Novos textos do exílio (I)
Virei um caracol, carrego minha casa nas costas. Minha bússola é o guia de ruas, 29,90 na banca mais perto de você.
Estou me sentindo um disco de hóquei, deslocada de cá pra lá a violentas tacadas.
Não, sério.
Quando resolvi ser escritora eu não pretendia levar uma vida muito difícil não. (Tem gente que faz o contrário: leva uma vida muito difícil e por isso, resolve ser escritora. Mas isso não vem ao caso, não agora.) Talvez só uns casos tórridos, mas era só, e o objetivo seria pura diversão.
Daí que está acontecendo exatamente o contrário: caso tórrido, até agora, só um (e não que eu reclame; estou começando a entender qual é a dessa perversão chamada monogamia). E minha vida, hoje, dava uma música dessas ridículas que hoje infestam nossas rádios (tipo a do bebê sem chupeta ou a do borogodó é do balacobaco). A empregada tá grávida; minha avó está com câncer terminal à base de Zoloft; meu pai me agrediu fisicamente com uma porta e quer o modem de volta; minha mãe chamou o quitinete que tenho dinheiro pra comprar de "pardieiro".
Sou material para Alanis Morissette? Ah, e estou morando de favor. Na casa vazia da minha avó terminal, com a empregada grávida que sempre fica com a TV grande pra assistir Senhora do Destino.
Parece que as pessoas ficram todas loucas, perderam a cabeça por aí.
Eu não consigo nem ficar triste. Acho que estou anestesiada. Lembra aquela cena de PI em que o Cohen bate o cérebro na pia? wahh, wah wah wah wah!
Bãããããã.