25.11.09

Emília

O personagem moralmente reprovável, mas irresistível, é um recurso usado pela literatura do mundo todo, mas no Brasil ele vira uma pedra angular. Basta pensar em Nelson Rodrigues - que, pelo óbvio ululante, nem vou desenvolver - e em Monteiro Lobato. De que seria sua obra infantil sem Emília? E, no entanto, é uma bonequinha egoísta, ambiciosa, arrivista, preconceituosa, orgulhosa etc. etc. etc. "São esses os valores que queremos ensinar aos nossos filhos?" Vocês eu não sei, mas eu não encaro livro só como exemplo direto de comportamento; pode ser só ficção, gostoso de ler; pode ser anti-exemplo; pode ser que a criança imite a Emília um tempo, nos aspectos bonitinhos. Mas não é só isso: Emília é eminentemente brasileira, só que sem hipocrisia.
Isso funciona como a violência catártica dos contos de fada: viver aquilo por procuração conta como experiência. Vendo o mal sem disfarces, a criança aprende a distinguir suas formas mais tênues, hoje tão em voga. Proibir qualquer coisa que remotamente cheire a mal parece com superproteção, mas na verdade desprotege a criança contra um mundo cheio dele, e, se ela nasceu com um talento especial para o mal, certamente isso não impedirá que ela o aproveite. Hoje em dia as pessoas não são mais reprimidas - também acho desnecessário desenvolver -, ou melhor, só se reprimem quando acham que vai pegar mal. As pessoas também não se manifestam/defendem/apartam dos linchadores de inocentes ao verem algo reprovável só porque têm medo de serem excluídas. Oras, até pela bunda-molice onipresente, ninguém vai ter peito pra te excluir só porque você falou a verdade. É capaz até de começarem a gostar de você. Vai fundo!
Isso aprendi com a Emília e o JP.
Ah, a propósito: carioca É porco.