9.10.05

As Frenéticas

Eu andei pesquisando umas coisas bizarras por motivos bizarros, e por isso acabei caindo, evidentemente, nas Frenéticas. Ouvindo o som que estas magníficas senhoras produziram e deixando minha mente revoar até uma certa festa recente e ainda queimada na retina, cheguei a uma relevantíssima conclusão:
as amigas da minha mãe se parecem com as Frenéticas.
De vez em quando elas voltam, reaparecem no Faustão com meias arrastão, não é? (As Frenéticas, não as amigas da minha mãe) E então você pensa, minha nossa, de onde foram desencavar estas criaturas esquecidas por Deus? E por quê???
É a mesma sensação com as amigas da minha mãe. É impressionante. As poucas que se salvavam já se salvaram, óbvio: não vejo minha mãe andar mais com elas. Sobraram rigorosamente as piores dentre as piores!
E na tal festa eu pude me deprimir bastante. Por mais que eu tentasse me isolar, aconteceram as seguintes cenas:

Eu me enterrei no quarto com um livro gostoso de ler que graças a Deus eu tinha trazido.
Então chegam algumas mulheres pra deixar as bolsas no cabide (que desafortunadamente ficava no meu quarto). Elas entram, me vêem, e começam a fazer perguntas. Dou respostas polidas. Não satisfeitas, duas delas permanecem no quarto. Tagarelando. Apreciando o ambiente exclusivo. Eu continuo a ler e uma delas repara e troa:
- Ihh, a gente veio acabar com o sossego da Simone!
Então ela bateu palminhas e cantarolou "a-ca-bou sos-se-go" ou algo assim umas duas vezes. Eu fiz tal cara de cu que as duas deixaram o quarto imediatamente.
(Não achei a menor graça na hora. Uma sombra de sorriso normalmente passaria pela minha mente num momento desses, mas estou começando a perder o humor para certas coisas. Não dá pra ser pós-moderna com tudo.)


Mais tarde, minha mãe, numa tentativa de me fazer participar da festa, me fez entrar na cozinha (onde notei que as empregadas - sim, plural, DUAS - estavam usando inéditos uniformes e touca) e confeitar o bolo de chocolate com um maço de mini-confettis. Enquanto eu tentava entender como se abria aquilo, surgiu uma criatura de rosa, acho que pra pegar mais vinho.
- Zzabe com quem vozzê parezze? - engrolou a coisa.
Como não ouviu resposta, ela repetiu, dessa vez encostando-se (melhor seria dizer escorando-se) no meu ombro.
- Zzabe com quem vozzê parezze?
Nada.
- Vozzê parezze com... aquela menina... que lanzzou um cedê agora... a Maria Rita!
(Eu consegui abrir as confettis.)
- Não zzabe? A Maria Rita... aquela cantora... filha da Elis... vozzê não zzabe quem é?
- Sei. (eu espalhava a confetti no bolo como orégano sobre pizza)
- O que foi? Vozzê não gosta dela?
Nada.
- Vozzê acha ela... o quê?
- Você está de rosa. - finalmente o pensamento que ocupava minha mente escapulia pela boca.
- Quêê?
- Você está de rosa - repeti, continuando a confeitar.
- Mas... como azzim, de rozza? Eu tô de rozza...
- Você está toda de rosa.
Demorou, mas uma luz se acendeu naquele pequeno cérebro empoeirado.
- Aah. Minha filha também fica falando, ah mãe, vai zzair toda de rozza. É, as pezzoas da zua idade...
O bolo estava pronto e saí. A mulher se apoiava na bancada da cozinha, e aparentemente falou sozinha on and on.


Não estou brincando, infelizmente. Isso praticamente me incapacitou por uma semana. Fiquei deprimida e apática de verdade, igual aos sintomas (até então) hipotéticos que descrevo no meu livro, e não é nada divertido. Espero que meus personagens saibam me perdoar.