30.4.09

tudo bem

Às vezes, na minha adolescência, eu dançava com tal abandono que os outros viam me perguntar se estava tudo bem – “tudo bem” como em “não está prestes a ter overdose?”. Não, não eram drogas. Tudo o que eu fazia era não ter noção e freqüentar uma certa igreja evangélica conhecida por pedir a seus frequentadores para louvar ou expulsar demônios um tanto ruidosamente – Deus ficaria satisfeito. Eu aprendi o abandono, aprendi a me entregar e a sentir o que estava sentindo. E aplicava na boate.
Eu me sentia desesperada, dentre outros motivos, porque ninguém jamais compartilharia desta experiência; ser clubber evangélica era pessoal e intransferível. E esse desespero me fazia dançar mais energeticamente ainda. E aí vinham me perguntar se estava tudo bem, para eu dançar daquele jeito. O que me fazia sentir mais sozinha ainda. Pelo menos na igreja ninguém vinha perguntar se estava tudo bem – se você estava lá, era dado que não estava nada bem, ou, pelo menos, que estava num momento fervoroso.
O pouco que tenho a dizer, do alto da minha experiência, é que tudo passa. E, se você cuidar para reter as coisas boas, elas têm maior chance de ficar por perto.

27.4.09

Cuidado com Mary Sue

Adaptado da Wikipedia em inglês e em espanhol, o artigo abaixo fala sobre falhas graves no uso do recurso alter ego, algo que vivo apontando. Depois coloco na Wikipédia em português, pode ter alguma serventia...

"Uma Mary Sue (às vezes simplesmente Sue), em crítica literária e particularmente em fan-fiction, é um personagem de ficção com maneirismos idealizados e batidos demais, com quase nenhuma falha aparente e servindo, em primeiro lugar, como realização da fantasia de seus autores ou leitores.

* O autor costuma ser do mesmo sexo que Mary Sue.
* O personagem favorito da autora, de sexo oposto a Mary Sue, vai se apaixonar e provavelmente terminará ao lado dela.
* Mary Sue costuma ter um poder extraordinário em sagas com personagens "mortais" em que abundam poderes psíquicos.
* Na maioria das vezes, as Mary Sue têm um passado trágico, que pode ser similar ao de algum protagonista.
* Com freqüencia, Mary Sue termina aparentada com algum personagem da história original.
* Se se trata de uma estudante, vem de alguma escola estrangeira e chega por um programa de intercâmbio.
* Se o personagem favorito da autora da Mary Sue já se encontra romanticamente envolvido com uma personagem existente na série original, ele preferirá Mary Sue sobre todas as coisas
* A Mary Sue provavelmente unirá romanticamente dois personagens, que no entender do(a) autor(a) deveriam estar juntos.
* Geralmente, a trama da história (fan-fiction) costuma estar centrada na Mary Sue.
* É querida pela maioria dos personagens e raramente tem defeitos (e se os tem, são mínimos).

Algumas variações:

Sue angustiada - Sue com passado trevoso, pelo qual sente medo e culpa. Mas nada que aconteceu com ela foi sua culpa.
Anti-Sue - o autor se esforça tanto para não fazer uma Mary Sue que constrói um personagem cheio de defeitos, extremamente desagradável.
Sue canônica- um personagem da obra original se comporta da forma como o autor bem entende, desrespeitando suas características estabelecidas na obra original.
Sue paródica - Sue feita pelo autor como paródia.
Sue vilanesca - ela se envolve com um vilão e começa a fazer maldades a seu lado, vencendo todos os heróis."

17.4.09

comparações espúrias

- Claudine está para Luce assim como Haruhi está para Asahina.

- Eclesiastes e Jó estão para a Bíblia assim como o trip-hop está para a eletrônica.
dislexia galopante

Eu tentando digitar CRITIQUE: criqituqe
Abri um twitter só pros trocadilhos da barra de título desse blog. Estou seguindo uns amigos e, mais avidamente, certos personagens fictícios. Orwell me livre de alguém seguir a minha pessoa, nem que seja virtualmente, de alguém saber onde vou, com quem falo e o que penso a cada instante.

16.4.09

Estou cheia dessa história de “abaixo o choque de ordem fascista”, “agora que proibiram o cigarro, eu vou começar a fumar só de birra” (boa morte pra você) e “maldita lei seca que proíbe o consumo de bombons de licor”. Olhe em volta, cazzo. Onde você vive? Na Inglaterra? Aqui, o normal é a desordem. Aqui, as pessoas que estão tentando impor alguma ordem é que são subversivas. Você que diz que vai fumar em local fechado pra ser subversivo: quer ser persona non grata pra valer ou só figurante de anúncio da Ruffles? Se ligue. Seja o chato que só bebe água, Jeremias o bom, Arandir... aí você será perseguido com paus, pedras e tochas acesas, evitado nas ruas, silenciará salões -- um Onézimo encarnado.
Eu já disse: aqui, punk é ser mod...
Acho o nosso país um enigma. Como pode ainda estar de pé? Só pode ser pela inércia. É como se todos aprendessem tudo mal de propósito: dirigir, falar, conviver. Porque com um idioma mal-aprendido e meio-esquecido você não pode realmente cobrar nada a sério de ninguém, né? Aliás, poucos se lembram do idioma original para cobrar em primeiro lugar.
Tudo é marromeno porque ninguém tem medo de tomar um raio de Deus ou uma dura do governo; não existe pecado ao sul do Equador. Então ninguém se esforça para ser impecável, ou para ter excelência (não sei como essa farta distribuição de ISO 9001s). Todos fazem apenas o possível, e o fazem nas coxas, porque o bom é inimigo do ótimo.
Deixa eu dizer um último segredinho pra vocês. Falei no Arandir, não foi? Agora é super décadence fin-de-siècle gostar da obra de Nelson Rodrigues porque tem sacanagem, botando o dedo no queixinho e dizendo que “ele fez uma análise perspicaz da sociedade brasileira”. Ora, por favor. O que ele queria era expor a hipocrisia que velava os comportamentos. O canalha fingindo que não era canalha, a adúltera fingindo que não dava por aí, a lolita fatal fingindo que tinha sido seduzida. E em que isso culmina? Em gente fingindo que gosta dele pela sua “análise perspicaz” quando gosta mesmo é da sacanagem de época.

15.4.09

sobe, tio

Maldita reativação do Santos Dumont. Agora não consigo ficar cinco minutos sem uma turbina roncar na minha cabeça. Me parece que eles fazem a curva exatamente sobre o meu prédio. De vez em quando o barulho chega a ficar ameaçador, daí eu e JP pomos as mãos na cabeça e entoamos o mantra SOBE, TIO! SOBE, TIO! pro piloto lembrar de puxar o manche um pouco para cima enquanto o torce pro lado. Até agora temos sobrevivido.
Des'ree, Desire

Percebi outro dia que as rádios voltaram a tocar Des'ree. Outro dia vi o clipe dela passando na TV. E me toquei que estamos em 2009. E que o revival anos 90 começou.
Dito isso, passo a palavra para o Discodust, blog que apresenta eletrônica de ponta.
Eles indicaram o Desire que, pelo que ouvi, está fazendo uma espécie de eletrônica easy listening. Mirror mirror, por exemplo, poderia tocar numa Antena 1 sem qualquer modificação. Parece com Eurythmics, Carly Simon. Só queria saber por que não toca.

12.4.09

Sonhei que estava lendo o livro do século (deste). Parte dele se passava numa high school. Envolvia mutantes e geopolítica. Lembro especialmente da solução de um dilema: o cão não queria comer nada porque era na verdade um peixe (mutante). Havia um sujeito sorridente e ultrapopular chamado Swoomi (Swann + swami + swoon) que usava camisa listrada vermelho-e-branca e previa o futuro nas suas mínimas ações, mas não sabia disso.
Eram pelo menos três volumes, e eu lia o dois e o três. Ler, nos meu sonhos, significa encarnar num personagem com o qual me identifiquei.
Então, depois que li o início do terceiro volume, com os poucos sobreviventes do segundo volume se reunindo numa nova high school para o primeiro dia de aula, acordei e fiquei olhando para o teto, boladíssima.
- O que foi? - perguntou JP.
- Acabei de morrer numa explosão atômica.
- Que bom. Então pelo menos não doeu.
- Doeu, sim. Porque eu fui mané. Me escondi atrás de um troço de chumbo.
- Então... você foi mané. Deve ter doído muito.
- Horrivelmente. Eles tinham desenvolvido umas bombas atômicas de pequeno porte. Você via as nuvenzinhas de cogumelo. Eu abracei desconhecidos, deu tempo.
- Me falaram de não sei que filme o sujeito escapa de uma explosão atômica dentro de uma geladeira de chumbo.
- Foi... o último Indiana Jones. Eu vi.
- Bem idiota.
- Agora eu sei que não funciona. Eu sei, eu estive lá.
Fechei meus olhos para não ver minha própria carne queimada. A última coisa que senti foram os dedinhos do pé engelhados, um tocando no outro. E só.

3.4.09

Vovô Elmar: Sr Burns com três manchas na cabeça. Juiz com aposentadoria integral. Maranhense. Elitista pra caralho. Foto com Sarney emoldurada na parede da sala, mas sócio e torcedor ardoroso do Flamengo. Branco como folha de Chamex, mas ascendência indígena (aposto). Fumante compulsivo até os noventa e tantos (causa mortis falência múltipla).

Vovó Eunice ("Ninice"): Alta sociedade mineira. Foto vestida de marinheira durante a Segunda Guerra. Signo de Aquário. Semi-ruiva translucente, ava-gardneriana. Estudos de corte e costura no armário. Andava de calcinha e sutiã pelo apartamento escuro de Copa. Disco do Glenn Miller. Perfume com borrifador. Berloques. Hipocondria e tonturas.

Vovó Albertina ("Tininha"): Morro da Conceição. Filha de portugueses. Morena brejeira. Candidata a miss, retirada do concurso pela mãe (nada de se exibir em roupas de banho). Queria casar com cara mais alto que ela. Casou. Cozinheira de mão-cheia. Centralizadora. Sogra clássica. Pragmática. Sem papas na língua para assuntos carnais.

Vovô Antonio: Cara de ator de filme de Jean Vigo. Português de Braga. Ligado à colônia. 2 exemplares de "Como fazer amigos e influenciar pessoas": falso extrovertido. Dono de loja. Leitor. Traumatizado pela infância. Letra miúda. Bom pai. Fumante. Fã da Anita Ekberg. Colecionava clipes de papel. 1m98cm. Morreu antes que eu nascesse.
de onde tiro minha inspiração

Indigo disse que lavar louça acumulada dá excelentes ideias, daquelas que resolvem um livro. Eu digo que correr na esteira dá uma média de 3 ideias boas a cada 20 minutos. Paro tudo e começo a rabiscar no caderninho com a lapiseira no press bench sob o olhar genuinamente intrigado dos marombados.
Não devem ser as endorfinas, porque as ideias que vêm não são nada alto astral. Suponho que seja o aumento do fluxo sanguíneo para o cérebro -- porque quanto mais rápido eu corro, mais me inspiro. E os novos poderes vão além:
- sou capaz de correr muito mais rápido e por mais tempo que qualquer pivete (acredite, foi útil. Rio de Janeiro.)
- não desmaio mais por aí em dias de mormaço
- estou entrando em calças 40
Ana Paula Maia frequenta essa mesma academia. Ou seja, no futuro a Academia Brasileira de Letras terá esteiras numeradas em vez de cadeiras. Na pior das hipóteses mata os imortais tudo.
(A verdade é que ainda prefiro a versão boogie nights da Academia. Fazer ginástica é útil, mas um porre. Fazer o quê...)

2.4.09

nota tardia

Eu saí do show do Radiohead rindo tolinha: é isso aí, plebe, a eletrônica venceu, huhuhu.
É fato notório que Thom está tentando imitar o som dos artistas da Warp e similares. Quer dizer, tentando imitar -- está introduzindo umas melhorias inegáveis. Mas é Aphex Twin e Boards of Canada e Autechre e Nathan Fake e James Holden que ouço nas notas de In Rainbows. Que bom, que bom.
Quão deslocadas parecem as músicas antigas ao lado das novas. Ainda gosto de muitas delas, mas soam inegavelmente retrô e temporalmente localizadas na adolescência; é basicamente como ouvir Ace of Base.
Então vocês dizem: mas ele está misturando rock com eletrônica, ainda tem rock na mistura! Em suma, me dizem que o Radiohead é o Prodigy. Claro, muito melhor...
O futuro é aprender a tocar laptop. Talvez isso esteja ligado à ascensão do nerd como novo cool, porque é impossível parecer cool à moda de Ferris Bueller com as duas mãos plantadas numa futura síndrome do túnel carpal.

P.S.: O post de ontem era obviamente primeiro de abril. Foi tosco, mas sempre esqueço e deixo passar a oportunidade, então fiz assim mesmo.
P.P.S.: Ninguém se tocou da ironia que foi o Radiohead tocar em frente a uma bunda gigante?

1.4.09

Nunca pensei que fosse fazer uma coisa dessas, mas um ano de dança do ventre pode mudar muita coisa...
Nesta sexta, às 20h, vou fazer uma pequena performance chamada "Singularidade", baseada em Lain, Philip K. Dick e em SuperVicky. Não, não vou tirar a roupa, no nagging.
É fato que não sinto o menor stage fright, então já é mais que hora de começar a utilizar esse dom, certo?
O pessoal do Cabaré das Rosas está me devendo a filipeta (e suspeito que não ficará pronta a tempo), mas vocês já fiquem avisados.