16.4.09

Estou cheia dessa história de “abaixo o choque de ordem fascista”, “agora que proibiram o cigarro, eu vou começar a fumar só de birra” (boa morte pra você) e “maldita lei seca que proíbe o consumo de bombons de licor”. Olhe em volta, cazzo. Onde você vive? Na Inglaterra? Aqui, o normal é a desordem. Aqui, as pessoas que estão tentando impor alguma ordem é que são subversivas. Você que diz que vai fumar em local fechado pra ser subversivo: quer ser persona non grata pra valer ou só figurante de anúncio da Ruffles? Se ligue. Seja o chato que só bebe água, Jeremias o bom, Arandir... aí você será perseguido com paus, pedras e tochas acesas, evitado nas ruas, silenciará salões -- um Onézimo encarnado.
Eu já disse: aqui, punk é ser mod...
Acho o nosso país um enigma. Como pode ainda estar de pé? Só pode ser pela inércia. É como se todos aprendessem tudo mal de propósito: dirigir, falar, conviver. Porque com um idioma mal-aprendido e meio-esquecido você não pode realmente cobrar nada a sério de ninguém, né? Aliás, poucos se lembram do idioma original para cobrar em primeiro lugar.
Tudo é marromeno porque ninguém tem medo de tomar um raio de Deus ou uma dura do governo; não existe pecado ao sul do Equador. Então ninguém se esforça para ser impecável, ou para ter excelência (não sei como essa farta distribuição de ISO 9001s). Todos fazem apenas o possível, e o fazem nas coxas, porque o bom é inimigo do ótimo.
Deixa eu dizer um último segredinho pra vocês. Falei no Arandir, não foi? Agora é super décadence fin-de-siècle gostar da obra de Nelson Rodrigues porque tem sacanagem, botando o dedo no queixinho e dizendo que “ele fez uma análise perspicaz da sociedade brasileira”. Ora, por favor. O que ele queria era expor a hipocrisia que velava os comportamentos. O canalha fingindo que não era canalha, a adúltera fingindo que não dava por aí, a lolita fatal fingindo que tinha sido seduzida. E em que isso culmina? Em gente fingindo que gosta dele pela sua “análise perspicaz” quando gosta mesmo é da sacanagem de época.