16.12.10

Entrando na passarela, noto por trás do ombro de uma mulher que seu antebraço está engessado. Só que são dois antebraços para o mesmo lado e muito finos, em formato de coxinha de galinha. Se apossa de mim uma compreensão terrível: que são duas pernas engessadas até a coxa, pernas de bebê. O bebê, do qual nunca vejo o rosto, tem no máximo três meses. Quero sair dali. Mas a mãe confabula com a colega bem na entrada da passarela, impedindo a passagem; presa ali, eu não consigo parar de olhar, pensando bebês de três meses não andam, sequer engatinham, mal viram no berço, que diabos terá acontecido com esse para quebrar as duas pernas!!!! Ando adiante que nem pata, cambaia, sentindo a mente tentar produzir sentido daquilo com tanta força que produz um incômodo físico: um pai violento, uma babá bêbada, um acidente grave por descaso, uma malformação congênita, um médico maluco – quem engessa um bebê? Não me recupero por um bom tempo. Continuo tendo flashes do momento em que entendi as duas perninhas com gesso até a coxa. Com. Gesso. Até. A. Coxa.
Isso não foi um sonho.