tudo bem
Às vezes, na minha adolescência, eu dançava com tal abandono que os outros viam me perguntar se estava tudo bem – “tudo bem” como em “não está prestes a ter overdose?”. Não, não eram drogas. Tudo o que eu fazia era não ter noção e freqüentar uma certa igreja evangélica conhecida por pedir a seus frequentadores para louvar ou expulsar demônios um tanto ruidosamente – Deus ficaria satisfeito. Eu aprendi o abandono, aprendi a me entregar e a sentir o que estava sentindo. E aplicava na boate.
Eu me sentia desesperada, dentre outros motivos, porque ninguém jamais compartilharia desta experiência; ser clubber evangélica era pessoal e intransferível. E esse desespero me fazia dançar mais energeticamente ainda. E aí vinham me perguntar se estava tudo bem, para eu dançar daquele jeito. O que me fazia sentir mais sozinha ainda. Pelo menos na igreja ninguém vinha perguntar se estava tudo bem – se você estava lá, era dado que não estava nada bem, ou, pelo menos, que estava num momento fervoroso.
O pouco que tenho a dizer, do alto da minha experiência, é que tudo passa. E, se você cuidar para reter as coisas boas, elas têm maior chance de ficar por perto.