there can be only one
Um dos motivos porque Escocia e literatura estao tao associadas na minha cabeca vem dos meus quatro/cinco anos de idade. Minha bisavo acabava de morrer e, embora eu nao a conhecesse o suficiente para me sentir triste por ela, eu me sentia triste por ter descoberto que todos nos morreriamos, inclusive eu. Nessa mesma epoca meu pai se elegeu sindico, e comecamos a ouvir apelidos para os vizinhos na nossa casa (sim, esses dois ultimos fatos estao intimamente relacionados). Foi ai que muitas vezes ouvi mencoes a um certo Imortal que morava no nosso predio. O Imortal isso, o Imortal aquilo. Perguntei quem era o Imortal, querendo saber como e que ele conseguia nao morrer, e recebi uma resposta meio confusa da minha avo. Aparentemente o homem tinha dois apartamentos, um em cima do outro, um onde morava com sua esposa, outro cheio de livros. Ele tinha um apartamento so de livros e fazia parte de uma tal academia.
- Mas ele nao tem nome?
- Tem, e Lacombe.
- E como e que ele consegue nao morrer? - finalmente perguntei.
- Ha, ha, ha. Nao e que ele nao va morrer, e que... as pessoas sempre vao lembrar do nome dele... para a posteridade.
- Ahm.
Detestei essa resposta. Gente idiota, chamar de imortal um cara que vai morrer. Alias, como era de se esperar, depois o Imortal morreu e cada membro da minha familia deu uma risadinha ao repetir para as visitas que "o imortal morreu". Eu ja sabia revirar os olhinhos nessa epoca e fiz bastante isso. (ver post sobre a tia Imperatriz, procurem ai pra baixo que nao quero perder meu tempo com isso)
E a Escocia, voce me pergunta? Bem, basta dizer que por essa epoca saiu o filme Highlander, com o subtitulo em portugues de O Guerreiro Imortal, e logo fiquei imaginando Americo Lacombe com uma espada na mao entre relampagos. Nao ha duvida do porque de a literatura comecar a parecer muito atraente para mim.
PS: Nas minhas pesquisas para o Samba Falado descobri que, naquele predio de Botafogo, rua 19 de fevereiro 127, ja morou tambem Vinicius de Moraes.