26.10.10

Eu estava com minha mãe na cozinha do sítio após um dia cheio de movimento, de visitas. Lavávamos louça juntas. Nisso, ouvi chamarem meu nome lá fora: “Simone. Simone.”, mas não tinha certeza. Fiz aquela cara de cão perdigueiro procurando.
– É a Jacinta – disse minha mãe sem parar de lavar pratos.
– Quem? – eu não conhecia nenhuma Jacinta.
– É a Cíntia que está te chamando. Vai lá.
Larguei a louça e fui ver quem era. A grade não pertencia ao sítio real, era a grade do Museu da República; do outro lado estava uma moça - a Cíntia. Filha da empregada doméstica que tivemos quando eu era pequena e vinha brincar comigo de vez em quando. Por que ela, pensei. Agora adulta, tendo acompanhado a minha idade, ela continuava alta e magra, mas seu rosto era de criança-velha de filme de terror. Eu já sabia o que me esperava naquele tipo de sonho – um susto escabroso, escatológico e arbitrário – susto criativo – mas era incapaz de não me aproximar. E andei na direção dela. Passo a passo.
– Simone – disse ela mais uma vez. Estaquei. Mas dei mais um passo adiante, ao que ela, agressiva, reagiu: – Pirrranha.
(Ela tentou me chamar de piranha e resvalou no R.)
Ainda assim continuei avançando. Quando cheguei bem perto, a cara e o corpo dela pareceram se achatar em 2D e ela, após recuperar a forma original, fugiu aterrorizada se esgueirando junto à pedra. Bem rápido.
Foi um sonho de febre. Acordei empapada, já sem ela.