18.10.06

Uma coisa que talvez eu tenha esquecido de frisar é que em "A feia noite" eu combato a fama de cidade solar do Rio de Janeiro, confirmada pela bossa nova, por exemplo. Eu idealizei uma cidade gótica, um lugar sombrio, assustador, que ainda assim não deixa de ser Rio de Janeiro...
O que quero dizer é que nossa brasilidade não reside em sol, samba, mulata e futebol. Dá para ser inquestionavelmente brasileiro mesmo sem apelar para esses clichês. Eu não digo onde se passa o romance, mas se você mora aqui no Rio, você reconhece esta cidade. Se não reconhecer, aí vai pensar numa história universal, o que também é bom.
O negócio é que sempre que se fala do "verdadeiro Brasil" se cai nessa de regionalismo: índios, negros, nordeste, pobre. Já se cristalizou tanto isso que os ricos 1) fetichizaram o pobre etc. transformando-o em consumo 2) entenderam que já que o "verdadeiro Brasil" é o pobre etc., eles não fazem parte do mesmo, e têm que manter as coisas como estão para conservar o pobre, pobre.
E o problema é que o Brasil mistura tudo, inclusive pessoas branquelas. Essa diversidade é que nos integra e, no entanto, ninguém fala dela. Não adianta você querer pegar o "homem médio" ou um dos extremos, rico ou pobre; o Brasil não é estatística. Negar essa diversidade é excluir alguém.