3.10.04

É realmente muito chato ser atéia quando tem alguém morrendo. Porque você sabe que aquela pessoa não vai pra nenhum lugar, não tem céu, não tem deus pra pedir pela alma dela que também não tem. Somos uma casa muito engraçada, sem parede, sem alma sem nada.
Isso não é motivo pra ser fraca e aceitar panfletos da prima espírita, do ex-marido evangélico, da vizinha católica, da amiga budista e da outra prima seicho-no-ie. Ah, e do afilhado reflexologista. Isso não é um exemplo aleatório, aconteceu. Justo na hora mais contra-indicada para ser idiota.
Mas o que dizer, então? Dizia: você vai melhorar, vai melhorar. E chega uma hora em que não vai mais melhorar, porra, não vai. E aí? Sinceramente, me escondi nos primeiros tempos. Até que cheguei a uma solução satisfatória: chegar pra pessoa e dizer, em doses homeopáticas pra não superemocionar um organismo já muito sensível, o que você sempre quis dizer pra ela. Bom ou ruim. E tirar suas dúvidas. Depois não vai mais ter chance.
E, no caso, descobri, foi bom. Preciosa, isso sim: a descoberta que só a última chance traz, e massagens nos pés. Em vez de puxar as mãos para uma reza decorada. Aí, "não quero" e frowns e fugas.