Bakhtin e Beber
A ervilha que me mantém acordada está no solo de algumas cidades. Se eu alcançar a plena felicidade, não escrevo, porque escrevo a partir de uma insatisfação, escrevo para mudar a realidade. São Paulo não é uma delas. Nova York não tenho nem vontade de visitar. Já estive em Minas e no Nordeste quase todo, que me soaram como uma espécie de pesadelo lento de Brasil profundo (gostei de Maceió e de Belo Horizonte, só para visitar). E o Rio onde moro? Não tenho nenhum apego especial a ele, senão a dois bairros, Botafogo e Tijuca. Estou escrevendo isso e ouvindo um sambinha ao vivo que pede esmola no bar térreo. Disso, e do resto, certamente eu não sentiria falta. meu livro A feia noite é sobre isso: o Rio acabou, só falta o maremoto.
Penso em me mudar para Curitiba ou Florianópolis. Nunca fui ao sul, em parte por medo de não querer voltar. Gosto do frio, porque me incomoda e, portanto, me inspira. Além disso o sul tem tradição de parir bons escritores e eu não me importaria de experimentar essa mágica.
Outros lugares em que poderia morar tranqüilamente:
- Brasília. Aí teria que ter um carro. Meu nariz sangraria no inverno. Teria muito sobre o que escrever. Tem vida noturna.
- Londres. Não suportaria ser garçonete. Sou muito desorientada para ser taxista. Poderia traduzir, mas teria que aprender o português de Portugal. Tem vida noturna.
- Petrópolis. Taí: em vez de correr para a metrópole, vou criar gato (um só) e filho(a) (um só) na cidade imperial, com gosto de monarquia e friozinho. Também precisaria de um carro e uma conexão banda larga. E de um trabuco para defender minha propriedade. Tem OVNIs.