7.8.09

Jornalistas necessitam de bloquinhos - pelo menos eu achava isso. Os melhores bloquinhos eram os da União - pelo menos eu achava isso. E a imprensa impressa não deu a menor nota quando a União fechou de vez (os sebos da Praça Tiradentes, por outro lado, viraram um dramalhão mexicano).
Desde 2002, a União foi encolhendo, encolhendo, até que, um dia, sumiu. Foi substituída por um sushi bar (em cima), uma butique de café (embaixo) e, ao que parece, uma empresa de consultoria (no meio).
Talvez estejam certos. Não é relevante. Talvez eu seja a única pessoa viva que sente falta da União. Ainda tenho um bloquinho virgem dela aqui em casa (comprei dois no final de 2008, pressentindo perigo).
Confesso: sou nerd de papelaria. Herdei isso do meu pai, acho que não tem muito o que fazer a não ser ceder.

O problema das papelarias modernas, in a nutshell, é que elas fazem vitrine de dia dos pais. Estou falando da Papel Craft, da Papel Picado etc. Também costumam ficar infestadas de adolescentes miguxas abrindo e fechando agendas rosas purpurinadas. Eu mesma arrastei muita amiga pra elas, nos anos 90, com a isca dos estojos com borrachas coloridas cheirosas. Mas eu gostava (e gosto) mesmo é dos cadernos e canetas com design inteligente que você encontra nesse tipo de papelaria.
Agora, se você quer uma faca Olfa, uma fine point Staedtler ou uma linda borrachinha Faber Castell, não vai encontrar. Não nesses lugares. Pelo menos, não bem organizada e armazenada. Esses estabelecimentos costumam ser uma bagunça. Se especializaram em coisas fofinhas.
As coisas não-fofinhas podem ser encontradas numa Kalunga, por exemplo. Envelopes de todos os tamanhos são vendidos a cento e canetas à dúzia para os office-boys fazerem o feirão do escritório. Coisas pequenas como Olfas, Staedtlers e cartuchos de impressora estão trancadas num caixão de vidro e você tem que chamar alguém para abrir para você. Eles vão levar o que você escolher numa sacola de poliéster opaco para trás do caixa, de onde, depois de pagar, você poderá retirá-las.
Não sei vocês, mas isso me dá vontade de chorar. Especialmente quando descobri, hoje, por um porteiro antipático, que a União fechou pra virar sushibar. A butique de café seria até legal se não sofresse com o constante cheiro de peixe da entrada compartilhada com o sushibar (sério? sério).

Fui forte, apenas porque lembrei da Casa Cruz, que ainda mantém seu sortimento dúbio de coisas macias de menininha e coisas úteis de macho, e ainda parece bem de saúde financeira. Aliás, voltou com força triplicada depois do incêndio. Adquiri meus envelopes emocionada. Agora só vou comprar lá para que, pelo menos, ela não morra antes de mim.

Ainda tem Letraset lá - um sortimento reduzido, mas há.