27.8.06

Era um dia tenebroso que nascia - naquela época em que eu não trabalhava e mal estudava, e dormia às quatro da tarde, não tinha problema. Era um dia tenebroso porque eu não conseguia mais me lembrar - eu não conseguia mais precisar se era um dia em que as pessoas trabalhavam ou se era um feriado no meio da semana ou um sábado ou domingo. Ou se eu estava de férias ou se alguns dias no meio da semana não tinham aula, então eram extras domingos. Eu podia ser a garota na bicicleta. Havia dia e noite, e eu gostava da noite. Ficava no computador de noite. Então me arrumava para me sentir um pouco gelada e colocava o ipod no bolso e a bolsa na cestinha, porque esquecera que havia assaltos. Não tinha ninguém na rua. Carros ou pessoas. Eu fazia meu cérebro crescer: pedalava pela cidade antes do sol nascer, ouvindo The sky was pink remixada. Vê, estou te alimentando, dizia-me. Alimentando a sua loucura mansamente. Conferia o relógio de relance, ainda não era hora. Queria que o céu ficasse rosa. E queria rilhar os dentes com a adrenalina. Passeava sem rumo, ladeiras abaixo, ladeiras acima, mão e contramão, transversais e paralelas. Eu entoava: eu sou assim mesmo, eu sou assim mesmo. Por isso digo que techno music fried my little brains. Se ela (e ipods) não existissem, eu ouviria sinfonias e desmaiaria na Sala Cecília Meireles. Eu sou muito musical. E também muito cromática. Estranhamente, isso serve para escrever livros. Quando tento fazer música ou fazer imagens, falta pelo menos habilidade, porque sai sempre medíocre.