9.3.04

Desconfio muito quando vejo alguém lendo/citando/idolatrando autores marginais importados. Sobretudo americanos.
Fico ressabiada. Com a pulga atrás da orelha. Quem cita filósofos franceses é um chato inofensivo. Mas não é repulsivo. Não acha que é o rei da cocada preta. Os idolatradores de autores marginais importados não só o acham como têm certeza. Acham que são o equivalente brasileiro de. De alguma forma, mesmo que nem escrevam. "Não se encaixam" no mundo e têm orgulho disso. Mas o mundo há de adorá-los. Suas loucuras descritas com detalhes gráficos lotam blogs e lesam sistemas de comments, quando os têm - não precisam da opinião dos outros, bem entendido. Na vida real você os vê com livros destes autores numa mão e cigarros/cervejas/drogas baratas na outra. Sim, porque drogas caras são para os riquinhos. O adorador-de-autor-marginal é pobre e reclama disso, mas no fundo gosta. Senão, ele não seria marginal como seu ídolo.

Questão crucial: por que esse cara não idolatra um autor marginal do Brasil? Da cidade dele? Da idade dele? Com experiências talvez parecidas com a dele, com a qual ele poderia se identificar mais? Será que o marginal-local carece de qualidade técnico-literária ou será que é uma merda? Não, é que ninguém pode ser melhor que o idólatra-de-marginais-importados na "categoria" dele. É como um peso-mosca com medo de apanhar de um peso-pena. Se possível, ele nem lê o marginal-local. Se ler, necessariamente execra, não necessariamente com argumentos razoáveis.

E é hilário: o cara que é assim e "ainda" não conheceu seu autor-marginal... dê um livro pra ele de aniversário e observe sua felicidade ao encontrar sua alma gêmea. Dirá que tudo o que ele pensava estava ali. Claro, o mundo é uma merda & very mean para alguém tão brilhante/especial quanto ele, assim como o foi para; suas burradas amorosas em comum parecerão bem melhor no papel; igualmente para os pileques/viagens/overdoses/vômitos em sarjetas anônimas.
Periga até ele achar que alguém deveria escrever um livro sobre suas desventuras, e porque não ele próprio? Aí, sai de baixo...