8.8.08

wanted

Conheci um garoto que, na época com dezoito anos, chegava para as suas amigas e pedia para testar as cantadas que tinha bolado. Todas começavam com "Minha querida".
Conheço também um homem que tem mania de chamar seus contatos profissionais de meu querido ao telefone.
O mais curioso é que esse querer todo nunca é poder. Os passivo-agressivos sempre "querem", nunca "amam". Em vez de pôr as cartas na mesa ou de tentar conquistar pela competência, eu simplesmente declaro uma carência e espero você ter pena de me frustrar -- em teoria, em teoria. Na prática, o "carente" é muito ignorado e ouve muito não sem saber porquê - eu digo que é bem-feito, pela adoção de tal estratégia amarelona.
Amarelona por quê, você pergunta? O "querido" procura evitar a frustração de se ouvir um "você quer, mas não vou te dar" - e nesse caso há sempre espaço para o sujeito dizer que nem estava muito a fim, mesmo, e depois falar mal de você pelas costas - que sempre te tratou "com respeito" e ainda assim você não "deu valor". O "querido" dele era completamente desinteressado...
Não estou falando só de sexo não. De profissões a mamatas, o "querido" serve para forjar todo tipo de intimidade instantânea (ah, meu Rio, meu Brasil). E nem a estratégia se restringe apenas à palavra "querido", claro. O pior é que quase todas as vezes essa estratégia é inconsciente. Só alguém que já está de saco cheio de desconhecidos "querendo porque viram" para pegá-los no pulo. E uma vez que você detecta e detesta o padrão, não há mais volta. É como naquele acertado comercial de refrigerante que dedurava: "seu amigo está a fim de você". Quanta amizade "platônica" ele não deve ter estragado...