21.12.05

Meu livro não é Brasília

Acho que quando os legistas se aproximarem do meu livro novo com seus instrumentos, vão ficar seriamente encafifados. Eles buscarão alguma prova de crime, algo como um sinal de evolução ou involução da minha prosa ou pessoa, e eu pulverizei tudo, desbaratei. Se você faz uma coisa completamente diferente, isso certamente é um sinal de que você se esforça; não é sinal de que "melhorou" nem confirmação de que "é bom". É como se eu começasse com placas de trânsito e passasse para sinais de fumaça. Peguei pesado no tom teatral e solene, e as pessoas que "curtiam" o meu "estilo jornalístico" talvez vomitem após algumas páginas. Eu sei de tudo isso, e mesmo tendo pensado em escrever um livro diferente, menos "calça estampada", menos contrário às tendências da moda, escrevi uma coisa que não é inspirada na minha experiência pessoal, não é curtinha, não é fragmentada, não é não-linear, não é despretensiosa, não tem um tom de "planície". É exatamente o anti-exemplo que todos estavam esperando para sapatear em cima. Mas é que nem com assalto: eu sei que tem, mas isso não vai me impedir de andar sozinha e com ipod pra cima e pra baixo.