From Massachussets to Guararema
Quando me perguntam se meu blog faz sucesso, eu sempre respondo: "hãmmm... éemm... hmm...". Quer dizer, o que é fazer sucesso para um blog? Deve ser a audiência, certo? O número de acessos/dia. Claro, certamente a pessoa que chegou aqui procurando "Baile Funk - Rave da Suruba" (EXEMPLO REAL) não conta como visita, pois assim que bater os olhos nesse blog vai ver que neu ão tenho o que procurava. Mas aí é que está, eu nunca olho as estatísticas, e nem mesmo esse dado primário eu sei fornecer.
Pois há alguns dias me perguntaram novamente sobre o sucesso do meu blog (e eu fiquei haaam, éem, humm). Resolvi olhar o contador. E adorei. Não o contador, mas as estatísticas. Tem uma pessoa de Tóquio que vem sempre aqui (bem-vinda, pessoa de Tóquio!). Portugal parece me amar, o que alegra o meu coração. Tenho também leitores constantes da Catalunha e do País Basco. Os brasileiros e norte-americanos só caem aqui por engano, ao que parece. Dos freqüentadores, predomina o Rio de Janeiro, e vem mais gente da Região Sul do que de São Paulo.
Engraçado foi que esqueci até de verificar o número de pessoas vêm aqui diariamente. Afinal, o que importa é a qualidade.
27.2.07
23.2.07
meu amigo tem um problema
Acho que avancei mais um nanômetro na compreensão disso que chamamos nossa nação. Temos a síndrome do "meu amigo tem um problema". Explico.
Quando um "cidadão de bem" brasileiro vocifera contra os corruptos, os traficantes e os assassinos, ele está na verdade vociferando contra si mesmo. Não é porque a culpa seja "da sociedade" - uma bobajada tão grande que merece um epíteto bem feio, como o de "bobajada" -, nem nada do gênero. É que ele mesmo no seu cotidiano replica a corrupção endêmica, e falo de corrupção num sentido amplo: joga papelzinho no chão, fura o sinal, frauda o imposto de renda, guarda a aliança no bolso, pratica a lei do menor esforço etc. etc. É uma catarse: todos, ao falarem mal de uma pessoa pior que todas, se redimem. Bode expiatório mesmo. Ao mesmo tempo, o "bode" retém a glória de ter conseguido se superar em sujeira num país já tão sujo.
É tão fróide que dá até Vergonha Pelas Pessoas. O roteirista desse seriado é horrível: coloca o personagem para falar embaraçado "tem um amigo meu que foi chifrado pela mulher e, pelo que ele me disse...".
Acho que avancei mais um nanômetro na compreensão disso que chamamos nossa nação. Temos a síndrome do "meu amigo tem um problema". Explico.
Quando um "cidadão de bem" brasileiro vocifera contra os corruptos, os traficantes e os assassinos, ele está na verdade vociferando contra si mesmo. Não é porque a culpa seja "da sociedade" - uma bobajada tão grande que merece um epíteto bem feio, como o de "bobajada" -, nem nada do gênero. É que ele mesmo no seu cotidiano replica a corrupção endêmica, e falo de corrupção num sentido amplo: joga papelzinho no chão, fura o sinal, frauda o imposto de renda, guarda a aliança no bolso, pratica a lei do menor esforço etc. etc. É uma catarse: todos, ao falarem mal de uma pessoa pior que todas, se redimem. Bode expiatório mesmo. Ao mesmo tempo, o "bode" retém a glória de ter conseguido se superar em sujeira num país já tão sujo.
É tão fróide que dá até Vergonha Pelas Pessoas. O roteirista desse seriado é horrível: coloca o personagem para falar embaraçado "tem um amigo meu que foi chifrado pela mulher e, pelo que ele me disse...".
22.2.07
quesito de escola de samba
Em dado momento da manhã de um dia em que hesita entre o mormaço e o refrescante, percebo, enquanto desço minha rua, que ela existe em perfeita harmonia com a música que toca no iPod: Julie with..., de Brian Eno. Então me parabenizo por saber escolher tão bem a rua. E sinto uma pequena e aguda angústia por não poder fazer mais nada: a música já estava tocando, a rua existindo. Como eu poderia interferir? Reter o momento feito uma esponja seria interferir? Não. Nada do que eu fizesse evitaria que o momento se esvaísse: acabaria a zona de sombra e entraríamos (eu, o iPod e a música, entes separados) numa zona muito clara, antipática e cheia de gente. Então me lembro de aceitar com humildade o presente; que aquele momento já era muito, e que afinal eu estava ali, integrando o quadro, portanto sendo perfeição por um momento - e seguindo para o próximo estágio do ciclo, de não-perfeição, pelo menos até atingir o ar-condicionado do metrô.
Em dado momento da manhã de um dia em que hesita entre o mormaço e o refrescante, percebo, enquanto desço minha rua, que ela existe em perfeita harmonia com a música que toca no iPod: Julie with..., de Brian Eno. Então me parabenizo por saber escolher tão bem a rua. E sinto uma pequena e aguda angústia por não poder fazer mais nada: a música já estava tocando, a rua existindo. Como eu poderia interferir? Reter o momento feito uma esponja seria interferir? Não. Nada do que eu fizesse evitaria que o momento se esvaísse: acabaria a zona de sombra e entraríamos (eu, o iPod e a música, entes separados) numa zona muito clara, antipática e cheia de gente. Então me lembro de aceitar com humildade o presente; que aquele momento já era muito, e que afinal eu estava ali, integrando o quadro, portanto sendo perfeição por um momento - e seguindo para o próximo estágio do ciclo, de não-perfeição, pelo menos até atingir o ar-condicionado do metrô.
16.2.07
Na edição de ontem (15/02) de O Globo, página 18, tem uma foto dos alunos da minha high school vestidos de preto como protesto contra a morte de João Hélio (e não, não vou escrever sobre isso. O texto que diz tudo o que pensei e mais um pouco, inclusive fazendo o paralelo com o caso do avô da sucuri, está aqui). Já faziam isso na minha época, protestos ocasionais (contra o Lalau ou coisa assim, eu acho): era uma boa desculpa para burlar a obrigatoriedade do uniforme, sapo que as patricinhas nunca engoliram muito bem. Pena que não dá para ampliar a foto, pois hilário é prestar atenção nos detalhes: uma com um decote tão profundo que quase embarga a publicação da foto, as poses dos machinhos, as calças femininas arrochadas, as mãos unidas no regaço compungidamente, os sorrisos arreganhados de "vou sair no jornal!" e "foto de escola grátis" num protesto que era para ser fúnebre. E pensar que esta foi a foto menos constrangedora que conseguiram...
15.2.07
Comprem o "Ficções" no. 15 da editora 7Letras - especial só com contos de ficção-científica escritos por brasileiros. Alguns não prestam, outros só valem pela idéia, mas alguns são de razoáveis a bons, como o da mergulhadora e o da ameaça nuclear.
Caso você esteja a fim de PEGAR no meu livro, dar uma conferida, mas não sabe um endereço onde ele se encontra fisicamente (andou esgotando, que legal), a nova Travessa que abriu dentro do shopping Leblon tem uma pilha de As Feias Noites. Normalmente, I don't do Leblon or Ipanema, mas abri uma exceção. Para chegar lá, tive que planejar um itinerário com o Guia de Ruas, consultas à internet e dois dados de vinte lados, e com isso cheguei tarde demais para o evento de Bruna Beber. Mas a livraria é totally tubular (speaketh Valspeak?) e valeu a viagem. É enorme! E está novinha! Os livros ainda não estão amassados, manipulados; acabaram de sair da caixa. Fui dando a volta completa: Infantis, História, Literatura Brasileira, Biografia, Acadêmicos, Seção de Música Eletrônica... (aqui tomei um susto: tinha um CD do Sérgio Mendes lá no meio; por um minuto pensei que fosse algum CD de remixes, até que o atendente percebeu minha confusão, retirou o CD de lá e recolocou-o em "MPB - clássicos")...Descontos, Lanchonete, Balcão de Destaques, Ermenegildo Zegna.
Caso você esteja a fim de PEGAR no meu livro, dar uma conferida, mas não sabe um endereço onde ele se encontra fisicamente (andou esgotando, que legal), a nova Travessa que abriu dentro do shopping Leblon tem uma pilha de As Feias Noites. Normalmente, I don't do Leblon or Ipanema, mas abri uma exceção. Para chegar lá, tive que planejar um itinerário com o Guia de Ruas, consultas à internet e dois dados de vinte lados, e com isso cheguei tarde demais para o evento de Bruna Beber. Mas a livraria é totally tubular (speaketh Valspeak?) e valeu a viagem. É enorme! E está novinha! Os livros ainda não estão amassados, manipulados; acabaram de sair da caixa. Fui dando a volta completa: Infantis, História, Literatura Brasileira, Biografia, Acadêmicos, Seção de Música Eletrônica... (aqui tomei um susto: tinha um CD do Sérgio Mendes lá no meio; por um minuto pensei que fosse algum CD de remixes, até que o atendente percebeu minha confusão, retirou o CD de lá e recolocou-o em "MPB - clássicos")...Descontos, Lanchonete, Balcão de Destaques, Ermenegildo Zegna.
12.2.07
Tem pessoas que não sabem escrever em blog: eu sou uma delas. Não suporto reler o que eu escrevo aqui. Não é mal-escrito, mas raramente é legal, divertido. É como aquele exercício desleixado (já que me meti em metáforas espartanas) que você faz de passar uma hora dando pulinhos. O que importa é se sentir cansado no final para poder ser capaz de subir dois lances de escada sem enfartar. Só pessoas verdadeiramente viciadas (amigos, stalkers, leitores impacientes pelo próximo pedacinho de literatura) é que vêm me ver dar meus pulinhos inúteis.
Mas não tem jeito. Escrever aqui é o jeito de aparecer em forma lá. É este, aliás, para quem se pergunta, o segredo da longevidade deste blog: ele não se cobra nem um pouco. Passa tudo. É um blog guerreiro.
O que me consola é a tipificação. Tem gente que escreve livros ótimos mas soa irremediavelmente chata ou sem-sal em blog. Outros têm blogs geniais, mas seus romances publicados são abortos da natureza. E outros ainda, naturalmente, são horríveis nos dois. Só não tive conhecimento ainda da impossível quarta categoria Super Sayajin que dominaria ambas as artes.
Acho que caio na primeira categoria. Só em livro/conto sou boa mesmo. Já publiquei um conto que achei ruim, mas fiquei tão danada que jurei caprichar em todos que publicasse dali em diante. E tem dado certo.
Enfim, espero que inventem logo prêmios para blogs - "melhor post", "blog revelação", "melhor blog" -, porque senão os bons blogueiros ficam frustrados. E mais frustrados quando a recepção ao seu romance meia-boca é pífia.
Mas não tem jeito. Escrever aqui é o jeito de aparecer em forma lá. É este, aliás, para quem se pergunta, o segredo da longevidade deste blog: ele não se cobra nem um pouco. Passa tudo. É um blog guerreiro.
O que me consola é a tipificação. Tem gente que escreve livros ótimos mas soa irremediavelmente chata ou sem-sal em blog. Outros têm blogs geniais, mas seus romances publicados são abortos da natureza. E outros ainda, naturalmente, são horríveis nos dois. Só não tive conhecimento ainda da impossível quarta categoria Super Sayajin que dominaria ambas as artes.
Acho que caio na primeira categoria. Só em livro/conto sou boa mesmo. Já publiquei um conto que achei ruim, mas fiquei tão danada que jurei caprichar em todos que publicasse dali em diante. E tem dado certo.
Enfim, espero que inventem logo prêmios para blogs - "melhor post", "blog revelação", "melhor blog" -, porque senão os bons blogueiros ficam frustrados. E mais frustrados quando a recepção ao seu romance meia-boca é pífia.
11.2.07
mens insana
A receita do médico foi o que ele chamou de "ginástica pesada". "Nada desses exercícios fraquinhos que você faz", disse ele. "Você tem que fazer spinning".
Tive uma séria discussão com ele. Afinal, ele estava caluniando minha adorada ginástica nerd (para para em vez de lambaeróbica, com orelhas de coelhinho opcionais; em vez de abdominais, dança-do-ventre; em vez de aeroboxe, movimentos de aikidô; em vez de alongamento, balé e assim por diante). Me recusei terminantemente a fazer spinning. O eurodance pancadão no meu ouvido, aquelas criaturas em sua maioria realmente burras dispostas em fila e o panaca berrando lá na frente me convenceram em uma única aula de que aquele não era o meu fórum. Na verdade, conseguiu suplantar todas as outras visões de inferno particulares - e olha que sou bem criativa. Prefiro mountain bike em desabalada carreira ouvindo minimal com iPod - a torre de marfim portátil, bem branquinha. Bem, talvez eu compre um contador de ciclos (mais um pequeno computador para a wishlist).
P.S.
Regime Nerd (também conhecido como Ph33r d4 p4|_|53):
1) coloque uma tigela de cenoura picada e uma garrafa d'água ao lado do computador/console.
2) Retire o jogo da embalagem e coloque-o no drive correspondente.
3) Tente zerá-lo.
A receita do médico foi o que ele chamou de "ginástica pesada". "Nada desses exercícios fraquinhos que você faz", disse ele. "Você tem que fazer spinning".
Tive uma séria discussão com ele. Afinal, ele estava caluniando minha adorada ginástica nerd (para para em vez de lambaeróbica, com orelhas de coelhinho opcionais; em vez de abdominais, dança-do-ventre; em vez de aeroboxe, movimentos de aikidô; em vez de alongamento, balé e assim por diante). Me recusei terminantemente a fazer spinning. O eurodance pancadão no meu ouvido, aquelas criaturas em sua maioria realmente burras dispostas em fila e o panaca berrando lá na frente me convenceram em uma única aula de que aquele não era o meu fórum. Na verdade, conseguiu suplantar todas as outras visões de inferno particulares - e olha que sou bem criativa. Prefiro mountain bike em desabalada carreira ouvindo minimal com iPod - a torre de marfim portátil, bem branquinha. Bem, talvez eu compre um contador de ciclos (mais um pequeno computador para a wishlist).
P.S.
Regime Nerd (também conhecido como Ph33r d4 p4|_|53):
1) coloque uma tigela de cenoura picada e uma garrafa d'água ao lado do computador/console.
2) Retire o jogo da embalagem e coloque-o no drive correspondente.
3) Tente zerá-lo.
7.2.07
Eia. Tive que revisar um enorme compêndio sobre a história do capitalismo. Não foi tão desagradável quanto parece. As fontes do cara foram Weber, Schumpeter, Schulz e não outros (eu já tive que ler um livro sobre ideologia na faculdade, repassava autor por autor, nuff said). Mas quando vai se aproximando do final, as coisas ficam realmente... bocado proféticas. Tem uma frase fantástica: "como transformar o capital humano em capital estrutural?". Quer dizer, como fazer as pessoas e os conhecimentos das pessoas (tudo o que vai para casa após as seis da tarde) serem tão devotados e amarrados à empresa quanto os móveis, os computadores, as máquinas etc.?
A resposta logo veio aqui na minha cabeça. Uma resposta de ficção-científica, claro. O tal livro é como uma versão acadêmica da novelinha que estou escrevendo (aqui, chamada Penados y Rebeldes). Com esta resposta, enxerguei o que faltava para escrever o final. Rabisquei rapidamente no Word como se dariam as coisas e voltei ao batente. E eu achando que Penados y Rebeldes não veria o final. Pah, estava tudo na minha frente! Aguardem novidades para logo, logo.
A resposta logo veio aqui na minha cabeça. Uma resposta de ficção-científica, claro. O tal livro é como uma versão acadêmica da novelinha que estou escrevendo (aqui, chamada Penados y Rebeldes). Com esta resposta, enxerguei o que faltava para escrever o final. Rabisquei rapidamente no Word como se dariam as coisas e voltei ao batente. E eu achando que Penados y Rebeldes não veria o final. Pah, estava tudo na minha frente! Aguardem novidades para logo, logo.
3.2.07
Acabou janeiro. Aaah.
As críticas do meu livro até agora foram, hummm... decepcionantes em sua maioria. Falam bem? Falam... Mas estou esperando alguém se dispor a cavoucar um pouco mais fundo no livro, mesmo que o resultado fosse falar mal. Eu mesma escrevi uma crítica positiva e outra negativa do meu livro, estou pensando em publicar aqui - não, eu vou publicar aqui, só vou segurar mais um pouco. Não é nem exercício de humildade, mas é que tenho a noção de que se lessem o meu livro a fundo, enxergariam coisas ou muito agradáveis ou muito desagradáveis, e coloquei estas coisas no papel, cada qual com argumentos sólidos e bonitos... retórica, nhéam. A musa desse livro não é Calíope, é Polímnia, tô te falando.
As críticas do meu livro até agora foram, hummm... decepcionantes em sua maioria. Falam bem? Falam... Mas estou esperando alguém se dispor a cavoucar um pouco mais fundo no livro, mesmo que o resultado fosse falar mal. Eu mesma escrevi uma crítica positiva e outra negativa do meu livro, estou pensando em publicar aqui - não, eu vou publicar aqui, só vou segurar mais um pouco. Não é nem exercício de humildade, mas é que tenho a noção de que se lessem o meu livro a fundo, enxergariam coisas ou muito agradáveis ou muito desagradáveis, e coloquei estas coisas no papel, cada qual com argumentos sólidos e bonitos... retórica, nhéam. A musa desse livro não é Calíope, é Polímnia, tô te falando.
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