4.12.02

Esta sou eu

Eu não exijo da vida mais do que ela me dá. O pouco que ela me dá, são limões dos quais faço uma limonada.
Acredito em intuição. A minha me diz: olhe para as suas unhas. Elas estão destruídas. Sou ansiosa, me viciaria se entrasse em drogas. Então minha única droga moderna é economizar. Capitalismo mesmo; guardar dinheiro e não desperdiçá-lo com bobagens. Tio Patinhas. Tenho dez mil limões no banco e um dia vou transformá-los num apartamento-limonada.
Quero aprender a cozinhar porque não acho justo ter alguém cozinhando para mim, ainda mais por um salário ínfimo. Mas não gosto de trabalhar, sair de casa, enfrentar expediente. Por mim, ficava dentro da minha casa a maior parte do tempo. Cozinhando e escrevendo. Traduzindo.
Quero estar do outro lado. Somente observando. Os holofotes e refletores me fazem cega. Tenho que segurá-los; tenho que ser jornalista e a fotógrafa, não a entrevistada.
Os loucos me acham careta, os normais não me entendem. Eu e JP estamos condenados a andar em cima do muro.
Música: Don’t be light, Air.

A casa do meu pai

Estou sem internet por pelo menos mais uma semana... E aprendendo a cozinhar. Meu arroz ficou rosa, o que isso significa?
Estou morando na casa do meu pai, me adaptando maravilhosamente, estou até me comunicando mais. Estou feliz mas sinto falta da Internet e dos meus CDs que ainda não vieram.
Ameacei um cara com um canivete aqui do meu pai. Acho que o DVD de “A Doce Vida” poderia ter um extra interessante se tivessem filmado o gatinho caindo e se sufocando no decote da Anita Ekberg. Minha avó está triste e não sinto a mínima culpa. A ginástica está mais perto, e o resto todo mais longe. E que verdadeira aventura é morar com um evangélico.
Tenho escrito um bocado com a solidão vespertina por aqui. Mas sem internet... Estou me sentindo diferente, mais madura. Mais fragmentada. Tenho tido sonhos novos, diferentes. Em alguns, novamente eu questiono os personagens: o que você quer me dizer? Por que você está me tratando assim?
E as respostas têm sido surpreendentes.
Ontem eu adormeci na atividade zen de pocar uma folha plástica de bolhas no escuro. As bolhas vieram com meu novo protetor de tela. Hoje, estou escutando Sunrise, do Bardo Pond, e de novo me sinto assim: zen. Estou sintonizando comigo mesma. Me capacitando a não fazer nada além de pensar. Deixando a velocidade morrer por atrito. Dormindo e acordando.
Não tenho sido mais mimada. Ninguém me oferece ajuda quando lavo a louça. Não empacotam as minhas compras depois que eu pago. Não andam 15 minutos com três sacolas pesadas por mim. Não me lembram as coisas, preciso de Post-Its. Fui fazer compras na Magal do Centro de metrô.
Minha vida é toda minha, e eu me sinto iluminada por dentro. Eu me sinto germinando. Aquela casa está com câncer. Está morta, e eu estava cheia de vida. Meu cérebro coçava.
Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, soltei os panos sobre os mastros no ar, soltei os tigres e os leões nos quintais; mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.