29.9.06

história desse livro

Acho que agora posso contar o sonho que tive aos 12 anos e que me inspirou "A feia noite".

Foi um sonho de cores muito estranhas. Eu não era eu mesma, era outra. Era uma cidade opaca, que nunca saía das 11 horas da noite, uma cidade onde eu estava absolutamente sozinha e sem teto. As pessoas passavam em grupos coloridos, movimentos em câmera lenta, uma confusão risonha de rastros de arco-íris. Mas eu era cinza, negra. Eu espalhava negrume, não cor. E um homem se fascinava por mim. Este homem não deixava rastros de nenhuma cor e conseguia se mover muito mais rápido que os outros, na minha direção, quando me via. Acho que era o único que me via, apesar de eu estar sempre me mostrando – eu queria ser vista. Eu era uma coisa feia e as pessoas fingiam não me ver, como um fantasma. Mas o tempo funcionava diferente para mim. Eu sempre conseguia me afastar da frente dos olhos desse homem para a escuridão da noite. Eu não o queria, perdia ele de propósito.