quesito de escola de samba
Em dado momento da manhã de um dia em que hesita entre o mormaço e o refrescante, percebo, enquanto desço minha rua, que ela existe em perfeita harmonia com a música que toca no iPod: Julie with..., de Brian Eno. Então me parabenizo por saber escolher tão bem a rua. E sinto uma pequena e aguda angústia por não poder fazer mais nada: a música já estava tocando, a rua existindo. Como eu poderia interferir? Reter o momento feito uma esponja seria interferir? Não. Nada do que eu fizesse evitaria que o momento se esvaísse: acabaria a zona de sombra e entraríamos (eu, o iPod e a música, entes separados) numa zona muito clara, antipática e cheia de gente. Então me lembro de aceitar com humildade o presente; que aquele momento já era muito, e que afinal eu estava ali, integrando o quadro, portanto sendo perfeição por um momento - e seguindo para o próximo estágio do ciclo, de não-perfeição, pelo menos até atingir o ar-condicionado do metrô.