8.8.06

"Eu nasci há dez mil anos atrás"
(onde o deus-Google ainda não alcança)

Tenho ido à Biblioteca Nacional pesquisar coisas, seção de periódicos. E é incrível o que não chega até nós, nós cidadãos-do-Google que achamos que tudo está ao alcance dos dedos. Ainda não. Mas a tinta e o papel não mentem, ainda mais os que estão se esfarelando.
Achei uma matéria assim:
"Chico Buarque dá um soco no Millôr."
Outra:
"Guinchado por parar em fila dupla, Darcy Ribeiro exige que guincho traga seu carro de volta".
Nossos heróis.
As coisas se repetem. Achei notícias da Guerra do Líbano e mil explicações para termos perdido na Copa (em 46, 66 e 86). Nos anos 70, uma "massagista" lançava "Homens que passaram por minha mesa de massagens" ou algo assim, obviamente plagiando Bruna Surfistinha com antecedência.
Vi a cafonalha e a burrice: estalinistas fuleiros sendo criticados somente pelo guerreiro Nelson Rodrigues e os preconceitos descarados (Colégio Sacré Coeur ao Última Hora: "não adianta insistir, não admitimos negrinhas").
Vi vergonhas: elogios ao Collor e previsões furadas (a guerra mundial foi em agosto de 1985, você viu? E do triunfo da fast-food nos anos 90, você soube? e a calcinha de papel, ainda não está usando?).
Vi consciências nascendo: a AIDS chegando (88), o câncer se espalhando (Correio da Manhã, 55: "substâncias derivadas do petróleo sob suspeita de causar câncer"), a ecologia surgindo (primeiro no Zero Hora, o sul é mesmo mais evoluído).
Vi também coisas lindas, propagandas criativas e clássicas, críticas de Antonio Candido, crônicas de Fernando Sabino, fotos geniais, brilhantes projetos kamikazes sempre no vermelho ("Jornal das Letras"), ensaios inteligentíssimos.
Não sei como encerrar isso, talvez porque ainda não acabou. E, bem, esperemos que não acabe. Gosto de pesquisar. Dedilhar índices onomásticos, questionar a base de dados, inventar métodos de facilitação, obter resultados inesperados (o melhor da pesquisa: a idéia para a próxima).