Cena dos anos 90
– Vamos cedo, disse Monica. Quero ficar lá no “gargarejo”.
Era o meu primeiro show sozinha, de adulta, com as amigas. Já tinha acompanhado meu pai recém-divorciado ao show do Tears for Fears, mas aquilo era diferente. A roupa foi diferente também: vesti uma blusa de botões prateada que eu e minha mãe compartilhávamos e botei maquiagem.
Fomos mesmo para o que a Monica chamava de gargarejo, um pouco à esquerda. Começaram a tocar e, mal começaram, os meninos vestidos de preto começaram a moshar. Mas não era bem mosh, estava mais para
– Porrada! Porrada! – açulava Monica.
O show prosseguiu, tocando todos os sucessos do cantor, consagrados na década de 80 e repopularizados devido a um recente disco de remixes. No palco, a posição mais avançada era a do saxofonista louro, que lançava longos olhares para as menininhas e usava uma calça de couro apertada que exibiu, durante algum tempo, o que a mais avançada do grupo logo identificou como uma ereção. De vez em quando ele olhava para o nosso lado, mas eu achei aquilo vagamente nojento e me ocupei mais em dançar.
De repente, em vez de emendar em outra, a música parou. Estavam recalibrando para algo complicado. Demorou tanto tempo que Monica sentenciou:
– Ihh... deu tilt!
E virou pra trás e começou a bater papo, dizendo como o saxofonista era lindo, mais lindo que o cantor, e inventando formas de chamar a atenção dele.
De repente, o palco começou a tremer com um ruído de baixa frequência. Era o baixo de uma versão eletrônica de “Ando meio desligado”.
O público esfriou completamente. Era mesmo uma versão muito chata. No meio do solo, um maluco começou a gritar:
– Pára com essa merda eletrônicaaaa! Caralhoooo! Filha da putaaa! Música de viadoooo! Eu quero é roquenrooool!
Era uma versão muito chata mesmo, mas aquele cara era mais. Ficou gritando aquilo até a música terminar, e eu senti vontade de dizer a ele que eletrônica não era nada daquilo – eu que já estava começando a gostar. Mas calei a minha boca.
Um ano depois, descobri como baixar MP3s na casa do meu pai e danou-se.
30.5.09
27.5.09
26.5.09
proibido para menores
Estive remexendo no A feia noite para um projeto e me bateu que muita gente, inclusive escritores, não tem noção do trabalho que dá fazer um livro - especialmente um livro como aquele.
Eu pesquisei As mil e uma noites, São Francisco e Santa Clara, o sincretismo de ambos, marketing político, problemas psicológicos, efeitos de diferentes antidepressivos, distúrbios de sono, superdotação, teoria do caos, vários conceitos matemáticos, e dezenas de livros e filmes com "noite" no título.
Veja, por exemplo, a cena de A feia noite em que o marqueteiro político Francisco revista a bolsa da Maria Luiza enquanto ela toma banho:
"Olhos na TV, interessadíssimos na fala pastoral, a mão-boba tem vontade própria, se estende e puxa qualquer coisa lá de dentro. Algo de couro, por exemplo. Um chaveiro que também guarda moedas. Mergulha de novo: uma lamy. Óculos escuros. Tateia mais profundamente desta vez, esquecendo-se da farsa e olhando para ver direito o que estava fazendo: enfiando um antebraço inteiro num local proibido, it goes deep."
Daí se infere que pesquisei até pornografia. Pode rir, vai. "Pesquisar pornografia" soa tão mal que nem vou tentar me defender. Mas me rendeu inúmeras metáforas, verbos e ideias novas. Sem falar em noções de beleza, perversão, degradação, dominação etc. etc.
Isso aparece muito nas atitudes fatais de Maria Luiza, mas nos pequenos detalhes também. Certas roupas, verbos como "trespassar", o uso de facas de caça e silvertape, as referências a necrofilia... agora não está tudo na ponta da língua (por sinal, local onde Maria Luiza possui um discreto piercing). Curiosamente, não considero que o pedófilo do livro tenha saído dessa pesquisa específica, e sim das necessidades da narrativa.
Eu nunca disse que A feia noite devia ser lido por crianças. Ao contrário, aliás, de No shopping, que só pode ser lido por menores de idade. Quem não estiver preso nas engrenagens pré-vestibular e pré-escolha de companhias não vai saboreá-lo, a não ser que tenha ótima memória ou seja muito imaturo.
Acho que já encontrei um tom que sirva tanto para o leitor iniciante como para o experiente no Amostragem complexa (contos). Mas ainda estou devendo um romance nesses termos.
P.S.: mais desenhos de Maria Luiza aqui.
Estive remexendo no A feia noite para um projeto e me bateu que muita gente, inclusive escritores, não tem noção do trabalho que dá fazer um livro - especialmente um livro como aquele.
Eu pesquisei As mil e uma noites, São Francisco e Santa Clara, o sincretismo de ambos, marketing político, problemas psicológicos, efeitos de diferentes antidepressivos, distúrbios de sono, superdotação, teoria do caos, vários conceitos matemáticos, e dezenas de livros e filmes com "noite" no título.
Veja, por exemplo, a cena de A feia noite em que o marqueteiro político Francisco revista a bolsa da Maria Luiza enquanto ela toma banho:
"Olhos na TV, interessadíssimos na fala pastoral, a mão-boba tem vontade própria, se estende e puxa qualquer coisa lá de dentro. Algo de couro, por exemplo. Um chaveiro que também guarda moedas. Mergulha de novo: uma lamy. Óculos escuros. Tateia mais profundamente desta vez, esquecendo-se da farsa e olhando para ver direito o que estava fazendo: enfiando um antebraço inteiro num local proibido, it goes deep."
Daí se infere que pesquisei até pornografia. Pode rir, vai. "Pesquisar pornografia" soa tão mal que nem vou tentar me defender. Mas me rendeu inúmeras metáforas, verbos e ideias novas. Sem falar em noções de beleza, perversão, degradação, dominação etc. etc.
Isso aparece muito nas atitudes fatais de Maria Luiza, mas nos pequenos detalhes também. Certas roupas, verbos como "trespassar", o uso de facas de caça e silvertape, as referências a necrofilia... agora não está tudo na ponta da língua (por sinal, local onde Maria Luiza possui um discreto piercing). Curiosamente, não considero que o pedófilo do livro tenha saído dessa pesquisa específica, e sim das necessidades da narrativa.
Eu nunca disse que A feia noite devia ser lido por crianças. Ao contrário, aliás, de No shopping, que só pode ser lido por menores de idade. Quem não estiver preso nas engrenagens pré-vestibular e pré-escolha de companhias não vai saboreá-lo, a não ser que tenha ótima memória ou seja muito imaturo.
Acho que já encontrei um tom que sirva tanto para o leitor iniciante como para o experiente no Amostragem complexa (contos). Mas ainda estou devendo um romance nesses termos.
P.S.: mais desenhos de Maria Luiza aqui.
25.5.09
21.5.09
esse modelito da estação passada
Calma, citei Legião Urbana mas não é sinal de demência! Aliás, foi depois de ouvir Flores do mal no rádio que relaxei e admiti que não suportava Legião Urbana mesmo: era ruim. Antes eu ainda tentava contemporizar, ouvir aqueles disquinhos pseudo-românticos nas festas das minhas amigas (e as rodas de violão!) sem reclamar, mas... depois de ouvir esse verso, exatamente esse, do modelito da estação passada, sendo cantado com toda a pompa e gravidade renatorussianas, OK, joguei a toalha...
Mas divago. Eu ia falar era das batinhas. Essas batinhas de grávida que vêm vendendo desde 2002 como "blusa-padrão".
Muitas vezes fico achando que encontrei a blusa perfeita, mas assim que a tiro do cabide percebo que o corte perfeito dos ombros vai abrindo, abrindo, até chegar ao quadril duas vezes maior que o mesmo. Perfeito - como sacão de batata. Vestir saco pra mim é luto ou gravidez.
Antes das batinhas, vendiam-se as baby-looks, lembra? Blusas curtas demais, que mal cobriam o umbigo (se é que chegavam até ele), divulgando o baconzinho de tantas dietas à base de biscoito. E eu usei? Sim, até os 19 anos. Depois, comecei a achar ridículo.
Isso tudo é opinião pessoal, mas reparei numa coisa: quando a moda muda, eu não a sigo. Primeiro, eu a questiono.
Tenho meu estilo; se as coisas que eu gosto vão ficando muito difíceis de ser encontradas, porque a moda do momento não casa com elas, eu me recuso a comprar o que a moda oferece só para acompanhá-la.
Meu gosto não permanece exatamente o mesmo, claro - ele muda gradualmente, assim como o meu corpo, minha idade, minhas experiências - mas certamente não muda a cada estação, como a indústria da moda gostaria.
Não vou jogar minhas blusas berinjela fora porque alguém decidiu que isso está out. Eu fico bem de berinjela. Eu, hein.
Também não vou ficar putinha se o berinjela entrar na moda e todos começarem a dizer que usavam berinjela desde criancinhas. Vou é estocar boa berinjela. Eu sei que aquela batinha berinjela não vai ficar bem em mim e a jaqueta sim, enquanto que a pessoa desesperada vai comprar qualquer coisa berinjela, mesmo que a cor não a favoreça, mesmo que a peça seja medonha, só porque o berinjela está na moda e ela precisa usar berinjela.
(Prometo não usar a palavra "berinjela" de novo até o fim desse post.)
O mesmo vale para as ideias. Os movimentos literários vêm e vão, o que você faz sai e volta à moda, mas você - em "essência" - continua quase igual. O que te interessa e o que você produz a partir disso não muda tão radical nem tão rapidamente quanto a lista de mais vendidos exigiria.
E não há nada de errado com isso. Deixe a moda se afastar, relaxe, use o que você gosta. Um dia ela volta. Ou não. Mas aí você será o único usando... para o bem e para o mal.
Calma, citei Legião Urbana mas não é sinal de demência! Aliás, foi depois de ouvir Flores do mal no rádio que relaxei e admiti que não suportava Legião Urbana mesmo: era ruim. Antes eu ainda tentava contemporizar, ouvir aqueles disquinhos pseudo-românticos nas festas das minhas amigas (e as rodas de violão!) sem reclamar, mas... depois de ouvir esse verso, exatamente esse, do modelito da estação passada, sendo cantado com toda a pompa e gravidade renatorussianas, OK, joguei a toalha...
Mas divago. Eu ia falar era das batinhas. Essas batinhas de grávida que vêm vendendo desde 2002 como "blusa-padrão".
Muitas vezes fico achando que encontrei a blusa perfeita, mas assim que a tiro do cabide percebo que o corte perfeito dos ombros vai abrindo, abrindo, até chegar ao quadril duas vezes maior que o mesmo. Perfeito - como sacão de batata. Vestir saco pra mim é luto ou gravidez.
Antes das batinhas, vendiam-se as baby-looks, lembra? Blusas curtas demais, que mal cobriam o umbigo (se é que chegavam até ele), divulgando o baconzinho de tantas dietas à base de biscoito. E eu usei? Sim, até os 19 anos. Depois, comecei a achar ridículo.
Isso tudo é opinião pessoal, mas reparei numa coisa: quando a moda muda, eu não a sigo. Primeiro, eu a questiono.
Tenho meu estilo; se as coisas que eu gosto vão ficando muito difíceis de ser encontradas, porque a moda do momento não casa com elas, eu me recuso a comprar o que a moda oferece só para acompanhá-la.
Meu gosto não permanece exatamente o mesmo, claro - ele muda gradualmente, assim como o meu corpo, minha idade, minhas experiências - mas certamente não muda a cada estação, como a indústria da moda gostaria.
Não vou jogar minhas blusas berinjela fora porque alguém decidiu que isso está out. Eu fico bem de berinjela. Eu, hein.
Também não vou ficar putinha se o berinjela entrar na moda e todos começarem a dizer que usavam berinjela desde criancinhas. Vou é estocar boa berinjela. Eu sei que aquela batinha berinjela não vai ficar bem em mim e a jaqueta sim, enquanto que a pessoa desesperada vai comprar qualquer coisa berinjela, mesmo que a cor não a favoreça, mesmo que a peça seja medonha, só porque o berinjela está na moda e ela precisa usar berinjela.
(Prometo não usar a palavra "berinjela" de novo até o fim desse post.)
O mesmo vale para as ideias. Os movimentos literários vêm e vão, o que você faz sai e volta à moda, mas você - em "essência" - continua quase igual. O que te interessa e o que você produz a partir disso não muda tão radical nem tão rapidamente quanto a lista de mais vendidos exigiria.
E não há nada de errado com isso. Deixe a moda se afastar, relaxe, use o que você gosta. Um dia ela volta. Ou não. Mas aí você será o único usando... para o bem e para o mal.
18.5.09
as sete pragas do Egito
Na minha cozinha têm entrado umas mariposas pretas que, ao que parece, perdem as asas e viram umas lagartinhas nojentas. Elas se prendem ao teto e ficam por lá deslizando. Elas parecem não gostar de nenhum outro lugar, nem o da sala; apenas o laranja-COMLURB de que pintei o teto da cozinha as atrai. De vez em quando eu ponho a escada e estalo algumas com o chinelo: parecem espinhas gordas.
Uma coisa esse apartamento não tem: baratas. De resto, vive sendo invadido por bichos estranhos, às vezes hordas deles. Há épocas para cada praga. Hordas de abelhas, de cupins, formigões, do mosquitinho que deixa cheiro de mato depois de morto, do verdinho que gosta de pousar na tela do computador... e eu nem mantenho uma lavoura (não compro, nem planto...)
Mas os piores são os unitários. Quando o bicho entra sozinho, é porque é punk. É um bicho que eu mesma não vou conseguir tirar e vou ter que chamar o porteiro ou jogar um gato em cima. O morcego, por exemplo. Ou a libélula gigante que a saudosa gatinha Pirata encurralou e, quando ferida, começou a soltar uma espécie de "linha" peguenta verde-água. Como a Pirata fazia questão de comer tudo o que caçava por puro orgulho felino, tirei o bicho dela e joguei fora.
Mas o hors-concours foi um besouro de olhos fosforescentes que invadiu a minha sala certa madrugada, no meio de uma partida de Chrono Trigger. Demoníaco, radioativo e transgênico, o bicho me impressionou tanto que o prendi num copo e fiz um vídeo dele.
Se alguém conhecer essa espécie, gostaria de saber qual é.
Na minha cozinha têm entrado umas mariposas pretas que, ao que parece, perdem as asas e viram umas lagartinhas nojentas. Elas se prendem ao teto e ficam por lá deslizando. Elas parecem não gostar de nenhum outro lugar, nem o da sala; apenas o laranja-COMLURB de que pintei o teto da cozinha as atrai. De vez em quando eu ponho a escada e estalo algumas com o chinelo: parecem espinhas gordas.
Uma coisa esse apartamento não tem: baratas. De resto, vive sendo invadido por bichos estranhos, às vezes hordas deles. Há épocas para cada praga. Hordas de abelhas, de cupins, formigões, do mosquitinho que deixa cheiro de mato depois de morto, do verdinho que gosta de pousar na tela do computador... e eu nem mantenho uma lavoura (não compro, nem planto...)
Mas os piores são os unitários. Quando o bicho entra sozinho, é porque é punk. É um bicho que eu mesma não vou conseguir tirar e vou ter que chamar o porteiro ou jogar um gato em cima. O morcego, por exemplo. Ou a libélula gigante que a saudosa gatinha Pirata encurralou e, quando ferida, começou a soltar uma espécie de "linha" peguenta verde-água. Como a Pirata fazia questão de comer tudo o que caçava por puro orgulho felino, tirei o bicho dela e joguei fora.
Mas o hors-concours foi um besouro de olhos fosforescentes que invadiu a minha sala certa madrugada, no meio de uma partida de Chrono Trigger. Demoníaco, radioativo e transgênico, o bicho me impressionou tanto que o prendi num copo e fiz um vídeo dele.
Se alguém conhecer essa espécie, gostaria de saber qual é.
17.5.09
Após detonar autores autobiográficos, fiz um videozinho pra explicar a egotrip do meu novo conto, O aleph de Botafogo. Quando você vai poder ler? Acompanhe aqui. É pulp, gente, é pulp...
11.5.09
AFAN
Se o escritor é narcisista, você só vai gostar do que ele escreve se concordar com ele: que ele é o máximo. O problema da literatura autobiográfica é que, se você não topa o autor, logo não topará a literatura dele, baseada na vida dele, com personagens que bailam ao redor da versão idealizada dele.
Se às vezes isso facilita extremamente a vida do crítico, por outras complica demais: como separar não-gosto-de-você do não-gosto-da-sua-obra se a sua obra, admita você ou não nas entrevistas, é você?
É preciso um certo desapego do que se acha, se dar espaço para gostar do livro, como num teste cego. Eu adoro um livro da Fernanda Young, o A sombra das vossas asas, embora ache ela e os demais livros extremamente chatos. Mas, das recentes, ela é das que mais usam a imaginação.
Ninguém disse que o escritor tem qualquer obrigação de facilitar trabalho de crítico - ou de qualquer leitor. Mas o autor de ficção autobiográfica narcisista (AFAN) deve estar preparado para severos golpes no ego ao colocar sua vida no papel. Quer dizer, ele não tem o direito de reclamar. Se chamarem de inverossímil, não vale dizer “mas aconteceu! Eu juro! Quer ver o vídeo?”, e nem dizer "ah, mas essa parte aí é ficção". Se o chamarem de chato narcisista, não vale apelar para Fellini, Zuckerman, sua mãe ou a divindade da sua preferência.
Mas acho que a maior parte dos AFANs só se preocupa em encontrar uma boa desculpa estética - um truque - para dar vazão ao seu imenso complexo de bukkake (só pode ser, porque punheta, antigamente, se batia a sós, e não direcionada para o rosto de outrem): o complexo de Deus de todo autor, a morte da literatura, Woody Allen, a geração fotolog...
O pior é que, se os AFANs pegassem esses temas e tentassem desenvolver em outra direção que não o próprio umbigo, talvez alcançassem alguma coisa. Mas não: todos querem ser príncipes...
Se o escritor é narcisista, você só vai gostar do que ele escreve se concordar com ele: que ele é o máximo. O problema da literatura autobiográfica é que, se você não topa o autor, logo não topará a literatura dele, baseada na vida dele, com personagens que bailam ao redor da versão idealizada dele.
Se às vezes isso facilita extremamente a vida do crítico, por outras complica demais: como separar não-gosto-de-você do não-gosto-da-sua-obra se a sua obra, admita você ou não nas entrevistas, é você?
É preciso um certo desapego do que se acha, se dar espaço para gostar do livro, como num teste cego. Eu adoro um livro da Fernanda Young, o A sombra das vossas asas, embora ache ela e os demais livros extremamente chatos. Mas, das recentes, ela é das que mais usam a imaginação.
Ninguém disse que o escritor tem qualquer obrigação de facilitar trabalho de crítico - ou de qualquer leitor. Mas o autor de ficção autobiográfica narcisista (AFAN) deve estar preparado para severos golpes no ego ao colocar sua vida no papel. Quer dizer, ele não tem o direito de reclamar. Se chamarem de inverossímil, não vale dizer “mas aconteceu! Eu juro! Quer ver o vídeo?”, e nem dizer "ah, mas essa parte aí é ficção". Se o chamarem de chato narcisista, não vale apelar para Fellini, Zuckerman, sua mãe ou a divindade da sua preferência.
Mas acho que a maior parte dos AFANs só se preocupa em encontrar uma boa desculpa estética - um truque - para dar vazão ao seu imenso complexo de bukkake (só pode ser, porque punheta, antigamente, se batia a sós, e não direcionada para o rosto de outrem): o complexo de Deus de todo autor, a morte da literatura, Woody Allen, a geração fotolog...
O pior é que, se os AFANs pegassem esses temas e tentassem desenvolver em outra direção que não o próprio umbigo, talvez alcançassem alguma coisa. Mas não: todos querem ser príncipes...
8.5.09
Estava pensando: se eu fosse professora, como impediria meus alunos de usar CTRL-C + CTRL-V num trabalho?
Ainda peguei a época dos livros. Eu ia compilando dois, três livros diferentes, cada um com informações diferentes do outro, e ficava um trabalho enooorme. Mas na universidade, o problema dessa "esperteza" (vergonhosa especialmente depois da 6a série) já começou a afetar relações professor-aluno. Os trabalhos eram enormes e nem um pouco originais.
Tem professor burro que proíbe uso da internet na pesquisa, ou pede, "na boa", para usar "pouco" a internet.
Outros passam extensas provas em folhas de papel almaço para nos obrigar a ficar com a munheca doendo.
Eu já faria diferente: pediria um resumo.
O mal da internet é justamente o excesso de informação. Tanta informação que não se lê boa parte dela. É cortar, colar, ignorar. Trabalhos de vinte páginas sem um conteúdo original.
Mas com um resumo ou fichamento de uma ou duas páginas, as criaturas teriam que ler e trabalhar. Capaz até de terem de abrir um livro. Claro, provavelmente alguém inventaria um jeito de dar a volta nisso, mas seria mais trabalhoso do que fazer o trabalho, e a Lei de Gérson não perdoa ninguém, nem os trapaceiros.
Ainda peguei a época dos livros. Eu ia compilando dois, três livros diferentes, cada um com informações diferentes do outro, e ficava um trabalho enooorme. Mas na universidade, o problema dessa "esperteza" (vergonhosa especialmente depois da 6a série) já começou a afetar relações professor-aluno. Os trabalhos eram enormes e nem um pouco originais.
Tem professor burro que proíbe uso da internet na pesquisa, ou pede, "na boa", para usar "pouco" a internet.
Outros passam extensas provas em folhas de papel almaço para nos obrigar a ficar com a munheca doendo.
Eu já faria diferente: pediria um resumo.
O mal da internet é justamente o excesso de informação. Tanta informação que não se lê boa parte dela. É cortar, colar, ignorar. Trabalhos de vinte páginas sem um conteúdo original.
Mas com um resumo ou fichamento de uma ou duas páginas, as criaturas teriam que ler e trabalhar. Capaz até de terem de abrir um livro. Claro, provavelmente alguém inventaria um jeito de dar a volta nisso, mas seria mais trabalhoso do que fazer o trabalho, e a Lei de Gérson não perdoa ninguém, nem os trapaceiros.
Assinar:
Postagens (Atom)