Cafe fair trade
Todos aqui estao preocupados com o meio-ambiente e os pobres. Ate ai nenhuma novidade, mas eu nao sabia que a obsessao tinha chegado a ponto de ser impressa em cardapios. Coisas como "nao utilizamos alimentos geneticamente modificados" e e "infelizmente nao podemos garantir que nossa comida e nut-free" (sem nozes - para quem e alergico a nozes). Outros avisos comuns sao sobre "fair trade coffee" (cafe com certificado de nao-exploracao economica, ou seja, mais caro que o normal), "recycling", "veggie dishes", "donations" para favelas em paises com nomes impronunciaveis...
Nao sei de nada, so vim aqui ver as ovelhinhas, mas francamente me parece muito exaustivo prestar atencao a isso. Qualquer lavadeira diria que isso e falta do que fazer (talvez acrescentando que essa gente precisa e de uma bela sova).
Para nao dizerem que sou espirito de porco, gostei de uma placa que nao conhecia: "Elderly people", ou seja, algo como "Cuidado: travessia de idosos", geralmente perto de asilos. Se criancas, que sao avoadas mas ageis, merecem uma placa, imagine os idosos. Muito bem pensado.
Literatura fair trade
Mas voltando a vaca fria, essa obsessao e essa falta do que fazer se refletem na literatura dos paises desenvolvidos. Prefiro os livros sobre a falta do que fazer, como Morvern Callar (Alan Warner) e Trainspotting (Irvine Welsh) - alias estou postando de Leith, onde se passa este ultimo. Mas o que tem de personagens anorexicas / self-cutters (The trick is to keep breathing, Janice Galloway) ou metaforas elaboradas sobre vegetarianismo (Sob a pele, Michel Faber) ou feminismo (A historia da aia, Margaret Atwood) nao esta no gibi.
Por falar em Janice Galloway, ela esta lancando um novo livro, This is not about me, que, claro, e sobre a vida dela. Como sou anti-autobiografica na maioria dos casos, nao devo comprar. Mas... por ser Janice Galloway, eu titubeio.
Pois e, motivo "literario" pra essa viagem existe: ela e toda orientada para beleza, inspiracao e literatura, alem de olhar o Brasil de outro angulo (de longe). Entao podem ir recolhendo as tochas e os ferros em brasa e ir trabalhar, afinal nos, ai embaixo, ainda nao estamos sem nada pra fazer.
Cafe fair trade de novo
Alias, me pergunto por que tenho de pagar os olhos da cara por cafe fair trade? "Comercio justo" seria eu pagar o preco de um cafezinho carioca aqui, nao? (Especialmente com o gosto ruim que esse cafe tem. Penso seriamente em abrir um cafe brasileiro em Edimburgo.)
Literatura fair trade de novo
O Brasil sera a proxima bola da vez na literatura (em dois anos). Ja cansaram de arabes e chineses, e logo vao precisar de um novo suplemento exotico. Digo isso como formanda de Producao Editorial, nao como escritora - mas como escritora esfrego as maozinhas de contentamento.
O Brasil interessa bastante aos estrangeiros (quando digo que sou dai, os olhos das pessoas brilham e algumas ate repetem, OH! BRAZIL??); e o proximo grande mercado literario. Estamos colocando as criancinhas na escola e implantando bibliotecas/ politicas de leitura; de olho nisso, grandes grupos estrangeiros - portugueses, espanhois e americanos - estao procurando formas de adquirir grandes editoras nacionais, isso se ja nao entram de sola mesmo. Logo eles vao apresentar aos escritores nacionais contratos com opcao de publicacao no exterior e, uma vez detonada a onda brasileira, vao usar essa opcao. That`s the way you do it, money for nothing...
Producao editorial serve pra alguma coisa sim... para eu ser minha propria agente literaria.
Alem de todos esses indicios, tem a vibe que estou sentindo.
Nao sei se os gringos so vao querer coisas bossa nova e dos pampas, mas sei que vao nos querer. Trust me.