11.10.04

Este blog entrou em recesso ("minuto de silêncio") porque minha avó morreu. Depois, o Windows morreu. Mas as pessoas não podemos reinstalar.
Podemos jogar the Sims, no entanto. Enquanto espero ter tempo e promoção para comprar o meu (2) e quem sabe jogar com a minha avó, aperto o botãozito "Mourn" e choro parecido com um gato ronronando.
Eu nunca tinha estado em velório ou enterro. Fiquei pensando em três músicas, duas das quais me lembro ("Alvorada", de Cartola, e "Cocoon", da Bjork). Passei pelo túmulo do Cazuza (um bougainville enorme e florido) e do Santos Dumont (Ícaro).
Antes, de noite, senti um súbito impulso de jogar Lemmings. E joguei. E fiz chá para todas as mulheres da família. Dormi duas horas.
Eu disse, neste blog, quando saí daqui, que esta casa estava com câncer - quando ninguém tinha nem o sintoma. Às vezes a sensibilidade de escritora apanha coisas no ar, de verdade, pois é nisso que consiste: caçar borboletas invisíveis. E adianta alguma coisa? Somos todos lemmings.
Bom, mas o feng-shui, a disposição das coisas nessa casa ou o que quer que seja, está realmente ruim. Algumas coisas vou ter que mudar por aqui, tirar as dezenas (sim, dezenas) de porta-retratos, trocar os móveis de lugar, dar as coisas velhas, colocar um tapete, não sei.
Estou morando aqui sozinha. Claro que seria ridículo adicionar "como eu sempre quis". Quem quer uma coisa dessas? Todas as pessoas me perguntam: mas lá? Você? Lá, sozinha? Sem empregada? Sim. Até a empregada grávida de seis meses fugiu. Eu não. O que me incomoda, e sempre incomodou, foi o excesso de espaço, uma casa-metástase, praquê tão espalhada, irrational exuberance? 240 metros quadrados em um andar. O espaço sideral, incolonizável. Os fantasmas, se existem, são quietinhos. Não me incomodam mais que a bomba de água ligada a noite toda do lado de fora do meu quarto. Se bem que outro dia o som desligou sozinho.
Depois eu falo dos filmes que restaram. E ainda tem a repescagem.