17.3.08

malversação

Estou pensando em fazer dança do ventre. Pensei em fazer pole dancing como a Diablo Cody, mas o pole dancing eu já aprendi. Com 11 anos, no caramanchão do pátio da escola.
Não tínhamos muito o que fazer no recreio e os inspetores retentivos-anais não emprestavam bola. A bola era material exclusivo da aula de educação física. Então inventamos essa brincadeira. Formávamos uma fila como se fosse para amarelinha, só que atrás do poste do caramanchão, para aprender a rodopiar como strippers (sim, todas nós crescemos assistindo Flashdance na Sessão da Tarde). Cada uma rodopiava o máximo de vezes que conseguisse. Quem desse mais voltas ou permanecesse mais tempo, ganhava. Lembro que logo depois dessa nossa atividade escandalosa pintaram uma amarelinha no chão do outro pátio e nos mandaram parar "porque o caramanchão poderia cair" (ah, tá, sei). Mas o pole dancing era bem mais divertido. Eu era a melhor pole dancer do pedaço. Minhas coxas eram musculosas por causa do vôlei que eu fazia desde os nove anos, então minha aderência era ótima. Eu controlava a altura e a velocidade da rodada: de um pulo, grudava no poste lá no alto como uma tarântula e ia escorrendo devagar, mantendo o impulso do giro com leves angulações de cada perna - isso aprendi com o balanço -, até chegar, bem lentamente, à base. Cheguei a aprender a rodopiar com uma perninha esticada, a outra encolhida, e o tronco jogado para trás. Eu era uma nerd estranha.
Coisas físicas em que eu era ótima: pole dancing, queimado, handebol, pular corda. Coisas físicas em que eu era péssima: natação, ginástica olímpica, qualquer dança sincronizada inclusive quadrilha, pular elástico.
(É, eu tive uma educação bem completa. Adorava aquele colégio. Ele permitia que os alunos explorassem todas as suas possibilidades na vida - todas mesmo.)

Eu danço cerca de meia hora por dia. Ou dançava. O téquino não propicia mais os movimentos vigorosos de antigamente, primeiro porque não os acho mais cool e depois porque tenho uma vizinha de baixo insone que adora ter em quem pôr a culpa por isso.
Praticar qualquer atividade que use o corpo é necessário para mim. Tendo aos problemas circulatórios, quer dizer, desmaiar por aí e ter varizes, e nenhum me apetece. Também tem aquela coisa de equilibrar dionisíaco e apolíneo, all work and no play makes jack a dull boy, mimimi mimimi. Minha psicopata interior fica mais calminha com uma dose esporádica de endorfina. Então, tome dança do ventre.
(Essa escola, a minha escola, aliás, fechou. Mas ela é tão coberta de good vibes que não vai virar faculdade particular fuleira, nem shopping, nem igreja, nem cinema e nem clube. Vai virar um centro de artes. Aproveito para fazer minha performance no caramanchão.)