29.9.08

sou nerd mas to na moda

Em Londres so faz sol ha uns cinco dias. Estou aproveitando para exibir o preppy look em todas as suas nuances. (Fiz lentes de contato so para andar na chuva perpetua, entao sem chuva, aqui so da oculos.)
Nunca impliquei com oculos. Acho que eles sao apenas mais uma opcao de visual. Agora que a industria da moda se apercebeu de que essa e uma deliciosa maneira de vender todas aquelas armacoes... perdeu, playboy. Alias, espero que as patricinhas da minha ex-escola estejam todas vivas e bem para testemunhar o proprio inferno... serem obrigadas a se vestir como eu! Muahahhahaha.
Ja fiz nerd cyberpunk, nerd manga, nerd escolar, nerd clubber (existe!). Estou francamente me divertindo. Estou frivola. Londres e casa.
Nao so por causa da moda nerd. Por muito mais. Por exemplo, as pessoas aqui compartilham da minha neura.
Nossa neura e: respeitar o outro como um ser humano. Este e o verdadeiro sentido de politeness.
Uma das regras: toda vez que encontrar um desconhecido na rua, olha-lo tempo suficiente (e da forma adequada) para reconhece-lo, mas nao tanto tempo (ou de forma inadequada) que ele va se sentir invadido.
Meu timing, e o deles, e perfeito.
Mas a regra continua: a nao ser que voce sinta uma fraca e sutil luz no olhar do proximo que indica amizade, luxuria ou comunhao de almas, pare de encara-lo e siga o seu caminho sem demais manifestacoes.
Nao e facil? Me parece facil. Facil e natural.
Outra: toda vez que estiver num lugar publico com alta circulacao de pessoas, tente tornar seu corpo parte do fluxo, e nao um obstaculo ao mesmo.
Eu tambem me movo como eles (embora requebre um pouco mais ao andar, tudo bem, viva a diferenca e outra regra de ouro aqui.)
Nao sei se moraria aqui, mas certamente gostaria de poder recosturar a Pangeia para Londres ser ali na esquina.
Ah: e ouvindo muito Radiohead. Combina demais (como Boards of Canada com as Highlands).

22.9.08

Dublin, a cidade dos meus pesadelos

Dublin e uma cidade desconfortavel. Em geral, as pessoas te olham de um modo estranho - com lascivia ou sneering (contracao torta do labio superior e reviramento de olhos), mas sempre estranho. Parece que nao te consideram um ser humano. Quando voce entra numa loja, te olham com desprezo e deixam voce sem ser atendido. Quando voce exige atendimento, te atendem com desinteresse, medo de que voce roube alguma coisa ou um sorriso de plastico no rosto.
Dublin junta o pior da Europa com o pior do Brasil. E impressionante. E uma cidade muito socialista (tem um cartaz em cada poste). As mulheres sao fofoqueiras e os homens mexem com as mule na rua. Os bares enchem em jogos de futebol. E tem engarrafamento. Ah, e tem brasileiros a beca (como em Amsterdam... querendo a bagunca organizada e com mais opcoes de consumo/ casas noturnas).
A arquitetura de tijolinhos e como a inglesa, so que mais feia. Os predios novos sao construidos no mesmo, hum, estilo dos antigos. O tecido urbano esta cheio das cicatrizes, chamines, marcas de antigas construcoes, ruas tortas e estreitas.
De noite e aquele assustador grandioso que tentei emular em A feia noite. Alguns pesadelos que eu tinha quando crianca eram assim: eu flutuando a dois ou tres metros do chao e controlando meu percurso por uma cidade parecida com o Rio, a noite; no final, empolgada, eu estava a uma velocidade tal que nao podia parar quando vinha um beco sem saida; se eu batesse nele, eu morria e ia pro inferno - sutil, nao? Pois bem, os becos com que eu sonhava estao todos em Dublin.

Nesse bad mood eu fui visitar o museu dos escritores de Dublin. Como se sabe, Dublin produziu duzias de bons escritores, e visitando o museu voce tem a chance de conhecer mais sobre eles sem usar a Wikipedia.
Yeats: foi para Londres. Passou a vida apaixonado por uma simpatizante da causa irlandesa, Maud Gonne, e fez mil propostas de casamento a ela (e uma a filha dela, Iseult), sendo recusado todas as vezes.
Wilde: foi para Londres. Acabou sendo acusado de homossexualismo, condenado e preso por dois anos. Morreu num hotel de papel de parede feio, em Paris.
Swift: esse ficou. Foi posto "na geladeira" por incomodar demais, sendo nomeado para um cargo eclesiastico escroto. Foi se desencantando com a raca humana, morrendo mudo e com fama de louco.
Joyce: nunca gostou muito de Dublin, entao passava pouco tempo aqui. A gota d'agua foi quando um editor nao gostou de como Dublinenses retratava a vida na cidade e destruiu a primeira edicao. Dai ele nunca mais voltou.
Beckett: seus poemas e pecas eram continuamente banidos e censurados aqui. O texto diz que ele "era infeliz em Dublin". Partiu para Paris, e raramente voltou a Irlanda.
De Cork, onde eu estava antes, veio um famoso escritor de contos:
Frank O'Connor: ficou amigo do Yeats, veio para Dublin, onde fez parte do comite diretor do Abbey Theatre, mas saiu devido a intrigas dos outros diretores.

Ei, sou so eu ou voces tambem perceberam um padrao?
Primeiro Dublin dificulta a vida do escritor ao maximo, depois faz turi$mo em cima dele.
Mas talvez seja exatamente por isso que ela produza tantos escritores. Depois de comer o pao que o diabo amassou, fazer grande literatura e bolinho...

Como toda regra tem sua excecao, o Shaw morreu na gloria em Dublin. Mas que coisa; deixei para olhar a placa dele por ultimo, porque nunca fui com a cara dele.

21.9.08

chega de saudade

Foi so sentir saudades e acabei de ouvir portugues 2 vezes - em Dublin.
Uma garota falava da vida sentimental ao celular a toda velocidade e volume, certa (ou despreocupada) de que ninguem a entenderia, mesmo depois de ter olhado nos meus olhos - foi esse o teste definitivo, ninguem adivinhou que sou brasileira. Nao detesto tanto assim o pais a ponto de renegar a nacionalidade, mas rejeito os tracos que entregam o brasileiro no exterior - justamente a conversa particular em voz alta, a furacao de fila, as calcas por demais arrochadas, enfim, a falta de nocao - e ai fico incognita.
Mas a garota falava assim (era paulista):
- Ai, ele nao, ele nao tem nada que saber disso, conta pra ele nao. E que isso e... ai... (longa pausa) esqueci a palavra em portugues!
Depois entrei num cybercafe (este) onde tocou Sepultura. Pelo menos presumo que seja Sepultura. A letra falava em "favela" e antes do solo soltavam um "porra" meio sem contexto.
Agora sentaram mais dois do meu lado. Mineiros. Ta bom. Parti.

20.9.08

De Cork, Irlanda

Fiquei umas duas horas vendo todos os posts acumulados no leitor de feeds. Na frente daquele retangulo colorido, duas horas passam voando. Estava com saudade de ler em portugues. O cybercafe so tocava Radiohead e Portishead, ou seja, eu estava em casa.
Deu duas horas, paguei, sai e - po, que frio.
- Ah e, estou na Europa. - lembrei.
Esqueci mesmo. Minha capacidade de dissociacao e assustadora. So nao e mais assustadora porque, justamente, eu disassocio.
Nesse estranho mundo as pessoas estavam falando ingles e alemao e usando roupas sumarias. E tambem sabado, dia de sair. O contexto me urge a fazer tal e tal coisa... mas ja sai ontem e anteontem, estou farta, e o suficiente.
Eu tinha entrado no cybercafe porque queria falar com a minha mae via Skype. Ela disse que estaria em casa no sabado, mas teve que viajar para o sitio porque alguem roubou os cabos de cobre de la.
Agora estou querendo ouvir a minha lingua. Da vontade de pegar algum incauto na rua e obriga-lo, por meio de violencia, a dizer qualquer coisa em portugues, rapido, rapido! Diga Pele, samba, caipirinha, oubrigadou!
Dizem que brasileiros estao em tudo quanto e lugar mas na Escocia e na Irlanda ainda nao vi nenhum. A maioria das pessoas aqui e alema, francesa, japonesa e chinesa. De vez em quando voce encontra um odd number - um suico, um canadense, um espanhol - mas nem um portugues ate agora.

Eu queria escrever algo sobre a sensacao que se tem ao sentar em certos bares daqui. Ate sozinha. Voce realmente tem a sensacao de que tudo pode acontecer (= vingar). No Brasil, sentar num bar, boteco ou whatever so me da sensacao de inercia e derrota, por melhor que seja a companhia. Sentando-se acompanhada no Brasil, OK, voce pode ter a sensacao de estar se divertindo com os seus amigos, mas por mais talentosos que eles sejam (you know who you are!) voce nao sente ENERGIA POTENCIAL DE GRUPO, sabe? Que voces sao as pessoas certas fazendo as coisas certas na hora certa. Queria saber qual e a magica.

18.9.08

O momento em que voce assina o feed de um blog e magico. Voce fala: ah! eu quero ler os textos desse ai em primeira mao!
Mas o momento em que voce deixa de assinar o feed de um blog e ainda mais intrigante. Voce tem deixado aquele blog para ler por ultimo, acumulado posts que no fundo voce nao quer ler mais. Quando voce finalmente abre os posts acumulados, ve que o sujeito anda elogiando coisas que voce detesta, ou nas qual nao ve o menor merito; e acabando com a raca das coisas que voce mais ama e preza. Nao so isso, mas tambem o faz de forma tediosa, pouco aproveitavel literariamente. De repente ele lhe parece nada mais que um velho ranheta, e voce percebe que nao extrai mais qualquer prazer de ler o que ele escreve. Voce para de assinar o feed do blog dele. Coloca-o na geladeira, quer dizer, os links de blogs "a mais" que voce vai visitar nos dias de maior tedio. Uma segundona, por assim dizer.
Teve um que ate da segundona caiu, acredita? Desencantei.

15.9.08

Consegui perder todos os espetaculos bons em Glasgow, exceto pelo festival Parklife (falo dele mais abaixo). Vai ter um bale com musicas de Radiohead e figurino anos 20 e eu nao vou estar aqui. Vai ter uma peca experimental chamada Little Vikings Are Never Lost, inspirada em "contemporary Scandinavian music" (suponho que isso queira dizer Bjork, Royksopp, Poni Hoax e The Knife) e eu nao vou poder ver. Tem tambem um show do Mogwai que, claro, vai acontecer so em outubro, quando nao estarei mais aqui. Damn it.
Pelo menos realizei meu sonho de adolescencia e consegui ir a uma rave onde tocou bastante Prodigy. Sei que teoricamente as raves acabaram no Reino Unido, mas na verdade so mudaram de nome para "festivals" e puseram cachorros fofinhos cheirando seu pe na entrada. Organizaram a suruba, por assim dizer. Exceto pelo Happy Bus.
O Happy Bus e um double-decker (onibus de dois andares) direto, sem a camera da CCTV instalada no topo, que leva e traz as criaturas da festa - qualquer festa. Ou seja, o segundo andar e anarquia em ambiente aquecido. Dois sujeitos na minha frente foram inalando e fumando as mais diversas substancias, enquanto na parte de tras britanicas tresloucadas e vestidas com roupas de vagaba-neon berravam em sotaque ininteligivel.
Implicancias a parte, o Happy Bus e uma otima medida pra tempos de lei seca. Roubem essa ideia, por favor.
mas que nada

- sem tampinha na banheira como o Eugenio de Jesus Kid (do Mutarelli). Recorri a banheira do outro andar.
- cartao de debito do BB nao funciona, ao contrario do que me disseram. Testei em 2 lojas.
Esboco para uma tipologia do tarado britanico

Ai no Brasil eu conheco a raca, mas aqui ainda estou estudando. Vejamos os meus esbocos:

CREEP. A musica do Radiohead nao e uma mera historia de amor. E uma auto-confissao: Thom Yorke faz parte dessa tipologia. Creep = sorrateiro. Voce nem nota ele la, mas ele esta la, e olhando pra voce! Como sou uma especie de she-creep, sou capaz de detecta-los, especialmente se nao estou morrendo de sono. Percentagem: 8% da populacao.

OLHAR 43. Existe em todas as idades e grupos sociais. E o homem medio que faz aquela expressao pseudo-sexy de porteiro quando ve uma mulher bonita (ou simplesmente montada) se aproximar - igualzinho ao Brasil. A diferenca e que aqui eles podem tentar gracinhas mais pesadas, como tentar te agarrar, especialmente quando bebados e "se ninguem estiver olhando". A CCTV existe por causa desses caras. A CCTV e o Big Brother aplicado no Reino Unido, cameras em todo lugar, inclusive no segundo andar dos onibus. A policia sai para investigar "CCTV incidents" o tempo todo - ate no meu hostel apareceram. Percentagem: 15% da populacao (pode aumentar para ate 50% no horario de saida dos pubs).

PSYCHO. Esse e o perigoso. Sabe mentir sem alteracoes faciais e extrair informacoes sobre voce casualmente - informacoes que usara para te stalkear, te levar para um lugar deserto ou te encurralar depois. Percentagem: de 1% a 2% da populacao.

12.9.08

Morvern / Morton

Samantha Morton fez um monte de papeis que, de uma forma ou de outra, tem a ver comigo. Conheci-a atraves do filme Morvern Callar, em que ela faz a personagem-titulo - e tao bem que fui forcada a procurar o livro, e agora estou aqui na cidade de Oban, onde se passa a historia de ambos. No mesmo ano ela fez Minority Report, filme baseado no romance de Philip K. Dick, em que fez a precog que passa metade do filme boiando num tanque e resmungando previsoes, e metade resmungando enquanto foge tangida por Tom Cruise.
Como se nao bastasse, topei com ela ao assistir Elizabeth, a Idade de Ouro - no papel de Mary Stuart! Gosto da Rainha Mary desde que ela me foi apresentada por Monteiro Lobato, e agora estou visitando uma porcao de lugares relacionados a ela.

an T-Oban

Vim para Oban para passar a semana entre dois fins-de-semana, ou seja, nao fazer nada.
Aqui tudo e bilingue: gaelico-ingles. Ouvi uma adolescente falando gaelico no celular, uma das coisas mais bizarras que ja vi na viagem.
An T-Oban e o nome de Oban em gaelico - falta o acento agudo no a. O gaelico tem acentos, agudo e grave, mas aparentemente os computadores ignoram isso.

you know, just morverning around

Estou fotografando uma porcao de lugares que Morvern Callar frequenta no livro. Ela trabalha no supermercado, passa algum tempo na estacao de trem, na torre, no pub Manhole (era atras do restaurante Mactavish's, hoje e uma casa de festas para turistas) e no "Kale Onion" (o Caledonian Hotel depois que caiu a letra D). Achei todos os lugares, ate mesmo uma tal de Morvern Hill, menos a Tree Church (uma igreja feita de arvores), mesmo com indicacoes do centro turistico. De qualquer forma, me disseram que a Tree Cathedral esta "overgrown" e ja perdeu a forma. Minha maior decepcao mesmo foi ver que colocaram de volta o D no Kale Onion. Mas em compensacao, o Waterfront Restaurant e agora W terfront...
E, eu sei, sou muito boba.

10.9.08

there can be only one

Um dos motivos porque Escocia e literatura estao tao associadas na minha cabeca vem dos meus quatro/cinco anos de idade. Minha bisavo acabava de morrer e, embora eu nao a conhecesse o suficiente para me sentir triste por ela, eu me sentia triste por ter descoberto que todos nos morreriamos, inclusive eu. Nessa mesma epoca meu pai se elegeu sindico, e comecamos a ouvir apelidos para os vizinhos na nossa casa (sim, esses dois ultimos fatos estao intimamente relacionados). Foi ai que muitas vezes ouvi mencoes a um certo Imortal que morava no nosso predio. O Imortal isso, o Imortal aquilo. Perguntei quem era o Imortal, querendo saber como e que ele conseguia nao morrer, e recebi uma resposta meio confusa da minha avo. Aparentemente o homem tinha dois apartamentos, um em cima do outro, um onde morava com sua esposa, outro cheio de livros. Ele tinha um apartamento so de livros e fazia parte de uma tal academia.
- Mas ele nao tem nome?
- Tem, e Lacombe.
- E como e que ele consegue nao morrer? - finalmente perguntei.
- Ha, ha, ha. Nao e que ele nao va morrer, e que... as pessoas sempre vao lembrar do nome dele... para a posteridade.
- Ahm.
Detestei essa resposta. Gente idiota, chamar de imortal um cara que vai morrer. Alias, como era de se esperar, depois o Imortal morreu e cada membro da minha familia deu uma risadinha ao repetir para as visitas que "o imortal morreu". Eu ja sabia revirar os olhinhos nessa epoca e fiz bastante isso. (ver post sobre a tia Imperatriz, procurem ai pra baixo que nao quero perder meu tempo com isso)
E a Escocia, voce me pergunta? Bem, basta dizer que por essa epoca saiu o filme Highlander, com o subtitulo em portugues de O Guerreiro Imortal, e logo fiquei imaginando Americo Lacombe com uma espada na mao entre relampagos. Nao ha duvida do porque de a literatura comecar a parecer muito atraente para mim.

PS: Nas minhas pesquisas para o Samba Falado descobri que, naquele predio de Botafogo, rua 19 de fevereiro 127, ja morou tambem Vinicius de Moraes.

8.9.08

Cafe fair trade

Todos aqui estao preocupados com o meio-ambiente e os pobres. Ate ai nenhuma novidade, mas eu nao sabia que a obsessao tinha chegado a ponto de ser impressa em cardapios. Coisas como "nao utilizamos alimentos geneticamente modificados" e e "infelizmente nao podemos garantir que nossa comida e nut-free" (sem nozes - para quem e alergico a nozes). Outros avisos comuns sao sobre "fair trade coffee" (cafe com certificado de nao-exploracao economica, ou seja, mais caro que o normal), "recycling", "veggie dishes", "donations" para favelas em paises com nomes impronunciaveis...
Nao sei de nada, so vim aqui ver as ovelhinhas, mas francamente me parece muito exaustivo prestar atencao a isso. Qualquer lavadeira diria que isso e falta do que fazer (talvez acrescentando que essa gente precisa e de uma bela sova).
Para nao dizerem que sou espirito de porco, gostei de uma placa que nao conhecia: "Elderly people", ou seja, algo como "Cuidado: travessia de idosos", geralmente perto de asilos. Se criancas, que sao avoadas mas ageis, merecem uma placa, imagine os idosos. Muito bem pensado.

Literatura fair trade

Mas voltando a vaca fria, essa obsessao e essa falta do que fazer se refletem na literatura dos paises desenvolvidos. Prefiro os livros sobre a falta do que fazer, como Morvern Callar (Alan Warner) e Trainspotting (Irvine Welsh) - alias estou postando de Leith, onde se passa este ultimo. Mas o que tem de personagens anorexicas / self-cutters (The trick is to keep breathing, Janice Galloway) ou metaforas elaboradas sobre vegetarianismo (Sob a pele, Michel Faber) ou feminismo (A historia da aia, Margaret Atwood) nao esta no gibi.
Por falar em Janice Galloway, ela esta lancando um novo livro, This is not about me, que, claro, e sobre a vida dela. Como sou anti-autobiografica na maioria dos casos, nao devo comprar. Mas... por ser Janice Galloway, eu titubeio.
Pois e, motivo "literario" pra essa viagem existe: ela e toda orientada para beleza, inspiracao e literatura, alem de olhar o Brasil de outro angulo (de longe). Entao podem ir recolhendo as tochas e os ferros em brasa e ir trabalhar, afinal nos, ai embaixo, ainda nao estamos sem nada pra fazer.

Cafe fair trade de novo

Alias, me pergunto por que tenho de pagar os olhos da cara por cafe fair trade? "Comercio justo" seria eu pagar o preco de um cafezinho carioca aqui, nao? (Especialmente com o gosto ruim que esse cafe tem. Penso seriamente em abrir um cafe brasileiro em Edimburgo.)

Literatura fair trade de novo

O Brasil sera a proxima bola da vez na literatura (em dois anos). Ja cansaram de arabes e chineses, e logo vao precisar de um novo suplemento exotico. Digo isso como formanda de Producao Editorial, nao como escritora - mas como escritora esfrego as maozinhas de contentamento.
O Brasil interessa bastante aos estrangeiros (quando digo que sou dai, os olhos das pessoas brilham e algumas ate repetem, OH! BRAZIL??); e o proximo grande mercado literario. Estamos colocando as criancinhas na escola e implantando bibliotecas/ politicas de leitura; de olho nisso, grandes grupos estrangeiros - portugueses, espanhois e americanos - estao procurando formas de adquirir grandes editoras nacionais, isso se ja nao entram de sola mesmo. Logo eles vao apresentar aos escritores nacionais contratos com opcao de publicacao no exterior e, uma vez detonada a onda brasileira, vao usar essa opcao. That`s the way you do it, money for nothing...
Producao editorial serve pra alguma coisa sim... para eu ser minha propria agente literaria.
Alem de todos esses indicios, tem a vibe que estou sentindo.
Nao sei se os gringos so vao querer coisas bossa nova e dos pampas, mas sei que vao nos querer. Trust me.

5.9.08

It`s the Highlands, wench!

E muito dificil ser groupie de uma banda que nao faz shows, mas eu estou conseguindo. Gostaria de partilhar minha experiencia.
Como assistir um show do Boards of Canada: leve um iPod para sua excursao as Highlands escocesas.
Eu ja voltei da minha.
Nem precisava ter levado o iPod, na verdade. O velhinho da van so colocava musica escocesa pra tocar, inclusive Belle e Sebastian. Na minha lista "Escocia", entraram Boards of Canada, Garbage e Ladytron - pela nacionalidade dos componentes - e outros por afinidade, como Underworld (com Oich Oich) e o Air (com Sex born poison). Nisso, passamos pelo Loch Oich, momento em que realmente entendi a razao do nome Oich Oich para aquela cancao.
Chega a ser meio ridicula a quantidade de historia espremida (ou espalhada) naquele canto do mundo. Paramos no castelo onde foi filmado O Calice Sagrado do Monty Python (com direito a fotos de coelhinhos assassinos) e passamos pelo castelo de Macbeth. O cara contou a historia de um certo castelo que tinha direito a exercito proprio e fiquei morrendo de despeito do sul-africano que herdou aquilo tudo (por ser um primo distante do ultimo proprietario) e simplesmente nao quis ficar com o castelo. As Highlands sao mesmo material de fabulas, cheias de coelhinhos e ovelhinhas e cogumelos e berries.

PS: examinando o folheto que ganhei na Candlemakers Row, li que aquela foi a verdadeira inspiracao para o Beco Diagonal. Faz sentido. Fica na diagonal do cafe preferido da mrs. Rowling. (Nao, nao escrevi la; fui achar meu proprio cafe.)

3.9.08

Oi. To fora do Brasil, ou seja, sem acentos.
Estou num lugar com muitos ruivos. A cada foto que eu bato sai uma cabeca vermelha num canto, e quase nunca e intencional.
Tive dor de garganta, curada com uma faixa de pescoco e Strepsils (aprendi o que era numa musica da Lily Allen).
Descobri todos os points freak`n`geek da cidade sem querer, como que atraida. Tem uma rua, a Candlemakers Row, que tem uma loja de quadrinhos, outra de livros de scifi, uma loja gotica e um brecho retro; e um pouco atras, na George Bridge, tem a Biblioteca Central e um dos cafes onde dizem que a J K Rowling escreveu Harry Potter. E uma cidade literaria; tanto que ganhou uma campanha para vende-la como inspirational, mas eu nem sabia disso. O pior e que e verdade. Estou tentando acertar meu livro aqui, e aparentemente conseguindo.
Adorei todos os museus. Nao sei como conseguiram, mas sao todos divertidos.
O Rio (de Janeiro) pales (or "tans") in comparison, mas aqui o cafe e horrivel! Ou pelo menos ainda nao achei o certo.
OK, estou em Edimburgo, mas nao me sigam.