8.10.06

marcado mesmo

Fiquei honrada e surpresa com a coincidência, mas o recado do lançamento do meu livro saiu no mesmo Prosa&Verso comemorativo dos 50 anos de O encontro marcado, de Fernando Sabino. Não sou tiete particularmente desse livro; e nele há dilemas que em boa parte não tive. Pelo menos não aos 21 anos, quando o li. Mas sou fã de Fernando Sabino em geral, de que li praticamente todas as crônicas aos 13 anos (pai mineiro).
Um cara inteligente que em certo ponto de sua vida toca em política e todo mundo considera imundo. Isto define tanto Fernando como Francisco, personagem do meu livro novo, A feia noite. Aliás, o nome do meu personagem, originalmente, era Fernando. Mudei por pudor, mas... fazer o quê? O encontro marcado é exatamente o tipo de bildungsroman que estou parodiando em A feia noite. Com carinho, é claro.
Eu disse na crítica que fiz de O encontro marcado (para uma matéria da faculdade):
A vida de Eduardo Marciano "termina" nos anos 50; hoje muitos já não nasceram sob a ditadura, ou pelo menos num tempo onde não se sentia seu peso. O Brasil antigo, empoeirado, causa sim aos jovens de hoje um certo asco; numa espécie de amnésia neurótica coletiva, fingimos que sempre estivemos brandindo celulares prateados, Honda Civics e presidentes de esquerda; mas o país não é só esse. O futuro não chegou, não. Ainda não saímos da roça. Um fio de Ariadne, o livro não titubeia em nos retraçar o caminho pelo qual viemos parar aqui; e a que custo.
Tirei dez nessa matéria - além de me divertir um bocado.

Naquele tempo era difícil enxergar opções. Hoje há um outro vácuo. Há quem ache que pode tudo, e desses há quem possa mesmo; e há quem não saiba o que deve poder, por excesso de opções, todas ruins.

"Nele há sua flora, sua fauna e, no meio, o abismo. Nenhum ecossistema saudável. Nenhum equilíbrio.
Não faz sentido. É claro que não. No dia em que fosse coerente não precisaria de adjuvantes químicos."
(Francisco se pensando em A feia noite)