7.3.03

Fetiches

Entrei no box. O meu sabonete de camomila havia sido substituído por um sabonete verde, que parecia de hotel.
Achei que tivesse sido a empregada. Mas porque ela sumiria com os sabonetes?
O mistério continuou até que, enquanto lavava uma certa peça íntima, percebi que a palavra escrita no sabonete era "Jesus".
Eu imediatamente parei de fazer o que estava fazendo (parecia um pouco desrespeitoso), enquanto chegava à triste conclusão de que meu pai continuava fazendo aquilo. Quer dizer, mesma coisa naquela vez em que ele ungiu (com azeite consagrado) os chinelos da minha mãe, e exagerou tanto na quantidade que ela escorregou e quase se estabacou. Ele também misturava sal ao sal que comíamos em casa, azeite ao nosso azeite, e ungia a mão pra apertar a mão das visitas (melecando a mão de todo mundo), além de outras coisas que não lembro agora.
É engraçado ele criticar a minha tia, que segundo ele vinha com pó de cemitério embaixo das unhas pra espalhar pela nossa casa (ou seja, nos consagrar a quem ela adora sem o nosso conhecimento), e fazer exatamente a mesma coisa! Pelo que eu conheço da doutrina cristã, não deveria ser assim!
Eu perguntei a ele pelo meu sabonete e felizmente ele não tinha jogado fora. Ele foi buscar, mas antes de me dar, relutou: "Por quê? Você vai tomar banho agora?". Eu respondi simplesmente: "Não, já tomei. Mas bota ele aí". E ele botou. Deve ter visto que eu usei o sabonete dele e comemorado. Isso é tão idiota...