14.3.10

Inteligível

Quantas vezes não ouço gente me dizendo: ahn, ele(a) é pobre, não teve as chances que você teve, deixe ele(a) fazer um serviço ruinzinho/marromenos. Ouço gente falando isso com relação a profissões as mais diversas, de revisores a eletricistas. Eu penso: e os pobres ou ricos ou remediados que são bons no que fazem? Devo tirar a chance deles de se destacarem, mostrarem serviço e ganharem dinheiro fingindo que os ruins são bons? Eu hein.
Eu gosto de gente boa no que faz. Minha faxineira é muito boa faxineira. Meu pedreiro é muito bom pedreiro. Eu os recomendo pra todo mundo. O que acontece, no mais das vezes, é que eles recebem serviço demais e acabam subindo a taxa que cobram ou não aceitando serviços. Eu pago - porque não suporto incompetência.
Meu pedreiro é inconformado com o tamanho da minha pia, que parece um bebedouro de pássaro. Ele já me perguntou algumas vezes porque eu não pus uma pia maior. Ontem resolvi responder sucintamente:
- Jogos de poder com a minha mãe.
Pronto. Até por já ter trabalhado para a minha mãe, ele entendeu na hora e riu. Vendo que tinha sido entendida, desenvolvi mais um pouco, descrevi a cena para ele - minha mãe na loja dizendo que estava pagando a reforma, então ia me comprar ou uma cuba quadrada ou aquelas que ficam para fora do mármore, que eu acho horrorosas; eu insistindo numa pia normal, oval; e no fim, por birra, ela me comprando uma louça de pia do tamanho e formato de meio Júpiter de sistema solar ginasial.
Ah, hoje em dia ela vem aqui e reclama da minha pia pequena. Fim.
Pelo menos meu pedreiro riu a valer e elogiou expressamente o "jogos de poder". E terminou seu serviço.
Em suma, foi um bom momento, fiquei feliz em ser compreendida.
Eu fico feliz com pequenas coisas, mas coisas que são danadas de difíceis de conseguir.