7.1.07

Tistu

Hoje o dia foi perfeito, com aquelas chuvas que justificam o nome rainforest caindo periodicamente, como sprays de mangueira. Nos intervalos, arco-íris se insinuavam por entre as nuvens e soprava um vento arejado. Ventou por toda a cidade hoje.
Tudo isso me impeliu a conferir o Tiesto na praia de Ipanema. Saltei do ônibus quando o trânsito começou a emperrar, ainda na Vinícius de Moraes (o evento era em frente à Paul Redfern), e fui andando junto ao mar, molhando os pezinhos. Eram sete e tanto mas ainda estava de dia. De longe, viam-se as luzinhas da favela, a montanha e uma nesga de céu avermelhado no meio de nuvens grossas. O som de Tiesto ecoava e se espalhava com o vento, vindo ao meu encontro.
Parei antes da aglomeração ao lado de uns barquinhos e fiquei olhando não para o palco, mas para o pôr-do-sol e a montanha. Tiesto começou um som como tinha prometido: misturado e experimental, com eletro, minimal, house, tudo que tem direito. Fiquei dançando na beira d'água e, quando vi, tinha anoitecido. Achei melhor não ficar num lugar tão isolado, andei para perto da multidão.
Foi então que percebi que o Rio não é Ibiza. Uma fila de caras mijando junto à água, uma nuvem de maconha pairando sobre a areia, um bafo de cerveja idem, pessoas escrotas dando gritinhos pra se exibir. Casais davam risadinhas e se aproximavam da água de mãos dadas, provavelmente pensando em repetir a proeza de Cicarelli (até parece que foi ela quem inventou o sexo na água, antes isso era desconhecido) - felizmente, o mar ficou agitado demais para isso. Acompanhando a bad vibe, Tiesto começou a fazer um som bem farofa (percebeu que o som decente não estava agradando). Virei as costas e fui, para salvar a noite.
No ônibus, fiquei pensando que deve até haver algumas pessoas legais em Ipanema, mas que elas não se encontram nos eventos em que vou normalmente, então continuo a ter a pior impressão do bairro. A pior das piores.
Não só as pessoas que moram lá são assim - pintam cabelo de louro, têm celular que tira foto, bebem até cair, são porcas, exibidas, risoletas e sem-noção - mas atraem outras com o mesmo mindset residentes em outros bairros, cujo sonho de consumo é justamente morar em Ipanema/Leblon! Uma patty loira sentada do meu lado no ônibus atendeu o celular: "Aloha". E entre risadinhas de pinotes, confidenciou à "miga" que foi ver o Tiesto "mesmo sem entender nada disso", porque ouviu falar que "ele tinha sido eleito o melhor dj de uma categoria lá, de sei lá, não entendo disso". Perguntada se gostou, respondeu que sim, que "bombou, porque tinha móóóóóinta gente"! Desceu no mesmo ponto que eu. Ô carma.