Auto-suficientes em falta de noção
Outro dia o JP me contou que viu uma dona dirigindo, sozinha, um utilitário com um adesivo de Che Guevara no pára-choque.
Expliquei para ele que a dona do "utilitário revolucionário" deve achar que o justo é todo mundo ter tanto quanto ela. Portanto, ela advoga pela "justiça social". Acontece que, se tivesse uma revolución aqui hoje e distribuíssem o PIB em partes equânimes, e se desse para todo mundo ter um carro (acho difícil), ele não seria melhor que um Fusca 82.
Tenho a teoria que o classe-média-alta é tão obcecado por pobre porque não o suporta. Então separa o pobre de si com esse rótulo ("pobres", ou "excluídos", ou "socialmente desfavorecidos") e fica vendo como a vida dele é diferente da sua, quando seria melhor que fosse igual. Quer dizer: "eu sou foda porque tenho; se você não tem, (é um merda e) deve ser ajudado".
Pra mim é tudo gente, com todas as boas e más características que isso implica.
Sei que as empregadas domésticas acham a classe média um bando de mimados. Quer dizer: três refeições por dia? piso reluzente? polimento de pratarias? Quando se trata de algo que a empregada doméstica também poderia fazer na casa dela, como engomar as camisas ou levar as crianças na escola, ela está fazendo e pensando: "Não faço isso nem pra mim". Quando é algo que de jeito nenhum a empregada faria na casa dela, do tipo "polir as pratarias", ela pensa: "Se eu tivesse isso aqui já estava feliz".
A empregada não consegue ver que saneamento básico é bom, que fazer uma refeição balanceada em vez de biscoito (Plano Real) é bom; a patroa não consegue ver que não poder bancar um Omo Multi-Ação não é a maior tragédia da humanidade, que não poder torrar 170 reais numa blusinha perfeita quando se está tristinha não é uma tragédia.
É isso que me irrita: o fato de todo mundo colocar paredes no seu quintal e denominar aquilo de "o seu mundinho", e o de cada um achar que o que não pertence ao seu mundinho é nojento.