Ah, sim: os double-deckers (os ônibus de dois andares) de Londres tinham uma propaganda que dizia assim:
You could be driving toward $500 a week!
Tinha um asterisco logo depois disso, e na barra do cartaz explicava: "including overtime" (ou algo do gênero, que quer dizer "Incluindo hora extra".)
500 libras por semana são 2000 num mês (sem contar o rabicho da semana que sobra). Duas mil libras, vezes 4,40 que é a cotação dela em reais, são 8.800 reais. Tudo bem que lá a vida é (bem) mais cara, mas cacete, a comparação com o que um motorista de ônibus deve poder comprar aqui...
Isso sem contar que o brinquedinho a ser dirigido é very neat. Poxa, um ônibus de dois andares! Mais alto que isso no meu conceito, só astronauta ou piloto de avião...
Confesso que fiquei tentada. Eles têm muitas motoristas mulheres. Mas para passar no exame eu precisaria:
1 - saber dirigir um carro de verdade. Minha carteira diz que eu sei, mas é mentira.
2 - saber dirigir um ônibus. Talvez eu possa fazer um estágio com o motorista do 432, também conhecido como Montanha Russa dos Pobres.
3 - aprender a dirigir na mão inglesa. Dislexia ahoy.
4 - aprender a manter um trambolho de dois andares sob controle, especialmente nas curvas e ladeiras.
5 - aprender a falar inglês britânico superfluentemente, e entender o sotaque de todas as etnias que vivem em Londres. Até porque algum thug poderia tomar o meu "excuse me???" como gozação e/ou ofensa.
Logo, é impossível. Mais chance tenho da NASA me aceitar.
31.8.05
30.8.05
reality show da Mona Lisa
Notei uma espécie interessante na Europa: os idiotas cultos. Aquela gente que vai a museu, mas só olha (e tira foto, e com flash, é claro) das obras "famosas". A Mona Lisa, pobrezinha, fica o tempo todo, até no supostamente mais calmo horário do almoço, soterrada em gente. Câmeras e filmadoras jorrando luzes em cima do sorriso misterioso. Agora me diga porque nego quer filmar um quadro? Estão esperando a menina cair em prantos, só se for - "é muita pressão, é muita pressão!" - é o que eu faria, no lugar dela. Mas esta é a vantagem em ser pintura. Imagine uma celebridade que estivesse próxima a você, não pudesse se mexer e sorrisse pra você o tempo todo. Pois é. Culpa do Dan Brown, também.
Mas o idiota culto vai muito mais longe do que isso. Ele enxameia os free shops. O idiota culto adora lembrancinhas baratas - miniaturas da Torre Eiffel, por exemplo. Melhor se for chaveiro. Quando a entrada de tal lugar é de graça, mas com "contribuição sugerida", o idiota culto sente ganas de cair na gargalhada, mas se contém. Ele leva uma criança de 4 anos ao Louvre, mas não aos jardins de Luxemburgo, e ignora o choro (choro que quem está à sua volta não consegue ignorar). O idiota culto não vai perceber que a fila já andou, vai fumar em local proibido se nenhuma autoridade competente estiver olhando (mas eu estou) e vai falar alto para chamar a atenção. O idiota culto lê - dramas familiares, maus romances policiais, lixo de autores latinos da moda - e participa de grupos de leitura. Se o idiota culto ler alguma coisa boa, não vai perceber - mas vai elogiar, se todo mundo estiver elogiando.
Na Europa vi que nível de escolaridade não é tudo. Mas essa espécie execrável também grassa em nosso meio. Como se não bastassem os idiotas incultos, o Brasil é cheio de idiotas cultos. São fãs incondicionais de Gabriel García Márquez e Ítalo Calvino, que não ofendem muito (e na primeira oportunidade após te conhecerem vão soprar no seu ouvido ou enunciar arrogantes a uma certa distância, de forma diretamente relacionada ao sexo do interlocutor e à própria orientação sexual, "você já leu Márquez?"), escrevinhadores de bobices que julgam profundas, freqüentadores dos piores filmes em cartaz nos "cinemas alternativos", nos quais furam a fila, óbvio. Watch out.
Notei uma espécie interessante na Europa: os idiotas cultos. Aquela gente que vai a museu, mas só olha (e tira foto, e com flash, é claro) das obras "famosas". A Mona Lisa, pobrezinha, fica o tempo todo, até no supostamente mais calmo horário do almoço, soterrada em gente. Câmeras e filmadoras jorrando luzes em cima do sorriso misterioso. Agora me diga porque nego quer filmar um quadro? Estão esperando a menina cair em prantos, só se for - "é muita pressão, é muita pressão!" - é o que eu faria, no lugar dela. Mas esta é a vantagem em ser pintura. Imagine uma celebridade que estivesse próxima a você, não pudesse se mexer e sorrisse pra você o tempo todo. Pois é. Culpa do Dan Brown, também.
Mas o idiota culto vai muito mais longe do que isso. Ele enxameia os free shops. O idiota culto adora lembrancinhas baratas - miniaturas da Torre Eiffel, por exemplo. Melhor se for chaveiro. Quando a entrada de tal lugar é de graça, mas com "contribuição sugerida", o idiota culto sente ganas de cair na gargalhada, mas se contém. Ele leva uma criança de 4 anos ao Louvre, mas não aos jardins de Luxemburgo, e ignora o choro (choro que quem está à sua volta não consegue ignorar). O idiota culto não vai perceber que a fila já andou, vai fumar em local proibido se nenhuma autoridade competente estiver olhando (mas eu estou) e vai falar alto para chamar a atenção. O idiota culto lê - dramas familiares, maus romances policiais, lixo de autores latinos da moda - e participa de grupos de leitura. Se o idiota culto ler alguma coisa boa, não vai perceber - mas vai elogiar, se todo mundo estiver elogiando.
Na Europa vi que nível de escolaridade não é tudo. Mas essa espécie execrável também grassa em nosso meio. Como se não bastassem os idiotas incultos, o Brasil é cheio de idiotas cultos. São fãs incondicionais de Gabriel García Márquez e Ítalo Calvino, que não ofendem muito (e na primeira oportunidade após te conhecerem vão soprar no seu ouvido ou enunciar arrogantes a uma certa distância, de forma diretamente relacionada ao sexo do interlocutor e à própria orientação sexual, "você já leu Márquez?"), escrevinhadores de bobices que julgam profundas, freqüentadores dos piores filmes em cartaz nos "cinemas alternativos", nos quais furam a fila, óbvio. Watch out.
tópicos sobre a viagem
- Quando se sai de um museu devidamente apreciado, a vida toda lá fora parece mais artística e detalhes "inéditos" saltam aos olhos. Desde o primeiro dia, mas principalmente depois dos museus, comecei a ter sonhos inéditos e plasticamente inovadores, e quase todos nem um pouco desagradáveis.
- Cinderella Man é o novo filme-talhado-para-o-oscar. Cartazes com o Hugh Jackman com olhar de Nicholas Cage e Renée Zellweger de cabelo tingido escuro e biquinho piedoso.
- No metrô de Paris tem cartazes grotescos da Mireille Mathieu em seu novo disco/show em que ela parece a Débora Bloch travestida de repórter na TV Pirata.
- No metrô de Paris também tem cartazes do Rock en Seine cujo logo é Napoleão maquiado como um Kiss, e shows de Queens of the Stone Age, Goldfrapp, Franz Ferdinand... mas começava quando eu já estaria em Londres.
- As livrarias londrinas. Livros para todos os segmentos de mercado, inclusive os idiotas - romances de banca e Dan Browns por exemplo - mas auto-ajuda, curiosamente, não parece dos mais fortes. A última febre lá é um quebra-cabeça de quadrados mágicos do Times que atende por Su Doku; preparem-se os brasileiros (cavando buracos na terra) para a "nova" mania que deve chegar aqui dentro de um a três anos. Todas as cadeias fazem promoções de 3 por 2 (o livro mais barato sai de graça) para as férias. A livraria Borders tem uma maldita promoção viciante: a cada compra, um vale-desconto de 5 libras em compras de mais de 20 libras para três dias depois. Usei uma vez e que angústia por ter recebido um segundo vale-desconto válido para hoje, amanhã e depois de amanhã.
- Consulte o fotolog para maiores detalhes.
- Quando se sai de um museu devidamente apreciado, a vida toda lá fora parece mais artística e detalhes "inéditos" saltam aos olhos. Desde o primeiro dia, mas principalmente depois dos museus, comecei a ter sonhos inéditos e plasticamente inovadores, e quase todos nem um pouco desagradáveis.
- Cinderella Man é o novo filme-talhado-para-o-oscar. Cartazes com o Hugh Jackman com olhar de Nicholas Cage e Renée Zellweger de cabelo tingido escuro e biquinho piedoso.
- No metrô de Paris tem cartazes grotescos da Mireille Mathieu em seu novo disco/show em que ela parece a Débora Bloch travestida de repórter na TV Pirata.
- No metrô de Paris também tem cartazes do Rock en Seine cujo logo é Napoleão maquiado como um Kiss, e shows de Queens of the Stone Age, Goldfrapp, Franz Ferdinand... mas começava quando eu já estaria em Londres.
- As livrarias londrinas. Livros para todos os segmentos de mercado, inclusive os idiotas - romances de banca e Dan Browns por exemplo - mas auto-ajuda, curiosamente, não parece dos mais fortes. A última febre lá é um quebra-cabeça de quadrados mágicos do Times que atende por Su Doku; preparem-se os brasileiros (cavando buracos na terra) para a "nova" mania que deve chegar aqui dentro de um a três anos. Todas as cadeias fazem promoções de 3 por 2 (o livro mais barato sai de graça) para as férias. A livraria Borders tem uma maldita promoção viciante: a cada compra, um vale-desconto de 5 libras em compras de mais de 20 libras para três dias depois. Usei uma vez e que angústia por ter recebido um segundo vale-desconto válido para hoje, amanhã e depois de amanhã.
- Consulte o fotolog para maiores detalhes.
7.8.05
parallel parties
Vi hoje um filme que nunca tinha visto antes: A garota de rosa-shocking. Passou na Se$$ão Premiada do SBT, um aborto da natureza comandado pelo Celso Portioli que, agora que não tenho mais TV a cabo, ando assistindo todo sábado.
O que me deixou espantada foram os trejeitos da Molly Ringwald no filme - sabem o que chamo de trejeitos, não? O jeito de abotoar a boca num bico quando está muito puta, a forma de entreabrir a boca quando recém-termina uma frase, a maneira de olhar enviesado quando alguém está fazendo algo de estranho e vagamente divertido etc.
O porquê do espanto? Foi a percepção de que, se eu tivesse visto o filme quando era pequena, e internalizado os trejeitos da Molly Ringwald como algo a ser feito por mim ou admirado nos outros - o que aconteceu, isso sim, com a Jenniffer Beals em Flashdance - eu não teria percebido os reflexos disso na "vida real", mas sim agido escravizada pelo inconsciente coletivo oitentista sem perceber.
Como, pelo contrário, eu só vi o filme agora, pude perceber que muita coisa do que vi na "vida real" de 83 para cá e achei original era reprise!
Malditos anos 80.
(Caso alguém ainda tenha dúvidas, estes foram os surtos número 2 e 3 and counting.)
Vi hoje um filme que nunca tinha visto antes: A garota de rosa-shocking. Passou na Se$$ão Premiada do SBT, um aborto da natureza comandado pelo Celso Portioli que, agora que não tenho mais TV a cabo, ando assistindo todo sábado.
O que me deixou espantada foram os trejeitos da Molly Ringwald no filme - sabem o que chamo de trejeitos, não? O jeito de abotoar a boca num bico quando está muito puta, a forma de entreabrir a boca quando recém-termina uma frase, a maneira de olhar enviesado quando alguém está fazendo algo de estranho e vagamente divertido etc.
O porquê do espanto? Foi a percepção de que, se eu tivesse visto o filme quando era pequena, e internalizado os trejeitos da Molly Ringwald como algo a ser feito por mim ou admirado nos outros - o que aconteceu, isso sim, com a Jenniffer Beals em Flashdance - eu não teria percebido os reflexos disso na "vida real", mas sim agido escravizada pelo inconsciente coletivo oitentista sem perceber.
Como, pelo contrário, eu só vi o filme agora, pude perceber que muita coisa do que vi na "vida real" de 83 para cá e achei original era reprise!
Malditos anos 80.
(Caso alguém ainda tenha dúvidas, estes foram os surtos número 2 e 3 and counting.)
eu não vou mover uma palha
OOf.
As palavras estão bonitas e uum, o estilo gruda na garganta, custa atravessar e deixa rastros como uma aspirina longamente retida na boca.
É Paulo Coelho, sabe? Está bem livro de bruxo mesmo.
Sim, agora, relendo o livro novo, percebo que o que fiz foi uma brincadeirinha... uma parábola sobre uma causa que nem sei se acredito.
E é assim que deve ser.
Acabo de escrever um livro ruim e despudoradamente quero publicá-lo exatamente assim. Desesperadamente também, como se as coisas pudessem explodir antes que eu tente explodi-las.
(Imagino gente lendo este post e revirando os olhos: alright, she's on drugs.)
Heavy drugs.
OOf.
As palavras estão bonitas e uum, o estilo gruda na garganta, custa atravessar e deixa rastros como uma aspirina longamente retida na boca.
É Paulo Coelho, sabe? Está bem livro de bruxo mesmo.
Sim, agora, relendo o livro novo, percebo que o que fiz foi uma brincadeirinha... uma parábola sobre uma causa que nem sei se acredito.
E é assim que deve ser.
Acabo de escrever um livro ruim e despudoradamente quero publicá-lo exatamente assim. Desesperadamente também, como se as coisas pudessem explodir antes que eu tente explodi-las.
(Imagino gente lendo este post e revirando os olhos: alright, she's on drugs.)
Heavy drugs.
6.8.05
5.8.05
A temporada de insanidade está aberta
Sinto-me temporariamente insana e sei que vai passar na segunda-feira. Poderia alegar tensão pré-viagem, mas não é. É algo mais complexo, tem a ver com diversos elementos. Algo como uma conjunção, não necessariamente astral, ou deveriam enjaular (num aquário) todos os piscianos com ascendente em aquário para a própria segurança deles.
Deve ser agosto. E certa festa que descobri - alguém leu meus pensamentos, bastante óbvios.
Principalmente agosto, mês em que captava em brilho toda a polaridade invertida do carnaval e todo o desgosto dos outros e, soberana do banco alto em cima da roda, deslizava ao longo do campo santo.
Sinto-me temporariamente insana e sei que vai passar na segunda-feira. Poderia alegar tensão pré-viagem, mas não é. É algo mais complexo, tem a ver com diversos elementos. Algo como uma conjunção, não necessariamente astral, ou deveriam enjaular (num aquário) todos os piscianos com ascendente em aquário para a própria segurança deles.
Deve ser agosto. E certa festa que descobri - alguém leu meus pensamentos, bastante óbvios.
Principalmente agosto, mês em que captava em brilho toda a polaridade invertida do carnaval e todo o desgosto dos outros e, soberana do banco alto em cima da roda, deslizava ao longo do campo santo.
4.8.05
Conhecendo alguns considerados taciturnos, anti-sociais e inseguros a fundo você percebe que é uma característica adquirida. Que estas pessoas são inteligentes e magnânimas (fortes o bastante para não querer ganhar sempre), e que o tal "mau-humor" ou "insegurança" é apenas uma forma de não ofender tanto as pessoas - não porque façam questão de sua companhia, mas por - vamos chamar de pena, mesmo. Assim, após uma resposta necessariamente ríspida a uma pergunta/afirmação estúpida, a dona desta pergunta/afirmação confere o rosto do outro - que já está recolhido a si mesmo - e tem a chance de pensar que o problema é com o outro, e não consigo própria. Fantástico.
3.8.05
Asper euts e o tempo
Eu adorava spirits in a material world quando era pequena, e prometi me comprar um disco (era disco, e sim, de vinil) assim que crescesse e pudesse entender o nome contido no refrão. Cresci e me tornei english-smart, mas aprendi o inglês americano - e, portanto, continuei sem entender que hell era aquilo de "asper euts" in a material world que eles falavam. Depois que eu voltei da Inglaterra, já com 16/17 anos, e decidi baixar algumas músicas do Police pelo Audiogalaxy, é que tudo se encaixou perfeitamente: ouvi a música que constava do catálogo de vários usuários e iluminei-me... asper euts era sotaque!
Tempo é bom, e eu não tenho pressa.
Eu adorava spirits in a material world quando era pequena, e prometi me comprar um disco (era disco, e sim, de vinil) assim que crescesse e pudesse entender o nome contido no refrão. Cresci e me tornei english-smart, mas aprendi o inglês americano - e, portanto, continuei sem entender que hell era aquilo de "asper euts" in a material world que eles falavam. Depois que eu voltei da Inglaterra, já com 16/17 anos, e decidi baixar algumas músicas do Police pelo Audiogalaxy, é que tudo se encaixou perfeitamente: ouvi a música que constava do catálogo de vários usuários e iluminei-me... asper euts era sotaque!
Tempo é bom, e eu não tenho pressa.
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