam é "santista". Só estive em Santos uma vez, e era de tarde...

27.11.06

Este negócio de "Geração" é como uma festa com quinze debutantes, é só para apresentá-las à sociedade em conjunto; não é nenhuma garantia de que todas as debutantes sejam parecidas.
Entrevista para o Correio das Artes sobre A Feia noite. Vou colocar aqui porque não tem link direto. O link está aqui, tem que descer um pouco. Aliás, as matérias do Correio das Artes são ótimas, eu passo lá com freqüência.

Escrever bem é mais difícil do que publicar

Por Amanda K.

Com apenas 23 anos de idade a carioca Simone Campos lança seu segundo romance A feia Noite (7 letras). Romance esse que trata "das dores do crescimento". A feia Noite é um livro que parodia os "romances de formação e aqueles personagens de livros antigos, encharcados de culpa católica (Dostoievski, Fernando Sabino, Graciliano Ramos)". Formada em Jornalismo e atualmente cursando faculdade de Produção Editorial, Simone nos fala de como surgiu a necessidade e seu processo com a escrita.

Como decidiu tornar-se escritora?
Desde pequena eu queria descobrir uma maneira de expressar os meus processos de pensamento e sentimentos que eu tinha. É que eu achava a percepção, o fato de se estar consciente, fantástico, e queria "botar aquilo para fora". Quando aprendi a ler, com uns cinco anos, percebi que os livros eram a forma de expressão mais adequada às minhas intenções.

Como é seu processo de escrita?
Técnico. Técnica é conhecer seus pontos fracos e fortes. Eu montei uma técnica em volta dos meus potenciais e limitações. Dentro disso eu exerço variações de estilo, conforme pede o teor da história. Por exemplo, eu não sei contar histórias propriamente ditas, como "cronistas". Eu sei extrair "sentidos". Então o que eu faço é um painel. Eu pinto. Para não ficar muito parado eu concentro a ação nos diálogos, em geral é ali que as pessoas se conhecem, mudam de idéia, interagem.

Como é ser uma jovem escritora? É difícil publicar um livro tão cedo?
Escrever bem é muito difícil. Se a qualidade do seu texto salta aos olhos, publicar não é difícil. Claro que é preciso encontrar uma editora que tenha publicações na linha do seu livro e voltada para um público parecido. Não adianta mandar um livro de poesia para uma editora jurídica. Uma coisa que aprendi na faculdade de Produção Editorial é que as editoras não lêem quase nada do que chega. Mas se lerem o seu material e acharem muito bom, algum dia irão publicar.

Como você avalia o atual cenário da literatura, principalmente a brasileira? Acha que estamos em um bom momento?

Está melhor do que já esteve. Vejo alguns bons autores e algumas fraudes, mas é o de praxe.

Que obras, ou escritores você tem mais afinidade?
Meus autores preferidos atualmente são: Agustina Bessa-Luís, Vladimir Nabokov, Neil Gaiman, Chuck Palahniuk, Haruki Murakami. Dos recentes e nacionais, há a Índigo, Beatriz Bracher, Antônio Prata, entre outros.

Existe em você aquela eterna insatisfação com relação a obra produzida, mesmo depois de ser publicada? É uma escritora perfeccionista?
Não, eu acho muito difícil mexer no livro uma vez que está publicado, preto no branco. Mas é exatamente isso que me faz demorar para publicá-lo. Faço uma autocrítica impiedosa e constante, jogo capítulos inteiros na Lixeira (com L maiúsculo, escrevo no computador), reescrevo tudo. Não é que eu escreva pouco; eu publico pouco. Meus padrões são meio altos, até para mim. Se eu fosse crítica literária, provavelmente seria uma Bárbara Heliodora das letras. Então, sim: perfeccionista.

Você lançou esse mês o seu segundo romance, "A feia noite". De que forma está estruturado o livro?

Ele é bem mais linear que o primeiro, No shopping. Eu disse no blog que escrevi um livro fora-de-moda, e é verdade. Este tem princípio, meio e fim. Você só volta no tempo nas recordações dos personagens, à moda antiga. De piração só há algum delírio poético (na 3ª noite, por exemplo) e uma troca de ponto de vista (no final, passa a ser o da Maria Luiza).

De que trata o romance?
Das dores do crescimento. É uma homenagem-paródia aos romances de formação e àqueles personagens de livros antigos, encharcados de culpa católica (Dostoievski, Fernando Sabino, Graciliano Ramos). Achei que seria divertido pôr um desses (Francisco) no mundo de hoje. E pôr uma criatura "mais atual" (Maria Luiza) para andar com ele. Foi mais trágico do que divertido, mas gostei do resultado final.
A principal mensagem do livro: "não se faça de bonzinho, você está no jogo". Isto também pode ser estendido à política.

Você acredita que estamos presenciando uma pós-modernidade?
Cada um chama do que quiser, mas que o projeto iluminista faliu (daí, justamente: "a feia noite") é difícil negar. Gosto do que o Baudrillard diz, chamando a época atual de "pós-orgia", por exemplo.

Qual a importância dos blogues e da Internet na literatura contemporânea?
Alguma. Eu acho que é um excelente laboratório. Tenho meu blog, onde falo um pouco de tudo, mas sei que dificilmente é literatura. Tem o blog que escrevi como se fosse a Maria Luiza, contando coisas que aconteceram antes do "A feia noite" começar (afeianoite.blogspot.com). O endereço dele está na última página do livro, o colofão. Tem também meu projeto de ficção científica, o penadosyrebeldes.blogspot.com

Você integra a Geração 90. Considera essa uma geração linear em termos de estética?
Eu acho que o recorte foi mais pelo momento de publicação do que pelo estilo, não? Sempre é, na verdade. A Clarice Lispector nunca teve muito a ver com a Geração de 45, por exemplo. Este negócio de "Geração" é como uma festa com quinze debutantes, é só para apresentá-las à sociedade em conjunto; não é nenhuma garantia de que todas as debutantes sejam parecidas. De fato, nem eu tenho um "estilo definido"; veja só como o "No Shopping" se parece pouco com o "A feia noite".

Depois de “A Feia Noite”, você já tem algum outro projeto em mente?
Estou escrevendo uma ficção científica online, com direitos parcialmente liberados via Creative Commons – para que as pessoas possam usar os personagens, desde que sem fins lucrativos e me dando o crédito. O endereço é wwww.penadosyrebeldes.blogspot.com
Acho que o meu próximo livro será de contos, estou trabalhando em alguns.

Simone, qual a tua idade e o que faz atualmente?
Estou com 23 anos. Terminei a faculdade de Jornalismo na UFRJ, mas exerci pouco. Então ingressei em Produção Editorial (também na UFRJ) e estou gostando mais. Pretendo fazer mestrado também. Estou numa editora, estagiando. Meu ganha-pão mesmo são traduções freelancer – que era o trabalho original do Francisco, aliás, mas mudei para consultor político para não ficar com essa carga autobiográfica. Mas depois me dei conta de que já fiz consultoria política também, então não adianta.

Amanda K.
é contista. Publica no site Bagatelas!

(Correio das Artes, 18 e 19 de novembro de 2006)

23.11.06

o patrão ficou maluco

Acabei de saber que meu livro novo (e vários outros da coleção Rocinante) estão saindo a DOIS REAIS na feira da USP, que vai até amanhã. Se o problema era falta de dinheiro, não é mais. Mais barato que papel higiênico, e com uma qualidade um pouco melhor!
it came a long way, baby

Antes de descobrir a música eletrônica, eu já mostrava uma forte inclinação pela coisa. Não é coincidência. Nunca conseguiram me fazer aprender a tocar teclado (órgão eletrônico) direito, mas meu brinquedo instrumento preferido na época foi o sampler de percussões.
Mais uns fatos esparsos:

- Fatboy Slim, antes de sê-lo, participou da banda Housemartins, por cujo sucesso Build eu era vidrada (tocava na rádio Antena 1, de easy listening, que minha mãe ouvia).

- Meu pai gostava de música um pouco mais séria. Ouvia CDs dos Beatles over and over. Eu comecei a gostar muito da última música do álbum Revolver, a Tomorrow never knows. Um dia a MTV me informa que outra música amada, a Setting sun dos Chemical Brothers, era uma releitura de Tomorrow never knows.

- Quando descobri as mp3s, a primeira música que meu pai me encomendou foi a Darlin' dos Beach Boys, de que eu também gostava. Darlin' foi o nome da primeira banda do atual Daft Punk, que então fazia um rockzinho inspirado em Beach Boys. Foi o Darlin' quem recebeu a crítica negativa (dizendo que "parecia punk babaca", ou "daft punk") que batizou a dupla de house que todos conhecemos e amamos.

Enfim, quando ouvi a It's no good (do Depeche Mode) no rádio aos 14 anos, me bateu na hora que aquilo era o futuro (ai, doeu. Mas foi isso que senti, sem sombra de clichê. Pelo menos o meu futuro.) Não é que o rock'n'roll não me dissesse nada, mas dizia algo meio msnnbnnhtoviassú-- HÃ??
Eu não digo isso sempre, porque deixa os fãs de rock meio cabisbaixos ou putos. Eletrônica era predominantemente música para pessoas que não sentiam necessidade de ser salvas. A eletrônica não aspira a posteridade, sabe-se transitória, sabe-se degrau. Quando uma música eletrônica fica, é porque é realmente muito foda, e não porque marcou época. Os seres humanos que amam a eletrônica são líquidos, desprendidos de todo, poderiam substituir as partes do corpo todas por peças amanhã sem o menor assombro, seria natural, e viveriam adiante.
Penso que os acadêmicos sapateiam sobre essa noção, porque o líquido é terrível. Mas não é só terrível. Pode ser um caminho. Eu penso no tao: será que ao desistir, abandonar o instinto de sobrevivência, a necessidade primal de destruição e de construção, a (pós)humanidade não estaria dando sua última cartada para a própria sobrevivência?* (Acadêmicos sapateando de novo.) É fascinante. É perigoso. É sublime. Pode ser que seja um passo errado e tudo fica sem ser testemunhado até que surja outra vida inteligente na área. Mas seria um bom ponto final de romance.

*esta frase parece-se com o final do meu livro

22.11.06

Para quem mora em São Paulo, ó uma oportunidade para comprar meu livro baratinho: a Feira da USP dá desconto de pelo menos 50% nos livros, talvez no meu. Vai até sexta.

PS: A 7letras, minha editora, não está na lista do site, mas estava na lista mais completa a que tive acesso.

21.11.06

November Girl (excelente música do Steve Bug)

Estou na revista Trip novamente, e novamente vestida. É uma fotinha e uma notinha. Mas gostei do conteúdo.

20.11.06

Para assistir de noite com a luz apagada


A feia noite - ao som de The devil is in the details (Boards of Canada)

Fiz estas fotos para a aula de foto. Não sei se o trabalho final vai ser exatamente este - o objetivo era juntar metálico e bucólico, e falta escanear o bucólico (com o qual, aliás, esta música não combina). Por enquanto, ficou com cara de terror japonês e é um trailer do A feia noite. Livro, filme, whatever.

13.11.06

O capítulo perdido de Travessuras da menina má

Quando me mudei para a colônia Marte XXVI em 2118, jamais poderia imaginar as emoções que meu corpo de andróide seria capaz de processar. Até mesmo o amor.
Ao embarcar no ônibus espacial, o comissário depositou ao meu lado uma cabeça recém-descongelada inconfundível. Ao ver aquelas orelhinhas meio cobertas pelos cabelos agora arroxeados, os olhos muito pretos piscando sugestivamente, senti um rubor psicológico subir às minhas faces de silicone.
- Saudades de mim, bom menino?
- Vá sentar em outro lugar. Não quero mais nada com você.
- Não posso. Não tenho mais pernas.
- Eu mesmo a carrego. Diga onde a coloco.
(...algumas páginas depois...)
- É claro que eu ainda te amo. Tanto quanto a válvula que substituiu meu coração agora permite...
- Não se diz válvula, Ricardito. É nanoconstruto.
- Tanto faz.

José Wilker tem razão: Travessuras da menina má é um tanto repetitivo. Bobo. Trabalha dentro de uma lógica de fábula, em que há repetição e a graça está em pequenas quebras. Mas depois de um tempo, fica risível. Parece um livro de História. Os personagens-emblema no seu devido momento histórico de apogeu. Hippies nos anos 60, uma cenógrafa na movida madrilenha... por favor! É preciso demais. Quer dizer, se dessem isso às crianças ao invés dos livros de História, talvez elas gostassem mais da História. Mas este livro é supostamente pra adultos. Eu quero ver gente deslocada do seu tempo.
Dizem que pra criticar você tem que ser capaz de fazer melhor. Pois prefiro o meu livro novo, A feia noite. Maria Luiza é mais má e Francisco é mais Fukuda.
Fábula da criação

"Quando o Senhor fez a patricinha, Ele tentou quebrar a forma. Insistentemente. Acontece que vaso ruim não quebra. Acabaram saindo da fábrica milhares de criaturas idênticas. Dia desses vão receber o aviso do recall de cérebro."
Como vai terminar Harry Potter

Mais uma vez, cabeça-de-escritor. Tem que saber como funciona para descobrir onde ele está mentindo e o que pretende. J. K. Rowling não quer ser amolada para escrever um oitavo livro, pelo menos não tão cedo. Então o que ela vai fazer é tirar os poderes do menino-bruxo e deixá-lo viver. Assim, não poderá haver uma continuação - ao menos, não nos mesmos termos. Outra possibilidade é fazer o menino morrer e depois voltar dos mortos (e até trazer o padrinho Sirius junto com ele), mas acho que é uma solução descabida demais até para uma autora pop. Além disso, a amolação persistiria.

11.11.06

Mas que coisa

You scored as A classic novel. Almost everyone showers praise upon you for your depth and enduring relevance. According to your acolytes, everything you say is timeless, erudite and meaingful. Of course, none of them actually listen to you. Nobody listens to you at all, but it's fashionable to claim you as a friend. Fond of obscure words, antiquated notions and libraries, you never have a problem finding someone to hang out with. The fact that they end up using you to balance their kitchen tables is an unfortunate side effect, but you're used to being used for others' benefit. Oh the burden of being Great.

A classic novel

64%

An electronics user's manual

50%

A college textbook

50%

A paperback romance novel

50%

Poetry

39%

A coloring book

39%

The back of a froot loops box

25%

Your Literary Personality
created with QuizFarm.com

9.11.06

As melhores resenhas que recebi do A feia noite são agora dos meus parentes. Eles me dizem: estou lendo, e puxa, esse prende a gente, não? - dessa vez está... está dando para ler. - estou entendendo a história, a mulher abandonou ele e ele encontrou essa garota, né?
Poxa, troço gratificante. Primeiro: eles tentarem ler. Segundo: eles conseguirem. Terceiro: se preocuparem em me dar o feedback.
Quer dizer, eles já deviam ter desistido com No shopping. Tudo aquilo estilhaçado, partido - mas não. Eles deram uma chance ao A feia noite e estão gostando. Honestamente.
O que ocorria com o No shopping era, numa reunião de amigos, um cutucar o outro: tá, você comprou, mas você leu? E uns ficavam embaraçados, riscando pezinho no chão, outros diziam Liiii... e não comentavam mais nada. Por medo de errar, sabe. Sentiam que era coisa para especialistas.
Embora não vá aguar a minha escrita para virar o tipo de bruxa que vende, vou prestar atenção a essas reações, que podem indicar aí uns parâmetros.

- Pensamento do dia:
Amá-lo e ficar, tudo bem. Odiá-lo e deixá-lo, sem problema. O que é perigoso é que você fique, odiando.

7.11.06

Onde comprar A feia noite (agora com desconto)

Submarino (repare que para o Submarino é A feia da noite, mas está em promoção, então não vamos discutir)
Cia dos Livros
Livraria Cultura
Saraiva

2.11.06

penados y rebeldes

O Daft Punk é o máximo, Ladytron vem aí, eu e a APM fizemos um belo sabá-das-escritoras, Nicole ganhou o America's Next Top Model, passou um episódio de dia das bruxas dos Simpsons baseado em Battle Royale, e vou tirar minha primeira folga em um bom tempo. Portanto, embalada por tantos bons acontecimentos e por Philip K. Dick, resolvi deixar (além do trecho do novo livro aqui embaixo) também o meu novo projeto para vocês verem.
- É uma aventura espacial;
- é uma ficção-científica corporativa;
- é uma experiência com as leis de copyright, com a linguagem e com o suporte eletrônico;
- é grátis.
Clique aqui para entrar em Penados y Rebeldes
.

1.11.06

Amostra grátis

Como vou debandar no feriado, deixo vocês com um trecho inédito de A feia noite, meu livro novo.

Baralho. Mexe num. Amanda não gostava de cartas. Está com vontade de foder a menina. Foder ela toda. Quanto mais ela falava.
Ele também não joga, só sabe de várias maneiras interessantes de fazer as cartas voarem e caírem umas entre as outras. Um tio ensinou.
Quanto mais ela fala também mais parece errado sentir tesão nela. Tão pura. Tão santa. Quisera tanto alguém como ela, que se preocupasse, que não tinha se preocupado com o que sentir depois que achasse.
Bela maneira de gastar energia. Muito tempo sem praticar, desde a adolescência, o tio já morreu? Nem sabe. A habilidade continua a mesma. As primas se interessavam mais. Maria Luiza logo se cansa.
A sua boa jogadora de fliperama parece ter algum parafuso solto, uma espécie de fixidez nas coisas erradas. De tão absorta na vitória não vê emoção no jogo.
Acabava de se convencer. Maria Luiza não se prostituía por dinheiro.
Queria que fosse pelo dinheiro – seu perdão estaria pronto, embrulhado pra presente, só passar no caixa. Se fosse por dinheiro, ou por qualquer outra coisa. Mas era por convicção ideológica.
Começa a figurar o storyboard que ela tinha montado pra ele (milhares de post-its e flechas em sua mente). Fazia sentido. De um jeito completamente deturpado.
Seria incorretíssimo chamá-la de ímpia. Ela é pia – tão pia quanto ele, ou até mais. Só que pelo outro lado.
Não li e já gostei
Livewires
Os Livewires são uma equipe de andróides ultra-avançados construída para esmagar andróides ultra-avançados "do mal". Os Livewires são Stem Cell, Cornfed, Gothic Lolita, Hollowpoint Ninja e Social Butterfly. Este cara aqui fez um post excelente sobre eles (logo abaixo da parte sobre o Wolverine, inevitável).

31.10.06

Esta lista está no meu iPod sob o título "medonho". Não são músicas depressivas, mas simplesmente que te tiram de si, o que pode ser muito bom.

1. Boards of Canada - Tears From The Compound Eye
2. Wire - Let's Panic Later
3. Arovane - Blacksoil
4. Boards Of Canada - Carcan
5. Sao Paris - notebook of dreams
6. david bowie + massive attack - nature boy
7. Autechre - Rsdio
8. Prefuse 73 - silencio interlude
9. Monolake - Wasteland
10. Deftones - Lucky You
11. Wire - Small Electric Piece
12. The Beatles - I Want You
13. underworld - please help me
14. depeche mode - it's no good
15. Boards of Canada - Olson
16. evangelion - do you love me
17. Boards Of Canada - Rodox Video
18. Boards Of Canada - Concourse
19. Thom Yorke - Cymbal Rush
20. Broadcast - Minus One
21. Nathan Fake - Falmer
22. Vector Lovers - Shinjuku Girl
23. atari teenage riot - deathstar
Sonhei que o Brasil "visível" era do tamanho da Baía de Guanabara. De um lado, numa espécie de península, havia as casas dos ricos, com uma enorme Iara de pedra esculpida por Tom (!) para Vinícius. O shopping center era Brasília, cheio de escadas-rolantes íngremes que não levavam a lugar nenhum. No centro da Baía, uma torre branca polida, com um ou dois locutores esportivos que olhavam para baixo, narrando como uma partida de futebol. Eu olhava aquilo e saía cantarolando: television... rules the nation...

28.10.06


Você vê que a folia é braba.

Finalzinho de Alive, entrando a Superheroes com Human After All e emendando em Rock'n'roll.
Daft Punk Rules the Nation

Bem... éeeh... foi o melhor show da minha vida.
Quem me conhece sabe que não saio de filmes dizendo que foram os melhores filmes da minha vida, nem de shows dizendo o mesmo. Então este é sem favor O MELHOR SHOW DA MINHA VIDA, fazendo com que o do Leftfield (atual 2o) e o do Orbital (atual 3o) perdessem uma posição no ranking.
Por quê?
Simplesmente porque os robozinhos apostaram no vibe (a interação entre o DJ e o público) e não numa fórmula fechada. Não descansaram até ver o público comer na mão deles. Trabalharam duro (Harder, better, faster, stronger). Porque misturaram músicas muito fodas com músicas muito fodas, duas ou três de cada vez, para caber mais. Teve Alive, Superheroes, Rock'n'roll, Prime time of your life, Aerodynamic, e todas as manjadas como One more time e Musique.
Já vi shows com um visual impressionante, mas um visual que engessava a apresentação, obrigando o grupo a seguir um roteiro. Foi o caso do Orbital. Não foi o caso do Daft. A parte visual era programada para se comportar junto com a música: diminuía de ritmo com ela, hesitava com ela, parava com ela.
Enfim, juntei meus oito anos de Aliança Francesa e berrei a plenos pulmões: Allez les robots! Allez! Bravo! O público foi muito caloroso, embora eu tenha percebido que boa parte não entendeu o quão foda foi o show que tinha acabado de presenciar. Mesmo assim, surtiu efeito: impagável os robôs mandando beijinhos.
Quando saí de lá, eu não conseguia fechar a boca ou desarregalar os olhos. Estava em transe hipnótico, estado alfa, sei lá. É o primeiro show de que saio com gosto de quero mais. Não foi o bastante. Se os robôs vierem aqui de novo, eu vou de novo. Ah, e que pecado: não teve bis.

26.10.06

arquivo morto

Índice de matérias interessantes/toscas que encontrei em minhas pesquisas na Biblioteca Nacional. Os que não têm preço estão em negrito.

Fatos & Fotos
Diamante Hope – 18/jan/68 pg. 40
Batman tosco cancelado – 15/fev/68 pg. 14
Esquerda festiva (fotos ótimas) – 15/fev/68 pg. 40

Cruzeiro
Racismo na Copa de 58 - 01/01/65 - pg 86 a 91
Bardot em Búzios - 16/01/65 pg 106 a 110
Orson Welles - 30/01/65 pg 100 a 103
Ar engorda - 13/02/65 pg 66
Malba Tahan e Ossian - pré JT Leroy - 13/03/65 pg 82
Rui Barbosa - 15/05/65 pg 88 a 94
Cinema Novo 31/07/65 pg 14 a 16
Londres - 07/08/65 pg 14 e 15
Astrud Gilberto - 21/08/65 pg 88 a 91
The Beatles - 28/08/65 pg 106 a 112
São Tomé das Letras (meca dos dropouts) - 04/09/65 - pg 96 a 106
Fotos do basquete feminino - 02/10/65 pg 102 a 106
Onibaba ("A Mulher-Diabo") - 01/10/65 pg 111 e 112
Tóquio - 09/10/65 pg 19 a 28
Etiqueta sexual para garotas jovens (comparar com a da Revista O Globo ou da Querida) - 09/10/65 pg 44 a 46
Princesa prende o dedo na porta - 09/10/65 pg 102
Um misantropo (crônica de Austregésilo de Athayde) - 23/10/65 pg 26
Elizabeth Taylor - 23/10/65 pg 46
Wilson Simonal - 06/11/65 pg 22 a 25
Norte de Tóquio - 06/11/65 pg 44 a 52
Pingüim extraviado - 06/11/65 pg 99
Diretor do Pedro II manda garotos cortarem o cabelo - 06/11/65 pg 118 a 121
LSD - 20/11/65 pg 42 a 56
Surf - 20/11/65 pg 92 a 96
Bondes eram salão de carnaval dos pobres - Especial 4o Centenário do Rio pg 57 a 72
Cartunistas do Rio Antigo - Especial 4o Centenário do Rio pg 73 a 80
Anúncios do Rio Antigo - Especial 4o Centenário do Rio pg 110 a 115
Cafés - Especial 4o Centenário do Rio pg 116 a 119
J. Carlos - Especial 4o Centenário do Rio pg 131 a 136
Gêmeas-espelho - 04/12/65 pg 14
Foto de modelo com cara de nojo dos pivetes - 04/12/65 pg 44
Matéria sobre praia - fotos excelentes - 04/12/65 pg 76 a 85
Brasileiro não sabe escrever romance (crônica) - 11/12/65 pg 34
Calor - pijânio - 01/01/66 pg 91
Somerset Maugham - 08/01/66 pg 84 a 87
Playboys em extinção - 08/01/66 pg 100 a 105
Chacrinha - 29/01/66 pg 64 a 68
Nietzsche e D. Pedro II bateram papo num trem (crônica) 26/02/66 pg 50
O nude-look - crônica de Rachel de Queiroz - 05/05/66 pg 114
Roberto Carlos 08/05/66 pg 106 a 112
Roberto Carlos 23/06/66 pg 40 a 46
Wanderléia 06/07/66 pg 56
José que era Joana - 12/09/66 pg 16 a 18
Xifópagos - 1a edição de outubro de 66
Ilha misteriosa - 29/10/66 pg 38 a 43
Sean Connery fazendo careta - 05/11/66 pg 38 a 43
O pequeno entojo (ator-mirim) - 12/11/66 pg 30 a 33
Lacerda aponta os 10 pecados da "Revolução" - 10/12/66 pg 10 a 11
Borg, o espião que teria inspirado Bond, critica Bond - 10/12/66 pg 100 a 103
Propaganda da Coca-Cola com os pombos 17/12/66 pg 109
Rubi no umbigo - 14/01/67 pg 42 a 45
Cópia malfeita de James Bond rodada no Brasil - 21/01/67 pg 72 a 75
Holocausto dos cães de Parati (RJ) - 04/03/67 pg. 48 a 51
Empregadas sem salário mínimo - 18/03/67 pg 48 a 51
Ramos pré-procissão - 25/03/67 pg. 52 a 57
Festival de Inverno (Japão) - 15/04/67 pg 44 a 49
Coco Chanel ataca a mini-saia - 22/04/67 pg 20 a 23
D. Pedro II, este galinha - 22/04/67 pg 114 a 121
Zé do Caixão faz teste com atores - 27/05/67 pg 36 a 39
Iê-iê-iê vs. bossa nova - 12/08/67 pg 130 a 133
Luz del Fuego morre - 20/08/67 pg 4 a 10
História da bossa nova - 02/09/67 pg 20 a 27
Canecão - painel de Ziraldo - 16/09/67 pg 91 a 93
Zé do Caixão faz mais testes com atores - 04/11/67 pg 68 a 73
FEBEAPÁ na MPB - 18/11/67 pg 152 a 153

18.10.06

onde comprar o "A feia noite"

eu que fiz a capa

Compre no site da editora ou no da Livraria Cultura. No Rio de Janeiro, ele pode ser encontrado na Timbre da Gávea e na livraria da Casa do Rui Barbosa. Em breve, o livro também poderá ser comprado nas Travessas da Rio Branco e do Ouvidor, e também nos sites Submarino e Lojas Americanas. Quem for de São Paulo deve tentar a Livraria Cultura, é claro.
Uma coisa que talvez eu tenha esquecido de frisar é que em "A feia noite" eu combato a fama de cidade solar do Rio de Janeiro, confirmada pela bossa nova, por exemplo. Eu idealizei uma cidade gótica, um lugar sombrio, assustador, que ainda assim não deixa de ser Rio de Janeiro...
O que quero dizer é que nossa brasilidade não reside em sol, samba, mulata e futebol. Dá para ser inquestionavelmente brasileiro mesmo sem apelar para esses clichês. Eu não digo onde se passa o romance, mas se você mora aqui no Rio, você reconhece esta cidade. Se não reconhecer, aí vai pensar numa história universal, o que também é bom.
O negócio é que sempre que se fala do "verdadeiro Brasil" se cai nessa de regionalismo: índios, negros, nordeste, pobre. Já se cristalizou tanto isso que os ricos 1) fetichizaram o pobre etc. transformando-o em consumo 2) entenderam que já que o "verdadeiro Brasil" é o pobre etc., eles não fazem parte do mesmo, e têm que manter as coisas como estão para conservar o pobre, pobre.
E o problema é que o Brasil mistura tudo, inclusive pessoas branquelas. Essa diversidade é que nos integra e, no entanto, ninguém fala dela. Não adianta você querer pegar o "homem médio" ou um dos extremos, rico ou pobre; o Brasil não é estatística. Negar essa diversidade é excluir alguém.
paradoxal

Veja o que é o ambiente.
Eu não lembro de quase ninguém da high school. Mas eles sempre me reconhecem. Geralmente nos esbarramos em situações escrotas. Por exemplos, indies riquinhos que deixaram para decidir em quais shows do Tim Festival vão bem na boca do caixa (a fila aumentando atrás). A namorada vai embora primeiro, e enquanto o fulano cheio de botoques espera o extrato do cartão de crédito, vira pra mim e “Você estudou no Santo Inácio?”. No wonder, penso. Mas respondo “Sim.” – e imediatamente para o balconista – “Uma meia para o Daft Punk, por favor.” Eu nunca deixo essas tristes coincidências degringolarem em conversa.
Outro dia encontrei uma (são poucas) pessoa legal da high school. Claro que na época não podíamos admitir isso, mas em outras circunstâncias seríamos amigas. Pois bem, as outras circunstâncias chegaram. E é engraçado como lembrei até a grafia do nome da menina - incomum.
Na Biblioteca, eu reconheço rostos que só vi uma vez, mesmo sendo caxias e me concentrando nos jornais e revistas como deve ser. Porque pessoas que pesquisam têm potencial para ser legais, pelo menos já é uma pré-seleção. (Alguém devia avisar as meninas ingênuas que usar camiseta Nerd Pride na Biblioteca é redundância.)
Então é... sintomático. Eu não esqueço de quem não posso esquecer, esqueço quem é bom esquecer. Às vezes esqueço até de quem devia lembrar.

14.10.06

I wanna be... professional bean-spiller.
Eu sempre faço isso, "spill the beans" - "jogar no ventilador" seria uma tradução aceitável. Pior, acredito em fazer isso.
Queria ser aquela crítica literária durona, que diz com todas as letras que "X de Oliveira não passa de hype injustificável. Escreve mal.". Ou: "Y é uma coletânea de contos - não vejo porque o autor quis passá-lo por romance.".
Já pensou? Eu faria muitos inimigos, inclusive entre os amigos, sendo sincera. Mesmo que eu atenuasse, como as professoras do primário: "precisa melhorar".
Eu teria um assistente só para colar fita crepe no nome do autor - em todas as ocorrências, inclusive na lombada e dentro do livro. Prova cega - vinhos medíocres de vinícolas consagradas, tremei.
E eu faria dancinha da vitória quando encontrasse algo que pudesse elogiar. E as pessoas acreditariam nos meus elogios.

9.10.06

Meu Deus, será que as pessoas não sabem que não adianta mandar phishing para alguém que tem um cérebro?

8.10.06

marcado mesmo

Fiquei honrada e surpresa com a coincidência, mas o recado do lançamento do meu livro saiu no mesmo Prosa&Verso comemorativo dos 50 anos de O encontro marcado, de Fernando Sabino. Não sou tiete particularmente desse livro; e nele há dilemas que em boa parte não tive. Pelo menos não aos 21 anos, quando o li. Mas sou fã de Fernando Sabino em geral, de que li praticamente todas as crônicas aos 13 anos (pai mineiro).
Um cara inteligente que em certo ponto de sua vida toca em política e todo mundo considera imundo. Isto define tanto Fernando como Francisco, personagem do meu livro novo, A feia noite. Aliás, o nome do meu personagem, originalmente, era Fernando. Mudei por pudor, mas... fazer o quê? O encontro marcado é exatamente o tipo de bildungsroman que estou parodiando em A feia noite. Com carinho, é claro.
Eu disse na crítica que fiz de O encontro marcado (para uma matéria da faculdade):
A vida de Eduardo Marciano "termina" nos anos 50; hoje muitos já não nasceram sob a ditadura, ou pelo menos num tempo onde não se sentia seu peso. O Brasil antigo, empoeirado, causa sim aos jovens de hoje um certo asco; numa espécie de amnésia neurótica coletiva, fingimos que sempre estivemos brandindo celulares prateados, Honda Civics e presidentes de esquerda; mas o país não é só esse. O futuro não chegou, não. Ainda não saímos da roça. Um fio de Ariadne, o livro não titubeia em nos retraçar o caminho pelo qual viemos parar aqui; e a que custo.
Tirei dez nessa matéria - além de me divertir um bocado.

Naquele tempo era difícil enxergar opções. Hoje há um outro vácuo. Há quem ache que pode tudo, e desses há quem possa mesmo; e há quem não saiba o que deve poder, por excesso de opções, todas ruins.

"Nele há sua flora, sua fauna e, no meio, o abismo. Nenhum ecossistema saudável. Nenhum equilíbrio.
Não faz sentido. É claro que não. No dia em que fosse coerente não precisaria de adjuvantes químicos."
(Francisco se pensando em A feia noite)
"O encontro marcado", de Fernando Sabino

Meu pai, mineiro, cedo me providenciou alguns livros de crônicas do Fernando Sabino. Atirei-os a um canto e recusei-me a lê-los, porque julguei-os "chatos"; já mais velha, peguei-os por acaso e adorei. Não tinha graça antes porque eu não entendia as piadas. Assim, aprendi com Sabino que algumas leituras pedem amadurecimento.
Quando resolvi embarcar neste "O encontro marcado", procurei me apresentar o mais leve possível. Porém, não foi possível me livrar do peso da leitura das crônicas e da minha simpatia pelo escritor; no outro prato da balança, porém, havia seu mal-explicado ostracismo e a pecha de "fazedor de biscoitos" - alguém que só consegue escrever em tamanho pequeno.
Sabino parece ter escrito baseado nas próprias experiências, como em muitas de suas crônicas. E algo que preocupa após algumas páginas é exatamente isto: a semelhança com o ritmo das crônicas. O leitor se pergunta se Sabino, habitual nadador de piscina, conseguirá atravessar o mar sem se afogar. Porém, esta dúvida acaba por se dissipar: o mote do livro é exatamente este:
"Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro."
O autor Sabino, talvez como na própria vida, fez da suposta limitação de suas crônicas o ingrediente de um romance sincero, problemático e que o próprio autor deve ter detestado pelo menos durante um segundo depois de publicado.
Sabino vai mais longe (ou mais fundo) com "O encontro marcado" do que em suas crônicas. As emoções são mais perturbadoras e densas; os conflitos, mais expostos. Sem a obrigação de ser “engraçadinho” nem limite de espaço, ele produz altercações geniais. Aliás, o diálogo de Sabino é merecidamente usado e abusado: são páginas e páginas cheias de travessões à esquerda. Com isso, muito é deixado à interpretação do leitor - ótima qualidade em tempos de best-sellers que nada deixam à imaginação. Porém, há um pouco de falta de confiança de Sabino em si, ou no seu leitor; ou talvez, tenha caído na tentação de forçar uma interpretação. Às vezes a frase é cortada por uma explicação tendenciosa, como que a dizer: "olha aqui, Eduardo tem razão; esta pessoa se aproveitou dele/está contra ele, que está apenas se defendendo". Isto não é nada bom.
É notável a condução, o ziguezague dos assuntos. O romance está muito bem-amarrado. Todas as subtramas são consistentes, mas o melhor exemplo é o "caso da meretriz". Funciona muito bem; como se trata de um romance inspirado em fatos reais, a escolha da supressão ou não de fatos "triviais" é crucial. A narrativa deste caso aparentemente trivial durante a viagem ao Rio causa estranhamento no leitor (assim como o acontecimento real deve ter parecido a Sabino), porém seu reaparecimento contínuo na história causa uma verdadeira perturbação. É kafkiano; traz a idéia do "plano divino"; a dor da injustiça; um fantasma do passado - quem não tem os seus? - e muito mais.
É preciso falar um pouco sobre a "atualidade" do livro - se é que podemos chamar assim. O problema: é difícil enxergar o cenário do romance, o Brasil de ontem. A vida de Eduardo Marciano “termina” nos anos 50; hoje muitos já não nasceram sob a ditadura, ou pelo menos num tempo onde não se sentia seu peso. O Brasil antigo, empoeirado, causa sim aos jovens de hoje um certo asco; numa espécie de amnésia neurótica coletiva, fingimos que sempre estivemos brandindo celulares prateados, Honda Civics e presidentes de esquerda; mas o país não é só esse. O futuro não chegou, não. Ainda não saímos da roça. Um fio de Ariadne, o livro não titubeia em nos retraçar o caminho pelo qual viemos parar aqui; e a que custo.
Parece não ter sido a intenção, mas “O encontro marcado” é como uma luz trêmula a iluminar o passado do país; sua infância e adolescência se assemelham com aquelas descritas por José Mauro de Vasconcelos em “Meu pé de laranja-lima” e suas continuações (“Vamos aquecer o sol” e “Doidão”), inclusive na angústia. Só que, enquanto Vasconcelos enveredou por uma adolescência mais travessa, Marciano-Sabino escolheu a angústia literária.
E aqui, uma talvez inútil elucubração: a página 68 lembra o 11 de setembro. O significado do terrorismo como os hodiernos o presenciaram, dissecado numa conversa/ troca de provocações entre três jovens na década de trinta. Realmente era inevitável o aconteceu.
Já como história universal, romance de formação e coisa e tal, é apenas razoável. Impressionante, mas razoável. Nem tudo o que impressiona é necessariamente genial - vide os filmes de Ken Park.
Mas é preciso aquiescer: o livro tem momentos geniais. A crítica tem de ser justa ou pelo menos tentar; não é admissível se apoiar em velhos clichês. Aos que acusam Fernando Sabino de mero “fazedor de biscoitos”: ele fez mesmo um biscoito. Um biscoitão, do tamanho de uma pirâmide. Eu vos acuso de falta de apetite. Aliás, falta de apetite não; de gula. Vocês não são mais crianças; não acham a menor graça na procura eterna, e isso, se não é defeito, ao menos não dá vontade de ser amigo de vocês.

(quando digo que eu seria uma crítica literária mazinha, é isto o que quero dizer)
(crítica feita para a matéria Jornalismo Literário em 2003 ou 2004, quem se lembra?)

7.10.06

been there, done that

Convenções de anime: formando o artista performático e o fetichista de amanhã.

O pior de conferir muitas manifestações culturais díspares em datas próximas (ópera, filme experimental do Daft Punk, concurso de cosplay, Philip K. Dick, Fernando Sabino) é que você começa a ver conexões em tudo. Especialmente se você tem propensão a teórico de conspirações.
Fui ver A flauta mágica de Mozart. É uma batalha do dia conta a noite. O dia ganha, mas a noite é muito mais aplaudida.

5.10.06

Bar. Agora só vejo lançamento de livro em bar. Alguns têm a ver, como a Coleção Devassa, mas outros não, como o meu.
As livrarias têm charme, mas também o problema de ter que servir bebida num local onde a circulação é difícil. E quando algo é derramado, é nos livros.
Mas não gosto de bar também... a não ser um e outro. Os da praça Varnhagen, por exemplo. Os da ZN são mais legais, inclusive no preço.
Gosto de boîte, caixinhas com luz estroboscópica, barulho e escuro. A feia noite veio daí, em boa parte. Mas tente ler um livro numa boîte.

4.10.06

O chato de ser escritor é que você tem que descobrir a vocação duas vezes. Uma é a de escritor; a outra é a coisa que vai te sustentar mesmo.
Meu plano de subsistência incluiu fazer curso de tradução (fiz), estágio em uma empresa de tradução (consegui) e depois numa editora (conseguindo atualmente). Deste ponto, deixo a vida me levar: trabalharei numa editora, ou em casa traduzindo tradução técnica, ou tradução literária, ou legendagem de filmes, ou crítica literária, ou, ainda, uma acadêmica meio pancada. Mas veja como as palavras sempre estão no meio.

3.10.06


Pronto.
Caso queira ajudar a divulgar o lançamento, pode salvar este convite e colá-lo em seu blog, mandá-lo por email, colá-lo em bancos de praça, tudo isso.

2.10.06

Muitos dos filmes que vi no Festival do Rio 2006 envolvem árvores e morte.
A fonte da vida: um médico e sua mulher morrendo de câncer, ele pesquisa a árvore que pode salvá-la. Paralelamente, no futuro, um homem tenta revitalizar a mesma árvore, que está morrendo.
Les filles du botaniste: moças executadas na China pelo "crime do homossexualismo" têm suas cinzas enterradas juntas sob uma árvore.
El laberinto del fauno: no meio da guerra civil espanhola (= morte), uma menina recebe tarefas mágicas de um fauno. Uma delas é ressuscitar uma árvore que está morrendo.

Em Electroma, o filme do Daft Punk, não há quase árvores, no máximo arbustos. Afinal, são dois robôs com a aspiração de serem humanos. O resultado que obtêm é grotesco, e acabam sendo perseguidos por toda uma cidade de robôs-aldeões-zangados. É uma inversão óóóbvia do fato do Daft Punk se vestir de robô e todos os outros humanos acharem estranho (eu não só dou o maior apoio, como também me acho uma andróide e criei uma outra garota-andróide, a Maria Luiza do A feia noite. Aliás, vide o post abaixo.).
Em suma, como disse o JP, dos filmes chatos que já vi no Festival, este foi o melhor.
A trilha sonora de Electroma é perfeita. Linda Perhacs, Brian Eno e Chopin! I like Chopin.
Só faltou uma música que caberia muito bem: Wire - Small electric piece
E uma que é boa, embora não se encaixe no filme: Vector Lovers - Suicide Android

29.9.06

A internet é maravilhosa. Já agradeceu ao Google hoje?
história desse livro

Acho que agora posso contar o sonho que tive aos 12 anos e que me inspirou "A feia noite".

Foi um sonho de cores muito estranhas. Eu não era eu mesma, era outra. Era uma cidade opaca, que nunca saía das 11 horas da noite, uma cidade onde eu estava absolutamente sozinha e sem teto. As pessoas passavam em grupos coloridos, movimentos em câmera lenta, uma confusão risonha de rastros de arco-íris. Mas eu era cinza, negra. Eu espalhava negrume, não cor. E um homem se fascinava por mim. Este homem não deixava rastros de nenhuma cor e conseguia se mover muito mais rápido que os outros, na minha direção, quando me via. Acho que era o único que me via, apesar de eu estar sempre me mostrando – eu queria ser vista. Eu era uma coisa feia e as pessoas fingiam não me ver, como um fantasma. Mas o tempo funcionava diferente para mim. Eu sempre conseguia me afastar da frente dos olhos desse homem para a escuridão da noite. Eu não o queria, perdia ele de propósito.
Finalmente uma vinheta de abertura do Festival do Rio que presta. Pode-se vê-la aqui (com Windows Media Player), embora no cinema ela seja bem mais impactante. É uma versão um pouco diferente da apresentada nos cinemas, mas é ótima mesmo assim. Pelo menos é melhor do que aquela com um subator da Globo cruzando as sandálias de dedo na praia ensolarada.

28.9.06

Todas as minhas recaídas se concentram agora no início de outubro. Incrível.

26.9.06

Eu entendo os turistas que gostam de música brasileira ou que vêm assistir o carnaval. Dança, folia, suor - tudo isso é bem mais divertido se você tem um lugar organizado para o qual voltar depois. Um país civilizado, uma casa arrumada e limpa, um quarto com ar-condicionado.
No ano em que não fiquei no meu bunker de sempre, vi uma mulher fantasiada de Marge Simpson.

24.9.06

Quando ouvi falar que Thom Yorke tinha feito um disco solo... não dei a mínima. Afinal, eu mal gosto de Radiohead. Quer dizer, gosto apenas do Radiohead eletrônico, Kid A e Amnesiac, a partir dos quais entendi e apreciei algumas músicas não tão laptopizadas (ou "rock") do grupo.
Acontece que depois li que o "disco solo de Thom" tinha recebido o apelido de "Kid B", por ser continuação em espírito da experiência eletrônica do Radiohead, e tive que ouvi-lo. E quando ouvi me obcequei imediatamente por esta música aqui:

Black swan - Thom Yorke

O single foi outra faixa, acho, não importa: gostei desta. A voz do Thom não está tão tormentosa como sempre. Me lembrou mais Moby do que Radiohead - um cara razoavelmente estabelecido na vida, experiente, sábio, que serenamente te dá conselhos. Budismo, praticamente.
O jeito como ele diz fucked up como quem diz i love you é fantástico. Deve ser o sotaque inglês.
Fucked up é um dos adjetivos que aplico a Maria Luiza no livro. A frase é assim:

De um jeito completamente deturpado.

Deturpado era pra ser fucked up, mas troquei.
O mesmo acontece com "Os cabelos tosados (a cinco reais) num ar de noviça."; noviça deveria ser waif, percebe.
Já li meu próprio livro dezenas de vezes, e muitas não a trabalho. Estou viciada em lê-lo. Toda vez parece que é a primeira. Eu sei como acaba, eu sei o que escrevi. Eu não quero mais mudar nada, é uma obra acabada. É que quero rodar aquele programa de novo, ler aquelas linhas de código e sentir aquele tipo de emoção (if good, then cry); (metáfora orgânica agora:) nadar naquela piscina de novo, me sentir embrulhada na água fria. Gosto.

E hoje assisti A scanner darkly. Não é tão ruim quanto o "trailer de 24 minutos" da internet dá a entender. E Winona e Keanu bem dirigidos são passáveis.
É que A scanner darkly depende de ter se lido algum Philip K. Dick e de se deixar entrar na lógica esquizóidrogada dele. A estrutura narrativa do filme definitivamente não é hollywoodiana. É onírica. Então lembrei de Waking Life, que foi feito pelo mesmo diretor e é todo sonho, e entendi mais um pouco.
Black swan está na trilha de A scanner darkly, junto com outros Radioheads e Thoms.
Para fechar o ciclo, indico mais uma música Mobyesca:

Leave me alone - Ellen Allien & Apparat

22.9.06

Comprei dois livros da Ouro sobre Azul, que só edita Antonio Candido. Tese e antítese (personalidades divididas) e A educação pela noite - qualquer semelhança com A feia noite não é mera coincidência. Eu comprei deliberadamente os que falam do Romantismo e do grotesco.
Já estou lendo um, no metrô para o trabalho. Tendo Philip K. Dick, ficção-nacional e quadrinhos para ler, fui direto no ensaio. Acreditem, depois daquele material para a pós, isso é lazer. Estou tão encalacrada com conceitos que agora não vou conseguir ler ficção.
Ler Antonio Candido dá vontade de ser crítica literária. Acho que quando acabar esse livro vou ser uma escritora que é crítica frustrada.
Mentira, já sou.

21.9.06

Descobri que Hard candy vai estrear semana que vem com o título de Meninamá.com.
E este filme promete.
1966

Pesquisando a Cruzeiro de 1966, leio sobre a Guerrilha do Caparaó e entendo sobre o que deve ser o filme Caparaó neste Festival do Rio, com o que fiquei intrigada. Tinha ficado a repetir Caparaó, Caparaó, Caparaó como um mantra. Aliás, os iogues impostores visitaram o Rio em 1966 também.
Na aula de foto quiseram saber quem tinha visto o Blow-up do Antonioni. Nessas horas, se ninguém levanta a mão, fico com vergonha da minha geração (como quando perguntaram quem tinha lido ou assistido Macbeth e duas pessoas levantaram a mão) e acabo me acusando. Eu tinha ouvido a trilha, que é do Herbie Hancock. Quando saí, vi que estava tocando na aula de hidroginástica da piscina Groove is in the heart, que tem um sample da Bring down the birds, que é da trilha do Blow-up, que é de... 1966.

20.9.06

Safra fraca

Não sei o que houve neste Festival do Rio. Nada de Southland Tales (tudo bem que o cara foi remontar, mas...). Nada de Marie Antoinette. Nada de Hard Candy. Nada de terror oriental nem anime no Midnight Movies. Eu hein. Vou ver seis filmes, e está de bom tamanho.

15.9.06

Primavera dos Livros

I'm in, baby. Por dentro da organização (e desorganização) da Primavera dos Livros. O diabo é que isso faz você querer comprar uma penca de livros.
*A Altana e a Girafa têm livros da Indigo, Caixinha de madeira e Como casar com André Martins, respectivamente.
*A Estação Liberdade tem livros de autores japoneses traduzidos diretamente do idioma original.
*A Ouro sobre Azul se dedica a um único propósito nobre: reeditar a obra do crítico Antonio Candido.
*A Landy tem livros lindos com um conteúdo que não fica atrás: contos fantásticos, coletâneas de lendas tradicionais...
*A Azougue está lançando a Coleção Devassa, associada à marca de cerveja, com clássicos da literatura picante (como Cassandra Rios).
É no Jóquei Clube. A entrada é 3 reais, pela Tribuna A (um pouco depois da entrada do Jardim Botânico).

13.9.06

novo holdback

A capa do meu livro foi impressa errada. É só trocar. Mas talvez o lançamento seja adiado por uma semana, ou seja, depois das eleições. Outubro.
Google bless the net

Obrigada, obrigada, mil vezes obrigada! O livro dos biscoitos com tinta verde é Grimble, de Clement Freud. Mistério solucionado graças ao Tom B, que ainda me indicou um site onde posso relê-lo.

12.9.06

Ontem saiu uma matéria em O Globo sobre O QUE É SER CARIOCA.
80% das personalidades entrevistadas citou programas em Ipanema, Leblon, Jardim Botânico e adjacências. Especialmente programas que envolvem consumir (bebida, comida, moda, "lugares").
Menção honrosa ao Frejat, que foi o mais honesto e criativo.
Então, ninguém me perguntou, mas vou dizer mesmo assim:
Viver no Rio é, principalmente, esquivar-se.
*Esquivar-se do sol.
*Esquivar-se da sujeira.
*Esquivar-se da cordialidade impertinente dos cariocas.
*Esquivar-se dos bandidos.
Descobri por método empírico que a melhor forma de esquivar-se de tudo isso de uma vez é viver entre 8 da noite e 7 da manhã. Há poucos lugares para sair e comer, o que é inconveniente; mas não há sol, os bandidos estão todos dormindo e a sujeira já foi ou está sendo recolhida e ainda não foi reposta. De noite, por pensarem que é "mais perigoso", as pessoas ficam mais ariscas, ou seja, menos cordiais - o que acho ótimo.
Por fim, é esquivar-se de gente chata que acha que sol, sujeira, chatos e bandidos são justamente o que faz do Rio o Rio, e quem não pensa assim deve ser hostilizado. Acho que o Rio só aceita bem diferenças metidas a transgressoras mas que não passam de fachada; coisas como eu, o Rio quer muito expelir (o lema é "os incomodados que se retirem"). E eu bato o pé para ficar, algo Ulisses. O Rio faz de mim o que sou: uma do contra. Talvez se eu morasse na Suécia eu fosse uma acomodada ou uma suicida. Aqui eu me mexo, estou sempre esperta.

Além disso, tem esse troço de balneário sensual que não suporto. A ginga, o samba, o chaveco, o chopinho, o suor, o botequim (argh! como odeio essa palavra completamente! sua pronúncia local butchikim, e seu significado!). Odeio a forma dessa cidade exercer sua sensualidade, ou melhor, sua "sensorialidade". Ninguém tem um paladar delicado; o negócio aqui é arrotar na mesa. Uns porcos.
Tem gente que também não gosta disso e começou a consumir vinhos em locais fechados e refrigerados e a comprar Livros de Arte para a mesinha de centro. As mulheres começaram a usar muita maquiagem todos os dias, óculos gucci e calças risca-de-giz, numa volúpia sex-and-the-city. Páram seus Audis, Hondas e Ranaults em fila dupla ou local proibido sem dar a mínima - dizem "eu mereço" e podem comprar o guarda depois. Estes são os ricos cosmopolitan, é evidente. E conseguem me agradar menos que os porcos.

Devo acrescentar, ainda, que a "politeness" carioca é doentia. Quando alguém fala que "te liga", não vai ligar. Se alguém te pede um beijo, não é de "bom-tom" dispensar a pessoa dizendo "não, não gostei de você" - isto seria tão insólito que a pessoa o interpretaria de alguma forma bizarra e continuaria insistindo. Isto é "cordialidade". Oficialmente. Prefiro ir direto ao assunto. E ainda taco uma ironia junto, se a pessoa não se manca de primeira. Desnecessário dizer que devido a isto tem gente que me odeia. Eu me importava com isto, me desculpava - mas quem vale a pena sempre acaba compreendendo, então parei.

Bakhtin não está muito certo da cabeça quando diz que o riso é pura libertação. Aqui o riso é mais cruel que qualquer outra coisa. Quer te achatar e te colocar no seu devido lugar. Eu rio bastante, ironizo, provoco, mas não como os cariocas.

É torturante, mas sei que em outros lugares haveria outros defeitos. E o pior, ainda acho, é poder ficar confortável e quietinha para todo o sempre numa cidade-útero com um sorriso nos lábios. Gosto de visitar as cidades perfeitas de vez em quando, só para relaxar, mas não para morar.
O episódio de Chapolin Colorado em que ele convence a agência espacial a deixar o astronauta explorar o cosmos contando a história de Cristóvão Colombo parece-se imensamente com The Fountain.
Pelo amor de Deus, it's driving me crazy: alguém se lembra de um livro infantil com a capa cor-de-vinho, com um personagem principal de onze anos chamado Gilbert (acho)? Os pais dele viajavam, deixando-lhe biscoitos com o fabuloso aviso escrito em tinta verde:
"Filho, não coma estes biscoitos. Tinta verde pode lhe fazer mal."
Era de um autor inglês, é claro. Foi o meu primeiro contato com o humor inglês. Li na biblioteca da escola, faltando o final, pois a encadernação tinha descolado. A escola fechou e agora não encontro o nome do tal livro no A9 da Amazon nem em lugar nenhum. Maldita entropia.

1.9.06

tortoise on my head

Tortoise me deixou a fim de ver Herbie Hancock no Tim Festival. A Tim está em tudo, aliás (não com tudo, o que é diferente). Tem um "Espaço Tim" no Circo Voador também. Mobile is the new tobacco.
Eles têm alguma relação com a Antigüidade greco-romana. O dramaturgo Ésquilo, dizem, morreu de uma tartarugada na cabeça - uma águia teria confundido a careca do cara com uma pedra, seu quebra-nozes de sempre. E a melhor música que tocaram, na minha opinião, foi Seneca - sim, o filósofo estóico.
Isso não vem muito ao caso, mas gostei dessa citação dele:

"Demasiada abundância de livros é fonte de dispersão; assim, como não poderás ler tudo quanto possuis, contenta-te em possuir apenas o que possas ler. Dirás tu: "Mas sinto vontade de folhear ora este livro, ora aquele". Provar muita coisa é sintoma de estômago embotado; quando são muitos e variados os pratos, só fazem mal em vez de alimentar. Lê, portanto, constantemente autores de confiança e quando sentires vontade de passar a outros, regressa aos primeiros"

Bem que agora podiam trazer Boards of Canada para o Brasil. Eu iria a qualquer outro estado para vê-los. Mesmo que não houvesse muito o que fazer num show deles. Podiam convidá-los para uma tenda ambient de um destes festivais eletrônicos. But... do they ever tour?
Tem uma série de anúncios engraçadíssima da Colgate na Cruzeiro de 1959. É uma série em quadrinhos naquele traço clássico do pós-guerra que todos andam colocando em suas capas de livro agora. Os diálogos são mais ou menos assim:

Título: BRIGANDO DE NOVO!
QUADRINHO 1
(menino todo ferrado saindo da escola com a irmã mais velha)
- Mas Paulinho, por que brigou de novo?
QUADRINHO 2
- Não me contenho! Todos dizem que o Carlos te deixou por causa do seu bafo "quente"!
(a irmã com as mãos sobre a boca, horrorizada)
QUADRINHO 3
(a irmã na cadeira do dentista, que segura um tubo de Colgate, explicando que é a "solução para a saúde bucal!")
QUADRINHO 4
(irmã maior e Carlos sorrindo e se olhando)
- Agora sim... o namoro está garantido!

E os anúncios dos jornais da década de 40 mencionam estranhos problemas, dos quais só posso inferir o significado:
Neurasthenia sexual (impotência)
Congestão cerebral (AVC)
Intestino preguiçoso (esse ficou. e felizmente não sei o que quer dizer.)
o jogo do espelho

Essa geração nova está trocando o Brasil pelo Japão.
Dou o maior apoio.
Meu primo está vendo cotações de passagens aéreas para o Japão, enquanto minha meia-irmã, que por sinal adorou o Japonês em quadrinhos que ganhou de aniversário (adivinhe de quem?), desafia os pais e responsáveis com "vou fazer faculdade no Japão".
Gostamos de internet; isso nos faz entrar no fuso horário japonês (a ligação telefônica é mais barata após a meia-noite). No carnaval, vi trezentas menininhas de cabelos coloridos com anilina, a maioria de vermelhão ou rosa-pink. Tatuagem de kanji já é moda há algum tempo, mas a diferença é que agora você pode perguntar aos amigos o que o símbolo realmente significa antes de se tatuar. Repare: o para para é o anti-funk. Funk se dança com a bunda, para para com angulosos movimentos braçais.
Aqui se escuta desde pequeno que o Japão fica do outro lado do mundo. Acho que é de um romantismo quase político abraçar assim a cultura justamente do povo oposto ao seu. É a crítica mais ácida que já vi ao modo de vida brasileiro.
Essa geração não fugiu de casa; viraram straight edges numa casa de pais hippies...
Ah, meu livro já está em gráfica.
Logo digo a data de lançamento.
Se em algum lugar deste planeta, em algum momento, um DJ ousou fazer um mash-up de Transphormer (Alter Ego) e Newman (Vitalic), eu adoraria ouvir. É como os livros: eu escrevo o que gostaria de ler e, se soubesse mixar, eu faria a música que gostaria de ouvir (e dançar).

31.8.06

Hunter

Agora é Kipling quem escreve meus sonhos. Sonhei que uma cobra, um leão branco e um elefante resolvem "não" se comer e viverem em sociedade. Eu sou os três em algum momento. De repente, chega outro leão - mais jovem que o branco - e começa a morder o elefante. Infelizmente nessa hora sou o elefante. Meio mastigado, peço a ajuda do outro leão, que está fora - hoje é a vez dele de sair para caçar. Eu, o elefante, acabo enxotando o leão jovem com ajuda da cobra; olho pras próprias partes mastigadas e penso: "que desagradável".
Gosto da Wikipedia porque não é uma Britannica. Até a sabedoria comum está catalogada lá, just in case (ou porque há espaço). O artigo sobre cabelos, por exemplo.
"Human beings have many variations in hair color and hair texture."
"People also change their hair color to colors that do not occur naturally."
"Many people use hair dye to disguise the amount of gray in their hair."
"...most people of Asian descent have very straight black hair, while Africans tend to have very curly hair."
É bom para quando você está escrevendo e quer enxergar de novo o óbvio. É como uma enciclopédia para etês.

30.8.06

No momento estamos sem palavras com K...

Tenho dado explicações díspares quando me perguntam a história do livro... todas estão certas. Abaixo, vão algumas.

Kafkiana: A mulher dele abandona ele. Ele acorda com uma menina em casa sem saber de onde ela veio.

Kawaii: É uma menina que resolve trocar o Brasil pelo Japão sem sair do Brasil.

Kantiana: É contra uma cidade excessivamente voltada para o belo.

Konquistador (saiu um padrão, agora devo mantê-lo): É sobre as dores do crescimento. Sem querer acabou sendo sobre política também.
Primos Pop

Meu priminho 1: Gabriel, vulgo "Seu Flor", fazendo música melhor do que a que toca nas MPB-FMs da vida.
Meu priminho 2: César Cardadeiro, Ferris Bueller da vida real e trabalhador da Malhação.

28.8.06

Final de agosto é uma mistura intricada de preto e branco... áreas de cinza, mas aproximando (flying forth) com o Google Earth, vemos minipretos e minibrancos que não se homogeneízam, como um microcalçadão. Eu realmente gosto-e-desgosto.

27.8.06

Eu também escutava Outhouse (do mesmo Nathan Fake). Outhouse me transportava (mentalmente) para uma rua tijucana interna, esquecida, ainda com casas antigas e um tanto sombrias, no final de uma tarde nublada (dull) de julho, adivinhando assombrações por trás daquelas trepadeiras folhosas. A mesma sensação que tenho ao me embrenhar pela General Glicério, nas Laranjeiras, mas ainda mais remota. A rua por que ninguém passa. É uma sensação de passado, mas não de passado nostálgico. Uma sensação de passado presente. O avanço no espaço que fosse um recuo no tempo. Como se eu estivesse entrando num local onde a divisória entre sonho e realidade não é tão clara. E eu estivesse prestes a, prestes a... descobrir... algo. É uma espécie de paranóia clariceana e estou certa de que deve haver um nome de catálogo para esta doença. De qualquer modo é incrível como músicas e lugares podem ser tão evocativos.
Era um dia tenebroso que nascia - naquela época em que eu não trabalhava e mal estudava, e dormia às quatro da tarde, não tinha problema. Era um dia tenebroso porque eu não conseguia mais me lembrar - eu não conseguia mais precisar se era um dia em que as pessoas trabalhavam ou se era um feriado no meio da semana ou um sábado ou domingo. Ou se eu estava de férias ou se alguns dias no meio da semana não tinham aula, então eram extras domingos. Eu podia ser a garota na bicicleta. Havia dia e noite, e eu gostava da noite. Ficava no computador de noite. Então me arrumava para me sentir um pouco gelada e colocava o ipod no bolso e a bolsa na cestinha, porque esquecera que havia assaltos. Não tinha ninguém na rua. Carros ou pessoas. Eu fazia meu cérebro crescer: pedalava pela cidade antes do sol nascer, ouvindo The sky was pink remixada. Vê, estou te alimentando, dizia-me. Alimentando a sua loucura mansamente. Conferia o relógio de relance, ainda não era hora. Queria que o céu ficasse rosa. E queria rilhar os dentes com a adrenalina. Passeava sem rumo, ladeiras abaixo, ladeiras acima, mão e contramão, transversais e paralelas. Eu entoava: eu sou assim mesmo, eu sou assim mesmo. Por isso digo que techno music fried my little brains. Se ela (e ipods) não existissem, eu ouviria sinfonias e desmaiaria na Sala Cecília Meireles. Eu sou muito musical. E também muito cromática. Estranhamente, isso serve para escrever livros. Quando tento fazer música ou fazer imagens, falta pelo menos habilidade, porque sai sempre medíocre.

22.8.06

Auto-suficientes em falta de noção

Outro dia o JP me contou que viu uma dona dirigindo, sozinha, um utilitário com um adesivo de Che Guevara no pára-choque.
Expliquei para ele que a dona do "utilitário revolucionário" deve achar que o justo é todo mundo ter tanto quanto ela. Portanto, ela advoga pela "justiça social". Acontece que, se tivesse uma revolución aqui hoje e distribuíssem o PIB em partes equânimes, e se desse para todo mundo ter um carro (acho difícil), ele não seria melhor que um Fusca 82.
Tenho a teoria que o classe-média-alta é tão obcecado por pobre porque não o suporta. Então separa o pobre de si com esse rótulo ("pobres", ou "excluídos", ou "socialmente desfavorecidos") e fica vendo como a vida dele é diferente da sua, quando seria melhor que fosse igual. Quer dizer: "eu sou foda porque tenho; se você não tem, (é um merda e) deve ser ajudado".
Pra mim é tudo gente, com todas as boas e más características que isso implica.
Sei que as empregadas domésticas acham a classe média um bando de mimados. Quer dizer: três refeições por dia? piso reluzente? polimento de pratarias? Quando se trata de algo que a empregada doméstica também poderia fazer na casa dela, como engomar as camisas ou levar as crianças na escola, ela está fazendo e pensando: "Não faço isso nem pra mim". Quando é algo que de jeito nenhum a empregada faria na casa dela, do tipo "polir as pratarias", ela pensa: "Se eu tivesse isso aqui já estava feliz".
A empregada não consegue ver que saneamento básico é bom, que fazer uma refeição balanceada em vez de biscoito (Plano Real) é bom; a patroa não consegue ver que não poder bancar um Omo Multi-Ação não é a maior tragédia da humanidade, que não poder torrar 170 reais numa blusinha perfeita quando se está tristinha não é uma tragédia.
É isso que me irrita: o fato de todo mundo colocar paredes no seu quintal e denominar aquilo de "o seu mundinho", e o de cada um achar que o que não pertence ao seu mundinho é nojento.

19.8.06

Ainda sob o choque do Horário Eleitoral Gratuito de ontem, escrevo algumas dicas para votar bem.

Ele tem proposta, mas é boa?
Pois é, agora descobriram que "candidato tem que ter proposta". Então eles fazem "propostas". Só que todas populistas e assistencialistas: "diminuir a carga tributária", "aumentar os benefícios Bolsa-Escola e Bolsa-Família". Coisas que te beneficiam diretamente e momentaneamente, mas dificultam que o país ande para a frente. Enfim, pense bem sobre o que dizem as propostas.

Método de propaganda
1. Outdoors e galhardetes foram proibidos. Se chover agora inunda todas as ruas, pois os bueiros estão todos entupidos de folhetos jogados no chão "discretamente".
O que pode é propaganda espontânea, aquela que o eleitor faz pelo seu candidato. Você pode ficar em um cruzamento e levantar uma bandeira com o nome dele. Então alguns candidatos contratam pessoas pobres para ficar segurando a bandeira deles em cruzamentos movimentados. Disso se deduz que estes candidatos têm muito dinheiro e escassos partidários "reais", que segurariam a sua bandeira de bom grado. Ou seja, roubou e não fez.
2. Se o candidato em campanha dá festas, feijoadas, bailes funk, ou tem uma música de campanha muito chamativa e dançante, ele está tentando te ganhar do jeito errado. O que impede que ele tente ganhar dinheiro de um jeito errado? Seja brasileiro: vá à festa e não vote nele.

Horário eleitoral gratuito
Por causa dos mensalões, sanguessugas e saúvas, tem candidato usando ética como plataforma de campanha. Ética é nada mais que o básico, e não deveria ser prometida! O cara tem que prometer "atos", não "comportamentos"!

Recomendo também esse texto sobre propaganda eleitoral, no Duvido.
Os dois posts abaixo foram escritos há um tempo atrás. Agora é que senti do que falam: da possibilidade de não ter que se fazer análises e previsões, se elas mais atrapalharem que ajudarem. Da possibilidade de não ser mecanicista e ainda assim científico. Das "razões que a razão desconhece".
Chatice

Hoje ser chato é algo intangível. Milhares de tribos se formaram com definições díspares e antagônicas de chatice, inclusive dizendo que a chatice não é chata e deve ser deliberadamente exercida. A chatice pode ser redefinida hoje, portanto, como aquilo que você e as pessoas parecidas com você não suportam por motivos inconscientes ou arracionais, mas procuram portar como um conceito. Este conceito é carregado como uma etiquetadora de preços, rotulando as testas de gente recém-apresentada; mas esta etiquetadora também é modificável por esta gente recém-apresentada, especialmente se esta gente se configura como ameaça, e geralmente por um motivo diferente de chatice.
Coherence is overrated

Por mostrar coerência em suas idéias, um pensador não estaria errado. Então todos que tentam defender suas idéias se esforçam em demonstrar a famosa coerência: primeiro constroem um sistema filosófico/idiossincrático inteiro e depois espadanam dentro dele, pimpões. Pouco a pouco, outras pessoas podem vir partilhar de sua piscininha, enquanto outros dirão: mas é uma piscina! Você nunca nada fora dela! E o mar, os rios, etc. E receberão a resposta de que a minha piscininha é só mais uma opção para se nadar, não impede as outras de freqüentarem mares, rios etc. E os outros dirão que a questão não é essa, a questão é que a água deveria ser livre, e ouviriam: porque deveria e assim por diante. A pós-modernidade é assim, chata.
Coisas que um intelectual deveria ser:

Um prestidigitador
Um alvo móvel
Um agente duplo

Coisas que ele não deveria ser:

Um astrólogo
Um coerente
Um escritor de ficção de antecipação

"Olha, é assim que vai ser, como eu estou dizendo. -- Viva, acertei, fui parar no Fantástico! (ou na Sorbonne)."

16.8.06

"Meu ponto de vista é um só: a sinceridade. Eu quero saber o que acontece realmente." Cético? Ele concorda.
- O ceticismo é altamente criativo. Na medida em que você não acredita fundamentalmente nas coisas, você é levado a lutar mais, ao passo que se você tem o seu partidozinho e acha que ele vai resolver tudo, então não tem mais porque lutar. A proposta de esquerda, teoricamente, é sempre melhor. Só que não é realizada na prática. E isso porque os homens, no fundo, são de direita.

Millôr - Revista Leia, março de 1986

15.8.06

Eu tenho um amigo que leu muito Deleuze. Primeiro, ele deu todas as suas roupas fluorescentes-clubber carinhosamente angariadas para os mendigos de sua esquina. Segundo ele, os mendigos ficaram com um visual ótimo. A seguir, foi sua câmera mini-dv (ele cursava Cinema), depois o celular, depois a cama, depois o computador e por fim o telefone fixo. No ponto em que eu o deixei, ele tinha uma máquina de escrever, uma rede e um apartamento, do qual esqueci o número. Acho que só me resta esperar ele passar aqui.

14.8.06

Distopia

O crime perfeito não precisa ser aquele que não é descoberto; basta ser aquele que não pode ser previsto. Seu perpetrante tem um histórico impecável e nenhum motivo para cometê-lo, nem mesmo a própria comichão de "cometer o.crime perfeito".
Vou descartar aqui termos como história, evolução, progresso, que não são do que estou precisando. Mas a "caminhada do homem pelo tempo" tem sido feita sempre na oscilação entre auto-conservação e auto-destruição.
Tem essa concepção agora de biopoder, que é o poder "movido a nós" (lembre-se dos agentes da Matrix, que incorporam em pessoas muito imersas no sistema.)
Levar uma vida, digamos, comodista, sem acreditar em causas, e virar as costas ao sistema quando ele mais precisasse de nós seria um crime perfeito. Porque seria suicídio. Ilógico. Caótico. Afinal, ao cometer esse crime perfeito nós perderíamos toda a nossa comodidade arduamente amealhada. E seríamos infelizes e mortos.
Se conseguirmos nos adestrar a sermos omissos o suficiente, isso deve acontecer.

(Comendo Debord e arrotando Deleuze. Eu não tive um panorama claro de Deleuze até ler o parágrafo 78 de "A sociedade do espetáculo", o qual estou lendo obrigada e achando um tanto preso a conceitos ultrapassados e inúteis. Da contestação de lê-lo saem palavras-chaves de tese como "caos", "não-lógica" e "ação-e-reação". Sabendo eu que isso tinha a ver com o Deleuze, googlei e topei com esse texto aqui que me fez sentir atrasada trinta anos, mas tudo bem. Ah, e ilogicamente, também pensei muito em Bertrand Russell.)

13.8.06

Gahk. Gahk!
Estou fazendo uma série de ruídos aqui, e dançando em volta do meu totem.

9.8.06

Ah, sim: hoje eu li uma manchete velha sobre a estréia do He-man. Título: herói educativo. Sim, He-man, herói educativo. Só podem estar se referindo àquela mensagenzinha do final, porque os vinte minutos que vieram antes eram bem deseducativos.
Ah, o coveiro que enterrou o Tancredo tentou leiloar a pá, e morreu um bebê Tancredo batizado em homenagem ao ex-quase-futuro presidente.
Não sei porque a África entrou na moda assim de repente. Aliás, não só a África, mas o Oriente e o Oriente Médio. Será que é porque os migrantes das ex-colônias imperialistas, agora já estabelecidos em países desenvolvidos, querem consumir literatura "nativa"? Não seeei. Sei que coisas como O outro pé da sereia (Mia Couto) e Feras de lugar nenhum (Uzodinma Iweala, sim, o nome é esse mesmo) têm merecido espaço em todos os espaços e, creio eu mesmo sem lê-los, não desmerecidamente. Esse último (leiam só a sinopse) é de uma ramificação diferente, um pouco folclórico-mágica.
Deste mesmo ramo, o que tive vontade de ler, e li, foi o The icarus girl, de Helen Oyeyemi. Gostei da capa e peguei na livraria. Aí gostei da sinopse: pronto. O preço da edição importada era pornográfico. Decidi esperar sair aqui.
Daí a duas semanas, vejo ele na vitrine: A menina ícaro. Depois de exultar por não terem traduzido o título (valha-me) como A garota ícaro, eu o comprei.
Acho que eu estava esperando demais, porque não gostei tanto. Gostei de alguns detalhes. Gostei da autora não ter explicado tanto tudo. Não entendi porque menina ícaro no final (aí parei para pensar: é que ela "voou perto demais do sol" e "se queimou"). A tradução ficou boa em alguns pontos, mas ruim em outros. Devem ter dividido entre vários tradutores sem uniformizar o estilo no final. É de uma editora nova, a Intrínseca. Sim, como produtora editorial eu reparei que o projeto gráfico foi suuuuper ousado e impresso na GeoGráfica (os trocadilhos!). O que não entendo é porque as fotos de capa brasileiras desses livros místico-africanos têm que ter crianças negras tristonhas e sombrias na capa. Certo, as histórias são tristonhas e sombrias, mas eu não colocaria um garotinho branco de cara fechada perdido nas trevas na capa de um David Copperfield, por exemplo. Enfim, trocando os capistas e tradutores a Intrínseca vai bem.

8.8.06

Isto mereceu um post separado.
Vi o Fernando Henrique Cardoso, em 87 ou 88, criticando o governo Sarney com base em Maquiavel. Se eu tivesse lido isso e pudesse votar em 1994 (eu tinha 11 anos), votaria no FHC para presidente. Afinal, quem conhece Maquiavel assim a fundo acaba aplicando o mesmo quando tem oportunidade. E isso é bom, pois do que precis(áv)amos e(ra) de uma pitada de pé no chão, de concreto. Brasília é concreto.

O moralista angustia-se porque a política não se enquadra nos seus valores morais individuais e termina por renunciar à própria ação política. Dessa forma, contribui objetivamente para que prevaleça outra política.