12.11.09

O meu problema é que nunca consegui ser muito brasileira. Sou inglesa demais (ou oriental, preferem alguns). Por algum motivo, as coisas de que os outros brasileiros gostam me deprimem.
Concurso público: brasileiros acham ótima a estabilidade no emprego. Eu acho o quê?? Sísifo pelo menos fazia um pouco de exercício e ficava ao ar livre.
Ser cantada na rua: brasileiros acham que todo mundo ganha: o rapaz, que exerce sua masculinidade de forma saudável e vê uma forma bonita, e a moça, que tem sua auto-estima reforçada. Eu acho que o rapaz é um bronco em não ver que meu caso é diferente e que, se auto-estima precisa de um pedreiro pra funcionar, simata de uma vez.
Jogo de futebol: brasileiros acham divertido gritar MENGOOO! PORRA! e soltar fogos pela janela à meia-noite. Fico tentada a soltar fogos durante jogos não-tradicionais, seja no fuso horário que for, para ver se não incomoda mesmo. Fórmula 1. Tênis. Lacrosse.
Permissividade: brasileiros toleram comportamentos tipo chegar tarde, aumentam a nota "uns pontinhos", dão "um jeitinho" e uma "passadinha" na festa. Lá pelos meus seis anos, exigi a abolição do diminutivo da língua portuguesa - ou pelo menos do trato comigo - em parte por causa disso.
Birita: brasileiro acha que beber é subversivo e revolucionário. Eu acho OK beber, até cair se você achar necessário (gloriosa Escócia!), mas essa mentalidade é extremamente adolescente. Soltar elucubrações sobre as marcas que você bebe ou como beber é bom ou contar seu coma alcoólico não vai me impressionar. Você é Baco? Noé? Inventou o vinho? Então não é original já faz uns milênios. Calaboca.

Barulho demais, desordem demais, falta de cultura demais. Gosto de chá. Não gosto de hipocrisia. Lassidão e baderna, só nos horários e locais predeterminados com pessoal autorizado, e aí me entrego com gosto; de resto, no loitering.
Pelo menos não posso reclamar da falta de material literário.