The D'ni of Orange County
Se você ler meu primeiro capítulo do livro novo, verá que mal uso verbos. Verbos de ligação às pampas. E tome olhar e ver, que podem não ser verbos de ligação oficialmente mas também são verbos de pintar. Eu pintei em vez de escrever.
Terminei de jogar outro Myst. Eu tentando explicar sobre o que é:
Tem vários quebra-cabeças complexos e lógicos, mas sem lutas nem inventory - não se pode carregar nada além de livros e papéis. É em primeira pessoa. Tem uma família que escreve livros que dão acesso a mundos de visual estonteante. A banda podre dessa família começa a sacanear os habitantes desses mundos (os D'ni). No primeiro episódio você cai no meio de um mundo desses e não entende nada até o final, um pouco como em "Lost". Depois você passa a ser amigo da família (da parte decente, naturalmente) e eles pedem sua ajuda a cada novo episódio.
A primeira vez em que prestei atenção em Laranjeiras na idade adulta foi em 2004, quando fui apanhar uma pilha de livros com meu orientador da monografia. Fui de bicicleta. Algum gatilho da infância foi disparado com o visual quase bucólico, como se os prédios estivessem ali meio que por acaso. Um dos raros lugares no Rio em que a arquitetura não é um crime contra a paisagem: prédios com mosaicos, casas antigas, muros transparentes. Nomes de ruas: Estelita, Leite Leal, Alegrete, generais e santos e tanta árvore em volta, mato frio, trepadeira, criança rindo.
Dá pra fazer um mundo bonito ou feio a partir de palavras. Mas, como se aprende em Myst (e em Ada de Nabokov) a diferença entre o belo e o terrível é mínima. Acho Laranjeiras às vezes um bairro nitidamente metido a besta, cheio de instituições tradicionais e pessoas importantes (e pet shops). Mas as pessoas importantes e instituições parecem relaxadas: aqui posso ficar à vontade. As pessoas andam de flanela e chinelão, as instituições nem colocam uma placa, nem um muro alto, nem uma guarita. Não é como andar por Ipanema ou Leblon, onde milhares de reizinhos percorrem a passarela com seus óculos Gucci (ou cabelo milimetricamente desarrumado ou utilitário esportivo desnecessário), parando para adquirir revistas importadas em bancas 24 horas com letreiro iluminado e desfrutar de um descafeinado colombiano com uma pitada de canela e açúcar de confeiteiro. Ou seja, embora ainda seja fã de Botafogo, moraria em Laranjeiras ou na Tijuca, mas jamais em Ipanema/Leblon. A qualidade de vida é uma coisa que depende muito dos seus vizinhos.