18.5.03

Bienal

Cara, não sei se vocês sabem... mas quando eu tinha uns 8 anos, e ia à Bienal com meu pai, ele extraía facilmente descontos de até 40% nos livros dos donos dos estandes, especialmente porque comprávamos muito... e hoje? Hoje tem que batalhar por 10%. É tudo preço de tabela. Tudo sem desconto. O preço dos estandes inflacionou legal, e os caras acham que esse é o meio de pagar! (Exceção honrosa: o estande das editoras menores, o LIBRE).
Ó, estupidez... e na van que voltei, tinha uns distribuidores de Porto Alegre conversando... falaram tanta merda, me desculpe, mas coisas que decididamente monopolizam o mercado e estrangulam a porra da distribuição... "O importante é ter livro novo, senão o leitor não volta mais na sua livraria". (Claro que também existe a culpa dos donos de livraria, mas isto é uma outra história.) E os livros velhos, cara pálida? As pessoas não dão nem chance de haver sobrevida no mercado para uma boa obra... a culpa é do marketing também, com aquela história de just-in-time, o estoque entrou, tem que sair... é a cultura do best-seller.
Mas chega de reclamar. Quem procura, acha. Achei "Lolita", aquela edição que tem uma mocinha na capa, e não aquela boneca loura cretina, por dez reais, num sebo. Sim, um sebo dentro da Bienal. Fuça que tu acha... Mas, bem, por 10 reais e em perfeito estado de conservação. Beautiful garbage.
Geralmente não compro livros que já li (creia, não tenho nenhum da Clarice Lispector, li todos os que eu li de aluguel). Mas eu já andava com a idéia maldita de comprar esse livro e ele caiu do céu bem na minha mão. Como ninguém tinha levado aquela jóia ainda eu não sei. Talvez porque estivesse escondido atrás da placa que dizia "10 reais". Sei que adoro aquela edição da mocinha na capa, com a costura dos jeans aparecendo (foi a que li, com uns 16 anos, emprestada da biblioteca, em péssimo estado). A edição tem escrito "EDITÔRA" Civilização Brasileira atrás, sim, antes da reforma ortográfica. Que beleza. Significativo eu gostar desses sinais de velhice. Transferência, aliás, porque eu fui uma leitora muito implicante; quando Humbert/Nabokov pede ao leitor pra não pular as próximas páginas, eu ("ah, é?") saía virando freneticamente. Ele me dera a idéia... E crítica, espezinhava aquela auto-piedade que ele amostrava...
Comprei "Mundo Fantasma", e não "Cão", porque se tratava da edição portuguesa. Mas só descobri isso depois que abri o plástico, em casa. Porém, era mais uma vez o caso de o aspecto do livro combinar com o espírito do livro... e não me chateei. Li tudo, devorei. Tem que ler pra entender, mas combina estar em português de Portugal porque... a Enid e a amiga dela gostam de anormalidades/coisas ímpares em geral. Também levei "Mangá tropical", um livro pra faculdade e um livro que custava 3 reais (ou um dólar!) dentro de uma editora que parecia freudianamente obcecada por sexo.
Também olhei uns livros sem comprar: "O diário de Lô", que seria a versão dela, da Lolita, dos acontecimentos (não vai vender nada porque ninguém sabe o que é Lô). Dei uma lida e não achei idiota, graças, se mais dia menos dia iam fazer uma coisa dessas, que sorte que não foi idiota. Eu pretendo comprar, assim como "O Ocidente é um acidente", "Minha querida Sputnik", "O chão que ela pisa" e, talvez, "Acqua Toffana".
Fui e voltei de van da Bienal e, aparentemente só de sacanagem, na ida e na volta tocou uma música do Ed Motta que eu nunca tinha ouvido: "Tem espaço na van". Putz.
E as editoras de quadrinhos estão ótimas.