3.12.08

Escape artist

Não ando muito a fim de pontificar -- deve ser efeito da tradução que ando fazendo. Basta dizer que, na crise, as pessoas se voltam para a religião -- inclusive os tradutores.
Estou em crise também. Reavaliando uma porção de coisas. Mas é só coincidência, a crise dos mercados mundiais não me excita nem me deprime (não tenho mais 14 anos).
E aqui entra a parte onde eu diria que isso se reflete no meu livro novo, mas disso vocês já sabem. Fidelidade à mensagem e ao fato de eu querer que ela atravesse o abismo até o outro lado -- o do leitor. É o tipo de pessoa que eu sou.
Nem sei se é mensagem, porque não é ficção moral (e, se for, não é a minha moral). É só um tédio de ter sido condenada a ficar na minha pele para todo sempre -- ou melhor, até virar comidinha de minhoca. É uma forma de escapismo. Uns têm o sexo; outros, a bebida; eu tenho a imaginação.
A mágica toda reside em organizar essa imaginação como ficção, porque eu poderia perfeitamente usá-la para jogar RPG, por exemplo. Justapor não é o suficiente. No momento estou achando necessária a ilusão de um fio que amarra a história dando um sentido ou uma falta de sentido linda. Estou bem estética.
Esse fio é necessário para cercear os personagens, delineá-los, defini-los. Paradoxalmente, delimitá-los lhes dá vida. Se pudessem ser todo mundo, não seriam ninguém.
Mas paradoxalmente de novo, quando eles ganham vida, a primeira coisa que fazem é escapar desse fio!
Exatamente como eu.