2.8.02

Minha versão

Acho que o JP foi muito pessimista na sua versão do fato horrendo que presenciamos na sessão de "Um grande garoto". Não "estamos todos errados".
Refiro-me a um pitboy que entrou no cinema com uma paty a tiracolo, e eu, "pós-conceituosa" com esse grupo, soltei um "nossa..." baixinho.
O casal conversava alto e não parou quando as luzes apagaram. Logo eles ouviram um "SHHH" coletivo e o cara resmungou para ninguém em especial: "Shhh porra nenhuma". E olhou em volta, querendo achar alguém com "coragem" pra repetir.
Antes do filme, apareceu até o aviso pra desligar os celulares, mas com quinze minutos de filme já estava o elemento falando ALTO no celular. Não era nada de importante (sei porque ouvi a conversa toda, apesar de estar a uns cinco metros), mas ele fez questão de falar alto e prolongar a conversa.
"Pronto, agora ele desligou", pensamos todos, aliviados. Que nada. Daqui a pouco olha ele atendendo de novo. A namorada deve ter pedido para ele sair. Quando ele passou, ouvi um "oi, mãe". Mas claro...
Voltou ainda falando e desligou. Dessa vez todo mundo pensou: "Será possível?".
Não, o indivíduo não desligou o celular e atendeu pela terceira vez. E dessa vez, falava alto - palavrões incluídos. Recebeu outro SHHH coletivo.
Aí sim, o cara do casal que estava mais perto cometeu o erro de dar motivo pra ele. Era óbvio que o troglodita só se comportava como criança mimada porque era forte, e "se garantia" no caso de briga. Uma espécie de autoconcepção de Super-Homem - que gerou um Super-Asno para nós.
O outro disse: "Dá pra desligar isso?".
O troglodita engrossou a voz: "Porra, mas fala direito".
Outro: "Mas eu já tinha fala..."
Troglodita: "Porra, fala direito!"
Outro: "Eu falei an..."
Troglodita: "Porra, fala direito!"
Enfim, bastou o outro dar uma ameaçada de levantar da cadeira pro troglodita se levantar todo animado. E então ficaram dois trogloditas.
Enquanto as velhotas gritavam, sabe o que eu reparei? Na paty do troglodita. Ficou sentada plácida. Mãos nos joelhos. Aquilo devia ser MUITO comum na vida deles.
Logo minha atenção foi desviada: o troglodita 1 acabara de dar um soco na mulher do recém-troglodita, porque este caíra (fora jogado) em cima da paty (que agora saíra dali).
Ninguém conseguia separar eles, JP foi chamar os seguranças, o filme parou. Eu estava tremendo de tensão e pensando: "Não acredito nisso. Não acredito nisso."
Não podia acreditar que pitboys extremos fossem mais que uma lenda.
Eu estou tendo em Antropologia conceitos como Alteridade (aliás é só o que estou tendo lá, vide post abaixo). Creio muito nisso, é muito bonito, mas há pessoas que não querem respeitar o outro, por mais que você insista em respeitá-las para ver se elas se tocam. Esse troglodita tem problemas psicológicos, uma auto-estima do tamanho de um botão (no fundo), e se pudesse arriscar um diagnóstico, tascava-lhe "sociopata".