27.11.06

Este negócio de "Geração" é como uma festa com quinze debutantes, é só para apresentá-las à sociedade em conjunto; não é nenhuma garantia de que todas as debutantes sejam parecidas.
Entrevista para o Correio das Artes sobre A Feia noite. Vou colocar aqui porque não tem link direto. O link está aqui, tem que descer um pouco. Aliás, as matérias do Correio das Artes são ótimas, eu passo lá com freqüência.

Escrever bem é mais difícil do que publicar

Por Amanda K.

Com apenas 23 anos de idade a carioca Simone Campos lança seu segundo romance A feia Noite (7 letras). Romance esse que trata "das dores do crescimento". A feia Noite é um livro que parodia os "romances de formação e aqueles personagens de livros antigos, encharcados de culpa católica (Dostoievski, Fernando Sabino, Graciliano Ramos)". Formada em Jornalismo e atualmente cursando faculdade de Produção Editorial, Simone nos fala de como surgiu a necessidade e seu processo com a escrita.

Como decidiu tornar-se escritora?
Desde pequena eu queria descobrir uma maneira de expressar os meus processos de pensamento e sentimentos que eu tinha. É que eu achava a percepção, o fato de se estar consciente, fantástico, e queria "botar aquilo para fora". Quando aprendi a ler, com uns cinco anos, percebi que os livros eram a forma de expressão mais adequada às minhas intenções.

Como é seu processo de escrita?
Técnico. Técnica é conhecer seus pontos fracos e fortes. Eu montei uma técnica em volta dos meus potenciais e limitações. Dentro disso eu exerço variações de estilo, conforme pede o teor da história. Por exemplo, eu não sei contar histórias propriamente ditas, como "cronistas". Eu sei extrair "sentidos". Então o que eu faço é um painel. Eu pinto. Para não ficar muito parado eu concentro a ação nos diálogos, em geral é ali que as pessoas se conhecem, mudam de idéia, interagem.

Como é ser uma jovem escritora? É difícil publicar um livro tão cedo?
Escrever bem é muito difícil. Se a qualidade do seu texto salta aos olhos, publicar não é difícil. Claro que é preciso encontrar uma editora que tenha publicações na linha do seu livro e voltada para um público parecido. Não adianta mandar um livro de poesia para uma editora jurídica. Uma coisa que aprendi na faculdade de Produção Editorial é que as editoras não lêem quase nada do que chega. Mas se lerem o seu material e acharem muito bom, algum dia irão publicar.

Como você avalia o atual cenário da literatura, principalmente a brasileira? Acha que estamos em um bom momento?

Está melhor do que já esteve. Vejo alguns bons autores e algumas fraudes, mas é o de praxe.

Que obras, ou escritores você tem mais afinidade?
Meus autores preferidos atualmente são: Agustina Bessa-Luís, Vladimir Nabokov, Neil Gaiman, Chuck Palahniuk, Haruki Murakami. Dos recentes e nacionais, há a Índigo, Beatriz Bracher, Antônio Prata, entre outros.

Existe em você aquela eterna insatisfação com relação a obra produzida, mesmo depois de ser publicada? É uma escritora perfeccionista?
Não, eu acho muito difícil mexer no livro uma vez que está publicado, preto no branco. Mas é exatamente isso que me faz demorar para publicá-lo. Faço uma autocrítica impiedosa e constante, jogo capítulos inteiros na Lixeira (com L maiúsculo, escrevo no computador), reescrevo tudo. Não é que eu escreva pouco; eu publico pouco. Meus padrões são meio altos, até para mim. Se eu fosse crítica literária, provavelmente seria uma Bárbara Heliodora das letras. Então, sim: perfeccionista.

Você lançou esse mês o seu segundo romance, "A feia noite". De que forma está estruturado o livro?

Ele é bem mais linear que o primeiro, No shopping. Eu disse no blog que escrevi um livro fora-de-moda, e é verdade. Este tem princípio, meio e fim. Você só volta no tempo nas recordações dos personagens, à moda antiga. De piração só há algum delírio poético (na 3ª noite, por exemplo) e uma troca de ponto de vista (no final, passa a ser o da Maria Luiza).

De que trata o romance?
Das dores do crescimento. É uma homenagem-paródia aos romances de formação e àqueles personagens de livros antigos, encharcados de culpa católica (Dostoievski, Fernando Sabino, Graciliano Ramos). Achei que seria divertido pôr um desses (Francisco) no mundo de hoje. E pôr uma criatura "mais atual" (Maria Luiza) para andar com ele. Foi mais trágico do que divertido, mas gostei do resultado final.
A principal mensagem do livro: "não se faça de bonzinho, você está no jogo". Isto também pode ser estendido à política.

Você acredita que estamos presenciando uma pós-modernidade?
Cada um chama do que quiser, mas que o projeto iluminista faliu (daí, justamente: "a feia noite") é difícil negar. Gosto do que o Baudrillard diz, chamando a época atual de "pós-orgia", por exemplo.

Qual a importância dos blogues e da Internet na literatura contemporânea?
Alguma. Eu acho que é um excelente laboratório. Tenho meu blog, onde falo um pouco de tudo, mas sei que dificilmente é literatura. Tem o blog que escrevi como se fosse a Maria Luiza, contando coisas que aconteceram antes do "A feia noite" começar (afeianoite.blogspot.com). O endereço dele está na última página do livro, o colofão. Tem também meu projeto de ficção científica, o penadosyrebeldes.blogspot.com

Você integra a Geração 90. Considera essa uma geração linear em termos de estética?
Eu acho que o recorte foi mais pelo momento de publicação do que pelo estilo, não? Sempre é, na verdade. A Clarice Lispector nunca teve muito a ver com a Geração de 45, por exemplo. Este negócio de "Geração" é como uma festa com quinze debutantes, é só para apresentá-las à sociedade em conjunto; não é nenhuma garantia de que todas as debutantes sejam parecidas. De fato, nem eu tenho um "estilo definido"; veja só como o "No Shopping" se parece pouco com o "A feia noite".

Depois de “A Feia Noite”, você já tem algum outro projeto em mente?
Estou escrevendo uma ficção científica online, com direitos parcialmente liberados via Creative Commons – para que as pessoas possam usar os personagens, desde que sem fins lucrativos e me dando o crédito. O endereço é wwww.penadosyrebeldes.blogspot.com
Acho que o meu próximo livro será de contos, estou trabalhando em alguns.

Simone, qual a tua idade e o que faz atualmente?
Estou com 23 anos. Terminei a faculdade de Jornalismo na UFRJ, mas exerci pouco. Então ingressei em Produção Editorial (também na UFRJ) e estou gostando mais. Pretendo fazer mestrado também. Estou numa editora, estagiando. Meu ganha-pão mesmo são traduções freelancer – que era o trabalho original do Francisco, aliás, mas mudei para consultor político para não ficar com essa carga autobiográfica. Mas depois me dei conta de que já fiz consultoria política também, então não adianta.

Amanda K.
é contista. Publica no site Bagatelas!

(Correio das Artes, 18 e 19 de novembro de 2006)

23.11.06

o patrão ficou maluco

Acabei de saber que meu livro novo (e vários outros da coleção Rocinante) estão saindo a DOIS REAIS na feira da USP, que vai até amanhã. Se o problema era falta de dinheiro, não é mais. Mais barato que papel higiênico, e com uma qualidade um pouco melhor!
it came a long way, baby

Antes de descobrir a música eletrônica, eu já mostrava uma forte inclinação pela coisa. Não é coincidência. Nunca conseguiram me fazer aprender a tocar teclado (órgão eletrônico) direito, mas meu brinquedo instrumento preferido na época foi o sampler de percussões.
Mais uns fatos esparsos:

- Fatboy Slim, antes de sê-lo, participou da banda Housemartins, por cujo sucesso Build eu era vidrada (tocava na rádio Antena 1, de easy listening, que minha mãe ouvia).

- Meu pai gostava de música um pouco mais séria. Ouvia CDs dos Beatles over and over. Eu comecei a gostar muito da última música do álbum Revolver, a Tomorrow never knows. Um dia a MTV me informa que outra música amada, a Setting sun dos Chemical Brothers, era uma releitura de Tomorrow never knows.

- Quando descobri as mp3s, a primeira música que meu pai me encomendou foi a Darlin' dos Beach Boys, de que eu também gostava. Darlin' foi o nome da primeira banda do atual Daft Punk, que então fazia um rockzinho inspirado em Beach Boys. Foi o Darlin' quem recebeu a crítica negativa (dizendo que "parecia punk babaca", ou "daft punk") que batizou a dupla de house que todos conhecemos e amamos.

Enfim, quando ouvi a It's no good (do Depeche Mode) no rádio aos 14 anos, me bateu na hora que aquilo era o futuro (ai, doeu. Mas foi isso que senti, sem sombra de clichê. Pelo menos o meu futuro.) Não é que o rock'n'roll não me dissesse nada, mas dizia algo meio msnnbnnhtoviassú-- HÃ??
Eu não digo isso sempre, porque deixa os fãs de rock meio cabisbaixos ou putos. Eletrônica era predominantemente música para pessoas que não sentiam necessidade de ser salvas. A eletrônica não aspira a posteridade, sabe-se transitória, sabe-se degrau. Quando uma música eletrônica fica, é porque é realmente muito foda, e não porque marcou época. Os seres humanos que amam a eletrônica são líquidos, desprendidos de todo, poderiam substituir as partes do corpo todas por peças amanhã sem o menor assombro, seria natural, e viveriam adiante.
Penso que os acadêmicos sapateiam sobre essa noção, porque o líquido é terrível. Mas não é só terrível. Pode ser um caminho. Eu penso no tao: será que ao desistir, abandonar o instinto de sobrevivência, a necessidade primal de destruição e de construção, a (pós)humanidade não estaria dando sua última cartada para a própria sobrevivência?* (Acadêmicos sapateando de novo.) É fascinante. É perigoso. É sublime. Pode ser que seja um passo errado e tudo fica sem ser testemunhado até que surja outra vida inteligente na área. Mas seria um bom ponto final de romance.

*esta frase parece-se com o final do meu livro

22.11.06

Para quem mora em São Paulo, ó uma oportunidade para comprar meu livro baratinho: a Feira da USP dá desconto de pelo menos 50% nos livros, talvez no meu. Vai até sexta.

PS: A 7letras, minha editora, não está na lista do site, mas estava na lista mais completa a que tive acesso.

21.11.06

November Girl (excelente música do Steve Bug)

Estou na revista Trip novamente, e novamente vestida. É uma fotinha e uma notinha. Mas gostei do conteúdo.

20.11.06

Para assistir de noite com a luz apagada


A feia noite - ao som de The devil is in the details (Boards of Canada)

Fiz estas fotos para a aula de foto. Não sei se o trabalho final vai ser exatamente este - o objetivo era juntar metálico e bucólico, e falta escanear o bucólico (com o qual, aliás, esta música não combina). Por enquanto, ficou com cara de terror japonês e é um trailer do A feia noite. Livro, filme, whatever.

13.11.06

O capítulo perdido de Travessuras da menina má

Quando me mudei para a colônia Marte XXVI em 2118, jamais poderia imaginar as emoções que meu corpo de andróide seria capaz de processar. Até mesmo o amor.
Ao embarcar no ônibus espacial, o comissário depositou ao meu lado uma cabeça recém-descongelada inconfundível. Ao ver aquelas orelhinhas meio cobertas pelos cabelos agora arroxeados, os olhos muito pretos piscando sugestivamente, senti um rubor psicológico subir às minhas faces de silicone.
- Saudades de mim, bom menino?
- Vá sentar em outro lugar. Não quero mais nada com você.
- Não posso. Não tenho mais pernas.
- Eu mesmo a carrego. Diga onde a coloco.
(...algumas páginas depois...)
- É claro que eu ainda te amo. Tanto quanto a válvula que substituiu meu coração agora permite...
- Não se diz válvula, Ricardito. É nanoconstruto.
- Tanto faz.

José Wilker tem razão: Travessuras da menina má é um tanto repetitivo. Bobo. Trabalha dentro de uma lógica de fábula, em que há repetição e a graça está em pequenas quebras. Mas depois de um tempo, fica risível. Parece um livro de História. Os personagens-emblema no seu devido momento histórico de apogeu. Hippies nos anos 60, uma cenógrafa na movida madrilenha... por favor! É preciso demais. Quer dizer, se dessem isso às crianças ao invés dos livros de História, talvez elas gostassem mais da História. Mas este livro é supostamente pra adultos. Eu quero ver gente deslocada do seu tempo.
Dizem que pra criticar você tem que ser capaz de fazer melhor. Pois prefiro o meu livro novo, A feia noite. Maria Luiza é mais má e Francisco é mais Fukuda.
Fábula da criação

"Quando o Senhor fez a patricinha, Ele tentou quebrar a forma. Insistentemente. Acontece que vaso ruim não quebra. Acabaram saindo da fábrica milhares de criaturas idênticas. Dia desses vão receber o aviso do recall de cérebro."
Como vai terminar Harry Potter

Mais uma vez, cabeça-de-escritor. Tem que saber como funciona para descobrir onde ele está mentindo e o que pretende. J. K. Rowling não quer ser amolada para escrever um oitavo livro, pelo menos não tão cedo. Então o que ela vai fazer é tirar os poderes do menino-bruxo e deixá-lo viver. Assim, não poderá haver uma continuação - ao menos, não nos mesmos termos. Outra possibilidade é fazer o menino morrer e depois voltar dos mortos (e até trazer o padrinho Sirius junto com ele), mas acho que é uma solução descabida demais até para uma autora pop. Além disso, a amolação persistiria.

11.11.06

Mas que coisa

You scored as A classic novel. Almost everyone showers praise upon you for your depth and enduring relevance. According to your acolytes, everything you say is timeless, erudite and meaingful. Of course, none of them actually listen to you. Nobody listens to you at all, but it's fashionable to claim you as a friend. Fond of obscure words, antiquated notions and libraries, you never have a problem finding someone to hang out with. The fact that they end up using you to balance their kitchen tables is an unfortunate side effect, but you're used to being used for others' benefit. Oh the burden of being Great.

A classic novel

64%

An electronics user's manual

50%

A college textbook

50%

A paperback romance novel

50%

Poetry

39%

A coloring book

39%

The back of a froot loops box

25%

Your Literary Personality
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9.11.06

As melhores resenhas que recebi do A feia noite são agora dos meus parentes. Eles me dizem: estou lendo, e puxa, esse prende a gente, não? - dessa vez está... está dando para ler. - estou entendendo a história, a mulher abandonou ele e ele encontrou essa garota, né?
Poxa, troço gratificante. Primeiro: eles tentarem ler. Segundo: eles conseguirem. Terceiro: se preocuparem em me dar o feedback.
Quer dizer, eles já deviam ter desistido com No shopping. Tudo aquilo estilhaçado, partido - mas não. Eles deram uma chance ao A feia noite e estão gostando. Honestamente.
O que ocorria com o No shopping era, numa reunião de amigos, um cutucar o outro: tá, você comprou, mas você leu? E uns ficavam embaraçados, riscando pezinho no chão, outros diziam Liiii... e não comentavam mais nada. Por medo de errar, sabe. Sentiam que era coisa para especialistas.
Embora não vá aguar a minha escrita para virar o tipo de bruxa que vende, vou prestar atenção a essas reações, que podem indicar aí uns parâmetros.

- Pensamento do dia:
Amá-lo e ficar, tudo bem. Odiá-lo e deixá-lo, sem problema. O que é perigoso é que você fique, odiando.

7.11.06

Onde comprar A feia noite (agora com desconto)

Submarino (repare que para o Submarino é A feia da noite, mas está em promoção, então não vamos discutir)
Cia dos Livros
Livraria Cultura
Saraiva

2.11.06

penados y rebeldes

O Daft Punk é o máximo, Ladytron vem aí, eu e a APM fizemos um belo sabá-das-escritoras, Nicole ganhou o America's Next Top Model, passou um episódio de dia das bruxas dos Simpsons baseado em Battle Royale, e vou tirar minha primeira folga em um bom tempo. Portanto, embalada por tantos bons acontecimentos e por Philip K. Dick, resolvi deixar (além do trecho do novo livro aqui embaixo) também o meu novo projeto para vocês verem.
- É uma aventura espacial;
- é uma ficção-científica corporativa;
- é uma experiência com as leis de copyright, com a linguagem e com o suporte eletrônico;
- é grátis.
Clique aqui para entrar em Penados y Rebeldes
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1.11.06

Amostra grátis

Como vou debandar no feriado, deixo vocês com um trecho inédito de A feia noite, meu livro novo.

Baralho. Mexe num. Amanda não gostava de cartas. Está com vontade de foder a menina. Foder ela toda. Quanto mais ela falava.
Ele também não joga, só sabe de várias maneiras interessantes de fazer as cartas voarem e caírem umas entre as outras. Um tio ensinou.
Quanto mais ela fala também mais parece errado sentir tesão nela. Tão pura. Tão santa. Quisera tanto alguém como ela, que se preocupasse, que não tinha se preocupado com o que sentir depois que achasse.
Bela maneira de gastar energia. Muito tempo sem praticar, desde a adolescência, o tio já morreu? Nem sabe. A habilidade continua a mesma. As primas se interessavam mais. Maria Luiza logo se cansa.
A sua boa jogadora de fliperama parece ter algum parafuso solto, uma espécie de fixidez nas coisas erradas. De tão absorta na vitória não vê emoção no jogo.
Acabava de se convencer. Maria Luiza não se prostituía por dinheiro.
Queria que fosse pelo dinheiro – seu perdão estaria pronto, embrulhado pra presente, só passar no caixa. Se fosse por dinheiro, ou por qualquer outra coisa. Mas era por convicção ideológica.
Começa a figurar o storyboard que ela tinha montado pra ele (milhares de post-its e flechas em sua mente). Fazia sentido. De um jeito completamente deturpado.
Seria incorretíssimo chamá-la de ímpia. Ela é pia – tão pia quanto ele, ou até mais. Só que pelo outro lado.
Não li e já gostei
Livewires
Os Livewires são uma equipe de andróides ultra-avançados construída para esmagar andróides ultra-avançados "do mal". Os Livewires são Stem Cell, Cornfed, Gothic Lolita, Hollowpoint Ninja e Social Butterfly. Este cara aqui fez um post excelente sobre eles (logo abaixo da parte sobre o Wolverine, inevitável).